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Medicamentos

Vendas de não medicamentos são 1/3 do total
16/11/2014 - Folha de S.Paulo

A venda de produtos que não se enquadram na categoria dos medicamentos, como produtos de beleza e barras de cereais, tem hoje um papel de destaque no avanço do varejo farmacêutico.
A categoria de não medicamentos, que respondia por cerca de 23% das vendas das grandes redes em 2004, neste ano corresponde a 33%.
A participação dos medicamentos nas vendas totais, por sua vez, caiu de um patamar de 77% para 67% em dez anos, números que justificam o interesse do setor por territórios além dos remédios.
"Esse grupo de não medicamentos tem crescido aqui, mas, se compararmos com mercados como o americano e o britânico, em que eles representam perto da metade do faturamento, vemos que ainda pode crescer no Brasil", diz Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias).
"É uma categoria que ajuda a pagar os salários", diz.
Os não medicamentos são um dos fatores de sobrevivência das farmácias pois, diferente dos medicamentos, não são submetidos a controle de preços do governo.
O comércio desses produtos subiu quase 20%. ante alta de 11,5% dos remédios.
VINHO EM FARMÁCIA
"E não é só nos EUA e no Reino Unido que esse modelo de venda de produtos de conveniência é mais desenvolvido. Países como África do Sul, Chile e Bolívia também são referências. No sul da Itália, é possível comprar vinho em farmácia", diz Barreto.
Segundo ele, os donos de farmácias que não entenderam as mudanças de perfil pelas quais o varejo passou na última década já começaram a perder participação no mercado farmacêutico.
Muitas das farmácias menores, de bairro, que não estavam ligadas a redes e geralmente tinham pouco espaço físico para ampliar a oferta de produtos nas gôndolas tiveram de fechar as portas.
"A maior parte dos nossos consumidores são mulheres. Se entram numa farmácia hoje em dia e não encontram o achocolatado e a barra de cereal de que precisam para consumir rapidamente na rotina, vão trocar de farmácia. Elas também querem acesso a diversas marcas de xampu e hidratante. Não basta ter duas ou três opções." A participação de mercado das farmácias ligadas a redes é de 55%, diz a Abrafarma.


Uso da maconha para fins médicos deve ser facilitado
15/11/2014 - Folha de S.Paulo


Os Estados Unidos, berço da guerra às drogas e da política internacional proibicionista, viram neste mês sua capital, Washington, e os Estados de Oregon e Alaska legalizarem, nas urnas, o uso recreativo da maconha.
Desde 2012, os Estados de Colorado e Washington regulam a produção e o varejo para uso recreativo da cânabis, cujo uso medicinal é liberado em 23 Estados americanos.
No Brasil, o debate sobre o tema avança timidamente, polarizado entre cientistas, ativistas, religiosos e familiares de dependentes.
Representantes desses grupos foram às audiências promovidas pelo Senado neste ano para debater a Sugestão 8, iniciativa popular assinada por 20 mil pessoas em apenas quatro dias e que propõe regular os usos recreativo, medicinal e industrial da erva.
"As sessões foram muito duras", afirma o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), relator do projeto que, nos próximos dias, recomendará à Comissão de Direitos Humanos da Casa a regulamentação imediata dos fármacos derivados da maconha e estudos para desatar o nó da distribuição da erva "in natura" para fins medicinais.
Com o aceno do Conselho Federal de Medicina, que deve admitir a prescrição de remédios com princípios ativos da cânabis --já autorizada pelo conselho de São Paulo--, o debate promete avançar.
Veja trechos da entrevista do senador à Folha.
Folha - Aos poucos, vários Estados dos EUA regulamentam o uso recreativo da cânabis. Como está o entendimento dessa questão no Brasil? Cristovam Buarque - A partir das audiências no Senado, entendi que o proibicionismo fracassou. Estamos perdendo a guerra contra as drogas porque o consumo está aumentando e porque há dois novos problemas: a violência do tráfico e a repressão a jovens usuários, presos como traficantes, que ficam com as vidas marcadas para sempre.
Nesse entendimento, estamos parecidos com os EUA. Mas estamos longe da clareza deles sobre como regulamentar o uso da cânabis.
Não consegui respostas para perguntas como: a regulamentação aumentará o consumo da maconha? Diminuirá o tráfico de drogas? Maconha é porta de entrada para drogas mais pesadas? Como avalia a tese de que maconha é porta de entrada? Muita gente diz que a porta de entrada para o crack, por exemplo, é o fato de o sujeito comprar maconha irregularmente de um traficante que, para criar dependência, mistura a maconha com o crack. A regulação evitaria isso.
Mas há quem diga que, quando alguém experimenta uma droga, como maconha, quer logo experimentar outra. Se for assim mesmo, a porta de entrada para drogas pesadas é o álcool. Mas ninguém concebe proibir o álcool porque isso já foi feito [nos EUA] e não deu certo.
Eu abro o meu relatório dizendo que, de sexta a domingo, o Brasil é um imenso botequim. Estima-se que 96 milhões de brasileiros usem álcool a cada fim de semana. Isso é um desastre.
Há certa hipocrisia em dar tratamentos tão diferentes para o álcool e a maconha? A droga passou a ser uma característica da sociedade. E há certa hipocrisia, sim, pois o álcool traz problemas de uma gravidade brutal, e nós toleramos e incentivamos seu consumo com publicidade.
Um estudo britânico criou um ranking de drogas a partir dos danos provocados por elas. Nele, álcool e tabaco estavam no topo, e a maconha, na base.
Esse estudo foi apresentado no Senado. Mas, a cada estudo, sempre havia alguém que dissesse que ele não era sério. Nenhum estudo foi unânime. Houve um debate com dois cientistas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) que tinham posições totalmente opostas.
E como fica um leigo nesse tiroteio científico? Como eu: dizendo que não dá ainda para ter uma posição clara. O debate ainda não é conclusivo. Se eu fosse escolher uma frase de tudo o que eu ouvi, a melhor delas foi de um coronel da PM do Rio, que disse: nós temos que escolher entre afastar as drogas do jovem por meio da polícia, ou afastar o jovem da droga por meio da educação.
Quais são as conclusões e recomendações do relatório? [No documento] digo que parece haver uma tendência no mundo à descriminalização e à tolerância do uso da maconha, mas não me senti em condições de fazer um relatório afirmativo, definindo formas de regulamentar o consumo. Defendo que a Sugestão 8 não seja arquivada e que o debate continue.
E no caso do uso medicinal? Defendo a regulamentação imediata dos remédios derivados da cânabis fabricados por laboratórios. Para isso, tem de ser feito um projeto de lei imediato. Defendo também facilitar o uso da cânabis "in natura" para fins medicinais. Só que a maneira de organizar isso exige estudos.
Pelo que eu vi até aqui, é desumano impedir uma pessoa em fase terminal de uma doença de ter um mínimo de qualidade de vida porque ela teria de usar um produto considerado ilícito.
Estudos indicam benefícios do uso da cânabis para esclerose múltipla e durante o tratamento com quimioterapia.
Creio que há evidências de que esse uso seja positivo. Ouvi depoimentos de pessoas em quimioterapia sobre o ganho de qualidade de vida com o uso da maconha "in natura", fumada mesmo. Isso não foi contestado, o que demonstra que temos de levar a sério esse papel da cânabis.
Mas precisamos debater um pouco mais sobre como seria a organização da distribuição da cânabis para fins medicinais. Vamos permitir plantação em casa ou não? O Estado vai produzir? Eu não simpatizo com essa ideia.
O senhor realizou seis audiências públicas sobre o tema no Senado. Muitas delas se tornaram campos de batalha.
Estou sendo processado por uma pessoa [um pastor] que, por razões religiosas, deu voz de prisão a um rapaz que ofereceu canabidiol [derivado da maconha usado em remédios] para a mãe de uma criança com epilepsia em plena audiência. Eu disse que não permitiria isso, e ele acionou o Ministério Público dizendo que fui conivente com apologia ao crime.
Em que medida a religião é um entrave a esse debate? Religiosos acham que usar maconha é pecado. Mas o Estado não diz o que é pecado. E igreja não diz o que é crime.
Teremos de levar em conta a questão moral da sociedade brasileira. Como é que a sociedade entende uma droga ilícita, de repente, se tornar lícita? Como "maconheiro" passa a ser um adjetivo comum? Mas, há 50 anos, chamar uma mulher de divorciada era pior do que chamar um jovem de "maconheiro" hoje. E isso não existe mais.
Um Congresso mais conservador dificulta esse debate? Dificulta. Acho que o mundo caminha para a regulamentação do uso da maconha. E, mesmo não me considerando um conservador, eu não sei como deve ser essa regulamentação.
A que tipo de pressão o senhor esteve exposto na relatoria? Poucas porque não aceitei receber no meu gabinete quem quisesse fazer lobby. Teve laboratório que pediu encontro. Alguns donos de clínicas também. Eu evitei.
Eles são parte interessada: laboratórios vão lucrar se o comércio de remédios à base de cânabis for autorizado e clínicas podem perder dinheiro, porque, se deixar de ser crime consumir maconha, as internações podem diminuir.


Diagnóstico precoce permite 98% de sobrevida
15/11/2014 - Folha de S.Paulo


O diagnóstico precoce do câncer de próstata dobra a chance de sobrevida, revela estudo inédito do A.C. Camargo Cancer Center, de São Paulo.

Foram avaliados 2.293 pacientes, com idade média de 65 anos, diagnosticados com câncer de próstata e tratados na instituição desde 2000.

Desse total, 76% dos homens tiveram o tumor diagnosticado no estágio inicial, quando ele estava localizado. Dez anos depois, 98% deles estavam vivos. No estágio 4 (com metástase), menos da metade permanecia viva (46%) no mesmo período.

Segundo o médico Gustavo Guimarães, chefe de urologia do A.C. Camargo, os resultados mostram que é preciso investir mais no diagnóstico precoce, o que está longe da realidade do sistema público de saúde. No Estado de São Paulo, 30% dos tumores de próstata são diagnosticados na fase avançada. Nos EUA, esse valor é de 4%.

O câncer de próstata é o segundo tumor mais frequente no homem brasileiro, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. A estimativa é de que, em 2014, sejam 69 mil novos casos.

Além da sobrevida maior, o diagnóstico precoce possibilita o uso de procedimentos menos invasivos (cirurgias por videolaparoscopia ou robótica), que se traduz em recuperação mais rápida.

"Conseguimos diminuir pela metade o tempo em que o homem fica impotente ou precisando de fraldas [incontinente]. Na cirurgia tradicional, vai de um ano a um ano e meio. Com a robótica, reduzimos para seis meses."

Com o aposentado Moacyr Batista da Silva, 65, a recuperação foi ainda mais rápida. Ele teve o câncer diagnosticado em fevereiro e, em agosto, fez a cirurgia com robô.

"Com dois meses, deixei de usar a fralda e já estava tudo em ordem [também com a potência sexual]. Meu irmão fez a cirurgia tradicional cinco anos atrás e demorou dois anos para se recuperar", diz.

Segundo o urologista Alberto Antunes, do Hospital Sírio-Libanês, embora cirurgias menos invasivas possibilitem recuperação mais rápida, as chances de o paciente ficar permanentemente impotente ou incontinente independem do tipo de procedimento.

Ele explica que logo após a retirada da próstata, 30% dos pacientes precisarão de fraldas. Só de 3% a 4% ficarão com o problema para sempre.

Já a impotência atinge a todos no início. Entre os homens de até 55 anos, 80% recuperam a potência. Depois dos 70 anos, só 20% terão essa sorte. "Mas hoje só fica com disfunção quem quiser. Temos inúmeras opções, de medicamentos a próteses", diz Antunes.

Assim como a maioria dos homens, Silva não fazia os exames preventivos regulamente. Médicos e a Sociedade Brasileira de Urologia recomendam PSA (exame de sangue) e toque retal anualmente a partir dos 50 anos.

Pesquisa e desenvolvimento

 

Faro para o câncer
15/11/2014 - Folha de S.Paulo

Por meio do cheiro da urina, uma cadela pastora belga treinada é capaz de ajudar no diagnóstico de homens com câncer de próstata.

Ela se chama Life e vive em Ribeirão Preto (SP). Após ser adestrada para tal missão médica, foi submetida a 402 testes, de pacientes com e sem câncer da USP, e teve nada menos do que 100% de acerto.

Em 2011, pesquisadores japoneses tinham treinado uma cadela para diagnosticar câncer de intestino. Tanto eles quanto os cientistas brasileiros ainda não sabem exatamente qual substância os cachorros conseguem farejar para ter tanto sucesso.

A história de Life, 4, é um tanto curiosa. Ela era da Polícia Militar de Goiás e seria sacrificada após ser agredida por um rottweiler e apresentar vários problemas de saúde.

O treinador Ricardo Cazarotte, que colaborou com a pesquisa e é também Policial Militar, evitou que isso acontecesse, porém. Ele identificou nela potencial para a atividade científica: era importante encontrar um cão que já fosse treinado para responder a comandos e que tivesse facilidade de aprendizagem.

Em Ribeirão, ela foi ensinada que, ao identificar na urina odor com câncer de próstata, deve ficar sentada, sem sair do lugar até seu treinador determinar. Se não há câncer, ela logo volta a se mexer.

O sucesso de Life não significa, porém, que em breve hospitais contarão com um exército de cães farejando amostras de urina de pacientes com suspeita de câncer de próstata, em substituição aos tradicionais exame de sangue e de toque ou da biópsia.

Isso porque o treinamento canino leva tempo. Life precisou de dois anos. A cadela usa no Japão levou quatro, quase uma faculdade de medicina humana --e a "vida útil" de um cão é bem menor do que a de um médico.

Além disso, não são todos os cães que têm o faro aguçado o suficiente ou se adaptam a essa missão. Ainda não se sabe bem quanto custaria um projeto em larga escala ou como se resolveria as dificuldades que a presença em massa de cães num hospital poderia causar.

Segundo Rodolfo Borges dos Reis, médico urologista da faculdade de medicina da USP Ribeirão, o grande desafio científico, na verdade, é descobrir qual marcador na urina Life fareja, o que poderia permitir que se tentasse detectá-lo em laboratório.

COMO VAI , A SAÚDE DO SEU CEREBRO?
17/11/2014 - IstoÉ

Inspirados nas recomendações que levam milhares de pessoas ao cardiologista ou ao clínico para conferir, anualmente, como está a saúde do coração, neurologistas e pesquisadores do cérebro desenvolveram um corpo de testes destinado a proteger a saúde cerebral e preservar funções cognitivas como a memória, a atenção, a capacidade de se concentrar e o tempo de reação. Essa nova abordagem, nutrida em centros de pesquisa e universidades como Pittsburgh, Yale e Harvard (EUA), e Melbourne, na Austrália, começa a se disseminar pelo mundo. "Esse conjunto de testes identifica a presença de alterações cognitivas. Alguns também podem ser usados para treinar o cérebro a superá-las", disse à ISTOÉ David Darby, que dirige o Instituto Florey de Neurociências e Saúde Mental da Universidade de Melbourne. Darby é uma referência mundial no estudo do impacto das mudanças neurológicas no comportamento e um pioneiro no desenvolvimento dos jogos computadorizados para avaliar as funções cerebrais.
Iniciativas com esse direcionamento proliferam na Europa, nos EUA e no Brasil. Centros de memória antes freqüentados somente por idosos com demência ou Alzheimer agora começam a ser visitados também por uma população mais jovem interessada em preservar e melhorar a sua performance cerebral. "Recebemos desde atletas que sofreram concussão cerebral até jovens com problemas de concentração que querem saber o que a ciência oferece a eles", diz a neuropsicó-loga Mariana Assed, do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde está sendo montado um centro de avaliação em moldes semelhantes ao da Universidade de Melboume. "Estamos reunindo jogos e outros testes para melhorar o diagnóstico de alterações cognitivas e psiquiátricas", explica Mariana.
Um dos alvos do check-up cerebral é ampliar o acesso à chamada reserva cognitiva. Trata-se da capacidade de o cérebro buscar novos caminhos para usar seus recursos. Na prática, é a agilidade para acionar uma via alternativa e seguir em frente se o caminho principal até uma informação - como uma pa-S> lavra que teima em desaparecer no meio da conversa -encontra-se bloqueado ou desativado. Estudos apontam que pessoas com maior poupança cognitiva contornam melhor suas deficiências. Uma dessas constatações foi publicada pela revista "Neurobiology". Uma investigação de cientistas americanos, italianos e sérvios ligados à Fundação Kessler concluiu que a existência de uma reserva mais robusta opõe maior resistência à progressão das perdas cognitivas até mesmo em pacientes com doenças degenerativas, como a esclerose múltipla.
Em São Paulo, outro serviço de check-up cerebral, o Centro Neurability de Avaliação e Treinamento da Performance Cerebral, atua de acordo com os mais recentes achados da neurociência. Inaugurado há um ano, o local reúne psicólogos, terapeutas, neuropsicólogos, médicos do esporte e neurologistas. "Está provado que o cérebro pode ser reconf igura-do a partir de suas reservas cognitivas. É nessa fronteira da ciência que estamos trabalhando", diz o neurologista Jorge Pa-gura, do Hospital Israelita Albert Eins-tein, em São Paulo, e um dos integrantes do grupo de profissionais do centro.
Ali têm sido examinados, por exemplo, atletas do futebol feminino, jogadores de vôlei e boxe e indivíduos com queixas leves ou mais complexas de memória. Foi o que aconteceu com Luiz Carlos Moraes Rego, 81 anos, de São Paulo. Especialista em engenharia automotiva pela Universidade de Michigan (EUA) e professor de Inovação da Fundação Getulio Vargas, há um ano e meio ele se aposentou e trocou as aulas pela atividade como palestrante, consultor e articulista da revista "Inovação". "Comecei a ficar preocupado com os esquecimentos e a dificuldade de me comunicar", diz. Após se submeter a uma bateria de testes que confirmaram o problema, fez 13 sessões de treinamento para melhorar o uso de seu patrimônio cognitivo. "Foi um excelente investimento. Parece que religuei o cérebro", diz.
O publicitário Fauze Jibran, 40 anos, submeteu-se ao check-up por curiosidade e ficou surpreso ao saber que sua memória de trabalho - guarda, por exemplo, nomes de pessoas a quem você acabou de ser apresentado -, estava abaixo do normal. "Vimos que a ansiedade estava me prejudicando", conta. Ele foi orientado a modificar sua rotina para controlar o problema. "As mudanças no estilo de vida me devolveram a agilidade mental." No laboratório do neurocientista Michael Collins, da Universidade de Pittsburgh (EUA), concentra-se a vanguarda dos estudos e tratamentos da concussão cerebral, o trauma provocado por choques ou pancadas que causam impacto na cabeça. Suas pesquisas mostram que resultados normais dos exames de imagem não são suficientes para descartar uma avaliação das funções cerebrais de pessoas que bateram a cabeça. "Treinamentos específicos melhoram esse quadro", assegura Collins.
A designer Karoline Gebrael, 32 anos, de São Paulo, beneficiou-se dessa nova forma de tratar seqüelas. Há um ano, ela sofreu um acidente de carro, mas aparentemente não teve seqüelas. Com o tempo, passou a ter dores de cabeça constantes, cansaço e dificuldade para se concentrar no trabalho. "Meu desempenho estava abaixo do que sei que posso", diz. Karoline submeteu-se aos testes de avaliação neuro-cognitiva. "O cérebro dela ainda se ressentia do impacto sofrido há tanto tempo", diz o médico Ricardo Eid, coordenador do Ambulatório de Concussão da Universidade Federal de São Paulo e um dos idealizadores do Centro Neurability.
Por ser esse um campo do conhecimento ainda em construção, um dos questionamentos é se o check-up pode ser um recurso para melhorar a identificação de pessoas com declínio cognitivo leve ou até sem sintomas que indiquem o risco de demência eAlzhei-mer. A prática mostra que sim. "Nos casos em que houver um prejuízo mais acentuado da memória e de outras funções a indicação é realizar exames mais complexos para avaliar sua condição neurológica", afirma o pesquisador Ivan Okamoto, da Universidade Federal de São Paulo e diretor do Centro do Cérebro e Memória do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ele vê com bons olhos o uso dos testes para analisar as funções cerebrais, ajudando, dessa maneira, na detecção de eventuais problemas. "Ainda que seja tênue a linha divisória entre as perdas próprias do envelhecimento e quadros iniciais de demência, sabemos que intervir preco-cemente pode retardar os sinais das doenças degenerativas", afirma.
Okamoto chama a atenção para o fato de que é urgente aumentar o acesso ao diagnóstico no País. "Aqui, apenas 11% das pessoas com a doença de Alzheimer estão em tratamento e estima-se que 90% dos pacientes não tenham diagnóstico", destaca. O médico planeja lançar nos próximos meses um pacote de exames para o público saudável com foco na prevenção.
A aplicação dos testes (leia mais sobre eles no quadro ao lado) encontra suporte nos diversos estudos que buscam decifrar como os nossos neurônios se conectam uns aos outros e quais estímulos reforçam ou enfraquecem essas ligações. Entre eles estão os que avaliam testes neurocognitivos de computador e os chamados neurogames. Publicada na revista "Nature", uma pesquisa recente Os principais testes ^g Desenvolvidos por universidades e empresas de neurociência, os novos recursos para avaliar o cérebro em funcionamento também servem para melhorar seu desempenho. Conheça os mais usados: feita com 40 pessoas com idade entre 60 e 85 anos mostrou, por exemplo, a eficiência de um jogo desenvolvido pela Universidade da Califórnia, o NeuroRacer. Ele é utilizado para incentivar a capacidade de executar diversas tarefas ao mesmo tempo, algo cada vez mais comum. Nele, o jogador pilota um carro por uma região montanhosa por meio de um joystick. Ao mes mo tempo, é instruído a apertar um botão apenas quando B um sinal específico aparecer na tela. "O estudo forneceu uma y evidência poderosa de como a apli-A cação personal izada de um videoga-B me pode ser usada para investigar as ^^ habilidades cerebrais e, ao mesmo tempo, como ferramenta para a melhoria cognitiva", diz o médico Moacir Costa Neto, de Brasília. Ele foi aos EUA e à Austrália conhecer os novos recursos contra as perdas neurocognitivas.
Outro trabalho, feito por cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, e publicado pela revista "Molecular Psychiatry", investigou os efeitos de jogos de computador 3D sobre o cére bro de um grupo de adultos que jogaram, por dois meses e durante 30 minutos por dia, o game "Super Mario 64". Na comparação com indivíduos que não passaram pela experiência, o que se viu foi um aumento nas dimensões de diversas áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal (ligado à tomada de decisões e planejamento) e regiões associadas à formação da memória e aos movimentos finos das mãos.
Na opinião do médico Paulo Berto-lucci, chefe da Neurologia Comporta-mental da Universidade Federal de São Paulo, a popularização dos check-ups e dos jogos para treinar as capacidades cerebrais é positiva. "0 cérebro precisa ser tão bem cuidado quanto o coração", afirma. Ele alerta, porém, para a necessidade de usar os recursos de forma individualizada. "Jogos online ajudam a melhorar alguma coisa, mas é necessário fazer essa atividade de modo orientado e com acompanhamento", recomenda.
Na Austrália, o neurocientista Darby está justamente monitorando uma população de voluntários para afiar os critérios a serem usados nas avaliações feitas pela internet. Hoje, quem acessa sites como o Lumosity, por exemplo, será encaixado em padrões diagnósticos bastante abrangentes. O que Darby quer é criar condições para que o resultado obtido pelo internauta seja o mais específico possível. "E assim será possível ampliar o uso dessa ferramenta e reduzir a chance de que ela deixe passar variações que indiquem algo mais grave na saúde do cérebro", diz Darby.


Centro ‘limpa’ HIV de sêmen para casal sorodiscordante
16/11/2014 - O Estado de S.Paulo

A secretária Laura tinha 18 anos quando soube que o namorado, com quem começara a se relacionar, era HIV positivo.
O bibliotecário Guilherme, que tinha 21, havia sido contamina do em uma relação sexual desprotegida um ano antes. Ficaram juntos e sempre conversaram sobre ter filhos – só não sabiam como.
No ano passado, porém, quando eles completaram dez anos juntos, a gêmeas Larissa e Clara nasceram, livres do vírus.
O casal fez parte de uma pesquisa do Instituto Ideia Fértil, ligado à Faculdade de Medicina do ABC,patrocinada pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas), para desenvolver método seguro de concepção para casais sorodiscordantes.
Pelo método proposto pelo centro de pesquisas, o sêmen colhido passa por um processo de “lavagem”. Por centrifugação, o líquido seminal (onde o HIV pode ser encontrado) é separado dos espermatozoides.
Esses espermatozoides passam, então, pelo teste PCR, já usado para a detecção no sangue de processos infecciosos.
Os pesquisadores do Ideia Fértil estabeleceram os parâmetros para identificar o HIV nessas amostras de sêmen.
“Nós desenvolvemos o PCR para sêmen. A aids é uma doença compartimentada, o vírus não está presente no organismo todo. Mesmo que o exame de sangue dê carga viral zerada, no sêmen essa concentração pode estar alta. Teoricamente, uma pessoa teria risco baixo de transmissão porque a carga viral está baixa no sangue, mas a carga seminal pode estar alta”, explica Emerson Cordts, coordenador clínico do Instituto Ideia Fértil. “E é por amostra que se descobre pode ser positiva”, explica.
A pesquisa, feita em parceria com o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde, recrutou 240 casais. Desses, 98 seguiram o tratamento até o fim e passaram por 210 inseminações – quando os espermatozoides são injetados no útero, para que a fecundação ocorra naturalmente.
O protocolo inicial previa que essa inseminação fosse caseira, em que a própria mulher injetaria o espermatozoide já tratado no organismo, como forma de baratear ainda mais o método. “Mas nós teríamos de tratar o sêmen. Não fazia sentido o casal vir à clínica, nós tratarmos os espermatozoides e depois entregarmos a amostra para a inseminação em casa.
Convencemos a Opas a fazer todo o procedimento na clínica”, diz Cordts.
Resultados. Dos casais que participaram do estudo,18%engravidaram.
“Pode parecer número pequeno, masa chance de um casal sem problemas de fertilidade engravidar pelos métodos naturais é de 20%. Então, as chances dos casais sorodiscordantes que passaram por esse método é muito próxima das de um casal sem problemas de fertilidade e sem risco de contaminação por HIV. Se eles tentassem por mais quatro ou cinco meses, engravidariam”, afirma Cordts.
Oespecialista explicaquepela normatização internacional, aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), casais sorodiscordantes são liberados para fazer sexo desprotegido, durante o período fértil, desde que o homem esteja tomando o coquetel antirretrovirale tenha carga viral muitobaixa.
“A chance de transmissão do vírus para um parceiro não infectado é de 1 para 500. Como uso do antirretroviral, essa chance passa para um para 7,9 mil. O que a gente propõe é o risco zero, chance zero de contaminação e sem os inconvenientes dos efeitos colaterais para a mulher”, afirma Cordts.
OPCRé importante também para tratar casais sorodiscordantes em que o homem, além deter HIV,te mbaixa contagem de espermatozoides – a “lavagem” do sêmen faz diminuir ainda mais a quantidade de espermatozoides.
A testagem pelo PCR permite que se reduza o número de “lavagens”.
O Ideia Fértil está agora em negociação com aSecretaria Estadual de Saúde para manter a parceriaecontinuar atendendo gratuitamente os casais sorodiscordantes – a instituição não tem fins lucrativos e cobra em médiaR$6mil pelo tratamento defertilização,umterçodosvalores cobrados pelas clínicas particulares.
Validação. Os pesquisadores também estão em processo de validação do método pelo PCR, em parceria com o laboratório fabricante do equipamento, o bio Mérieux.“O kit de teste existe para exames de sangue. Nós estamos criando os parâmetros para testar o sêmen, qual o volume ideal da amostra colhida, a quantidade de reagente, o tipo de reagente. Com esses dados sistematizados, toda clínica de fertilização poderá replicar o teste”, explica a geneticista Bianca Bianco, que participa da equipe de pesquisa.


Saúde



Médica de Ribeirão participa de missão contra o ebola
17/11/2014 - DCI

A infectologista e gerente médica do Hospital São Francisco de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Silvia Fonseca, participou de missão internacional junto à Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS / OMS) para capacitar profissionais de saúde do Caribe (parte sul da América Central) contra o vírus hemorrágico ebola.

O treinamento foi realizado entre os dias 8 e 16 de novembro, quando foram repassados protocolos de contingência da doença como detecção, isolamento e gerenciamento de casos suspeitos. "A experiência de estar com uma equipe internacional altamente capacitada, que é a equipe da OPAS, por si só já faz a viagem valer a pena. Ver como vários países estão lidando com a preparação contra esta terrível doença, que é o ebola , também é muito valioso. Poder dar uma contribuição a esta imensa força- tarefa internacional contra o ebola é realmente uma vivência inesquecível", diz a infectologista.

Força-Tarefa

A missão faz parte das estratégias da OPAS para ajudar os países americanos a se prepararem para um possível caso de ebola. Para isso, foi criada uma força-tarefa formada por um grupo de profissionais de diferentes especialidades, responsáveis pelos treinamentos sobre as questões de biossegurança e pesquisa sobre Ebola, bem como ações de combate ao vírus como vigilância e rastreamento de contato.



Mais de três milhões de brasileiros têm diabetes e não sabem
15/11/2014 - O Globo

No Brasil, um total de 3,2 milhões de pessoas têm diabetes e não sabem. O número cresceu 14% em relação ao ano passado, conforme apontou uma atualização com dados deste ano da sexta edição do Atlas da Diabetes divulgado ontem. O levantamento, realizado pela Federação Internacional da Diabetes, revelou, ainda, que o Brasil tem 11,6 milhões de diabéticos dentre os 387 milhões de casos registrados no mundo.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Walter Minicucci, o resultado é alarmante.
— Se a gente levar em conta, por exemplo, que a diabetes é a maior causa de cegueira e de insuficiência renal e a segunda causa de amputação de membros inferiores, o número é muito preocupante. O nível de gasto público com essa doença é altíssimo — afirma Minicucci.
O custo mundial da doença este ano chegou a US$ 612 bilhões. E estima-se um aumento de 205 milhões de casos globalmente até 2035, totalizando 592 milhões. Um dos principais motivos para esse crescimento seria o fato de que se trata de uma doença silenciosa, com uma evolução mais lenta, sintomas poucos claros, e, consequentemente, diagnóstico tardio, diz o endocrinologista.
— A diabetes do tipo 1 acomete principalmente as crianças e os jovens, com manifestação rápida. Já na do tipo 2, a mais comum (cerca de 90% dos casos), os sintomas podem levar anos para aparecer. O indivíduo pode ter um pouco mais de sede, mas não percebe que está alterado, e até acaba se acostumando com os sintomas — alerta.
Com esse número crescente, Minicucci ratifica que é necessário levar mais conhecimento sobre a doença para a população.
— Devemos cobrar do poder público que planeje atitudes para esse quadro. Precisamos fazer mais campanhas de alimentação, de detecção da diabetes, de orientação para os detectados — sugere.
Do total de casos pelo mundo atualmente, em que uma pessoa morre de diabetes a cada sete segundos, 77% vivem em países de média e baixa renda. Isso ocorre, explica Minicucci, por que houve, nas últimas décadas, uma “ocidentalização da dieta”, isto é, os países menos favorecidos acabaram seguindo o exemplo americano de comer muitos alimentos processados, com conservantes.
UM MAL EVITÁVEL
A médica nutróloga Alice Amaral, que também se mostra preocupada com o resultado, afirma que a diabetes é uma doença “evitável”. Para ela, a maneira como vivemos atualmente e como lidamos com o nosso corpo é perigosa e favorece o surgimento de problemas como a diabetes e a obesidade.
— Quem não tem tempo para se cuidar precisará arranjar tempo para cuidar da doença — diz, acrescentando que a correria do dia a dia não pode fazer com que a pessoa deixe de lado a atenção com a saúde.
A médica diz que o exercício também é essencial:
— Não fomos criados para ficarmos andando de carro, usando elevador. Vá mais de escada, movimente-se. Troque o carro pela caminhada. Se usa transporte público, salte alguns pontos antes. Os hormônios liberados quando nos exercitamos trazem prazer e alegria e ajudam na prevenção, além de melhorar o aproveitamento da glicose para os diabéticos.


Mortes por ebola já ultrapassam 5.100, diz OMS; para EUA, há mais
15/11/2014 - Portal Valor Econômico

Mais de 5.100 pessoas morreram por causa do vírus ebola, informou nesta sexta-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma vez que o número de casos continua a aumentar em Serra Leoa, enquanto a transmissão permanece intensa na Guiné e na Libéria.

Em uma atualização dos dados, a agência de saúde das Nações Unidas disse que 14.413 casos confirmados, suspeitos ou prováveis de ebola haviam sido relatados em oito países que foram afetados pela doença. A maioria dos casos se concentrara nos três países africanos.

Um total de 5.177 pessoas morreu de ebola desde que o surto começou, disse a OMS. Na quarta-feira, a OMS informou 14.098 casos e 5.160 mortes. O mais recente relatório da OMS reclassificou os números do Mali, onde houve quatro casos, incluindo três mortes relatadas.

Um caso provável e morte foi reclassificado de um relatório anterior e agora foi excluído da contag em dos casos do Mali, disse a OMS sexta-feira.

O estágio global real do ebola é difícil de avaliar, porque é obscurecido pelo isolamento das aldeias mais atingidas, e pela resistência das clínicas em bairros urbanos. A OMS disse que sua contagem pode subestimar a situação. O Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA disse que acredita que o número real pode estar em qualquer lugar entre dois e quatro vezes os dados da OMS.

O ebola causa febre alta e hemorragia interna. A doença, que tem um período de incubação de 21 dias, se espalha através de fluidos corporais de suas vítimas e pode ser contagiosa pelo contato corporal.


Drauzio Varella: Chicungunha
15/11/2014 - Folha de S.Paulo
Colunista: Drauzio Varella

Como se a dengue fosse pouco, bate à porta o vírus chicungunha, transmitido pelo mesmo mosquito.

Em dezembro de 2013, aconteceu um surto de febre chicungunha na ilha de Saint Martin, que se espalhou para outras ilhas do Caribe e para as Américas Central e do Sul.

Oito meses mais tarde, a Organização Mundial da Saúde confirmava um total de 576 mil casos nas Américas, o dobro do mês anterior.

No Brasil, o Ministério da Saúde contabilizou 337 casos no dia 11 de outubro, número que saltou para 824 em duas semanas, distribuídos principalmente entre Oiapoque (330 casos), no Amapá, Feira de Santana (371 casos) e Riachão do Jacuípe (82 casos), na Bahia.

A disseminação rápida é atribuída à ausência de imunidade na população e à distribuição dos mosquitos-vetores capazes de transmitir o vírus: Aedes aegypti e Aedes albopictus, os mesmos da dengue.

Chicungunha é um arbovírus descrito em 1952, numa epidemia na Tanzânia. O nome "chikungunya" veio da língua Kimakonde, com o significado de "homem que anda arqueado", referência às dores articulares da enfermidade.

Como a história da dengue e da febre amarela, a do chicungunha é indissociável do comportamento humano. O aquecimento e a seca que assolaram o norte da África há 5.000 anos forçaram espécies ancestrais de Aedes arbóreos a adaptar-se aos ambientes em que os homens armazenavam água.

Assim, o Aedes aegypti se desenvolveu como uma subespécie dependente do nicho ecológico criado por agrupamentos humanos. Iniciado há 500 anos, o tráfico de escravos africanos se encarregou de espalhar pelo mundo o mosquito e os vírus que o infectavam.

A partir de então, dengue, febre amarela e chicungunha causaram epidemias nos cinco continentes.

A febre chicungunha, que emergiu na África, chegou à Ásia e às Américas há dois ou mais séculos, provocando uma epidemia em Jacarta, em 1779, e pandemias em diversas partes do hemisfério ocidental, na década de 1820.

Tradicionalmente, esses surtos foram atribuídos à dengue, uma vez que o vírus chicungunha só foi reconhecido a partir dos anos 1950.

Ao contrário da dengue, porém, em que o número de infecções assintomáticas é pelo menos três ou quatro vezes maior do que as sintomáticas, a infecção pelo chicungunha causa doença em 72 a 95% das pessoas picadas pelo mosquito infectado.

Depois de um período médio de incubação de três a sete dias, surgem: febre alta (acima de 39ºC) de início abrupto, cefaleia, dores musculares, conjuntivite, náuseas, vômitos, e vermelhidão pelo corpo. Mas o que predomina são as dores articulares, debilitantes, que acometem simetricamente diversas juntas, especialmente as de mãos e pés.

Uveíte, retinite, hepatite, miocardite, meningoencefalite e bolhas na pele são complicações mais raras.

O quadro evolui para a cura em sete a dez dias. Mortes são eventos muito raros, restritos aos mais velhos debilitados por doenças como diabetes, enfisema, insuficiência cardíaca e outras.

O diagnóstico é confirmado por exames de sangue (cultura viral, RT-PCR ou IgM).

Não existem medicamentos específicos para atacar o vírus. O tratamento é paliativo: repouso, hidratação oral ou intravenosa, analgésicos e antipiréticos.

O problema maior com o chicungunha são as dores articulares, que não se limitam apenas à fase aguda; podem persistir por meses ou anos. Estima-se que um ano mais tarde, de 20 a 50% dos infectados ainda sentirão dores fortes, incapacitantes.

Na atual epidemia que assola as ilhas francesas do Caribe, cerca de 15% dos habitantes procuraram atendimento médico. Os epidemiologistas calculam que uma vez instalada a doença numa área povoada pelo Aedes, pelo menos 30% da população será infectada, a menos que se adotem medidas intensivas de combate ao mosquito.

O chicungunha será uma ameaça para nós? Já é, como demonstra a velocidade de disseminação na Bahia e no Amapá. Com a chegada das chuvas, quando a dengue inferniza milhões de brasileiros, não haverá como conter o chicungunha, que não mata, mas deixa todo o mundo doente.

E, pior, com dores articulares crônicas que sobrecarregarão nosso já combalido sistema de saúde.



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