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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 25/07/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Droga bloqueia a transmissão do HIV em casais

23/07/2016 - Época


O uso de medicamentos antirretrovirais tornou praticamente nula a chance de transmissão do HIV entre casais sorodiscordantes (quando um está infectado pelo vírus e o outro não), mesmo quando eles não usam preservativos em suas relações sexuais. Isso está demonstrado num estudo novo.

O trabalho, o mais amplo já realizado sobre o tema, foi publicado no Jornal da Associação Médica Americana, o Jama. Foram acompanhados quase 900 casais (dois terços homossexuais e um terço heterossexuais) entre 2010 e 2014, em 14 países europeus. Onze pessoas que não tinham HIV foram infectadas. As análises moleculares dos vírus confirmaram que eles eram distintos do genoma do HIV do parceiro estável. Oito pessoas confirmaram ter casos extraconjugais.

Mesmo com esse excelente resultado, os especialistas não garantem que antirretrovirais sejam 100% eficazes para evitar a transmissão do vírus, embora o risco caia muito. Uma falha no uso regular ou uma eventual resistência do vírus ao esquema terapêutico poderiam expor ao HIV o parceiro negativo. Para maior segurança, é importante que a pessoa com HIV tome o medicamento por pelo menos seis meses antes de ocorrerem relações sem preservativos e que a supressão virai seja completa.

Outro estudo, também divulgado na última semana, durante a Conferência internacional deaidsem Durban, na África do Sul, mostra que o aumento da circuncisão, aliado ao maior uso de antirretrovirais, também teve um impacto bastante importante na redução da transmissão do HIV em comunidades rurais em Uganda, país muito afetado pela aids. A circuncisão facilita a higiene e reduz a exposição de células que podem ser alvos do HIV.

Durante o período do estudo, de 1999 até 2013, cerca de 40% dos homens foram circuncidados nessas comunidades. Além disso, 21% dos homens e 23% das mulheres passaram a receber medicamentos contra o HIV. Nas comunidades em que os índices de circuncisão e o uso de antivirais foram maiores, houve uma redução de até 40% de novas infecções quando comparadas às comunidades que não foram tão bem-sucedidas na implementação dessas estratégias. O trabalho também foi publicado pelo fama.

Para o Brasil, que, segundo novo relatório da ONU, registrou um avanço de 4% de novas infecções entre 2010 e 2014, é necessário pensar em estratégias complementares à tradicional prevenção, como o oferecimento de drogas que ajudam a prevenir o contágio entre pessoas que correm mais risco, como o grupo dos homens que fazem sexo com homens.




Falta penicilina no Brasil para tratar crianças que nascem com sífilis

22/07/2016 - G1 - Bom dia Brasil


Está faltando penicilina para tratar de crianças que nascem com sífilis. Em São Paulo, tem outro antibiótico que estão usando, mas a eficácia não está comprovada. A penicilina usam há 70 anos comprovadamente eficaz.

É uma emergência. O medicamento que os bebês estão recebendo é usado no tratamento de sífilis em adultos e isso vai continuar até que chegue a penicilina, que tem um efeito comprovado nas crianças.

O remédio mostrado na reportagem é o plano "C" para tratar a sífilis, uma doença transmitida em relações sexuais e que pode ser prevenida usando preservativo. Mas a mulher grávida infectada pode transmitir para o bebê. Os riscos para criança que nasce com sífilis são deformações graves, cegueira, surdez, problemas neurológicos e até a morte. O tratamento para essa doença tão perigosa é o antibiótico mais antigo que existe: a penicilina, mas ela está em falta no mundo.

Em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde, em parceria com a Sociedade de Pediatria do Estado e com a Sociedade Brasileira de Infectologia, divulgou uma nota técnica em que propõe, enquanto durar o desabastecimento da penicilina do tipo cristalina, que seja usada a penicilina procaína. E se faltar essa também, outro medicamento seja usado. Mas a nota ressalta que não há evidências da eficácia do uso dessa terceira medicação no tratamento da sífilis congênita.

“Uma dúvida e uma preocupação crescente entre os colegas pediatras. Porque nós sabemos que o tratamento de escolha é a penicilina cristalina. E que, se eu tiver disponível, eu trato essa criança com sífilis congênita”, disse a vice-presidente da Sociedade de Pediatria (SP), Lilian Rodrigues Sadek.

Bom Dia Brasil: Cura?

Lilian: Cura, evitando todas sequelas para ela.

A ceftriaxona é uma alternativa, porque já é usada no tratamento de sífilis em adultos, mas não há comprovação de que ela funcione bem também em recém-nascidos. Os estudos que investigariam isso nunca foram feitos justamente porque os médicos sempre contaram com a primeira opção, a penicilina, que eles já sabem que é eficaz.


EFICAZ E BARATA


A médica Maria Beatriz de Souza Dias acredita que o baixo custo seja um dos motivos para o desabastecimento. “Muitas vezes, por causa justamente do baixo custo, não há interesse comercial dos laboratórios em produzirem essas medicações. E não há um mecanismo de obrigar as indústrias a fazerem isto. E a gente percebe que isso não é só um problema brasileiro, é um problema mundial”, afirmou a infectologista do Hospital Sírio Libanês.

O último levantamento do Ministério da Saúde é de 2014 e contou 26 mil grávidas no país com sífilis e 16 mil crianças que nasceram com a doença. O governo acredita que no mês que vem, cheguem doses suficientes da penicilina. Até lá, o tratamento vai ser com a alternativa e precisa ficar de olho.

“Essas crianças vão ter que estar fazendo sorologias constantes para avaliar a situação da sífilis nelas, de forma que a gente possa avaliar se o tratamento foi, a eficácia do tratamento, e como se espera que daqui a uns três meses volte a ter a penicilina cristalina no Brasil, caso esse tratamento não seja eficaz, elas poderão ser retratadas com a medicação, com a penicilina cristalina”, afirmou Artur Kalichman, coordenador adjunto do Programa DST - Aids/SP.

O Ministério da Saúde informou que, no mês que vem, vai ter 1,2 milhão de ampolas disponíveis de penicilina do tipo benzatina, o que supre a demanda do país. E para receber a penicilina cristalina, está tratando com a Organização Pan-Americana de Saúde uma compra de emergência.




Em Brasília, a luta para receber um remédio impagável

24/07/2016 - O Globo


Há pouco mais de dois anos, o policial federal Marcus Vinícius da Silva Dantas não pensou duas vezes ao ter um pedido de fornecimento de um remédio negado por uma juíza de Brasília: foi ao fórum e só saiu de lá após conseguir falar diretamente com a magistrada. A insistência deu resultado: ela reviu a decisão, e ele conseguiu retomar o tratamento:

— É o que eu sempre digo: existe, sim, pena de morte no Brasil. E ela acontece quando um juiz nega um medicamento a uma pessoa que precisa dele para viver. Criei um grupo com pessoas que têm a mesma doença que eu, atualmente com 200 membros. Cinco já morreram porque o remédio não chegou em tempo hábil.

Marcus Vinícius tem uma doença chamada Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN), síndrome rara que provoca a destruição de células sanguíneas. Começou a sentir os primeiros sintomas em 2010. Até ter o diagnóstico correto, passou por diversas internações, num sofrimento que parecia não ter fim. Em 2011, com a certeza da doença, entrou na Justiça para conseguir o medicamento. Graças a uma liminar, conseguiu o remédio que fez sua vida voltar ao normal: o eculizumabe (Soliris). Em 2014, porém, seu processo foi extinto, sem ganho de causa, e tudo começou da estaca zero. Foi quando o policial teve que entrar com a nova ação.

— Foram mais de mil páginas que levei de documentos. O medo de interromper o tratamento é muito grande. A minha vida depende desse remédio — acrescenta Marcus, de 41 anos, que conseguiu voltar ao trabalho após consolidar o tratamento.

Importado, o Soliris custa cerca de R$ 25 mil por dose. Como precisa de seis frascos por mês, o tratamento de Marcus custa R$ 150 mil mensais.

Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde fez um empenho de R$ 366 milhões para a empresa Multicare para a aquisição do medicamento, que, apesar de aprovado nos EUA e na Europa, ainda não tem o aval da Anvisa.




Europa dá sinal verde a tratamento preventivo contra o HIV

22/07/2016 - Folha de S.Paulo / Site


A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) deu sinal verde nesta sexta (22) para a comercialização na União Europeia (UE) do remédio Truvada para uso preventivo contra a Aids. O medicamento já é autorizado para tratamento permanente da infecção pelo HIV.

A EMA "recomendou autorizar a comercialização na UE do Truvada (associação de tenofovir disoproxil e entricitabina) para um tratamento profilático prévio à exposição (...) com a finalidade de reduzir o risco de infecção pelo HIV de adultos que apresentem um risco elevado" de contágio.

A agência lembra que o medicamento foi autorizado inicialmente em 2005 na UE para tratar adultos infectados com HIV, "combinado com ao menos outro antiviral".

Para autorizar o remédio a título preventivo, a agência se baseou em estudos que demonstraram sua eficácia para os pacientes.

A EMA afirma que a autorização do Truvada —um coquetel de antirretrovirais do laboratório americano Gilead— como método pré-exposição ainda será submetida à aprovação final da Comissão Europeia.

Após o aval desta, cada membro do bloco tomará sua própria decisão sobre o preço e o reembolso do remédio pelos sistemas de saúde.

No final de 2015, a França autorizou o uso do medicamento para prevenção "de forma limitada" em hospitais, assim como o reembolso de 100% do valor do remédio, se convertendo no primeiro país europeu e o segundo do mundo, atrás dos Estados Unidos, a dar sinal verde à utilização do Truvada como tratamento preventivo da Aids.

Em junho, o ministério francês da saúde autorizou sua prescrição em centros gratuitos de informação sobre a Aids.

A EMA, assim como a França há alguns meses, lembra que o Truvada deve "fazer parte de uma estratégia global de prevenção" e que não deveria substituir o uso do preservativo, "a única forma de se proteger do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis".

A decisão da França foi motivada pelo fato de que o Truvada responde a uma realidade: algumas pessoas com alto risco de contágio, principalmente homossexuais e transexuais, são menos receptivas aos métodos tradicionais de prevenção.


SUS


O acesso, através do SUS, ao método de prevenção de infecção por HIV, conhecido como PrEP, também foi anunciado nesta semana. Ele estará disponível a partir de início de 2017 no máximo, segundo o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.

Aplicativos colocam terapia e plantão hospitalar no celular

24/07/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Conhecedores das lacunas na saúde, médicos têm se aventurado pelo empreendedorismo no setor. A área é promissora. Uma pesquisa feita em 2015 pela Fundacity, empresa que reúne cem fundos de capital, investidores-anjo e aceleradoras, mostrou que 77% tinham a intenção de investir em projetos nesse segmento.

Especializado em tratar timidez extrema e fobias sociais, o psiquiatra José Hamilton sempre se perguntou por que os pacientes demoravam, em média, dez anos entre perceber os primeiros sintomas e procurar ajuda.

Ele desenvolveu então um aplicativo que ajuda o usuário a descobrir se sua timidez ou ansiedade é um problema que requer tratamento.

O Youper é baseado em protocolos científicos. Na primeira etapa, gratuita, o interessado faz uma espécie de autoavaliação com questões sobre seu nível de ansiedade e de vergonha em diversas situações do dia a dia.

O segundo passo, disponível para quem paga assinatura mensal de R$ 79, inclui a terapia digital. São técnicas baseadas em terapia cognitiva e comportamental.

"Não se trata de autoajuda, já que a ferramenta é personalizada e tem o objetivo de ajudar o paciente a superar fobias", diz Hamilton.

O psiquiatra afirma ainda que a ideia do Youper, que tem 5.000 usuários, não é substituir o psiquiatra ou os medicamentos, mas sim atuar como coadjuvante dos tratamentos convencionais.

"Nos próximos anos, a terapia digital será algo comum", diz Hamilton, que não revela seu faturamento.

O médico Josenilson Oliveira gerenciou equipes de pronto socorro de hospitais por mais de 14 anos e se sentia incomodado com o fato das escalas serem feitas da mesma forma há decadas, muitas vezes em folha de papel.

Ele investiu R$ 400 mil para criar o iPlantão, software que organiza os horários dos plantonistas, em parceria com um amigo da área de tecnologia de informação.

A licença da plataforma, que traz também uma lista de contatos de profissionais de saúde, custa entre


R$ 2.000 E R$ 3.000 POR MÊS


Pouco mais de dois anos após sua criação, o sistema está em 112 unidades de saúde da Prefeitura de Campinas (SP) e cinco empresas da área hospitalar.


QUALIDADE


Para o empresário Eliezer Dias, a inspiração para empreender na área de saúde veio de um caso de doença.

O carro-chefe da Coloff, empresa de produtos médico-hospitalares, é um revestimento para assento sanitário acoplado a um coletor de fezes e urina para exames.

A ideia veio quando a mãe de sua sócia, Carolina Fagundes, precisou coletar material para diagnosticar um câncer colorretal. "Havia no mercado apenas potinhos, então veio a ideia de desenvolver algo mais higiênico e confortável", conta Dias, que investiu cerca de R$ 100 mil.

O produto foi patenteado em 2009. Desde então, foi comprado por grandes hospitais, como o Albert Einstein, está em redes de farmácias e é exportado para EUA, Austrália e Nova Zelândia.




Sistema Suplementar em mudança

25/07/2016 - O Globo


A saúde suplementar vive a sua maior crise, desde que foi regulamentada pela Lei 9.656, em 1998. Em 12 meses, fechados em junho, 1,64 milhão de pessoas deixaram de ser usuários de planos de saúde. O encolhimento do setor, certamente, reflete a crise econômica do país e seus 11 milhões de desempregados. Mas não é só isso. Há tempos usuários e operadoras travam um cabo de guerra em relação a amplitude de cobertura dos planos e reajustes. O que resultou em judicialização e na quase extinção da oferta de planos individuais, que têm os aumentos anuais controlados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Este cenário de insegurança econômica e jurídica para consumidores e empresas foi agravado pela a quebra da Unimed Paulistana e a crise financeira da Unimed Rio, ambas grandes comercializadoras de planos individuais. Atualmente, há 54 empresas em regime de direção fiscal e o mesmo número em liquidação extrajudicial pela reguladora.

Não há quem discorde que o momento é de repensar o sistema. No entanto, a questão é equalizar os interesses. Não à toa, a agenda da agência reguladora do setor se ocupa, neste momento, tanto de discutir novas formas de remunerar os serviços prestados pelas operadoras para promover saúde, quanto de novos modelos de planos para diversificar a oferta.

Segundo Ricardo Ramos, diretor da Abramge, associação de planos de saúde, de cada R$ 100 recebidos pelas empresas, R$ 85 são gastos com assistência médica. Descontados ainda custos como impostos e administrativos, diz Ramos, não sobra praticamente nada. A sustentabilidade é afetada ainda, diz, pelo envelhecimento da população.

— Todo mundo vai ter que mudar e ceder alguma coisa — acredita.

Para Elici Bueno, não há dúvida que o setor público está em crise. Já sobre o setor privado, ela avalia que a questão não é falta de dinheiro:

— Se fosse tão deficitário como querem nos fazer acreditar, uma gigante americana do setor não teria entrado no Brasil há quatro anos. Tudo indica que esse setor tem sérios problemas de gestão, transparência e tem pouca fiscalização.

Segundo fonte próxima ao debate sobre a nova regulamentação, o setor precisará trabalhar com mais transparência e ter mais atenção com a saúde básica dos usuários. Por outro lado, acrescenta, o consumidor terá que entender que a cobertura de cada plano é limitada e o custo que implica cada procedimento agregado. Será necessário mudar a forma de oferta e consumo da saúde suplementar.




Ressarcimento mais rápido ao SUS

25/07/2016 - O Globo


O ministro Ricardo Barros quer que os próprios hospitais do SUS cobrem, de forma imediata, o pagamento das operadoras por atendimento de segurados na rede pública. -BRASÍLIA E RIO- O ministro da Saúde, Ricardo Barros, vai propor uma nova forma para o ressarcimento dos planos de saúde ao Sistema Único de Saúde (SUS) pelo uso da rede pública por seus segurados. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Barros disse que a intenção é estabelecer um modelo de contrato diretamente entre hospitais e operadoras, que deverão ressarcir a rede pública imediatamente, de acordo com valores previamente acordados. O ministro quer evitar questionamentos das cobranças pelas empresas e alimentar rapidamente o caixa do SUS.

— Há um valor crescente de ressarcimentos. Hoje são cerca de R$ 400 milhões por ano de repasse. Espero estabelecer um modelo de contratação direta dos hospitais públicos com os planos. Com o contrato, os valores por procedimentos ficam estabelecidos e é só faturar. Assim, quando alguém for atendido na rede pública fatura-se imediatamente a operadora. — explica. — Queremos transformar o ressarcimento, que hoje é complexo, numa coisa simples e rápida.

O ressarcimento é cobrado sempre que beneficiários de planos de saúde são atendidos na rede pública para realizar procedimentos que estão previstos em seus contratos. Hoje, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) identifica o paciente e cruza as informações com o banco de dados de usuários da saúde suplementar. Os recursos vão para o Fundo Nacional de Saúde (FNS), gestor financeiro do SUS.


EMPRESAS SÃO CONTRA A PROPOSTA


Em 2015, ao todo, foram 439 mil procedimentos médicos realizados na rede do SUS por pacientes que têm planos de saúde, segundo a ANS. O total cobrado chegou a R$ 708,9 milhões. O repasse ao Fundo, no entanto, foi de R$ 399 milhões. De acordo com a agência, desde 2000, foram arrecadados R$ 1,2 bilhão, o que corresponde a 46% do valor total dos atendimentos passíveis de ressarcimento. E R$ 623 milhões incluídos na dívida ativa federal.

— Hoje, os planos discutem se o procedimento que foi dado ao cliente deles no hospital público foi correto ou não. E se perde a capacidade de rapidamente repor esses recursos no caixa do SUS. Isso porque muita coisa fica sub judice. Por isso, pedi o estudo dessa proposta — destaca Barros.

Há ações das empresas até no Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitucionalidade da cobrança feita pelo SUS. Nas contas da ANS, há cerca de R$ 500 milhões que deveriam ter sido repassados ao SUS depositado em juízo. Segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramnica ge) e de entidades de defesa do consumidor, esse valor está na casa do bilhão de reais.

Pedro Ramos, diretor da Abramge, diz que as operadoras estariam dispostas a firmar um acordo para pagar os valores sub judice, se houvesse uma discussão ampla sobre o ressarcimento, que recentemente passou a incluir atendimentos ambulatoriais feitos pelo SUS a seus usuários. A proposta do ministro, porém, não lhe parece boa solução.

— Para a implementação dessa proposta será preciso mexer na lei e acho que não devemos complicar ainda mais o assunto. O fundamental é que os hospitais avisem ao plano quando o usuário der entrada, para escolhermos se queremos removê-lo ou não. Hoje meu beneficiário fica 15 dias na UTI e só fico sabendo quando chega a conta — diz Ramos, que se queixa ainda de a tabela paga pelas empresas ao SUS ser acrescida de uma taxa sobre o procedimento.

Na avaliação da doutora em Saúde Pública, a médica Ligia Bahia, do Laboratório de Economia da Saúde da UFRJ, a proposta de mudança de ressarcimento, sugerida por Barros, acentua as desigualdades no sistema de saúde:

— O ressarcimento prevê que os recursos sejam direcionados para o FNS e distribuídos de acordo com prioridades sanitárias. Com a proposta do ministro, os recursos acabariam concentrados nos hospitais em regiões e cidades de maior renda, já que os segmentos populacionais com piores situações de saúde estão em áreas denominadas vazios sanitários.

A especialista, que também é membro da diretoria da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), preocupa-se ainda com a parte burocrática da mudança:

— A operacionalização da cobrança em hospitais públicos implicaria em maior estrutura burocrática e um conjunto de situações, como auditorias de empresas privadas em órgãos estatais e possíveis desvios de recursos, o que desviaria as atribuições assistenciais, por exemplo.

Com o objetivo de desafogar as emergências dos hospitais públicos foi sancionada na última terça-feira pelo governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, a Lei 7.042, prevendo que vítimas de acidentes, com plano de saúde, ao serem socorridas por Bombeiros poderão ser levadas a hospitais particulares. A prática era encaminhar para a rede pública.

— Pelo sistema de regulação, sempre que há um acidente o Samu e os Bombeiros levam as vítimas para um hospital público e os planos têm que ressarcir os gastos. Essa decisão do Rio é uma tentativa de descongestionar urgências e emergências da rede pública — limitou-se a comentar o ministro.

A Abrasco, por sua vez, já se manifestou contrária a nova lei, ressaltando que a decisão sobre o local de atendimento de emergência deve ser téce não baseada no equilíbrio fiscal do estado.

O fato é que o próprio ministro defende a necessidade de fortalecer a saúde suplementar para melhorar o SUS. Para tanto, Barros voltou a defender a criação de planos populares, com preços mais baixos e menor cobertura. Disse que pediu à ANS revisão das regras da saúde suplementar para autorizá-los. E fez apelo às operadoras.

— Estamos propondo que o mercado ofereça planos mais acessíveis, com custo menor e cobertura menor, para que possamos por mais recursos no atendimento das pessoas — diz Barros.

Para Ligia, no entanto, a proposta de criação de planos populares não tem fundamento técnico:

— Essa iniciativa foi experimentada e fracassou na Colômbia. O plano barato pressupõe problema de saúde ordinário e não é assim que os seres biológicos se comportam ao longo da vida.


ESTIMULAR PLANOS INDIVIDUAIS É UM OBJETIVO


Ramos, da Abramge, por sua vez, vê os planos populares como uma ótima alternativa:

— O plano popular poderia focar no atendimento básico à saúde que o SUS não consegue atender. Vamos comparar os planos a uma grande lanchonete. Elas vendem combos, mas o cliente pode escolher comprar o sanduíche em separado. Poderia haver uma modalidade em que se pudesse optar por pagar um hospital, como o São José, para tratar um câncer e não para a emergência.

Elici Bueno, coordenadora executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), teme que haja mais prejuízo que benefícios:

— Nós entendemos que este tipo de “plano popular", vago e impropriamente aventado, criaria mais problema para o consumidor. Sobretudo em um cenário de crise econômica, onde a população mais vulnerável seria afetada.

Ciente do impacto da crise econômica no número de usuários da saúde suplementar — segundo a ANS, houve redução de cem mil pessoas, apenas no mês de junho — o ministro afirma que é preciso estimular planos individuais:

— As pessoas saíram dos empregos e perderam os planos. Precisamos encontrar uma maneira de incentivar a oferta de planos de adesão individuais. Isso está em discussão na ANS.

Ligia ressalta que não só desempregados, mas principalmente, idosos são penalizados pela ausência de planos individuais no mercado:

— O idoso brasileiro paga muito mais que o americano ou europeu (incluindo o valor desembolsado pelo governo para a saúde) por planos com coberturas muito inferiores. E não há o que fazer, pois não conseguem migrar de plano, já que as empresas não ofertam mais individuais.

O diretor da Abramge afirma, porém, que não haverá oferta enquanto houver “tamanha ingerência” sobre a modalidade e sem que haja transparência no cálculo dos índices de reajuste.

Câncer de colo de útero mata 5,4 mil brasileiras por ano

24/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Tumor que pode ser evitado pela vacina contra o HPV ou por meio da realização de exame papanicolau, o câncer de colo de útero matou 5.430 brasileiras em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde. O vírus está ligado ainda à ocorrência de outros tipos de tumor, como os de orofaringe, vagina, ânus e pênis.

A vacina confere proteção contra quatro subtipos do vírus – 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros estão associados ao aparecimento de verrugas genitais e os dois últimos são os causadores da maioria dos tumores de colo uterino. A vacina é dada em duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda. Além das meninas de 9 a 13 anos, podem tomar a vacina na rede pública garotas e mulheres soropositivas de até 26 anos.




Zika é achado em sêmen 93 dias após infecção

23/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Um homem de 27 anos teve a presença do vírus da zika detectada no sêmen, na França, 93 dias após relatar sintomas de uma infecção adquirida em uma viagem à Tailândia, no Sudeste da Ásia – onde não há epidemia de zika. O caso foi relatado por pesquisadores franceses em um artigo publicado ontem na revista científica The Lancet.

Até agora, o registro de sobrevivência mais longa do vírus no sêmen havia sido de 62 dias após os sintomas. Segundo os autores, o novo caso indica que pessoas que viajam para áreas onde não há epidemia de zika também podem ser infectadas.

O artigo sugere que o monitoramento dos pacientes por seis meses depois do aparecimento dos sintomas, como recomenda o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, deveria ser estendido também para pacientes que voltam de áreas não epidêmicas.

A equipe de cientistas foi coordenada por Jean Michel Mansuy, do Centro Hospitalar Universitário de Toulouse, na França. Segundo os pesquisadores, nenhum traço do vírus zika foi encontrado nas amostras de sangue ou de urina do paciente, mas fragmentos do RNA do vírus foram detectados duas vezes no sêmen.


RESERVATÓRIO


Segundo o artigo, o paciente viajou à Tailândia entre 18 de outubro e 30 de novembro de 2015, foi picado por mosquitos, mas não se expôs a nenhum risco de infecção por zika depois de voltar à França.

Sintomas moderados de zika – que incluíam fraqueza, dores no corpo e conjuntivite – apareceram no dia 6 de dezembro de 2015, exatos 93 dias antes da detecção do vírus no sêmen pela equipe de cientistas.

“Os dados indicam que o sêmen pode conter o vírus zika produzido em um reservatório de replicação atualmente desconhecido”, escreveram os cientistas.




‘Biópsia líquida’ para monitorar câncer passa a ser oferecida no país

25/07/2016 - Folha de S.Paulo


Laboratórios do país começam a disponibilizar o exame que ficou conhecido como “biópsia líquida”. Trata-se de uma análise a partir do sangue na qual é possível encontrar e analisar o DNA de células tumorais.

A alternativa “clássica”, a biópsia convencional, muitas vezes requer cirurgia, especialmente em órgãos internos, como o pulmão.

A existência de DNA no plasma sanguíneo (veja infográfico) não é inusual—pode acontecer com vários tipos celulares— e é por isso que a fração de DNA tumoral é pequena, geralmente menor do que 1%, o que acaba requerendo um cuidado especial com a amostra.

O DNA tumoral circulante, ouct DNA, pode revelar mutações importantes, como uma no gene EGFR que pode estar presente em vários tipos de câncer, como o de pulmão.

Se ela existir, assim como acontece quando há outros tipos de mutação, é possível indicar medicamentos mais eficazes no combate à doença, como o erlotinibe e o gefitinibe, das farmacêuticas Roche e AstraZeneca, respectivamente.

Um dos laboratórios que está realizando esse tipo de análise é a Progenética Hermes Pardini. Segundo o diretor de pesquisa e desenvolvimento do laboratório, Mariano Zalis, uma das vantagens de fazer o teste com sangue e não com o tecido coletado na biópsia convencional (que é conservado em um bloco de parafina) é a quantidade de DNA que pode ser obtida nesse novo método.

É consenso entre médicos que o exame de sangue não substitui a biópsia convencional,mas ele pode ser especialmente útil para acompanhar a evolução do tumor (em uma frequência semanal ou mensal, por exemplo) e antecipar o surgimento de células resistentes—o que muitas vezes requer a troca de medicamento.

A AstraZeneca está selecionando alguns pacientes para fazerem o exame para detectar mutações no gene EGFR de graça.Normalmente, ele custa cerca de R$ 1.500.

Por enquanto, a iniciativa está disponível nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Goiânia —é necessário que o médico faça a requisição. A previsão é de que seja disponibilizado nacionalmente em agosto.


EVIDÊNCIAS


Recentemente, foram divulgados os resultados de um estudo americano de biópsia líquida com dados de 17 mil pacientes. Foram analisadas alterações genéticas em mais de 50 tipos de câncer.

Entre 94% e 100% das vezes,a mutação encontrada no sangue correspondia àquela do tecido da biópsia.

A vantagem da análise convencional ainda é a informação histológica —que tipos de células participam daquele tumor e suas características químicas ou de forma, por exemplo. “Esse tipo de informação ainda é fundamental para a caracterização do tumor e para a definição do tratamento”, afirma o oncologista Daniel Herchenhorn,do Grupo D’Or.

O recurso da biópsia líquida será especialmente útil para pacientes que não podem ser rebiopsiados, ou seja, que não podem passar novamente por um procedimento invasivo como uma cirurgia.

Em 63% dos casos de câncer de pulmão analisados no estudo americano, a amostra obtida pela biópsia tecidual foi insuficientemente ou apenas parcialmente testada.

Na análise sanguínea, o volume de material a ser testado é, na prática, ilimitado.

A técnica poderá ser usada como uma forma barata de rastreamento, “caçando” tumores em pessoas de grupos de risco. Ela também reduz uma desvantagem da biópsia tumoral, que é o risco de pegar uma região do tumor que não representa adequadamente sua totalidade —existe uma variabilidade “geográfica” e o pedaço retirado é bastante pequeno.

Esse resultado seria um passo adiante na abordagem “agnóstica” do tumor, ou seja, deixando de lado onde ele está (pulmão, útero ou intestino, por exemplo) e se preocupando mais com suas características biológicas, como as proteínas e enzimas que ele produz, explica Philip Mack, da Universidade da Califórnia em Davis, que apresentou o estudo.

“É uma abordagem na linha de caracterizar o perfil genético do tumor e personalizar o tratamento.

Já é algo real hoje no Brasil, no sistema privado”, diz Herchenhorn.

No estudo, a partir da análise do DNA tumoral circulante foi possível recomendar o tratamento ideal para 63,6% dos pacientes, o que inclui desde o uso de drogas já aprovadas pela FDA (espécie de Anvisa americana) até a elegibilidade para participação em testes clínicos.

O DNA tumoral circulante foi detectado em 83% das amostras de sangue analisadas.

Boa parte dos casos em que isso não foi possível referem-se a câncer no cérebro, como glioblastoma.




Na medicina, todo paciente tem um determinado preço

23/07/2016 - Folha de S.Paulo


Todos nós temos um preço, afirma o especialista em farmacoeconomia Diego Rosselli. Para o presidente da Sociedad Internacional de Farmacoeconomia e Investigación de Resultados, na Colômbia, "devemos saber que os recursos são limitados e ver o quanto podemos pagar por isso".

Para Rosselli, que palestrou no Roche Press Day, na Costa Rica, no último dia (7), tanto o governo quanto os usuários do sistema de saúde devem entender as dimensões econômicas de cada decisão na área.

Em outras palavras, é necessário entender o quanto vale investir em um ano a mais de vida de um paciente, em vez de observar apenas os custos do tratamento.

Folha - O que é preciso saber de farmacoeconomia pra não tomar decisões erradas?

Diego Rosselli - Uma das coisas que temos que colocar como objetivo é que cada um dos agentes que participam das decisões em saúde tenha conhecimento para negociar. E o paciente tem que conhecer as informações dos custos da enfermidade, os custos de não tratar a doença, os conceitos de custoefetividade para comparar uma doença à outra.

Folha - Todos nós, individual ou coletivamente, temos um preço?

Diego Rosselli  - Sim. Devemos saber que os recursos são limitados e ver o quanto podemos pagar por isso. Todos temos um preço.

Folha - O senhor fala de diferenciar os custos diretos, indiretos e intangíveis. Quais são eles?

Diego Rosselli  - O custo direto vem daquilo que tem preço, como um medicamento, uma diária em um hospital, o custo de deslocamento de levar um paciente de um lugar a outro.

Um custo indireto é o custo da produtividade de uma pessoa, de um dia em que não vai trabalhar ou do dia em que vai trabalhar, mas não consegue trabalhar bem. Pode ser o caso de um cuidador, da pessoa que se aposenta cedo por invalidez.

Há um problema aí: os custos diretos podem ser parecidos para ricos e pobres, mas os custos indiretos são injustos com os pobres. Um escandinavo com artrite reumatoide que continua trabalhando consegue pagar um remédio que custa mil dólares todo mês. Agora, um trabalhador brasileiro dificilmente conseguiria isso com seu trabalho.

Já os custos intangíveis são mais difíceis de quantificar. São os custos da dor, da ansiedade. Se um médico pede um exame de sangue e constata que você tem HIV, e você está se sentindo bem, ainda assim há um custo pelo fato de você ter descoberto isso.

É mais difícil ainda se falarmos de morte. Perder um filho é uma experiência tão dolorosa que chega a ser difícil colocar um custo, e a sociedade valora isso de maneira diferente. Se alguém morre aos 12 anos, significa que algo de errado ocorreu.

Parece frio esse olhar matemático diante de uma doença. Ou mesmo uma política pública em que o governo tenha que dizer "então, a partir de 70 anos não vamos pagar tal remédio". Como chegar a um denominador comum?

Estávamos reunidos com um grupo de transplantados, falando sobre transplante de rim. Discutíamos uma situação em que há apenas um rim disponível e dois pacientes que precisam dele, um de 21 anos e outro de 70. A quem daríamos o rim? O Presidente da Associação Colombiana de Transplantados, que tem cerca de 70 anos, disse "isso não é justo, paguei meus impostos a vida inteira". Então, ele já teria pago por esse rim, e o de 21 anos, não. Com o envelhecimento das nações, esse é um problema que veremos cada vez mais.

Imagine que você tem 70 anos, dois filhos, seis netos. Vocês têm uma casa familiar, um carro, um capital de alguns milhares de dólares. Se você adoece e dizem que você tem que pagar US$ 50 mil pelo tratamento para que viva alguns anos a mais, é preciso refletir. Essa é uma reflexão que exige que aceitemos a morte, que é um passo importante na nossa cultura.

Folha - Então, mesmo o custo da cura deve ser sustentável?

Diego Rosselli  - Sim, penso que sim. Creio que um dia vamos chegar a estabelecer um valor a uma pessoa, como em casos de câncer de pulmão, que tem um custo alto.

E se a pessoa nunca fez esforço para deixar de fumar e isso culminou em um tumor? Com que direito ela quer que paguemos US$ 50 mil pelo seu tratamento? É um valor diferente de uma pessoa que fez esse esforço para parar de fumar. Devemos valorar isso um dia?

Folha - E como levar essa discussão para as políticas públicas?

Diego Rosselli  - Não há nenhum país que tenha conseguido isso. Quando falamos de PIB per capita do Brasil, há uma diferença entre Estados, entre o Rio Grande do Sul e o Amazonas. Não há país que tenha incorporado isso, essa forma de tratar as pessoas como se não valessem o mesmo. Mas há razões para imaginar que, um dia, isso pode mudar.

Folha - Quais as dificuldades para um país em crise como o Brasil?

Diego Rosselli  - O Brasil tem um grande problema, que é o seu tamanho. É grande em geografia, em diversidade. Se você pensar em Uruguai, em Costa Rica, fica mais fácil decidir para uns poucos milhões.

Uma coisa que está nascendo no Brasil e em outros países latino-americanos é o chamado "risco compartilhado" –quando um remédio entra no mercado, mas num regime condicionado.

Um novo mecanismo pode ser um sistema em que se paga pelo paciente que responde ao tratamento. Agora o Brasil tem problemas para resolver, como a crise e os Jogos Olímpicos do Rio. Depois, podemos voltar a conversar.


RAIO-X - DIEGO ROSSELLI


Formação

Médico pela Universidade de Rosario e mestrado em ciências pela London School of Economics e em educação em Harvard.

Trajetória

Professor na Pontifícia Universidade Javeriana (Colômbia); diretor de desenvolvimento científico e tecnológico no Ministério da Saúde do país (1993-1996)

A jornalista viajou a convite da Roche e integrou o 4º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde.




Vacina de HPV só tem adesão de 45% do público-alvo

24/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Quase três anos após incluir a vacina contra o HPV no SUS, o Ministério da Saúde conseguiu imunizar integralmente nesse período só 45% das meninas para as quais o item está disponível gratuitamente. Capaz de prevenir o câncer de colo de útero ao impedir a infecção pelo vírus, a vacina tem sobrado nos postos de saúde.

Levantamento feito pelo ministério a pedido do Estado mostra que de 2014, quando a campanha foi iniciada, até 2016, cerca de 5,3 milhões de meninas de 9 a 13 anos tomaram as duas doses da vacina, o que garante a proteção. O número, no entanto, está bem abaixo da população-alvo, de cerca de 11,9 milhões.

O balanço federal mostra também que a cobertura vacinal é bastante desigual entre os Estados. Enquanto no Distrito Federal 72% das meninas tomaram as duas doses da vacina, no Pará, a adesão foi de apenas 28% da população-alvo.

As menores coberturas estão justamente em regiões onde a mortalidade por câncer de colo de útero é maior no País. Dos cinco Estados brasileiros com as mais baixas adesões, quatro são do Norte e Nordeste, onde os índices de óbitos por 100 mil mulheres foram de 12,24 e 6,3 em 2013, os maiores entre as cinco regiões brasileiras. Além do Pará, figuram na lista de menores coberturas Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraná.

Para o Ministério da Saúde e especialistas, a baixa adesão à campanha está ligada à desinformação de alguns pais e à circulação de informações sobre possíveis reações adversas da vacina. O ministério diz ainda que o fato de muitos municípios não oferecerem a imunização em escolas dificulta a adesão.

“Existe muita veiculação de informações equivocadas sobre possíveis eventos adversos nas redes sociais e meios de comunicação. Em parte, isso se deve ao fato de que, quando a vacina foi introduzida no País, foram notificados 23 casos de reação psicogênica. As investigações evidenciaram que não houve nenhuma manifestação clínica associada à vacinação”, diz Eduardo Hage, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do ministério.


MEDO


O receio de o imunizante causar efeitos colaterais foi uma das razões que levaram a advogada Ana Lúcia Keuneche, de 42 anos, a optar por não vacinar a filha Sofia, de 10 anos. “Li a bula da vacina e estão descritos vários possíveis efeitos adversos. Acho que os pais deveriam ter acesso à informação antes de fazer uma escolha que pode trazer riscos”, diz.

O publicitário Rodrigo José de Almeida Vieira Dias, de 44 anos, tem a mesma opinião e não vacinou a filha de 9 anos. “Acho que a população está sendo cobaia dessa vacina. Como existiram relatos de problemas em outros países, como o Japão, acho que essa vacina não deveria ser dada até mais estudos serem feitos.”

De acordo com o ministério, os dez anos de uso da vacina em programas de imunização de outros países somam evidências científicas significativas de segurança, eficácia e eficiência na prevenção do câncer de colo de útero. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem o mesmo posicionamento.

“Não existe medicamento isento de risco. A possibilidade de eventos adversos existe, mas é muito pequena. O benefício supera qualquer risco da vacina. Temos a sorte de contar com uma vacina que previne câncer. É muito triste ela não ser utilizada”, diz o oncologista Claudio Ferrari, secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.


MORTES


Tumor que pode ser evitado pela vacina contra o HPV ou por meio da realização de exame papanicolau, o câncer de colo de útero matou 5.430 brasileiras em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde. O vírus está ligado ainda à ocorrência de outros tipos de tumor, como os de orofaringe, vagina, ânus e pênis.

A vacina confere proteção contra quatro subtipos do vírus – 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros estão associados ao aparecimento de verrugas genitais e os dois últimos são os causadores da maioria dos tumores de colo uterino. A vacina é dada em duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda. Além das meninas de 9 a 13 anos, podem tomar a vacina na rede pública garotas e mulheres soropositivas de até 26 anos.


TRÊS PERGUNTAS PARA...


Eduardo Hage, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde

1. Como o ministério avalia a cobertura vacinal alcançada até agora?

Este porcentual, ainda não satisfatório, pode estar associado a fatores como a baixa percepção do risco sobre a doença e conhecimento insuficiente sobre eficácia e segurança.

2. Por que as taxas de cobertura são tão diferentes entre os Estados?

Embora o ministério oriente a integração entre saúde e educação, somente parte dos municípios usa a escola para a vacinação e isso pode contribuir para as diferenças.

3. O que o ministério pretende fazer para aumentar a adesão à campanha?

O trabalho tem sido na comunicação. Elaboramos materiais técnicos e educativos sobre HPV voltados para profissionais da saúde, professores, adolescentes e a comunidade.




Afastamento de trabalhador por estresse aumenta com a recessão

24/07/2016 - Folha de S.Paulo


Os números da Previdência Social advertem: a crise econômica já faz mal à saúde do brasileiro.

A participação das doenças mentais nos afastamentos associados ao trabalho subiu de 4% para quase 5% das licenças nos últimos três anos.

Algumas delas, como transtornos ansiosos e reação grave ao estresse, cresceram ainda mais -com taxas de expansão na casa dos 30% nesse mesmo período.

São sintomas de uma relação já observada e medida em países desenvolvidos: recessões prolongadas, como a que o Brasil atravessa agora, afetam a saúde mental da população, com fortes prejuízos sociais e econômicos.

Pesquisas recentes mostram que a crise financeira global, que estourou em 2008, provocou aumento da incidência de doenças como depressão e da taxa de suicídio em vários países.

Os dados mais recentes de saúde no Brasil ainda não foram computados, mas o relato de especialistas e as estatísticas da Previdência já indicam efeitos da atual contração econômica brasileira, que já dura dois anos.


DEMANDA


Há uma procura crescente por auxílios-doença, principalmente psiquiátricos, desde o fim do ano passado, disse o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Francisco Cardoso.

"Os pedidos de auxílio-doença costumam aumentar em períodos de crise. Vimos isso, por exemplo, no período de crises que ocorreu entre 1999 e 2001", afirmou.

Para Marco Pérez, diretor do departamento de saúde ocupacional da Secretaria de Políticas de Previdência Social, ainda é cedo para verificar o efetivo impacto da recessão nas estatísticas de afastamento do trabalho.

Mas ele disse esperar que esse efeito possa aparecer. "Não há a menor dúvida de que uma crise econômica gera impactos sobre os aspectos emocionais e afetivos de uma pessoa", afirmou.

Em 2009, ano em que o Brasil sentiu os efeitos da crise global com mais intensidade, também houve um salto nesses afastamentos -cujo nome técnico é auxílio-doença acidentário.

A causa mais visível do estresse provocado por uma crise econômica é a ameaça do desemprego. Entre o início de 2014 e o primeiro trimestre deste ano, o número de desocupados, de acordo com as estatísticas do IBGE, aumentou de 7 milhões para mais de 11 milhões de pessoas.

"Além da perda do emprego, o risco de ficar desempregado também tem impacto na vida emocional", disse Pérez.

Esse efeito da sobrecarga de trabalho e da perspectiva de ser atingido por cortes na saúde mental de quem continua empregado foi verificado pelo professor Jörg Huber, do Centro de Pesquisa em Saúde na Universidade de Brighton (Inglaterra), em estudo após a crise de 2008/2009 no Reino Unido.

Segundo ele, crescem os sintomas de estresse, ansiedade e depressão.

"Nossas pesquisas indicam que até 40% dos adultos apresentaram sintomas de saúde mental debilitada após a crise global de 2008/2009 no Reino Unido. Quanto maior o impacto no ambiente de trabalho, mais fortes os efeitos na saúde", afirmou Pérez à Folha.

O estresse prolongado pode causar ainda problemas como diabetes e doenças cardíacas. Mas nem todo o mundo é afetado, ressalta Huber. "Alguns grupos têm graus mais altos de resiliência, se adaptam melhor à adversidade."


PRODUTIVIDADE


A consequência da piora na saúde mental para o país, além da óbvia perda de qualidade de vida, é um aumento dos gastos públicos e privados com saúde e uma menor capacidade de crescimento no longo prazo.

Para Cardoso, da ANMP, muitos beneficiários que entram em afastamento acabam não voltando ao mercado. "Quanto mais tempo a pessoa fica recebendo o benefício, mais difícil se torna tirá-la. Muitos cultivam a doença, deixando de tomar, por exemplo, medidas que poderiam ajudá-la a superar o problema e voltar ao trabalho."

Em relatório intitulado "O impacto das crises econômicas na saúde mental", publicado em 2011, a Organização Mundial da Saúde alertou as autoridades europeias para a necessidade de agir a fim de mitigar os efeitos da recessão.

"Enquanto as crises econômicas podem ter efeitos na saúde mental, problemas de saúde mental também têm efeitos significativos sobre a economia. As consequências ocorrem, principalmente, sob a forma de perda de produtividade", diz o relatório.

"Os transtornos mentais graves muitas vezes começam na adolescência ou com jovens adultos, o que faz com que a perda de produtividade possa ter longa duração."

Segundo dados da consultoria farmacêutica IMS Health, também aumentou o consumo de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, notadamente a partir de 2015.

Desde o ano passado, o ritmo de vendas desses medicamentos é superior ao do total da indústria farmacêutica.

Parte desse aumento pode ser creditada à maior incidência de doenças mentais. Porém, a quebra de patentes de alguns medicamentos barateou remédios e pode ter facilitado o acesso dos consumidores a eles.




Mais Médicos: 1,5 mil profissionais vão ocupar vagas em todo o país

22/07/2016 - Valor Econômico / Site


Cerca de 1,5 mil profissionais cubanos e brasileiros formados no exterior devem chegar ao país até o fim de agosto para ocupar vagas em aberto do Programa Mais Médicos. O anúncio foi feito hoje pelo Ministério da Saúde.

Desse total, em torno de 600 profissionais já estão no Brasil, participando do acolhimento e regularizando a documentação antes de se deslocarem aos municípios onde vão atuar. Entre os que já chegaram, 300 são de Cuba. A previsão é que mais 250 desembarquem ainda esta semana, de um total de 1,2 mil médicos cubanos.


ACOLHIMENTO


Os médicos graduados fora do Brasil passam por um período de acolhimento com duração de três semanas, quando são abordados aspectos do Sistema Único de Saúde (SUS), com enfoque especial na atenção básica, doenças prevalentes no Brasil, conhecimentos linguísticos e aspectos éticos e legais da prática médica. Só poderão participar do programa profissionais que forem aprovados em avaliação realizada durante o acolhimento.

A previsão do governo é que a primeira leva de profissionais, com 305 médicos, comece a chegar a 226 municípios e um distrito indígena no dia 8 de agosto. Eles farão ainda uma semana de acolhimento no local onde vão atuar. As atividades em unidades básicas de saúde começam em 15 de agosto.


NOVO EDITAL


O ministério também anunciou a publicação de um novo edital para a seleção de médicos para reposição de vagas desocupadas desde o último processo de seleção, realizado em abril. Ao todo, são 502 vagas em 393 municípios. A prioridade, segundo o governo, é para profissionais brasileiros, que têm até 27 de julho para se candidatar.

Em caso de vagas remanescentes, médicos brasileiros formados no exterior serão os próximos convocados e, só depois, serão convocados profissionais estrangeiros e da cooperação com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

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