Microcefalia não está relacionada à vacina vencida


Microcefalia não está relacionada à vacina vencidaSão Paulo, 12 de fevereiro de 2016.

Alguns boatos estão sendo disseminados em redes sociais a respeito da microcefalia. A informação errônea é de que a doença seria causada por um lote vencido de vacina contra rubéola aplicado em gestantes no Nordeste. No entanto, essa informação foi desmentida pelo Ministério da Saúde, já que a vacina contra rubéola não é aplicada em gestantes.

De acordo com a nota do Ministério da Saúde, a vacina contra rubéola, que aparece na forma da tríplice ou quádrupla viral, é administrada em crianças com 12 e 15 meses de idade e em adolescentes e adultos que não foram vacinados na infância, não em mulheres gestantes.

Não há registros de que vacinas contra a rubéola tenham sido utilizadas após o vencimento no País. Ao contrário. A vacinação contra a rubéola é motivo de orgulho para o Brasil, que já recebeu da Organização Mundial de Saúde um certificado, considerando a doença oficialmente eliminada do nosso território.

Consequências dos boatos

Situação semelhante ocorreu em 1998, nos Estados Unidos, com boatos que relacionavam a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) com o autismo, conforme texto abaixo publicado pelo Conselho Federal de Medicina em 29 de julho de 2011.

As informações trouxeram graves consequências para a saúde pública no mundo, já que parte da população, por receio, deixou de tomar a vacina tríplice viral e o resultado foi a volta do sarampo, que deixou de ser endêmico e voltou a causar mortes.

Para evitar esse tipo de consequência, o CRF-SP alerta aos farmacêuticos para estarem atentos às estratégias do Ministério da Saúde e somente repassarem informações com embasamento científico, afinal trata-se de agir com responsabilidade para preservar a saúde pública e contribuir para que a população tenha acesso às informações corretas.

Relação da vacina tríplice viral com autismo (Caso nos EUA em 1998)

“Em fevereiro de 1998, foi publicado na revista The Lancet, artigo da autoria do então médico Andrew Wakefield e outros 12 autores, que relatava uma possível associação entre a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) ou MMR (sigla inglesa de Measles, Mumps and Rubella) e o aparecimento de autismo regressivo e doença inflamatória intestinal em crianças. No artigo foram descritos 12 casos de crianças que tiveram estes diagnósticos após 6 a 14 dias do uso da vacina.

Embora vários estudos em outros países, envolvendo enormes casuísticas, não tenham comprovado esta associação, a publicidade dada ao fato estimulada pelo próprio Wakefield, trouxe graves consequências para a saúde pública em todo o mundo.

A repercussão do estudo fez cair de 93% para 72% a cobertura vacinal para sarampo, caxumba e rubéola na Inglaterra, tendo como consequência o retorno do sarampo que voltou a ser endêmico e voltaram a ocorrer mortes de crianças decorrentes desta doença. Estão ocorrendo surtos e mortes na Alemanha e outros locais da Europa, assim como surtos no Canadá, Estados Unidos, Austrália e outros países. Vários outros problemas relacionados à desconfiança nas vacinas ocorrem em todo o mundo e são mais sentidos na Europa, onde mesmo os profissionais de saúde evitam participar de campanhas vacinais.

Seis anos após a citada publicação no The Lancet vieram a público as primeiras publicações do repórter investigativo inglês Deer Brian, onde conflitos de interesse e condutas antiéticas foram descritas: Wakefield havia sido contratado dois anos antes da publicação do estudo e antes das crianças estudadas terem sido referenciadas ao hospital, pelo advogado Richard Barr, como consultor em processos contra fabricantes da MMR; evidencia documental de que Wakefield fez solicitação de patente para uma vacina “segura contra o sarampo”, antes da publicação do estudo; problemas metodológicos envolvendo a pesquisa, como a constituição do grupo controle com crianças selecionadas na festa de aniversário do filho do então médico, tendo sido pagas para isto com £5.00 pelo desconforto causado.
Após estas revelações iniciais, em 2004 a revista The Lancet publicou uma declaração de dez dos doze autores do estudo, na qual esclarecem que em nenhum momento foi estabelecida relação entre autismo e uso da MMR, uma vez que os dados não eram suficientes para sustentar esta afirmação.

Em 24/05/2010 o General Medical Council do Reino Unido, órgão com funções de regulamentar e fiscalizar a medicina e fazer o registro dos médicos, semelhante ao Conselho Federal de Medicina no Brasil, após investigação do chamado “escândalo da MMR”, decidiu cassar o registro médico do Dr. Andrew Wakefield, devido à gravidade dos fatos apurados e por considerar que o médico causou danos aos pacientes participantes da pesquisa, à medicina e à saúde pública. Foi comprovado que o estudo realizado não foi o mesmo aprovado pelo Comitê de Ética do Royal Free Hospital; ocorreu viés de seleção dos pacientes, uma vez que não foi seguido o protocolo proposto e houve participação direta do autor na seleção destes; foram desrespeitados os princípios de proteção às crianças vulneráveis com a utilização de, métodos invasivos de investigação, como coleta de líquor sem indicação clínica; além de não ter sido comunicado pelos autores à revista The Lancet qualquer conflito de interesses, quando estes ficaram provados na apuração.

Cinco dias após a publicação da decisão do General Medical Council a revista The Lancet publicou uma retratação e o artigo embora ainda esteja visível no sítio da revista (http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(97)11096-0/abstract), apresenta uma tarja vermelha escrito recolhido.

Já neste ano de 2011 outros fatos vieram à tona no British Medical Journal que publicou seqüência de artigos do jornalista Deer Brian que descobriu que os dados que foram publicados foram fabricados numa escola de medicina de Londres.

O jornalista teve acesso aos autos do processo, uma vez que no Reino Unido o processo não corre em sigilo, como no Brasil. Foram confrontados os dados contidos nos prontuários dos pacientes com os dados relatados no artigo e encontradas graves discrepâncias: a presença de irmãos entre os casos; diferença no tempo descrito no estudo e o registrado nos prontuários, entre a utilização da MMR e o aparecimento dos sintomas; muitos dos pacientes eram de famílias litigantes contra a indústria farmacêutica; alguns dos participantes do estudo já tinham diagnóstico de autismo e doença inflamatória intestinal, mesmo antes do uso da vacina.

A confiança nas vacinas vem sendo construída desde o final de século dezoito (quando Jenner descobriu a vacina contra varíola) e tem propiciado a erradicação e controle de algumas doenças de elevada morbidade e mortalidade, como varíola, poliomielite, sarampo, tétano, difteria entre outras. Porém a conduta insensível, irresponsável, antiética e mercantilista de um único médico, já trouxe um retrocesso nesta história de sucesso ao fornecer munição a grupos antivacinistas de todo o mundo e fomentar a desconfiança da população não só na vacina tríplice viral (MMR), como nas vacinas de uma forma geral.

* Ceuci de Lima Xavier Nunes é conselheira federal suplente pelo estado da Bahia)”. clique e confira o artigo 

 

Thais Noronha (com informações dra. Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP)

Assessoria de Comunicação CRF-SP 

 

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