Simpósio debate papel estratégico do farmacêutico na jornada da pessoa com diabetes e obesidade

 

Entre os participantes do Simpósio estavam farmacêuticos, nutricionistas, enfermeiros e assistentes sociais Entre os participantes do Simpósio estavam farmacêuticos, nutricionistas, enfermeiros e assistentes sociais

São Paulo, 28 de julho de 2025.

O simpósio “O farmacêutico na jornada da pessoa com diabetes mellitus e obesidade”, realizado no domingo, 27 de julho, na Unip Vergueiro, em São Paulo, integrou a programação do 29º Congresso Brasileiro Multidisciplinar em Diabetes, promovido pela Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (Anad). O evento reuniu especialistas de diversas áreas da Farmácia para discutir os avanços, desafios e responsabilidades desse profissional na linha de cuidado da pessoa com doenças crônicas.

Os ministrantes do Simpósio: Dra. Ana Tarina Lopes. Dra. Janaína Carla da Silva, Dra. Maria José Martins de Souza, Dr. José Vanilton de Almeida e Dra. Eliete Bacharny Os ministrantes do Simpósio: Dra. Ana Tarina Lopes. Dra. Janaína Carla da Silva, Dra. Maria José Martins de Souza, Dr. José Vanilton de Almeida e Dra. Eliete Bacharny

O farmacêutico Dr. José Vanilton de Almeida, coordenador do Comitê de Condições Crônicas não-transmissíveis do CRF-SP e do Departamento de Farmácia da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), que também coordenou o Simpósio, contextualizou sobre a crescente convergência entre obesidade e diabetes tipo 2, a chamada “diabesidade”. 

Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da Anad e Dr. José Vanilton de Almeida, coordenador do Simpósio e um dos ministrantesDr. Fadlo Fraige Filho, presidente da Anad e Dr. José Vanilton de Almeida, coordenador do Simpósio e um dos ministrantes

Segundo ele, fatores como estilo de vida sedentário, consumo excessivo de bebidas açucaradas, carne vermelha e proteínas ultraprocessadas, grãos refinados, maior exposição à poluição e falhas na resposta precoce do sistema de saúde, tornam essa junção uma das emergências de saúde global de crescimento mais rápido da atualidade.

 “O farmacêutico é peça fundamental nesse cenário, oferecendo não apenas suporte técnico, mas também acolhimento e orientação qualificada ao paciente. Se as causas da obesidade são multifatoriais, as soluções também precisam ser”, destacou o Dr. Vanilton.

Na sequência, a farmacêutica Dra. Eliete Bachrany, especialista em Farmácia Clínica e membro do GT em Diabetes do Conselho Federal de Farmácia, além de atuar como delegada da Seccional Leste do CRF-SP, trouxe uma análise sobre o uso responsável dos novos medicamentos voltados ao tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2, como os agonistas de GLP-1 e a tirzepatida. “Vivemos uma verdadeira transformação no tratamento do diabetes mellitus tipo 2. Nunca se falou tanto sobre medicamentos inovadores quanto agora”, ressaltou.

Dra. Eliete Bachrany trouxe uma análise sobre o uso responsável dos novos medicamentos voltados ao tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2Dra. Eliete Bachrany trouxe uma análise sobre o uso responsável dos novos medicamentos voltados ao tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2

Ela chamou atenção para os benefícios clínicos dessas terapias, que vão desde a melhora glicêmica até a perda de peso significativa e proteção cardiovascular, renal e hepática, mas também para os riscos do uso indiscriminado e sem acompanhamento. “Estamos lidando com medicamentos potentes, que transformam vidas, mas que também podem causar efeitos adversos importantes quando usados sem orientação. O farmacêutico tem o papel de garantir a segurança e a adesão, promovendo educação, escuta e cuidado”, afirmou.

A palestrante acrescentou ainda que entre os papeis dos farmacêuticos estão: explicar sobre o uso, efeitos colaterais e as expectativas realistas; alertar sobre riscos e interações (ex: anticoncepcionais, perda de músculo); incentivar a adesão por meio do acolhimento e suporte; promover a autonomia e empoderamento do paciente e orientar sobre suplementação nutricional para reabilitação muscular e manutenção das metas terapêuticas.

“Estamos diante de medicamentos inovadores com potenciais benefícios metabólicos e cardiovasculares, mas seu uso sem acompanhamento pode gerar efeitos colaterais graves, como sarcopenia, distúrbios gastrointestinais e até gravidez não planejada devido à interação com anticoncepcionais”, afirmou.

Dando continuidade ao simpósio, a farmacêutica Dra. Ana Tarina Alvarez Lopes, pós-graduada em Farmacologia e Toxicologia Clínica e especialista de Planejamento Estratégico no AC Camargo, destacou os desafios e inovações no tratamento medicamentoso, além do papel central do farmacêutico na jornada terapêutica.

Com dados atualizados sobre medicamentos emergentes, apresentou as tendências como terapias baseadas em inteligência artificial, dispositivos vestíveis para monitoramento contínuo (wearables), terapias personalizadas como a Retatrutida (triplo agonista), que já está na fase 3, novas formulações de GLP-1 oral e propôs uma visão integrada entre tecnologia e cuidado humanizado.

Dra. Ana Tarina Alvarez Lopes destacou os desafios e inovações no tratamento medicamentoso, além do papel central do farmacêutico na jornada terapêuticaDra. Ana Tarina Alvarez Lopes destacou os desafios e inovações no tratamento medicamentoso, além do papel central do farmacêutico na jornada terapêutica

Segundo dados do International Diabetes Federation Diabetes Atlas, a projeção é de que em 2040, 1,8 milhão de pessoas no mundo tenham diabetes mellitus tipo 1. Para ela, entre os principais desafios no tratamento do diabetes e da obesidade estão a adesão ao tratamento, tendo em vista a complexidade dos regimes terapêuticos, múltiplas doses diárias e esquecimento frequente que comprometem a eficácia do tratamento; os efeitos adversos como a hipoglicemia com sulfonilureias e insulina, os distúrbios gastrointestinais com metformina e GLP-1, as infecções genitais com SGLT2 e o acesso a medicamentos, já que as terapias inovadoras são de alto custo, a cobertura é limitada pelos planos de saúde e a disponibilidade é restrita no SUS.

“Mesmo na era digital, farmacêuticos continuam entre os profissionais de saúde mais confiáveis. Somos a ponte entre a ciência e a vida real das pessoas. O papel do farmacêutico transcende a dispensação, abrangendo educação, monitoramento e otimização terapêutica, é um parceiro estratégico para resultados clínicos otimizados e melhor qualidade de vida”, concluiu.

Inclusão, acesso e políticas públicas

O simpósio também abordou as questões de acesso e equidade no SUS. A farmacêutica Dra. Maria José Martins de Souza, especialista em Saúde Pública e ex-coordenadora geral da Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde e coordenadora do GTT de Saúde Pública do CRF-SP, destacou os principais entraves no acesso a medicamentos para pessoas com diabetes e obesidade. Ela defendeu uma abordagem inclusiva e empática, com atenção especial às populações em vulnerabilidade, incluindo pessoas com deficiência.

Dra. Maria José Martins de Souza destacou os principais entraves no acesso a medicamentos para pessoas com diabetes e obesidadeDra. Maria José Martins de Souza destacou os principais entraves no acesso a medicamentos para pessoas com diabetes e obesidade

“É fundamental garantir que pessoas com deficiência tenham acesso a medicamentos de forma igualitária. Isso envolve a disponibilidade de informações sobre medicamentos em formatos acessíveis, como libras, braile ou áudio, para pessoas com deficiência visual; embalagens acessíveis, como aquelas que permitem a identificação por pessoas com deficiência visual, garantindo a segurança do uso e adaptação de consultas médicas e farmacêuticas, por exemplo, com acessibilidade física e serviços especializados.

Segundo dados apresentados, cerca de 17 milhões de brasileiros que passaram pela atenção primária no SUS em 2023 convivem com o diabetes, o que representa 9,4% dos usuários. O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial da doença. Dra. Maria José ressaltou que o país possui apenas 4.300 endocrinologistas cadastrados, o que evidencia a necessidade de uma abordagem mais integrada e multiprofissional no cuidado.

Dra. Maria José defendeu o fortalecimento da atenção primária como porta de entrada para o sistema e destacou o papel fundamental do farmacêutico na promoção da saúde, na educação da população e no acompanhamento contínuo dos pacientes.

Membros do Grupo Técnico de Trabalho de Saúde Pública do CRF-SP e Dr. José Vanilton de Almeida Membros do Grupo Técnico de Trabalho de Saúde Pública do CRF-SP e Dr. José Vanilton de Almeida

A obesidade foi tratada como uma condição crônica, progressiva e multifatorial, e não como uma falha de comportamento, ou seja, por muitas vezes, a "culpa" recai sobre o paciente obeso. Ela citou o trabalho da ativista Glenda Cardoso (@baridaglenda), que recorreu à última instância, que é a cirurgia bariátrica, após procurar o SUS por quase 30 anos e não obter uma abordagem empática e personalizada, sempre recebendo dietas e tratamentos genéricos. “Falei que ela foi a primeira pessoa que verbalizou a dificuldade em não ser vista na sua individualidade”, destacou a Dra. Maria José.  

Para encerrar o Simpósio, Dra. Janaína Carla da Silva, diretora técnica de saúde da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica do Estado de São Paulo, apresentou os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs) para o diabetes tipo 2 e a estrutura da assistência farmacêutica no SUS.

Dra. Janaína Carla da Silva apresentou os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para o diabetes tipo 2 e a estrutura da assistência farmacêutica no SUSDra. Janaína Carla da Silva apresentou os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para o diabetes tipo 2 e a estrutura da assistência farmacêutica no SUS

Atuante no SUS há quase três décadas, ela detalhou os componentes básicos e especializados da política de medicamentos, mostrando como a gestão tripartite (União, estados e municípios) deve trabalhar de forma integrada para garantir o acesso racional e equitativo aos tratamentos.

Ela detalhou os três componentes da assistência farmacêutica no SUS (básico, estratégico e especializado) e explicou como os medicamentos, como as insulinas NPH e Regular, são distribuídas principalmente via Componente Básico. Já medicamentos mais modernos, como as insulinas análogas, dependem de critérios clínicos e estão no Componente Especializado.

O Congresso contou também com o curso “Cuidados farmacêuticos às pessoas com diabetes”, realizado na quinta-feira, 24/07.

Dr. Adriano Falvo, secretário-geral do CRF-SP, deu as boas-vindas aos participantes, confira o vídeo ao lado do Dr. Fadlo Fraige Filho e do Dr. José Vanilton de Almeida.

 

 (Clique na imagem para ver o vídeo)

Clique para ver o vídeo Clique para ver o vídeo

 

Dra. Danyelle Marini, diretora-tesoureira do CRF-SP, foi uma das ministrantes do curso Cuidados farmacêuticos às pessoas com diabetes Dra. Danyelle Marini, diretora-tesoureira do CRF-SP, foi uma das ministrantes do curso Cuidados farmacêuticos às pessoas com diabetes

Participantes do curso Cuidados farmacêuticos às pessoas com diabetes Participantes do curso Cuidados farmacêuticos às pessoas com diabetes

 

 

Thais Noronha

Departamento de Comunicação CRF-SP

CLIQUE AQUI PARA CONSULTAR OUTRAS NOTÍCIAS


Fique atualizado sobre capacitações e informativos importantes do CRF-SP. Participe do canal de Telegram e mantenha-se informado!
https://t.me/crfsp_cursosenoticias

 

 

 

 

 

Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana. Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana.