PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 131 - AGO - SET/2017

 

COMISSÃO ASSESSORAS / INDÚSTRIA

A longa jornada da inovação tecnológica

IMPRESCINDÍVEL PARA A SOBREVIVÊNCIA DO SETOR, A PESQUISA E O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS REQUEREM ATUALIZAÇÃO DAS REGRAS VIGENTES E INCENTIVOS POR PARTES DAS EMPRESAS, GOVERNO E UNIVERSIDADES

Existe um forte consenso na área de Farmácia de que a inovação tecnológica é um fator primordial para a competitividade entre empresas e países, sendo vital para a sobrevivência deste setor. No entanto, trata-se de um processo extremamente complexo, longo e caro. Segundo informações do Instituto de Tecnologia em Fármacos da Farmanguinhos/Fiocruz, leva-se de cinco a 12 anos para trazer à comercialização um novo medicamento.

Embora algumas empresas farmacêuticas nacionais pratiquem, efetivamente, a inovação voltada para o desenvolvimento tecnológico, obtendo resultados satisfatórios nesse sentido a médio e longo prazos, a realidade para muitas empresas é que o cenário é praticamente o mesmo de três décadas atrás.

Na avaliação do Dr. Dante Alário Junior, farmacêutico e presidente científico da Biolab, faltam ações no sentido de alterar favoravelmente o quadro vigente.

Ele aponta como principais dificuldades fatores como a ausência de ação conjunta entre os vários ministérios no tocante à inovação, a falta de projetos de longo prazo que auxiliem a viabilizar a inovação no Brasil, as universidades que não preparam seus alunos para a pesquisa aplicada, somente para a científica, quando ocorre e a burocracia nos processos de compras de equipamentos, intermediários, reagentes, padrões e outros que fazem com que a operação seja extremamente lenta e, consequentemente, custosa.

Soma-se a isso o fato de que muitos ensaios pré-clínicos não são executados no Brasil, com exceção de centros localizados em Santa Catarina e Ceará, mas que ainda são insuficientes. “Há de se ter maior agilidade, flexibilidade – sem comprometer a qualidade – e maturidade nas decisões por parte da Anvisa. Existe um pleito antigo da indústria nacional que é de ter uma gerência de inovação incremental e radical. Esperamos ser atendidos”, afirma o Dr. Alário. Por inovação radical entende-se a pesquisa e desenvolvimento de novos ativos, enquanto que na incremental se propõe uma melhoria na qualidade de um produto já existente.

O especialista também menciona a questão de preços dos medicamentos. “A CMED – Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos –  trabalha com regras antigas e que não atendem às necessidades de hoje das indústrias nacionais que fazem inovação.  Necessário se faz uma atualização das regras existentes”.

Com a correção dos pontos citados anteriormente, incentivos financeiros e benefícios fiscais (Dr. Dante Alário exemplifica o aperfeiçoamento da Lei do Bem, que cria a concessão de incentivos fiscais às pessoas jurídicas que realizarem pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica), conjuntamente com uma Política Industrial e de Inovação, a longo prazo, a expectativa é de maior sustentação para o crescimento e expansão do setor farmacêutico nacional, inclusive com vistas na internacionalização das empresas brasileiras.

 

Papel da universidade

As universidades em todo mundo sempre tiveram papel relevante a desempenhar quando se fala em inovação. No Brasil isto também acontece, mas ainda de forma tímida, na opinião do farmacêutico. As universidades em todo mundo sempre tiveram papel relevante a desempenhar quando se fala em inovação. No Brasil isto também acontece, mas ainda de forma tímida, na opinião do farmacêutico.

“Há um resto de ranço quando se fala no trabalho conjunto entre empresa e universidade, mas que acabará com o tempo. Só que se hoje já estamos atrasados, ficaremos ainda mais esperando que se resolva tal situação. Outro aspecto a ser explorado é a visão inadequada da universidade quando o tema é inovação incremental. Ela não gosta da incremental, só da radical”.

Já as indústrias, de forma geral, atuam mais na inovação incremental, só algumas estão desenvolvendo inovações radicais. Dr. Dante Alário é enfático: “Sem a prática da incremental não se alcança a radical. E é este o estágio em que a maioria das nacionais se encontra. Há um longo caminho a percorrer, muitos conhecimentos a agregar e grandes investimentos a fazer”.

Por Renata Gonçalez

 
 
 

     

     

    farmacêutico especialista
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