PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 114 - NOV-DEZ / 2013
Revista 114 Técnica e Prática
Paracetamol: cuidado redobrado
Analgésico pode levar à morte se utilizado sem orientação. Farmacêutico deve conhecer efeitos e interações para se responsabilizar pela prescrição
Que a regulamentação da prescrição farmacêutica significa um marco para a profissão, está evidente; no entanto, o próximo passo agora é o farmacêutico se cercar de informações e conhecimento sobre os medicamentos isentos de prescrição (MIPs). Para isso, como parte das ações do CRF-SP para garantir a excelência na atuação do profissional, a Revista do Farmacêutico começa uma série de matérias sobre as características dos MIPs que, de acordo com a Resolução do CFF no 586/13, podem ser prescritos. A ideia é mostrar o mecanismo de ação, interações, efeitos colaterais e principais riscos.
O primeiro a ser abordado é um dos princípios ativos mais procurados em farmácias e drogarias do mundo e o responsável pela morte de 150 norte-americanos (por ano) por intoxicação, o paracetamol. O levantamento foi feito pela organização sem fins lucrativos Pro Publica, dos EUA, de 2001 a 2010, com pacientes que consumiram o paracetamol.
Segundo a Pro Publica, que se baseou em dados dos CDCs (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), essas mortes ocorreram por ingestão acidental de doses maiores do que as recomendadas na bula. Metabolizado no fígado, o paracetamol utilizado em doses excessivas por pessoas desnutridas, que bebam álcool regularmente ou que tomem outros medicamentos, faz com que o metabolismo produza uma substância tóxica que pode levar à falência hepática.
É por esses e outros problemas que o farmacêutico deve redobrar a atenção ao prescrever um antigripal, por exemplo. O mesmo ocorre quando o paracetamol é utilizado para tratar a febre em crianças, já que é comum os pais abusarem da dosagem na tentativa de diminuir a temperatura corporal dos filhos adoentados. A assessora técnica do CRF-SP, dra. Amouni Mourad, alerta sobre a necessidade de consumo com orientação. “É um grande risco, uma vez que o paracetamol está acessível ao público e, por isso, gera a sensação de inofensividade, o que pode levar ao uso irracional. O exagero pode levar à toxicidade.”
Entre as indicações clínicas do paracetamol ou acetaminofeno estão a atuação como analgésico, antitérmico e anti-inflamatório. Além disso, ele possui apresentações isoladas e associadas com miorrelaxantes, anti-inflamatórios, antigripais e antipiréticos.
Um exemplo muito comum é o indivíduo tomar um medicamento com paracetamol e, por estar gripado, ingerir também um chá que contenha paracetamol na sua composição. Sem perceber, é possível que a pessoa exceda a dose máxima terapêutica e alcance a dose tóxica, o que pode implicar em hepatotoxicidade e até ser letal.
Dra. Amouni ressalta que o farmacêutico tem nas suas mãos uma grande oportunidade de mostrar o seu trabalho se preconizar as características da assistência farmacêutica. “Ele deve procurar saber o motivo da utilização do medicamento. Em caso de automedicação, o farmacêutico deve aplicar o algoritmo dos transtornos menores (disponível no Fascículo II Farmácia Estabelecimento de Saúde sobre medicamentos isentos de prescrição – download pelo portal do CRF-SP). Se realmente confirmar que é um transtorno menor, o paciente deverá ser orientado quanto à dose e risco de interação com álcool ou com alguns medicamentos.”
Thais Noronha
Acesse aqui as edições anteriores ou faça download da Revista do Farmacêutico