PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 131 - AGO - SET/2017

 

JOVENS FARMACÊUTICOS

O que esperar dos jovens farmacêuticos

A experiência dos primeiros anos de absorção de mão-de-obra de uma geração que não consegue entender como era possível um mundo sem celulares, internet e mídias sociais, que quando criança chorou ao assistir, atônita, à morte do personagem Mufasa da animação da Disney Rei Leão, cuidou com afinco dos emblemáticos Tamagotchis (bichinhos virtuais que exigiam atenção constante do dono), além de colecionar uma legião de Tazos e monstrinhos Pokémons, revela um outro olhar sobre esses agora jovens profissionais.

Sem deixar de cultivar muitas das ambições preconizadas pelas gerações anteriores, entre as quais crescimento, estabilidade, bons salários e reconhecimento profissional, o perfil dos novos trabalhadores tende a apontar para um comportamento mais humanizado e defensor de bandeiras e ideais até então pouco percebidos.

Essa visão, inclusive, é endossada por um estudo publicado em 2012 pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) intitulado “Novas gerações no mercado de trabalho: expectativas renovadas ou antigos ideais? ”.

Diante de uma pergunta ampla acerca do que desejariam encontrar nas organizações, jovens brasileiros com idades entre 20 e 28 anos revelaram que ainda há muito em comum com membros das gerações anteriores, mas as observações desta pesquisa oferecem suporte à noção de que jovens funcionários talvez estabeleçam contratos psicológicos que favorecem o prazer pela atividade profissional, a liberdade e o envolvimento social.

Criados em ambiente com forte influência digital, profissionais nascidos nos anos 1990 têm demonstrado comportamento mais humanizado e defensor de bandeiras e ideais até então pouco percebidos nas gerações anteriores

“Ao mesmo tempo indicam que o novo parece coexistir com o 

tradicional, pois anseios contemporâneos combinam-se a desejos comuns às gerações anteriores, reforçando a percepção de que existem expectativas relacionadas ao trabalho que subsistem, a despeito de mudanças objetivas na esfera produtiva”, cita o artigo. Nessa esteira, os entrevistados se mostraram esperançosos quanto ao seu futuro profissional, vislumbrando desafios, prazer, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, reconhecimento, além de relações amistosas e éticas no ambiente de trabalho.

Reforçam essa visão sobre a nova geração outros fatores tidos como primordiais para eles no ambiente de trabalho como flexibilidade, bom relacionamento interpessoal, diversidade étnica e de gênero, responsabilidade social e ambiental, também citados no artigo da Ebape/FGV.

 

Novas formas de trabalho

Um dos desafios dessa geração é colocar o farmacêutico em contato com oportunidades até então inéditas na profissão

Coordenador do Comitê Jovem do CRF-SP, Dr. Michael Amorim afirma que a Farmácia tenta acompanhar essas mudanças do mercado profissional, embora admita que boa parte das novas formas de trabalho que já estão consolidadas em outras áreas ainda não são realidade para os farmacêuticos.

Uma das tendências que praticamente inexiste, exemplifica o farmacêutico, é a economia colaborativa, que consiste em um ambiente socioeconômico construído em torno do compartilhamento de recursos humanos, físicos e intelectuais. São ambientes que permitem o trabalho conjunto, mesmo em atividades distintas, que estimula a colaboração e a troca de experiências, oportunidades e ações sociais.

 

 

Diretoria do CRF-SP na abertura do encontro que debateu a influência do universo digital na atuação farmacêutica

Uma das tendências que praticamente inexiste, exemplifica o farmacêutico, é a economia colaborativa, que consiste em um ambiente socioeconômico construído em torno do compartilhamento de recursos humanos, físicos e intelectuais. São ambientes que permitem o trabalho conjunto, mesmo em atividades distintas, que estimula a colaboração e a troca de experiências, oportunidades e ações sociais.

“É um desafio da minha geração, e quem sabe até das próximas, se conectar com essa interface que pode colocar o farmacêutico em contato com oportunidades até então inéditas na nossa profissão. Porque o que o jovem hoje deseja não é só trabalhar para se manter; ele quer lutar por uma causa não com uma posição vitimizada, mas sim com protagonismo”, afirma o Dr. Michael.

Ele destaca a inclinação dos jovens farmacêuticos em fazer a diferença na sociedade. “No caso do farmacêutico, independentemente da área em que atua, ele carrega consigo uma grande responsabilidade perante a população, então, nossa missão é resgatar por meio dos jovens o papel de agente da saúde desse profissional”.

 

A percepção do tempo

Talvez uma das características que mais marquem essa geração nascida a partir dos anos 1990 é a diferente percepção do tempo em relação às gerações anteriores. O acesso rápido à informação, proporcionado pela internet e seus buscadores de conteúdo, a instantaneidade da comunicação com aplicativos de smartphones e mídias sociais, parece ter contribuído para forjar uma geração que se acostumou a ter resultados imediatos e isso repercute no trabalho e na carreira. 

Trabalhar com essa diferente percepção de tempo é um dos desafios que as áreas de gestão de pessoas hoje enfrentam, afirma Roberta Pelosini, gerente de recrutamento e seleção da Companhia de Talentos. “As empresas precisam inovar e ter resultados cada vez mais rápidos, em especial as que estão em mercados altamente competitivos. Esses jovens trazem essa energia positiva, mas eles se defrontam com processos burocráticos necessários à administração de toda empresa, com procedimentos que levam tempo para maturar e com uma geração de gestores estabilizada que domina esses processos. O grande desafio é criar ambientes corporativos que permitam a expansão dessa energia, sem causar grandes conflitos, e administrar as expectativas desses jovens”.

 

Posições estratégicas

Acesso rápido à informação e instantaneidade da comunicação são marca registrada dos novos profissionaisOs novos anseios dos farmacêuticos também já são percebidos por consultorias especializadas no recrutamento de profissionais e estagiários de Farmácia. Na avaliação de Roberta Pelosini, muitas empresas já estão a par desse novo perfil, buscando farmacêuticos não somente para áreas técnicas. O resultado é que ambas as partes só têm a ganhar.

“A Farmácia sempre foi uma área muito ligada à inovação, não somente na questão técnica. Os novos profissionais já estão vindo com essa mentalidade e podem contribuir, muito, na inovação do negócio. Muitas indústrias farmacêuticas têm fornecido design thinking (processo que ajuda na imersão e no entendimento de parâmetros e padrões essenciais para criar projetos de melhor qualidade) para que os farmacêuticos ajudem a construir um plano estratégico para a empresa”, afirma Roberta.

Entre as áreas que vêm oferecendo oportunidades diferenciadas para o farmacêutico, com o viés da inovação que ele traz consigo, estão as voltadas para business e inteligência de mercado, antes dominadas, majoritariamente, por administradores e engenheiros, de acordo com a gerente de recrutamento e seleção. Mas para ocupar essas posições não basta apenas ser jovem, dinâmico e antenado, há necessidade também de boa formação técnica e intelectual. Além disso, inglês avançado e especializações voltadas para gestão estratégica são requisitos fundamentais para se pleitear essas novas posições.

Seguramente as empresas que conseguirem criar ambientes desafiadores para esses jovens, além de entender e administrar suas expectativas, terão muito a ganhar com a chegada da nova geração.

Por Renata Gonçalez

 
 
 

     

     

    farmacêutico especialista
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