Farmacêuticos dos dois países trocam experiências sobre a Medicina Tradicional Chinesa

Dr. Sergio Panizza recebeu a delegação chinesa em seu laboratório Dr. Sergio Panizza recebeu a delegação chinesa em seu laboratório

 

São Paulo, 5 de dezembro de 2018.

Que a China é o maior celeiro para pesquisa e utilização de produtos e técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, MTC, não é novidade, mas o que tem chamado a atenção é a troca de experiências entre profissionais de saúde brasileiros, entre eles farmacêuticos, e chineses em relação ao assunto. Nesta semana, uma comitiva oficial do governo chinês visitou o laboratório Panizza, na capital, de propriedade do farmacêutico e membro da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do CRF-SP, Dr. Sergio Panizza.

Dr. Sergio Panizza recebeu a delegação chinesa em seu laboratório Dr. Sergio Panizza recebeu a delegação chinesa em seu laboratório

O grupo de oito chineses era formado por um dos diretores do hospital Jiangsu Province Hospital of TCM, uma representante do governo, seis médicos da medicina chinesa nas especialidades: dermatologista, ginecologista, clínico geral e acupuntura. Para o Dr. Sergio Panizza, a visita abre caminhos para o comércio entre Brasil e China e amplia as relações de intercâmbio nas áreas de comunicação, de educação e de produtos. “Foi fantástico, eles querem que a gente vá lá aprender. Os chineses viram que o Brasil tem laboratórios com estrutura para fazer o controle e a produção”, destacou o farmacêutico que também é presidente do Conselho Brasileiro de Fitoterapia, Conbrafito.

Dr. Sergio Panizza recebeu a delegação chinesa em seu laboratório Dr. Sergio Panizza recebeu a delegação chinesa em seu laboratório

Área em expansão ao farmacêutico

Formado desde 1993 em Medicina Tradicional Chinesa e acupuntura, o farmacêutico Dr. Paulo Varanda atua na área clínica em dois consultórios, além de ministrar cursos de capacitação sobre prescrição e introdução à MTC, além de aulas em pós-graduação. A aproximação com a China se deu quando ainda adolescente com a prática de artes marciais. “Me apaixonei pela técnica quando, aos 16 anos, tive uma lesão no braço e a acupuntura me trouxe um alívio muito grande, foi aí que comecei a estudar essa área”.

Dr. Paulo Varanda já visitou a China por nove vezes Dr. Paulo Varanda já visitou a China por nove vezes

Desde sua primeira visita à China, em 2010, de lá para cá já foram noves vezes em que esteve naquele país. Participou de um curso interligado à universidade de Pequim e a Federação Mundial de Sociedades de Acupuntura e Moxabustão. Foram 25 dias estudando. A partir daí foram estágios em hospitais, em que teve contato com a parte teórica e parte da medicina chinesa, foi um dos integrantes da comitiva oficial brasileira que também contou com seis farmacêuticos, teve reuniões com o ministério da saúde e das relações exteriores da China, além de conversas com órgãos ligados a Câmara de Comércio de Medicina Chinesa para o mundo. “Sempre quando estou na China as atividades que desenvolvo são de pesquisa, estudo, treinamento, tanto a parte teórica como a prática de formulas chinesas, e tratamentos para a saúde pública, visitas técnicas em laboratórios do governo e em plantações, além de estágios no hospital”, ressalta Dr. Paulo que também coordena a Comissão de Medicina Chinesa e acupuntura do Conselho Federal de Farmácia.

Dr. Paulo Varanda já visitou a China por nove vezes Dr. Paulo Varanda já visitou a China por nove vezes

Dr. Paulo destaca ainda que há muito em comum entre o povo brasileiro e o chinês. “Ambos são brincalhões, solícitos, dispostos a ajudar e proativos. Os chineses têm muito interesse comercial no Brasil por ser um país grande, continental, com grande população e afinidade com o uso de ervas medicinais. Percebo que a única barreira é a língua”.

Fachada de drogaria na ChinaFachada de drogaria na China

A seguir, leia trechos da entrevista do especialista ao CRF-SP:

 

Que tipos de fórmulas chinesas são associadas à acupuntura e qual a sua importância?

Dentro da MTC existem várias técnicas terapêuticas, a principal que é 70% da técnica terapêutica mais usada na medicina chinesa são as prescrições das fórmulas chinesas. A acupuntura não é só o agulhamento, é a moxa, a sangria, a ventosa e todas as técnicas atreladas. O grosso lá na china são as prescrições das fórmulas e elas sempre tendem não a tratar a doença, na alopatia quando você tem um processo inflamatório, é prescrito um antídoto que é o anti-inflamatório. Na medicina chinesa procuramos prescrever a fórmula para promover o equilíbrio energético do corpo, um estado de saúde e essa promoção promove o equilíbrio bioquímico e funcional e, assim, independentemente da doença, a pessoa vai ter um processo de recuperação mais rápido.

Drogaria na China Drogaria na China

Quais as diferenças entre fórmulas brasileiras e chinesas?

As fórmulas na China são em extratos secos ou decocções, nunca é utilizada a tintura alcoólica, isso é uma invenção brasileira para ganhar dinheiro. As ervas na China são caracterizadas pela sua energia, pela polaridade entre yin e yang, as que têm energia quente são muito yang e a energia fria são yin, se faço a extração de uma droga muito fria no álcool eu neutralizo essa frieza porque o álcool aquece e desconfigura a composição da fórmula. Eles utilizam a decocção em água como se fosse um chá bem concentrado ou os comprimidos de extratos secos concentrados que chegam ao Brasil. No Brasil temos quase 100 e na China mais de mil fórmulas.

Em relação à legislação neste setor, como está o Brasil? A Resolução 21/14 é a mais completa ou falta algo?

A RDC 21/14 é temporária, é muito precária, tem muitas brechas e muitas falhas, não fala em controle de qualidade. Ela assusta muito a área farmacêutica porque já surgiram alguns laboratórios que se aventuram de forma improvisada porque a RDC 21 não prevê nada de especificações mais técnicas. A Anvisa e o Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Farmácia estão em consonância na construção de uma nova norma, estão em contato com o Healthy Canada, e com a CFDA, a agência do governo chinês. Nos próximos meses deve lançar uma consulta pública de uma nova norma, mais completa, de baixo potencial de risco à sociedade, visto que a medicina chinesa é muito segura.

Essa norma vai abrigar outras medicinas tradicionais, entre elas a chinesa, a ayurvédica, os florais, todas que fazem parte das 29 práticas das PNPICS, Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares do SUS. Essa norma visa colocar ordem na casa no sentido de controle de qualidade, a Anvisa já entende que esses produtos não são fitoterápicos, mas produtos que promovem saúde e tem baixo potencial de risco à saúde, então tem uma regulação mais branda do que a dos fitoterápicos, que precisam ter marcador.

É um campo em expansão para o farmacêutico explorar? Por quê?

É um campo totalmente em expansão, o farmacêutico atua em toda a medicina chinesa desde a produção, controle de qualidade, dispensação e a parte clínica de consulta e prescrição. O farmacêutico tem uma vantagem maior que outros profissionais de saúde porque tem todo um preparo tanto legal na questão legislatória, já que existe uma legislação que ampara tanto a clínica na área farmacêutica. Temos de treinar os farmacêuticos para que eles se adequem ao conhecimento e entendam que não se trata de um fitoterápico porque o medicamento fitoterápico ocidental tem um mecanismo alopático. A medicina chinesa é uma mistura formada por vegetais, minerais, fungos macroscópicos e animais e os fitoterápicos são apenas ervas.

Nessas idas teve alguma história interessante que aconteceu na China e que queria compartilhar com os colegas?

Em nível hospitalar o que mais vemos é o uso endovenoso, no soro, de algumas fórmulas chinesas que são feitas de forma industrializada, são ervas isoladas ou fórmulas com combinações de duas ou mais ervas que usam para acelerar o processo de recuperação no pós-cirúrgico sem o uso de antibióticos. E ervas têm uma potencialização da parte imunitária do corpo e faz com que a pessoa não fique doente, é bem impressionante e algo que nunca se esperava ver.

 

Thais Noronha

Departamento de Comunicação CRF-SP

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