Diversidade e inclusão marcaram o debate que reuniu mais de 400 pessoas

 Auditório da Universidade Mackenzie recebeu os participantes do Encontro Auditório da Universidade Mackenzie recebeu os participantes do Encontro

São Paulo, 23 de janeiro de 2023.

Não faltaram emoção, conscientização, histórias de superação e muito conhecimento para quem participou do XXIII Encontro Paulista de Farmacêuticos, no sábado, 21/01, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na capital. O tema Diversidade e Inclusão na área farmacêutica reuniu mais de 400 farmacêuticos, estudantes e autoridades que durante todo o dia debateram sobre os mais variados assuntos dentro desse âmbito.

A diretoria do CRF-SP ressaltou a importância da escolha do tema nesse ano, como no caso do Dr. Adriano Falvo, secretário-geral que destacou a necessidade de ter consciência da história dos povos que originaram nossa sociedade e respeito a sua cultura e tradições é imprescindível para promover saúde integral, com equidade e qualidade de vida. “Nesse sentido, o CRF-SP com o objetivo de unir esforços em construir uma sociedade mais inclusiva e justa, está apoiando a criação do “Comitê de ações afirmativas para promoção da igualdade racial” para discutir e propor práticas contra a discriminação racial."

Dr. Marcelo Polacow, Dra. Luciana Canetto; Dra. Danyelle Marini e Dr. Adriano Falvo Dr. Marcelo Polacow, Dra. Luciana Canetto; Dra. Danyelle Marini e Dr. Adriano Falvo

Dra. Danyelle Marini, diretora-tesoureira e Dra. Luciana Canetto, vice-presidente protagonizaram um dos momentos mais emocionantes ao anunciarem a criação do Grupo Técnico de Trabalho Mulheres Farmacêuticas. “Os desafios são grandes, mas quanto menor for a resistência das pessoas no sentido de questionar ou combater as pautas femininas, mais rápido alcançaremos uma sociedade mais igualitária. Trata-se de uma missão a ser concluída por toda a sociedade”, ressaltou a Dra. Danyelle. Já a Dra. Luciana chamou a atenção para a responsabilidade dos farmacêuticos. “O IBGE, em 2019, indicou que 17,3 milhões de pessoas acima de dois anos de idade tinha alguma das deficiências investigadas, o que representava 8,4% da população brasileira. Não podemos deixar de discutir sobre diversidade e inclusão, que apesar de terem conceitos diferentes andam lado a lado”.

Dr. Lindberg Morais, coordenador de extensão no Mackenzie. Ao lado a diretoria com a Dra. Margarete Akemi Kishi e Dra. Amouni Mourad, coordenadora do curso de Farmácia Dr. Lindberg Morais, coordenador de extensão no Mackenzie. Ao lado a diretoria com a Dra. Margarete Akemi Kishi e Dra. Amouni Mourad, coordenadora do curso de Farmácia

O presidente do CRF-SP, Dr. Marcelo Polacow destacou "Em muitas situações somos os primeiros profissionais a ter contato com os pacientes, por isso o CRF de São Paulo tem orgulho de realizar esse evento, com nomes tão importantes para que cada vez mais possamos cuidar com respeito e humanidade de nossos pacientes e ter orgulho da profissão. A Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) se tornou um elemento crucial e transformador no local de trabalho, bem como em nossa sociedade". 

Dr. Marcelo Polacow e a vereadora Edir Sales. Diretoria recebe voto de júbilo da vereadora Dr. Marcelo Polacow e a vereadora Edir Sales. Diretoria recebe voto de júbilo da vereadora

O Encontro foi prestigiado por Dr. Felipe Tadeu Carvalho Santos, que é o Coordenador da Assistência Farmacêutica da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo e que estava representando o Prefeito do Município de São Paulo, Sr. Ricardo Nunes, e também o Secretário Municipal de Saúde o Dr. Luiz Carlos Zamarco. Além da vereadora Edir Sales, que entregou à diretoria um voto de júbilo parabenizando sobre o evento (saiba mais).

Dr. Marcelo Polacow, Dra. Luciana Canetto, Dra. Danyelle Marini e Dr. Adriano Falvo Dr. Marcelo Polacow, Dra. Luciana Canetto, Dra. Danyelle Marini e Dr. Adriano Falvo

Deontologia e Legislação Farmacêutica

Durante o Encontro, a diretoria também lançou o vol. 2 da série Deontologia e Legislação Farmacêutica: tópicos aplicados ao ensino, intitulado “marcos na atuação profissional”.

Neste volume, a abordagem remete a tópicos que representam importantes marcos na atuação profissional que levam a uma reflexão no contexto globalizado de desafios a serem enfrentados com ênfase nas atitudes éticas e humanistas.

Acesse na íntegra: https://crfsp.far.br/url/deontologia_volume2

Mesa-redonda: Diversidade e inclusão no mercado de trabalho
Mediação Dra. Claudia Cristina Pereira Araújo

Quando se fala nesses temas em relação ao mercado de trabalho, apesar das empresas estarem muito mais preocupadas em incluir, ainda há muito o que ser feito. Dra. Suellen da Silva Rodrigues, farmacêutica, mostrou a importância do investimento da família em educação, tendo em vista que ela sempre foi a única ou uma das poucas negras em sala de aula, seja no Brasil ou no exterior.

Também farmacêutica, a Dra. Mariana Sarnik realizou a palestra em libras, que foi traduzida por uma das interpretes. Ela ressaltou a importância dos farmacêuticos se especializarem em libras e indicou o curso do Conselho Federal de Farmácia, que pode ser acessado pela plataforma edufarma.cff.org.br. “Eu tenho dois tipos de comunicações com ouvintes e surdos, sou bem acessível. É importante pensar que nem todo surdo é como eu, sabe falar. Eu tive muito estímulo da minha família para estudar. É importante termos empatia, incluir as pessoas com deficiência nas empresas, aceitar trabalhar com alguma PCD, entender as dificuldades. Minha mãe lutou para que eu tivesse uma vida normal, para que eu entendesse o mundo e para que as pessoas me entendessem seja por fala, gestos ou libras”.

Dra. Adriane Reis, Dra. Suellen Rodrigues, Dra. Maria Claudia Araújo, Dra. Mariana Sarnik e Dra. Maria Cláudia VillaboimDra. Adriane Reis, Dra. Suellen Rodrigues, Dra. Maria Claudia Araújo, Dra. Mariana Sarnik e Dra. Maria Cláudia Villaboim

A atual diretora da América Latina da Welleda, Maria Claudia Villaboim Pontes, dividiu sua experiência e diversas situações preconceituosas que sofreu como mulher e por estar em cargos de alto escalão de empresas por onde passou. “Você vai fazer o melhor que você puder quando amar o que você faz, é aprender a se auscultar, saber o que faz os seus olhos brilharem é receita de sucesso para qualquer um. Não é todo farmacêutico que quer ser gerente, presidente, mas você tem que fazer o que gosta e assim entregar aos outros o que é seu melhor. Que todos nós farmacêuticos estejamos no lugar que faz brilhar os olhos e contagie o nosso entorno. É a maior dica de sucesso e de superação. Tudo que você fizer com sucesso e dom, passei muitos preconceitos na multinacional que trabalhei até que recebi o convite para a Welleda, empresa antroposófica que acredita no crescimento do ser humano”.

A mesa-redonda terminou com a Dra. Adriane Reis de Araújo, procuradora regional do trabalho que ressaltou que "a partir do momento que a gente coloca os óculos da diversidade a gente nunca mais consegue deixar de enxergar as discriminações presentes na nossa sociedade. Conhecer e aprender sobre diversidade é algo permanente”. Ela ainda destaca “nós apenas reprimirmos esses atos, ajuda, mas não é suficiente. A melhor forma de evitarmos casos de discriminação é ajudar na promoção de um espaço de trabalho com diversidade e inclusão e é essa reflexão que estamos fazendo nesse evento”.

Do preconceito ao sucesso

Um dos momentos marcantes do Encontro foi a participação da atriz Glamour Garcia, conhecida por interpretar a transexual Britney na novela global “A dona do pedaço”, que lhe rendeu uma série de prêmios, além da Babete na série Rua Augusta. Glamour dividiu sua experiência com os participantes, inclusive as dificuldades de uma pessoa transexual de acesso aos serviços de saúde, tratamentos e orientação adequada.

A atriz Glamour Garcia, premiada pelo papel da transexual Britney na novela "A dona do pedaço" A atriz Glamour Garcia, premiada pelo papel da transexual Britney na novela "A dona do pedaço"

Mesa-redonda: Vivências em estabelecimentos de saúde – combatendo o preconceito
Mediação - Dra. Deuzilane Nunes

O debate começou com o Dr. Juan Becerra, farmacêutico há quase 40 anos que contou, de forma descontraída, aos participantes como supera a cada dia a paralisia que o fez perder o movimento das pernas ainda criança. “Algo que parece simples para muitos, mas para mim sempre foi impossível, foi dançar. Morro de vontade de dançar, mas mesmo assim, com dificuldade de locomoção, nada disso me impediu de ser feliz, nada disso me fez desistir”.

Com apenas 5% de visão, a Dra. Grayce Miguel França, coordenadora do GTT Farmacêutico à Pessoa com Deficiência do CRF-SP, apresentou seu projeto Farmácia para cego ver que consiste em inserir QR Code em relevo nas embalagens de medicamentos e bulas. Medida vai garantir acesso a informações imprescindíveis, como o nome do princípio ativo, dosagem, quantidade, a forma do medicamento e data de validade. Ela mostrou também formas de um estabelecimento estar acessível a uma pessoa com deficiência visual, com uma estratégia inclusiva que envolve piso tátil, sinais sonoros, entre outros. “Nem todas as diferenças são visíveis, é preciso respeitar as diferenças, e isso também envolve aquilo que a gente não consegue ver”.

Dra. Kennya Macedo, Dr. Juan Carlos Becerra, Dra. Grayce França, Dra. Renathaly Sousa e Dra. Deuzilane Nunes Dra. Kennya Macedo, Dr. Juan Carlos Becerra, Dra. Grayce França, Dra. Renathaly Sousa e Dra. Deuzilane Nunes

A farmacêutica Renathaly Sousa Silva emocionou o público ao contar sua trajetória como mulher transexual e ainda utilizou todo talento como cantora para interpretar uma música de sua autoria, que conta um pouco da superação ao longo da vida. Já para a Dra. Kennya Macedo "é desumano o preconceito, o racismo estrutura todas as sociedades que cresceram com a escravidão, muita gente foi deixada para trás. Faz parte da saúde fazer com que essas pessoas possam ter acesso. No Brasil, é como a educação, saúde é privilégio, nem todo mundo tem acesso. Já passei por situações de pessoas não querem ser atendidas por mim e, hoje, é o dia que estou vendo mais pessoas pretas numa plateia de farmacêuticos. Somos mais de 50% das pessoas nesse país e esse país tem uma dívida enorme com a gente”.

Roda de conversa: Cuidado Farmacêutico e combate ao preconceito em HIV/Aids

Mediação:- Dr. Gustavo Lemos Guerra 

Dra. Alícia Krüger, a primeira farmacêutica travesti a assumir como Assessora de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde, destacou “são quatro décadas e a gente não fala mais do HIV como um vírus, é uma questão social, não adianta pesquisar os melhores fármacos possíveis, os melhores mecanismos de ação dos medicamentos se a gente não conseguir trabalhar os soft skills, nem tão soft assim, porque são muito profundos, mas pelo acolhimento. Prefiro parafrasear o professor Merhy, brasileiro e sanitarista, que divide em tecnologias leves, duras e leves-duras dentro do Sistema Único de Saúde, existem os avanços em relação a tecnologias de produção de medicamentos, novas plataformas medicinais, mas precisamos falar de acolhimento que as pessoas com HIV sofrem muito. Temos medicamentos de ponta no SUS e as pessoas que mais morrem de Aids no Brasil são negras, mais vulnerabilizadas, a gente quer que as pessoas não adoeçam, não morram, mas principalmente queremos evitar novas infecções de jovens de 15 a 29 anos. O farmacêutico é o profissional da linha de frente, está a cada esquina das casas das pessoas e pode fornecer esse primeiro acolhimento falando de metodologias preventivas, formas de tratamento e diagnóstico”.

Dr. Felipe Campos do Vale, Dra. Alícia Krüger e Dr. Gustavo Lemos Guerra Dr. Felipe Campos do Vale, Dra. Alícia Krüger e Dr. Gustavo Lemos Guerra

Dr. Felipe Campos do Vale, farmacêutico da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, falou sobre o cuidado farmacêutico na profilaxia (PrEP e PEP) do HIV em populações vulneráveis. “Já visualizamos o fim da transmissão horizontal do HIV, graças ao início rápido de TARV e as novas tecnologias de prevenção; aguardamos a disponibilidade de apresentações farmacêuticas mais cômodas (ex.: injetáveis de longa duração); Devemos estimular a testagem rápida para HIV, sífilis e HPV; e precisamos nos apropriar das discussões sobre práticas sexuais que envolvem o uso de drogas (ChemSex) e acessórios sexuais”.

Brasil em transformação

A palestra máster com o Renato Amêndola, head de Diversidade, responsável por desenhar e implementar uma das estratégias de Diversidade e Inclusão mais respeitadas do Brasil.
Algumas empresas que têm compromisso público como o Ifood que em 2023 tem como meta 35% de mulheres em cargos de liderança, 30% de pessoas negras entre os líderes. “As pessoas com deficiência precisam estar em todas as áreas da empresa, não apenas nas áreas específicas”. Outra abordagem foi em relação a marcas comprometidas. “Quando a gente olha para a pele negra, por exemplo, há o tom da base, o creme para cada tipo de cabelo e as marcas estão cada vez mais atentas a isso. E não basta fazer campanhas publicitárias, representatividade, as grandes marcas têm a responsabilidade de transformação da sociedade”.

Renato Amendola foi o palestrante máster do Encontro Renato Amendola foi o palestrante máster do Encontro

Para participar dos Grupos Técnicos de Trabalho do CRF-SP basta entrar em contato com Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

 

Thais Noronha com colaboração de Monica Neri 

Departamento de Comunicação CRF-SP

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