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PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 126 - MAI - JUN - JUL / 2016

COMISSÕES ASSESSORAS / ANÁLISES CLÍNICAS

   

0800 contra a intoxicação

Conheça a rotina de farmacêuticos que atuam 24 horas no Ceatox e auxiliam em casos de exposição ou intoxicação por medicamentos e outras substâncias

 

analises clinicas01As farmacêuticas dra. Camila Tonelli, dra. Juliana Varotto Martins, dra. Cristina Andrusaitis Sandron e dra. Bianca Bergamini Van HeldenO telefone toca e a plantonista atende: 

-- Ceatox, Hospital das Clínicas, bom dia! 

-- Bom dia! Eu diluí um comprimido de Flexalgin® em 20 ml de água, pois não conseguia engoli-lo. Porém, meu filho de três anos e

20 kg pode ter ingerido uma pequena quantidade desse medicamento há cerca de cinco minutos, mas até o momento não apresentou sintoma. 

A resposta é rápida e certeira:

-- Se a criança ingeriu pequena quantidade desse medicamento, apenas náusea e vômito podem ocorrer. Logo, não há necessidade de procurar um hospital. A senhora não deve diluir o comprimido, pois ele não pode ser partido nem triturado. Romper a estrutura do comprimido pode evidenciar o gosto ruim e diminuir ou aumentar  a absorção do medicamento.

Esse foi um dos casos recebidos em uma ligação telefônica de uma mãe aflita ao Ceatox, Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo, durante um dos plantões da farmacêutica dra. Camila Tonelli. Em média, o Ceatox atende 60 casos por dia, sendo que 56% dos agentes tóxicos envolvidos nos atendimentos entre 1/05/15 e 1/05/16 corresponderam a medicamentos. 

A equipe do Ceatox, formada atualmente por nove farmacêuticas, dois médicos e 28 estudantes (22 de Medicina e seis de Farmácia) treinados na área de toxicologia, trabalha 24 horas por dia. Todo atendimento é realizado por telefone (0800 0148110).  

Dra. Camila é assistente toxicológico no Ceatox há quatro anos. Ela destaca alguns objetivos do Centro: auxiliar profissionais da saúde e pacientes a como agirem ao se depararem com casos de exposição ou intoxicação por medicamentos, saneantes, animais peçonhentos, produtos químicos, drogas ilícitas,  cosméticos, plantas, entre outros. Além disso, o Centro oferece orientações sobre reações adversas e interação medicamentosa. “Mesmo por telefone, é possível detectar erros na administração ou armazenamento do medicamento que podem interferir na eficácia do tratamento. Orientar é a melhor forma de prevenir esses erros e  contribuírmos com a qualidade de vida do paciente”. 

Prestes a completar 25 anos, o Ceatox conta com o toxicologista  dr. Anthony Wong. É com ele que a equipe discute os casos, em especial os graves. A conduta varia conforme o caso, mas duas recomendações são evidenciadas: evitar a ingestão de água ou leite e não induzir o vômito após a exposição ao agente tóxico. 

EXAMES TOXICOLÓGICOS

Em determinados casos de exposição ou intoxicação a medicamentos, dra. Camila e a equipe sugerem ao médico a solicitação de exames que avaliam a função renal (ureia e creatinina) e/ou hepática (bilirrubina total, bilirrubina direta e indireta, AST e ALT, fosfatase alcalina, GGT e albumina), entre outros.

Quando não se sabe qual substância foi utilizada, o médico pode sugerir um exame toxicológico no laboratório do Ceatox para auxiliar no diagnóstico. É nessa etapa em que começa o trabalho da dra. Mayara Giatti, Farmacêutica Responsável pelo laboratório de análises toxicológicas do Ceatox. 

Segundo a dra. Mayara, essa análise é direcionada a pacientes internados em hospitais de São Paulo e arredores. Ela é realizada no mesmo dia e, ao passar o resultado, são informados os sintomas e alterações de exames que o paciente pode apresentar, assim como o tratamento adequado para a intoxicação específica, além de orientar a administração de antídotos (quando houver) para reverter os sintomas, tudo com o auxílio do banco de dados e experiência.

São recebidas por ano de 300 a 400 amostras. Os agentes tóxicos mais detectados são cocaína, maconha e benzodiazepínicos. Dra. Mayara destaca os principais casos que exigem a análise toxicológica: 

- Tentativa de suicídio - ao analisar e identificar os agentes tóxicos, a equipe médica é orientada pelos farmacêuticos sobre os sintomas e o tratamento adequado.

- Causas desconhecidas - situações em que o paciente é levado pela ambulância desacordado, sem acompanhante e sem histórico para anamnese, então a análise toxicológica pode elucidar o caso.

- Síndrome de Münchhausen (transtorno factício, ou seja, os indivíduos fingem ou causam a si mesmo doenças ou traumas psicológicos) - extremamente comum e, com os resultados da análise toxicológica com o histórico médico e familiar, o serviço social consegue realizar sua função com as medidas necessárias. 

Para a dra. Mayara, é fundamental conhecer as estruturas moleculares dos medicamentos e drogas ilícitas para saber distinguir uma possível reação cruzada. Além do conhecimento em farmacologia, pois a análise toxicológica depende da farmacocinética da substância: a absorção, distribuição, biotransformação (extremamente importante para saber qual metabólito de biotransformação de determinada substância será encontrado e em qual amostra biológica) e excreção (depois de quanto tempo aquela substância estará disponível para detecção na urina, por exemplo).

“Em alguns casos, até o resultado negativo da análise toxicológica pode elucidar o caso. Uma vez, o paciente inventou que havia tomado diversos medicamentos em tentativa de suicídio, e, após três análises toxicológicas negativas e ausência de sintomas, orientamos avaliação com psicóloga. Ele relatou que não havia ingerido nada e explicou os motivos para inventar a  história”, conta.

analises clinicas02Dra. Mayara Giatti, Farmacêutica Responsável pelo laboratório de análises toxicológicas do CeatoxCASO PARA FARMACÊUTICOS

Confira um dos casos atendidos pelo Ceatox que justificam a atuação do farmacêutico na área toxicológica. 

Interlocutor informou que o filho recebeu a prescrição de um antibiótico à base de amoxicilina + clavulanato de potássio para ser utilizado por 14 dias. Porém, na bula consta a informação de que tal medicamento é estável por apenas dez dias. Então, questionou o Ceatox se deve ou não administrar o medicamento por 14 dias.

Ceatox informou que tal medicamento não deve ser administrado por um período superior a dez dias, pois o fabricante não garante a estabilidade. Para se manter estável pelos dez dias, é necessário guardar esse medicamento na geladeira após a reconstituição e sempre agitar bem antes de usar. Como o tratamento da criança é por 14 dias, foi necessário consultar o médico para adquirir uma nova receita.  

Por Thais Noronha

 

 

 

  

 

     

     

    farmacêutico especialista
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