Aos 84 anos, dr. Barbério é pioneiro no trabalho com radiofármacos

 

Dr. Barbério hoje é presidente do IEPAS e diretor do SindHOSP e da Fehoesp Dr. Barbério hoje é presidente do IEPAS e diretor do SindHOSP e da Fehoesp São Paulo, 21 de dezembro de 2015.

Apesar de nascido em São Carlos, interior de São Paulo, foi no bairro da Liberdade, na capital, que dr. José Carlos Barbério passou a maior parte da vida. O farmacêutico, pioneiro na produção de radiofármacos no Brasil, foi diretor e professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo – USP e atualmente, aos 84 anos, é presidente o IEPAS, Instituto de Ensino e Pesquisa na área da Saúde e diretor do Sindhosp, Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde no Estado de São Paulo e da Fehoesp. 

O caçula de nove irmãos nasceu em 1931 e orgulha-se de ter tido uma infância maravilhosa. Ainda menino passou a interessar-se por química. “Gostava de ficar no microscópio e ver os bichinhos”, diz. Já adolescente, não demorou para começar a fazer os primeiros estágios. Tanto se destacou que foi nomeado técnico de laboratório da Universidade de São Paulo, o que o fez apaixonar-se por química. “Aprendi a ter responsabilidade na vida porque eu e um colega preparávamos as aulas práticas para 80 alunos. Era uma pequena bandeja com a aula do dia. Lá se faziam todos os exames de laboratórios, glicose, ureia, creatinina, ácido úrico. Então aprendi e tomei gosto por fazer esses exames”.Dr. Barberio (em pé à direita) com os pais e irmãos e ao lado quando criançaDr. Barberio (em pé à direita) com os pais e irmãos e ao lado quando criança

Com o sonho de fazer medicina, prestou vestibular em 1952, mas não foi classificado. Para não perder tempo, fez o exame para o curso de Farmácia e foi aprovado. Logo no primeiro ano se entusiasmou por causa das aulas de botânica, física, química orgânica e inorgânica, que eram disciplinas que caiam no exame de medicina. No entanto, quando chegaram as férias de julho, o que seria apenas uma preparação para prestar o vestibular para medicina tornou-se a escolha para uma vida inteira. “Não quis saber de mais nada, Farmácia era o que eu queria”.

Após formar-se em 1956 recebeu o convite para trabalhar no Instituto de Energia Atômica, atual Ipen, como assistente. “Fui convidado pelo professor Rômulo Pieroni, que era um misto de médico e físico, mas eu pouco sabia sobre energia nuclear. Me deu um livro sobre o assunto em inglês, e, em não mais do que 15 dias, o procurei e, assim, assumi as funções.

Durante a apresentação da sua tese de doutorado e ao lado com a turma de Farmácia da UspDurante a apresentação da sua tese de doutorado e ao lado com a turma de Farmácia da Usp

O trabalho concentrou-se na divisão de radiobiologia e dr. Barbério lidava diretamente com materiais e substâncias radioativas, aí surgiu o interesse pela radiofarmácia, já que o Instituto era pioneiro fabricação desses medicamentos medicina nuclear no Brasil. Assim que a fabricação começou, as preparações foram aprovadas no Hospital das Clínicas e logo veio a produção de outros materiais. “Em 1971 foi construído o prédio da radiofarmácia no instituto de energia atômica e eu assumi a chefia dessa divisão, cargo que fiquei até 1977 quando fiz o concurso para professor titular de Ciências Farmacêuticas da Usp.Sendo agraciado por Vitor Civitta, presidente da editora Abril, em 1982, pelo melhor curso de graduação. Na época, era diretor da FCF-USP. Ao lado no laboratório durante mapeamento de órgãos em 1972 Sendo agraciado por Vitor Civitta, presidente da editora Abril, em 1982, pelo melhor curso de graduação. Na época, era diretor da FCF-USP. Ao lado no laboratório durante mapeamento de órgãos em 1959. Foto marca o início da Medicina Nuclear no Brasil

Mais de 30 anos de vida acadêmica

Paralelamente à carreira que envolvia a energia nuclear, em 1958, dr. Barbério foi convidado a ser professor assistente na Usp nas disciplinas de Ciência dos alimentos e Toxicologia. Após o doutorado em Farmacologia assumiu a disciplina de metodologia de aplicações de radioisótopos, foi quando novamente se encontrou com a área. “Fiz o concurso para livre docência em 1973, para professor associado em 76 e para titular em 78. Sempre gostei muito de ensinar os colegas, foram mais de 30 anos de vida acadêmica”. Em todos os concursos que prestou para professor dentro da universidade de São Paulo, as teses eram utilizando marcadores radioativos.

Em 78 foi conduzido pelo reitor da Usp à diretoria da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, onde esteve por quatro anos. Ele relembra os anos proveitosos. “Trabalhamos intensamente para mandar professores para estudar no exterior e não larguei as aulas, era diretor de manhã e professor a noite”. 

A gratidão ele contempla ao ver, hoje, os bons alunos que também se tornaram professores, muitos até já estão aposentados. Um período também importante na vida acadêmica foi quando, por oito anos, integrou o conselho universitário, época que amadureceu por completo por lidar com professores, diretores, alunos e ex-alunos. “Foi uma escola maravilhosa”.

Como professor na  Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Usp e ao lado na turma de formandos em Farmácia Como professor na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Usp e ao lado na turma de formandos em Farmácia

Técnica inovadora para medição de hormônios

Se não bastasse toda a atividade profissional dentro da universidade, dr. Barbério, em 1973, fundou junto com um médico endocrinologista, um laboratório para dosagem de hormônios, já que na época era muito difícil realizar essa medição. “Desenvolvemos a técnica radioativa chamada radioimunoensaio, um o avanço nas dosagens. Eu tinha a experiência e meu sócio conhecimento com os médicos que mandavam amostras de sangue”. Foram 30 anos de trabalho nessa área. O laboratório Criesp foi considerado como padrão dentro da área de Radioimunoensaio por sua qualidade e respeitabilidade entre os laboratórios que enviavam amostras e, mesmo entre os médicos que o consideravam o de melhor aceitação dentro de sua especialidade. 

Em 1975, em razão de exigência da Comissão Nacional de Energia Nuclear-CNEN, os profissionais que desejavam realizar dosagens hormonais, utilizando-se de material radioativo - a técnica de radioimunoensaio - deveriam ter a certificação "in vitro" para tal realização. Cursos foram realizados pelo Brasil para esse treinamento e o Prof. Barbério ministrou a maioria deles, de cerca de 90 a 120 horas, principalmente para farmacêuticos bioquímicos. Tais cursos acabaram por alcunhá-lo em "Barbério o mascate da radioatividade". 

 

Aposentadoria na ativa

A aposentadoria veio em 1986, mas para quem apostou que dr. Barbério iria parar de trabalhar se enganou. Dedicou-se ao laboratório Criesp, integralmente, até 2002, quando o laboratório foi adquirido. Em 1998 foi convidado a colaborar com o Sindhosp e com a Fehoesp no suporte a congressos e eventos. Em 2009, assumiu o IEPAS e a evolução foi tão grande que em 2015 foram 140 cursos oferecidos para trabalhadores de hospitais, clínicas e laboratórios do Estado de São Paulo. “Atualmente estamos com um programa chamado bússola, destinado a certificar clínicas do ponto de vista da qualidade e educação e vamos fazer em parceria com a Fundação São Camilo, o MBA em direito sanitário, voltado a todos os profissionais da área da saúde e advogados. As inscrições estão abertas”.

Em meio a tantas atividades, dr. Barbério, em 1972 e 1973, foi secretário-geral do Conselho Federal de Farmácia, período em que acumulou grande experiência nas questões profissionais, principalmente nos setores éticos e educacionais da profissão farmacêutica como um todo. Ele ainda presidiu a Abenfarbio, Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico e Bioquímico, por delegação do ministério da Educação e o único não médico a ser presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. 

Na época com a namorada Maria do Rosário no baile de formatura. Ao lado, com a esposa comemorando 56 anos de união Na época com a namorada Maria do Rosário no baile de formatura. Ao lado, com a esposa comemorando 56 anos de união Na época com a namorada Maria do Rosário no baile de formatura. Ao lado, com a esposa comemorando 56 anos de união

Reconhecimento

Em dezembro, dr. Barbério recebeu a Comenda Grã Cruz Dante Ancona Montagnana em reconhecimento a sua trajetória, marcada pelo pioneirismo no setor. A Comenda foi a oitava homenagem, dentre outras, de Sociedades, Conselhos, Universidade, Sindicato da Indústria Farmacêutica, Academia Nacional dde Farmácia e Sindicato e Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo.

Por enquanto, a esposa Maria do Rosário, os quatro filhos e sete netos vão precisar esperar para ter dr. Barbério em casa, porque disposição para o trabalho não lhe falta. Afinal, são 64 anos de trabalho ininterruptos, já que começou em 1951 como estudante e ainda está em atividade.  

Com a família e amigos durante jantar do Sindhosp Com a família e amigos durante jantar do Sindhosp

 

Thais Noronha

Assessoria de Comunicação CRF-SP

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