Tendências, benefícios e atualização técnica em Fitoterapia são discutidas em Seminário


Farmacêuticos presentes no IV Seminário de FitoterapiaFarmacêuticos presentes no IV Seminário de FitoterapiaFarmacêuticos presentes no IV Seminário de FitoterapiaSão Paulo, 16 de setembro de 2014.

O auditório lotado em pleno sábado, 13/09, mostrou o interesse dos farmacêuticos pela área de Fitoterapia. Organizado pela Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do CRF-SP, o IV Seminário de Fitoterapia reuniu especialistas para traçar um panorama das tendências dessa área que ganhou ainda mais evidência após a publicação da RDC 586/13, que regulamenta a prescrição farmacêutica, além de falar sobre as reações adversas, interações medicamentosas causadas por esses medicamentos.

Na abertura, na sede do CRF-SP, dr. Pedro Menegasso, presidente, ressaltou que todo farmacêutico sendo especialista ou não em fitoterapia deve conhecer esses medicamentos que certamente serão muito demandados. Ele enfatizou também a importância de estar preparado para o momento que a categoria passa. “A lei 13.021/14 é amplamente favorável a nós e à população, no entanto, requer uma responsabilidade muito grande. Temos de saber lidar com isso, nos capacitarmos e estar com os conhecimentos em dia para realizar o trabalho de assistência à saúde, que incluirá o uso do fitoterápico como parte do arsenal terapêutico disponível”.

Dr. Luis Carlos Marques, vice-coordenadora da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dr. Pedro Menegasso, presidente do CRF-SPDr. Luis Carlos Marques, vice-coordenadora da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dr. Pedro Menegasso, presidente do CRF-SPDr. Luis Carlos Marques, vice-coordenadora da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dr. Pedro Menegasso, presidente do CRF-SP

A situação das pesquisas científicas no campo da Fitoterapia

Dra. Luciane Lopes, docente de mestrado da Universidade Sorocaba e ex-consultora técnica-científica do Ministério da Saúde resgatou a história dos tratamentos, inicialmente com base empírica, ou medicina popular, até a medicina científica, ou baseada em evidências. Com esse pano de fundo, dra. Luciane lançou a discussão sobre como aliar o conhecimento tradicional, que deve ser considerado, mas não pode ser aplicado a toda a população sem critérios técnicos e científicos, ao conceito de medicina baseada em evidências. Para sustentar sua tese, ela mostrou um trabalho de metanálise que categorizou os fitoterápicos em cinco grupos distintos e demonstrou por exemplo que, muitas vezes um fitoterápico pode ter segurança e eficácia comprovada para uma doença, mas eficácia não comprovada para outra doença. 

Dra. Luciane Lopes, professora do programa de mestrado da Universidade de SorocabaDra. Luciane Lopes, professora do programa de mestrado da Universidade de SorocabaDra. Luciane Lopes, professora do programa de mestrado da Universidade de Sorocaba

Reações adversas e interações medicamentosas

A dra. Nilsa Sumie Wadt, professora de graduação e pós-graduação nas Faculdades Oswaldo Cruz e Unip e pesquisadora do Instituto do Coração, exemplificou algumas plantas suas reações e interações com medicamentos como o caso do gingko biloba que interage com anticoagulantes (varfarina, heparina, aspirina), com inibidoras da MAO (fenelzina, tranilcipromina-Parnat, selegilina). “Um exemplo é a mistura que muitos idosos fazem entre AAS infantil e gingko biloba, por acreditarem que ambos não ofereçam perigo; essa combinação, no entanto, dificulta a coagulação sanguínea levando a hemorragias em diversas situações, como uma extração dentária, por exemplo”.

O famoso chá de guaco também foi destaque da palestra de dra. Nilsa. A planta aumenta a absorção de determinados fármacos e não deve ser utilizada concomitantemente com anticoagulantes. As antraquinonas, como a cáscara sagrada, sene e ruibarbo podem causar irritação, inibir os canais de cloro, inibir a reabsorção de água da luz intestinal e aumentar a contração. “Além de pensar na ação farmacológica é preciso estar atento à identificação da planta. Muitas vezes não se trata da planta em questão e pode até ser tóxico”.

Outra planta bem conhecida é a babosa. A proibição de alimentos à base de babosa deu-se também porque ela provoca a concentração plasmática de hormônios tiroideanos. Dra. Nilsa destacou que muitos utilizam até para tratamento do câncer, chegam até a parar a quimioterapia, mas não há evidência alguma de eficácia dessa planta para esse tratamento. Dra. Nilsa Wadt, professora das Faculdades Oswaldo CruzDra. Nilsa Wadt, professora das Faculdades Oswaldo Cruz

Dra. Nilsa Wadt, professora das Faculdades Oswaldo Cruz

Mercado brasileiro e a importância do farmacêutico

Para encerrar o primeiro painel, dr. Luis Carlos Marques, vice-coordenador da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos destacou que o mercado de fitoterápicos movimentou, em 2011, 26 bilhões de dólares no mundo, sendo que 1,1 bilhão no Brasil. “Consumimos 2,5% do resto do mundo. Será que não temos plantas? Ou não temos doentes? Com certeza nem uma coisa, nem outra; no Brasil falta muita coisa. Estudos, regulamentação e planejamento da cadeia produtiva”.

Dr. Luis também elencou os passos fundamentais para a prescrição de fitoterápicos: entrevista com o paciente, investigar, verificar caso de gestação e amamentação, doenças crônicas como diabetes e hipertensão, doenças renais crônicas, pacientes polimedicalizados, uso de anticoagulantes e uso de plantas medicinais e suplementos. “Os riscos dos fitoterápicos são inerentes ao fato deles serem medicamentos, mas se comparados aos sintéticos são muito menores”. 

 Dr. Luiz Carlos Marques, vice-coordenador da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e FitoterápicosDr. Luiz Carlos Marques, vice-coordenador da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

Dr. Luiz Carlos Marques, vice-coordenador da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

 

 Fitoterapia no climatério

A segunda etapa do Seminário foi marcada pelo painel que tratou sobre as tendências em Fitoterapia. A médica e professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, dra. Sônia Maria Rolim Rosa Lima, falou sobre o uso da fitoterapia no climatério, ou seja, o período após a última menstruação da mulher.

Segundo dra. Sônia algumas mulheres não se adaptam à terapia hormonal pelas contraindicações ou mesmo porque querem uma alternativa e aí parte-se para uma das opções que é a fitoterapia. Entre os sintomas do climatério estão palpitações, nervosismo, irritabilidade, insônia, depressão, diminuição da libido, distúrbios urinários, afinamento de pele, entre outros.

“Sou totalmente a favor e prescrevo a terapia hormonal (TO), mas sou a favor do que é melhor para cada paciente. Há relatos de contraindicações como câncer de mama, doença hepática, sangramento genital, hipertensão, diabetes e tromboembolismo venoso. Para essas mulheres, temos alternativas como os fitoterápicos e antidepressivos”.

Ela mostrou também estudos científicos com as plantas aprovadas para tratar os sintomas do climatério. As plantas glycine (soja), trifolium e cimicifuga racemosa apresentaram resultados positivos para esse problema.

  A médica Sonia Maria Rolim falou sobre a fitoterapia no climatérioA médica Sonia Maria Rolim falou sobre a fitoterapia no climatério

A médica Sonia Maria Rolim falou sobre a fitoterapia no climatério

 

Fitoterapia e a nutrição

A nutricionista e farmacêutica dra. Lucyanna Kalluf, professora de pós-graduação e autora do livro “Fitoterapia funcional: dos princípios ativos à prescrição dos fitoterápicos”, chamou a atenção para a prática cultural dos pacientes já começarem a tomar um medicamento alopático ao invés de um fitoterápico. “Mulheres com constipação intestinal costumam tomar Lactopurga®, mas dificilmente optam por óleo de gergelim, óleo de coco ou algum outro fitoterápico para o mesmo fim”.

Dra. Lucyanna enfatizou que não existem estudos sobre biodisponibilidade em fitoterápicos. “Se eu quero eliminar toxinas do meu corpo devo tomar os fitoterápicos longe da comida, mas vemos muitas prescrições para tomar nas refeições”. Ela falou também sobre a importância do farmacêutico. “Ele é o responsável por ensinar os outros profissionais sobre os riscos dos chás com muitas ervas. É fato que não vai funcionar, há um antagonismo entre elas. O farmacêutico é o conhecedor da química farmacêutica, interações e biodisponibilidade”.

 Dra. Lucyanna Kalluf é farmacêutica e nutricionistaDra. Lucyanna Kalluf é farmacêutica e nutricionista

Dra. Lucyanna Kalluf é farmacêutica e nutricionista

 

Fitoterapia na cura da Aids

Dr. Luiz Francisco Pianowski, coordenador geral da pesquisa AM10 para câncer (aveloz) e AM12 e AM11 para dor e inflamação, destacou o quanto a burocracia brasileira atrasa as pesquisas e citou como exemplo algumas análises que enviou para fora do Brasil e estão retidas há mais de dois anos. “A mentalidade é muito ruim em relação às nossas pesquisas”.

“Estamos em uma fase muito avançada para inibir o vírus HIV com um produto a base de avelós; já temos uma publicação já prevista na Revista Nature. Estamos testando em macacos. Este tipo de abordagem é diferente dos tradicionais.”

A substância extraída da planta avelós, o Ingenol, desloca o vírus da célula infectada e o mata, fazendo com que seja exposto aos antirretrovirais. “O fitomedicamento propõe a cura, quando administrado em paralelo com os coquetéis disponíveis atualmente. Isso porque o fitomedicamento age fazendo o vírus sair da latência e os coquetéis atuais agem no vírus ativo, após sair da latência”, completa.

Ele falou ainda que, infelizmente, o governo federal não investiu nessa pesquisa que pode mudar a história do HIV no mundo. Quatro empresas internacionais já estão interessadas, mas nenhuma empresa brasileira.

  

Thais Noronha

Assessoria de Comunicação CRF-SP

 

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