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PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 115 - JAN-FEV-MAR / 2014

 

Em guerra pelo sucesso profissional

 

Após surpreender 500 farmacêuticos durante o Seminário Gestão de Carreira, em janeiro, o ex-comandante do Bope, Paulo Storani, falou à Revista 

Missão dada é missão cumprida –dizem os integrantes do famoso Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Rio de Janeiro. Sob esse lema, o CRF-SP lançou-se na batalha para oferecer as ferramentas que melhor direcionem a carreira do farmacêutico, com a meta de obter a tão sonhada valorização. A tarefa principal era buscar um especialista à altura desse objetivo e oferecer um momento marcante durante as comemorações do Dia do Farmacêutico. O escolhido foi Paulo Storani, antropólogo e consultor dos filmes Tropa de Elite 1 e 2. O resultado? Uma palestra que revelou aos profissionais a importância que algumas decisões particulares têm quando o assunto é sobrevivência em um mercado competitivo, exigente e com algumas situações semelhantes a uma guerra. 

Em entrevista à Revista do Farmacêutico, o homem que inspirou o personagem Capitão Nascimento foi enfático ao ressaltar que, sem planejamento, escolhas bem feitas, vontade e, principalmente, ética, o melhor é “pedir para sair”. Storani desmistificou a atuação do Bope em relação à forma de liderança. “Não se trata de coação, é preciso ter maturidade profissional, emocional e conhecimento técnico para ser um líder, senão você não passará de um chefe”. 

Leia, abaixo, trechos da entrevista.

Por Thais Noronha

Paulo Storani (Foto Luiz Prado / Agência Luz)O ex-capitão do Bope durante palestra para os farmacêuticosRevista do Farmacêutico – A competição do mercado de trabalho se assemelha a um combate militar?
Paulo Storani - As pessoas se equivocam quando acham que o sucesso do Bope é devido à força militar. Traçando um “link” com a gestão de carreira, no Bope, ninguém é convidado a trabalhar, vai quem quer. Significa que estar no Batalhão é um objetivo que foi determinado na sua vida profissional. O que eu tenho que fazer para ser parte das operações especiais ou, então, onde eu quero chegar sendo farmacêutico? Se eu fizer a escolha de ser um profissional de excelência, tenho de saber como me preparar, saber o que a atividade exige de mim. Isso é fazer parte da Tropa de Elite. Tudo com ética. Ser um profissional de alta performance não significa buscar isso a qualquer preço. Existem valores morais que tenho de seguir para ser reconhecido. Se houver alguma violação disso, qualquer tipo de adaptação significa que alguém está se violentando. Numa situação como essa, é a hora de pedir para sair.

RF – Como a sua palestra “Não peça para sair da ética” pode ajudar o farmacêutico a gerenciar a carreira?
PS - Quando falamos sobre ética, falamos sobre o que eu acredito. Quais os meus valores e em que eles coincidem com a minha profissão ou com o local onde eu trabalho. A única coisa que não se deve abrir mão é sair da escolha que você faz, de uma vida correta. Numa hora você será reconhecido por isso. Embora algumas instituições possam não querer trabalhar com você, alguma vai querer, alguém sempre vai querer trabalhar com gente correta, gente decente, pode ter certeza disso. É preciso se preparar, buscar constantemente os melhores resultados. Fazemos no Bope a avaliação daquilo que foi feito no aspecto profissional e moral para saber se a pessoa está no caminho certo ou se precisa corrigir algo. É a regra vitoriosa. É isso que faz o Bope ser o que é.

RF - É possível implantar o lema do Bope “Missão dada é missão cumprida” nas empresas?
PS – A missão não pode ser cumprida a qualquer preço. Existem valores que precisam ser preservados. A vida é a primeiro deles, segundo, é a própria condição moral. No Bope, não éramos jagunços de governador, de comandante. Existem limites morais que, muitas das vezes, quem te dá ordem não consegue perceber. Porque uma pessoa boa, que age com correção, que tem valores sólidos e aceitos pela sociedade, não vai exigir de você o que não deve ser feito.

RF - Como lidar com a pressão por resultados, num curto espaço de tempo, em uma carreira de sucesso?
PS - O mundo corporativo já é por si só um mundo de pressão. A busca por resultado significa sobreviver a um mercado extremamente competitivo. Falamos de um perfil de pessoas que têm de estar dispostas a se submeterem a esse tipo de pressão por resultado, saber sofrer críticas e entender que elas podem melhorar a sua performance. Se você tem problema com qualquer tipo de pressão, é só procurar uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos. Lá, ninguém vai te cobrar nada e seu resultado será valorizado. As pessoas têm de buscar a felicidade. A decisão é pessoal. Decidiu fazer, faça. Mas faça o melhor, não faça de qualquer jeito. Se você não gosta de ser chefiado, procure algo em que não exista isso, e se encontrar, me avise! Porque mesmo num negócio próprio, você é o responsável e não será o elemento pressionado, mas terá de ser o pressionador.

Auditório - palestra de Paulo Storani (Foto Luiz Prado / Agência Luz)Mais de 500 farmacêuticos participaram do Seminário: Gestão de carreira, várias áreas de atuação, uma só profissãoRF – Como desempenhar um bom trabalho enfrentando jornadas exaustivas e baixos salários?
PS - Como eu quero ser lembrado quando terminar minha carreira? Por ter me submetido às condições as quais o mercado muitas vezes nos submete? Então, vou ser mais um e serei rapidamente esquecido. O lembrado é aquele que se posiciona. Existe ética agregada à profissão, senão eu seria apenas um jagunço contratado para fazer aquilo que o contratante quer, o que não necessariamente é o certo. Se o mercado é prostituído por conta do que o empregador quer, temos de repensar o mercado e podemos começar com um seminário como o que o CRF-SP promoveu sobre gestão de carreiras. Dizer qual a posição do CRF-SP, direcionar o farmacêutico. A decisão é muito solitária, mas reflete no futuro e na profissão. Um conselho de classe deve acolher esse problema e mostrar o que é ser um farmacêutico na essência, não só com conhecimento técnico, mas com atitudes e decisões morais e éticas. Eu venho de uma categoria que tem problemas de corrupção gravíssimos, a estrutura te conduz a isso, e o corrupto é só mais um corrupto, mas o honesto é o honesto, é aquele que, no final das contas, dá a última palavra e todo mundo vai querer trabalhar com ele. É esse que eu quero do meu lado.

RF – Quais as principais dicas para o bom gerenciamento de equipes?
PS – A gente entende liderança como um fenômeno que diz respeito a quem tem a responsabilidade de conduzir o processo e de quem vai estar com ele no cumprimento dessa missão. Uma delas é o nível de vontade de fazer desse grupo, outra é o nível de maturidade profissional, conhecimento técnico e maturidade emocional. Com essas características, a pessoa vai determinar como o líder vai agir com ela. Tem de ter um cuidado muito grande para que aquele que tem a responsabilidade de conduzir o processo, que é o chefe, não atrapalhe o grupo. Ele tem por dever orientar, estar à frente do grupo e estar com o grupo. É uma liderança participativa, não precisa usar ferramentas de coação. No Bope, não há coação porque quem é preparado está em condições de responder a esse nível de alta performance. Quando um policial do Bope vai trabalhar num batalhão convencional, terá um esforço muito maior do que tinha. Terá de se desdobrar, estimular as pessoas e ser um modelo. Isso requer muito mais da liderança.

Paulo Storani (Foto Luiz Prado / Agência Luz)RF - O modelo atual de liderança impositiva, tanto em corporações como na vida pessoal, é questionável?
PS - Líder impositivo é aquele que exige do grupo aquilo que já está sendo entregue. Pressiona pelo prazer de pressionar, isso não é um líder, é um chefe. O líder vai entender o momento certo de cobrar, de parabenizar, de exigir, de relaxar. É a pessoa que tem a exata noção do que tem de ser feito. Quem manda porque gosta de mandar tem problema de conduta e precisa se reavaliar. Se tem prazer em tratar mal as pessoas, é um sociopata. Às vezes, essa figura impositiva pode conseguir resultado em curto prazo, mas tem a capacidade de destruir o time e pode perder a equipe a qualquer momento. 

RF – Qualquer pessoa pode ser um líder? 
PS – Sim, desde que ela compreenda o papel do líder na realização de cada tarefa. Se ela quer ser um líder, tem de fazer uma autoavaliação e saber onde ela tem de ser melhor. O que ela precisa entender é como tratar seus subordinados e, para isso, não faltam livros de altíssima qualidade.

entrevista storani5-foto-luiz-prado-ag-luz Storani tem o símbolo do Bope tatuado no braçoRF - O que pode levar uma pessoa ao fracasso?
PS - Pessoas que não buscam aprender o máximo para fazer o melhor, que estão infelizes naquilo que fazem. Acabam levando essa infelicidade para o próprio resultado. É necessário rever aquilo que escolheram. No Bope, é assim: se a pessoa não se adaptou ao trabalho, acha muito arriscado, então está no lugar errado e é melhor pedir para sair, vai trabalhar no batalhão florestal, na praia. O fracasso pode estar ligado a isso ou à arrogância, achar que são as melhores, que não precisam aprender nada. É o caminho para a derrota.

RF - Qual a receita para um time vencedor?
PS - Como gestor público durante dez anos, 17 anos de Polícia, cinco de Bope, minha filosofia de trabalho é aquilo que eu aprendi e acreditei no Batalhão: reúna pessoas que queiram fazer o melhor. Embora não tenha qualidade técnica, invista nessas pessoas, estimule-as a fazerem o seu melhor, esteja sempre com elas, mostrando que elas não estão sozinhas. Seja tolerante com determinados tipos de erros, aquele erro que é cometido pela boa vontade de fazer ou por falta de conhecimento ou por uma tomada de decisão que deixou de considerar determinado fator. Ensine essas pessoas. Além de fazer com que elas busquem o melhor, você está criando um laço muito maior com o time de trabalho.

 

 

                                                             

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