Câncer de colo de útero mata 5,4 mil brasileiras por ano
24/07/2016 - O Estado de S.Paulo
Tumor que pode ser evitado pela vacina contra o HPV ou por meio da realização de exame papanicolau, o câncer de colo de útero matou 5.430 brasileiras em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde. O vírus está ligado ainda à ocorrência de outros tipos de tumor, como os de orofaringe, vagina, ânus e pênis.
A vacina confere proteção contra quatro subtipos do vírus – 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros estão associados ao aparecimento de verrugas genitais e os dois últimos são os causadores da maioria dos tumores de colo uterino. A vacina é dada em duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda. Além das meninas de 9 a 13 anos, podem tomar a vacina na rede pública garotas e mulheres soropositivas de até 26 anos.
Zika é achado em sêmen 93 dias após infecção
23/07/2016 - O Estado de S.Paulo
Um homem de 27 anos teve a presença do vírus da zika detectada no sêmen, na França, 93 dias após relatar sintomas de uma infecção adquirida em uma viagem à Tailândia, no Sudeste da Ásia – onde não há epidemia de zika. O caso foi relatado por pesquisadores franceses em um artigo publicado ontem na revista científica The Lancet.
Até agora, o registro de sobrevivência mais longa do vírus no sêmen havia sido de 62 dias após os sintomas. Segundo os autores, o novo caso indica que pessoas que viajam para áreas onde não há epidemia de zika também podem ser infectadas.
O artigo sugere que o monitoramento dos pacientes por seis meses depois do aparecimento dos sintomas, como recomenda o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, deveria ser estendido também para pacientes que voltam de áreas não epidêmicas.
A equipe de cientistas foi coordenada por Jean Michel Mansuy, do Centro Hospitalar Universitário de Toulouse, na França. Segundo os pesquisadores, nenhum traço do vírus zika foi encontrado nas amostras de sangue ou de urina do paciente, mas fragmentos do RNA do vírus foram detectados duas vezes no sêmen.
RESERVATÓRIO
Segundo o artigo, o paciente viajou à Tailândia entre 18 de outubro e 30 de novembro de 2015, foi picado por mosquitos, mas não se expôs a nenhum risco de infecção por zika depois de voltar à França.
Sintomas moderados de zika – que incluíam fraqueza, dores no corpo e conjuntivite – apareceram no dia 6 de dezembro de 2015, exatos 93 dias antes da detecção do vírus no sêmen pela equipe de cientistas.
“Os dados indicam que o sêmen pode conter o vírus zika produzido em um reservatório de replicação atualmente desconhecido”, escreveram os cientistas.
‘Biópsia líquida’ para monitorar câncer passa a ser oferecida no país
25/07/2016 - Folha de S.Paulo
Laboratórios do país começam a disponibilizar o exame que ficou conhecido como “biópsia líquida”. Trata-se de uma análise a partir do sangue na qual é possível encontrar e analisar o DNA de células tumorais.
A alternativa “clássica”, a biópsia convencional, muitas vezes requer cirurgia, especialmente em órgãos internos, como o pulmão.
A existência de DNA no plasma sanguíneo (veja infográfico) não é inusual—pode acontecer com vários tipos celulares— e é por isso que a fração de DNA tumoral é pequena, geralmente menor do que 1%, o que acaba requerendo um cuidado especial com a amostra.
O DNA tumoral circulante, ouct DNA, pode revelar mutações importantes, como uma no gene EGFR que pode estar presente em vários tipos de câncer, como o de pulmão.
Se ela existir, assim como acontece quando há outros tipos de mutação, é possível indicar medicamentos mais eficazes no combate à doença, como o erlotinibe e o gefitinibe, das farmacêuticas Roche e AstraZeneca, respectivamente.
Um dos laboratórios que está realizando esse tipo de análise é a Progenética Hermes Pardini. Segundo o diretor de pesquisa e desenvolvimento do laboratório, Mariano Zalis, uma das vantagens de fazer o teste com sangue e não com o tecido coletado na biópsia convencional (que é conservado em um bloco de parafina) é a quantidade de DNA que pode ser obtida nesse novo método.
É consenso entre médicos que o exame de sangue não substitui a biópsia convencional,mas ele pode ser especialmente útil para acompanhar a evolução do tumor (em uma frequência semanal ou mensal, por exemplo) e antecipar o surgimento de células resistentes—o que muitas vezes requer a troca de medicamento.
A AstraZeneca está selecionando alguns pacientes para fazerem o exame para detectar mutações no gene EGFR de graça.Normalmente, ele custa cerca de R$ 1.500.
Por enquanto, a iniciativa está disponível nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Goiânia —é necessário que o médico faça a requisição. A previsão é de que seja disponibilizado nacionalmente em agosto.
EVIDÊNCIAS
Recentemente, foram divulgados os resultados de um estudo americano de biópsia líquida com dados de 17 mil pacientes. Foram analisadas alterações genéticas em mais de 50 tipos de câncer.
Entre 94% e 100% das vezes,a mutação encontrada no sangue correspondia àquela do tecido da biópsia.
A vantagem da análise convencional ainda é a informação histológica —que tipos de células participam daquele tumor e suas características químicas ou de forma, por exemplo. “Esse tipo de informação ainda é fundamental para a caracterização do tumor e para a definição do tratamento”, afirma o oncologista Daniel Herchenhorn,do Grupo D’Or.
O recurso da biópsia líquida será especialmente útil para pacientes que não podem ser rebiopsiados, ou seja, que não podem passar novamente por um procedimento invasivo como uma cirurgia.
Em 63% dos casos de câncer de pulmão analisados no estudo americano, a amostra obtida pela biópsia tecidual foi insuficientemente ou apenas parcialmente testada.
Na análise sanguínea, o volume de material a ser testado é, na prática, ilimitado.
A técnica poderá ser usada como uma forma barata de rastreamento, “caçando” tumores em pessoas de grupos de risco. Ela também reduz uma desvantagem da biópsia tumoral, que é o risco de pegar uma região do tumor que não representa adequadamente sua totalidade —existe uma variabilidade “geográfica” e o pedaço retirado é bastante pequeno.
Esse resultado seria um passo adiante na abordagem “agnóstica” do tumor, ou seja, deixando de lado onde ele está (pulmão, útero ou intestino, por exemplo) e se preocupando mais com suas características biológicas, como as proteínas e enzimas que ele produz, explica Philip Mack, da Universidade da Califórnia em Davis, que apresentou o estudo.
“É uma abordagem na linha de caracterizar o perfil genético do tumor e personalizar o tratamento.
Já é algo real hoje no Brasil, no sistema privado”, diz Herchenhorn.
No estudo, a partir da análise do DNA tumoral circulante foi possível recomendar o tratamento ideal para 63,6% dos pacientes, o que inclui desde o uso de drogas já aprovadas pela FDA (espécie de Anvisa americana) até a elegibilidade para participação em testes clínicos.
O DNA tumoral circulante foi detectado em 83% das amostras de sangue analisadas.
Boa parte dos casos em que isso não foi possível referem-se a câncer no cérebro, como glioblastoma.
Na medicina, todo paciente tem um determinado preço
23/07/2016 - Folha de S.Paulo
Todos nós temos um preço, afirma o especialista em farmacoeconomia Diego Rosselli. Para o presidente da Sociedad Internacional de Farmacoeconomia e Investigación de Resultados, na Colômbia, "devemos saber que os recursos são limitados e ver o quanto podemos pagar por isso".
Para Rosselli, que palestrou no Roche Press Day, na Costa Rica, no último dia (7), tanto o governo quanto os usuários do sistema de saúde devem entender as dimensões econômicas de cada decisão na área.
Em outras palavras, é necessário entender o quanto vale investir em um ano a mais de vida de um paciente, em vez de observar apenas os custos do tratamento.
Folha - O que é preciso saber de farmacoeconomia pra não tomar decisões erradas?
Diego Rosselli - Uma das coisas que temos que colocar como objetivo é que cada um dos agentes que participam das decisões em saúde tenha conhecimento para negociar. E o paciente tem que conhecer as informações dos custos da enfermidade, os custos de não tratar a doença, os conceitos de custoefetividade para comparar uma doença à outra.
Folha - Todos nós, individual ou coletivamente, temos um preço?
Diego Rosselli - Sim. Devemos saber que os recursos são limitados e ver o quanto podemos pagar por isso. Todos temos um preço.
Folha - O senhor fala de diferenciar os custos diretos, indiretos e intangíveis. Quais são eles?
Diego Rosselli - O custo direto vem daquilo que tem preço, como um medicamento, uma diária em um hospital, o custo de deslocamento de levar um paciente de um lugar a outro.
Um custo indireto é o custo da produtividade de uma pessoa, de um dia em que não vai trabalhar ou do dia em que vai trabalhar, mas não consegue trabalhar bem. Pode ser o caso de um cuidador, da pessoa que se aposenta cedo por invalidez.
Há um problema aí: os custos diretos podem ser parecidos para ricos e pobres, mas os custos indiretos são injustos com os pobres. Um escandinavo com artrite reumatoide que continua trabalhando consegue pagar um remédio que custa mil dólares todo mês. Agora, um trabalhador brasileiro dificilmente conseguiria isso com seu trabalho.
Já os custos intangíveis são mais difíceis de quantificar. São os custos da dor, da ansiedade. Se um médico pede um exame de sangue e constata que você tem HIV, e você está se sentindo bem, ainda assim há um custo pelo fato de você ter descoberto isso.
É mais difícil ainda se falarmos de morte. Perder um filho é uma experiência tão dolorosa que chega a ser difícil colocar um custo, e a sociedade valora isso de maneira diferente. Se alguém morre aos 12 anos, significa que algo de errado ocorreu.
Parece frio esse olhar matemático diante de uma doença. Ou mesmo uma política pública em que o governo tenha que dizer "então, a partir de 70 anos não vamos pagar tal remédio". Como chegar a um denominador comum?
Estávamos reunidos com um grupo de transplantados, falando sobre transplante de rim. Discutíamos uma situação em que há apenas um rim disponível e dois pacientes que precisam dele, um de 21 anos e outro de 70. A quem daríamos o rim? O Presidente da Associação Colombiana de Transplantados, que tem cerca de 70 anos, disse "isso não é justo, paguei meus impostos a vida inteira". Então, ele já teria pago por esse rim, e o de 21 anos, não. Com o envelhecimento das nações, esse é um problema que veremos cada vez mais.
Imagine que você tem 70 anos, dois filhos, seis netos. Vocês têm uma casa familiar, um carro, um capital de alguns milhares de dólares. Se você adoece e dizem que você tem que pagar US$ 50 mil pelo tratamento para que viva alguns anos a mais, é preciso refletir. Essa é uma reflexão que exige que aceitemos a morte, que é um passo importante na nossa cultura.
Folha - Então, mesmo o custo da cura deve ser sustentável?
Diego Rosselli - Sim, penso que sim. Creio que um dia vamos chegar a estabelecer um valor a uma pessoa, como em casos de câncer de pulmão, que tem um custo alto.
E se a pessoa nunca fez esforço para deixar de fumar e isso culminou em um tumor? Com que direito ela quer que paguemos US$ 50 mil pelo seu tratamento? É um valor diferente de uma pessoa que fez esse esforço para parar de fumar. Devemos valorar isso um dia?
Folha - E como levar essa discussão para as políticas públicas?
Diego Rosselli - Não há nenhum país que tenha conseguido isso. Quando falamos de PIB per capita do Brasil, há uma diferença entre Estados, entre o Rio Grande do Sul e o Amazonas. Não há país que tenha incorporado isso, essa forma de tratar as pessoas como se não valessem o mesmo. Mas há razões para imaginar que, um dia, isso pode mudar.
Folha - Quais as dificuldades para um país em crise como o Brasil?
Diego Rosselli - O Brasil tem um grande problema, que é o seu tamanho. É grande em geografia, em diversidade. Se você pensar em Uruguai, em Costa Rica, fica mais fácil decidir para uns poucos milhões.
Uma coisa que está nascendo no Brasil e em outros países latino-americanos é o chamado "risco compartilhado" –quando um remédio entra no mercado, mas num regime condicionado.
Um novo mecanismo pode ser um sistema em que se paga pelo paciente que responde ao tratamento. Agora o Brasil tem problemas para resolver, como a crise e os Jogos Olímpicos do Rio. Depois, podemos voltar a conversar.
RAIO-X - DIEGO ROSSELLI
Formação
Médico pela Universidade de Rosario e mestrado em ciências pela London School of Economics e em educação em Harvard.
Trajetória
Professor na Pontifícia Universidade Javeriana (Colômbia); diretor de desenvolvimento científico e tecnológico no Ministério da Saúde do país (1993-1996)
A jornalista viajou a convite da Roche e integrou o 4º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde.
Vacina de HPV só tem adesão de 45% do público-alvo
24/07/2016 - O Estado de S.Paulo
Quase três anos após incluir a vacina contra o HPV no SUS, o Ministério da Saúde conseguiu imunizar integralmente nesse período só 45% das meninas para as quais o item está disponível gratuitamente. Capaz de prevenir o câncer de colo de útero ao impedir a infecção pelo vírus, a vacina tem sobrado nos postos de saúde.
Levantamento feito pelo ministério a pedido do Estado mostra que de 2014, quando a campanha foi iniciada, até 2016, cerca de 5,3 milhões de meninas de 9 a 13 anos tomaram as duas doses da vacina, o que garante a proteção. O número, no entanto, está bem abaixo da população-alvo, de cerca de 11,9 milhões.
O balanço federal mostra também que a cobertura vacinal é bastante desigual entre os Estados. Enquanto no Distrito Federal 72% das meninas tomaram as duas doses da vacina, no Pará, a adesão foi de apenas 28% da população-alvo.
As menores coberturas estão justamente em regiões onde a mortalidade por câncer de colo de útero é maior no País. Dos cinco Estados brasileiros com as mais baixas adesões, quatro são do Norte e Nordeste, onde os índices de óbitos por 100 mil mulheres foram de 12,24 e 6,3 em 2013, os maiores entre as cinco regiões brasileiras. Além do Pará, figuram na lista de menores coberturas Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraná.
Para o Ministério da Saúde e especialistas, a baixa adesão à campanha está ligada à desinformação de alguns pais e à circulação de informações sobre possíveis reações adversas da vacina. O ministério diz ainda que o fato de muitos municípios não oferecerem a imunização em escolas dificulta a adesão.
“Existe muita veiculação de informações equivocadas sobre possíveis eventos adversos nas redes sociais e meios de comunicação. Em parte, isso se deve ao fato de que, quando a vacina foi introduzida no País, foram notificados 23 casos de reação psicogênica. As investigações evidenciaram que não houve nenhuma manifestação clínica associada à vacinação”, diz Eduardo Hage, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do ministério.
MEDO
O receio de o imunizante causar efeitos colaterais foi uma das razões que levaram a advogada Ana Lúcia Keuneche, de 42 anos, a optar por não vacinar a filha Sofia, de 10 anos. “Li a bula da vacina e estão descritos vários possíveis efeitos adversos. Acho que os pais deveriam ter acesso à informação antes de fazer uma escolha que pode trazer riscos”, diz.
O publicitário Rodrigo José de Almeida Vieira Dias, de 44 anos, tem a mesma opinião e não vacinou a filha de 9 anos. “Acho que a população está sendo cobaia dessa vacina. Como existiram relatos de problemas em outros países, como o Japão, acho que essa vacina não deveria ser dada até mais estudos serem feitos.”
De acordo com o ministério, os dez anos de uso da vacina em programas de imunização de outros países somam evidências científicas significativas de segurança, eficácia e eficiência na prevenção do câncer de colo de útero. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem o mesmo posicionamento.
“Não existe medicamento isento de risco. A possibilidade de eventos adversos existe, mas é muito pequena. O benefício supera qualquer risco da vacina. Temos a sorte de contar com uma vacina que previne câncer. É muito triste ela não ser utilizada”, diz o oncologista Claudio Ferrari, secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
MORTES
Tumor que pode ser evitado pela vacina contra o HPV ou por meio da realização de exame papanicolau, o câncer de colo de útero matou 5.430 brasileiras em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde. O vírus está ligado ainda à ocorrência de outros tipos de tumor, como os de orofaringe, vagina, ânus e pênis.
A vacina confere proteção contra quatro subtipos do vírus – 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros estão associados ao aparecimento de verrugas genitais e os dois últimos são os causadores da maioria dos tumores de colo uterino. A vacina é dada em duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda. Além das meninas de 9 a 13 anos, podem tomar a vacina na rede pública garotas e mulheres soropositivas de até 26 anos.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Eduardo Hage, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde
1. Como o ministério avalia a cobertura vacinal alcançada até agora?
Este porcentual, ainda não satisfatório, pode estar associado a fatores como a baixa percepção do risco sobre a doença e conhecimento insuficiente sobre eficácia e segurança.
2. Por que as taxas de cobertura são tão diferentes entre os Estados?
Embora o ministério oriente a integração entre saúde e educação, somente parte dos municípios usa a escola para a vacinação e isso pode contribuir para as diferenças.
3. O que o ministério pretende fazer para aumentar a adesão à campanha?
O trabalho tem sido na comunicação. Elaboramos materiais técnicos e educativos sobre HPV voltados para profissionais da saúde, professores, adolescentes e a comunidade.
Afastamento de trabalhador por estresse aumenta com a recessão
24/07/2016 - Folha de S.Paulo
Os números da Previdência Social advertem: a crise econômica já faz mal à saúde do brasileiro.
A participação das doenças mentais nos afastamentos associados ao trabalho subiu de 4% para quase 5% das licenças nos últimos três anos.
Algumas delas, como transtornos ansiosos e reação grave ao estresse, cresceram ainda mais -com taxas de expansão na casa dos 30% nesse mesmo período.
São sintomas de uma relação já observada e medida em países desenvolvidos: recessões prolongadas, como a que o Brasil atravessa agora, afetam a saúde mental da população, com fortes prejuízos sociais e econômicos.
Pesquisas recentes mostram que a crise financeira global, que estourou em 2008, provocou aumento da incidência de doenças como depressão e da taxa de suicídio em vários países.
Os dados mais recentes de saúde no Brasil ainda não foram computados, mas o relato de especialistas e as estatísticas da Previdência já indicam efeitos da atual contração econômica brasileira, que já dura dois anos.
DEMANDA
Há uma procura crescente por auxílios-doença, principalmente psiquiátricos, desde o fim do ano passado, disse o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Francisco Cardoso.
"Os pedidos de auxílio-doença costumam aumentar em períodos de crise. Vimos isso, por exemplo, no período de crises que ocorreu entre 1999 e 2001", afirmou.
Para Marco Pérez, diretor do departamento de saúde ocupacional da Secretaria de Políticas de Previdência Social, ainda é cedo para verificar o efetivo impacto da recessão nas estatísticas de afastamento do trabalho.
Mas ele disse esperar que esse efeito possa aparecer. "Não há a menor dúvida de que uma crise econômica gera impactos sobre os aspectos emocionais e afetivos de uma pessoa", afirmou.
Em 2009, ano em que o Brasil sentiu os efeitos da crise global com mais intensidade, também houve um salto nesses afastamentos -cujo nome técnico é auxílio-doença acidentário.
A causa mais visível do estresse provocado por uma crise econômica é a ameaça do desemprego. Entre o início de 2014 e o primeiro trimestre deste ano, o número de desocupados, de acordo com as estatísticas do IBGE, aumentou de 7 milhões para mais de 11 milhões de pessoas.
"Além da perda do emprego, o risco de ficar desempregado também tem impacto na vida emocional", disse Pérez.
Esse efeito da sobrecarga de trabalho e da perspectiva de ser atingido por cortes na saúde mental de quem continua empregado foi verificado pelo professor Jörg Huber, do Centro de Pesquisa em Saúde na Universidade de Brighton (Inglaterra), em estudo após a crise de 2008/2009 no Reino Unido.
Segundo ele, crescem os sintomas de estresse, ansiedade e depressão.
"Nossas pesquisas indicam que até 40% dos adultos apresentaram sintomas de saúde mental debilitada após a crise global de 2008/2009 no Reino Unido. Quanto maior o impacto no ambiente de trabalho, mais fortes os efeitos na saúde", afirmou Pérez à Folha.
O estresse prolongado pode causar ainda problemas como diabetes e doenças cardíacas. Mas nem todo o mundo é afetado, ressalta Huber. "Alguns grupos têm graus mais altos de resiliência, se adaptam melhor à adversidade."
PRODUTIVIDADE
A consequência da piora na saúde mental para o país, além da óbvia perda de qualidade de vida, é um aumento dos gastos públicos e privados com saúde e uma menor capacidade de crescimento no longo prazo.
Para Cardoso, da ANMP, muitos beneficiários que entram em afastamento acabam não voltando ao mercado. "Quanto mais tempo a pessoa fica recebendo o benefício, mais difícil se torna tirá-la. Muitos cultivam a doença, deixando de tomar, por exemplo, medidas que poderiam ajudá-la a superar o problema e voltar ao trabalho."
Em relatório intitulado "O impacto das crises econômicas na saúde mental", publicado em 2011, a Organização Mundial da Saúde alertou as autoridades europeias para a necessidade de agir a fim de mitigar os efeitos da recessão.
"Enquanto as crises econômicas podem ter efeitos na saúde mental, problemas de saúde mental também têm efeitos significativos sobre a economia. As consequências ocorrem, principalmente, sob a forma de perda de produtividade", diz o relatório.
"Os transtornos mentais graves muitas vezes começam na adolescência ou com jovens adultos, o que faz com que a perda de produtividade possa ter longa duração."
Segundo dados da consultoria farmacêutica IMS Health, também aumentou o consumo de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, notadamente a partir de 2015.
Desde o ano passado, o ritmo de vendas desses medicamentos é superior ao do total da indústria farmacêutica.
Parte desse aumento pode ser creditada à maior incidência de doenças mentais. Porém, a quebra de patentes de alguns medicamentos barateou remédios e pode ter facilitado o acesso dos consumidores a eles.
Mais Médicos: 1,5 mil profissionais vão ocupar vagas em todo o país
22/07/2016 - Valor Econômico / Site
Cerca de 1,5 mil profissionais cubanos e brasileiros formados no exterior devem chegar ao país até o fim de agosto para ocupar vagas em aberto do Programa Mais Médicos. O anúncio foi feito hoje pelo Ministério da Saúde.
Desse total, em torno de 600 profissionais já estão no Brasil, participando do acolhimento e regularizando a documentação antes de se deslocarem aos municípios onde vão atuar. Entre os que já chegaram, 300 são de Cuba. A previsão é que mais 250 desembarquem ainda esta semana, de um total de 1,2 mil médicos cubanos.
ACOLHIMENTO
Os médicos graduados fora do Brasil passam por um período de acolhimento com duração de três semanas, quando são abordados aspectos do Sistema Único de Saúde (SUS), com enfoque especial na atenção básica, doenças prevalentes no Brasil, conhecimentos linguísticos e aspectos éticos e legais da prática médica. Só poderão participar do programa profissionais que forem aprovados em avaliação realizada durante o acolhimento.
A previsão do governo é que a primeira leva de profissionais, com 305 médicos, comece a chegar a 226 municípios e um distrito indígena no dia 8 de agosto. Eles farão ainda uma semana de acolhimento no local onde vão atuar. As atividades em unidades básicas de saúde começam em 15 de agosto.
NOVO EDITAL
O ministério também anunciou a publicação de um novo edital para a seleção de médicos para reposição de vagas desocupadas desde o último processo de seleção, realizado em abril. Ao todo, são 502 vagas em 393 municípios. A prioridade, segundo o governo, é para profissionais brasileiros, que têm até 27 de julho para se candidatar.
Em caso de vagas remanescentes, médicos brasileiros formados no exterior serão os próximos convocados e, só depois, serão convocados profissionais estrangeiros e da cooperação com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
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