Prefeito apela ao Congresso para manter hospital aberto
19/12/2016 - Folha de S.Paulo
Com dificuldades para fechar as contas, prefeituras e hospitais filantrópicos apelam cada vez mais ao Congresso para pagar despesas de saúde do dia a dia, que vão de luva e agulha a bisturi. Gastos desse tipo têm sido financiados de forma crescente por meio de emendas parlamentares –as inclusões no Orçamento federal feitas por deputados e senadores.
São recursos que, quase em sua totalidade, costumavam ir para investimentos –ou seja, construção e reforma de unidades de saúde, principalmente. Essas despesas interessavam tanto ao prefeito como ao parlamentar, pois rendiam eventos de inauguração e placas de obras com seus nomes.
Já as emendas para custeio, para pagar o dia a dia do hospital, eram exceção. Em 2014, representavam apenas 8% do gasto total do Ministério da Saúde com esses pagamentos.
A crise, porém, fez a arrecadação dos municípios despencar. Para agravar a situação, eles passaram a atender um público maior. Quase 2 milhões de brasileiros perderam o plano de saúde e migraram para o SUS de dezembro de 2014 a junho deste ano.
Nesse cenário, a proporção das emendas de custeio subiu e, em 2016, alcançou 28% do total. No orçamento do ano que vem, a previsão é que cheguem à casa dos 48%.
Segundo o ministro Ricardo Barros (Saúde), os recursos têm sido usados para diversos tipos de pagamento na área, nas mais diferentes unidades de atendimento. "Os prefeitos têm pedido verba de custeio para tudo", afirma.
PERFIL
A mudança no perfil das emendas é visível no dia a dia do Congresso, relatam parlamentares. "Nos últimos anos, os municípios construíram muita coisa. Agora, estão com dificuldade de manter os serviços", diz a deputada federal Geovania de Sá (PSDB-SC).
Entre os serviços mencionados por ela estão as UPAs, Unidades de Pronto-Atendimento. Diversas delas estão fechadas por todo o país. Hospitais filantrópicos também têm feito romaria ao Congresso atrás de verba para despesas correntes. "Cada hospital tem que fazer o seu trabalho, e isso inclui ir para Brasília, falar com deputados", diz Edson Rogati, presidente da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos.
Diante da crescente importância das emendas nas finanças, ele defende que o Ministério da Saúde amplie a lista de itens que podem ser financiados com esse tipo de verba. Depender da intervenção de congressistas para fechar as contas não é fácil, dizem os gestores.
"A gente recomenda sempre pedir verba para custeio, mas muito deputado e senador não gosta, porque aí não tem placa [de inauguração], não tem foto", diz Mauro Junqueira, presidente do Conasems, conselho que reúne secretários municipais de saúde do país todo.
Ele reclama também do fato de as emendas, atualmente, serem incorporadas ao orçamento mínimo da saúde, ao invés de ser um extra. Para ele, isso engessa o orçamento, porque é o parlamentar, e não o administrador, que decide onde o dinheiro vai ser gasto.
Essa característica de fato aumenta a influência de fatores políticos nas decisões sobre o gasto, diz Francisco Funcia, diretor da Associação Brasileira de Economia da Saúde. Isso acontece por dois motivos: os municípios com menos acesso aos congressistas podem ficar sem verba extra, e todos dependem do cronograma de liberação das emendas pelo governo federal.
Funcia avalia como um problema depender dessas emendas para custear uma despesa do dia a dia. Para ele, isso só ocorre por causa do subfinanciamento da saúde.
Sem verba, cidades mantêm unidades de saúde fechadas
19/12/2016 - Folha de S.Paulo
Sem dinheiro para custear o dia a dia, prefeituras do país todo decidiram manter fechadas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) construídas nos últimos anos. Em Concórdia (SC), a construção da unidade terminou em maio de 2015, mas até agora ela não foi inaugurada por falta de equipamentos e de verba para funcionar.
A prefeitura tentou obter recursos para comprar um aparelho de raio-X por meio de emenda parlamentar, mas o dinheiro ainda não foi liberado. Agora, o município resolveu entregar a gestão a uma organização social, que também ficará responsável pelos aparelhos dessa unidade.
"Quando o município recebe verba para fazer uma UPA, é uma alegria, mas, quando tem que inaugurar, é uma tristeza", diz Alessandro Vernize, secretário de Saúde do município catarinense.
Em Araçatuba, no interior paulista, as instalações de uma UPA ficaram prontas há dois anos, mas ela não abriu. Outra está em obras e deve ter o mesmo destino. "Diante da situação econômica do país, nesse momento, o município não tem condições financeiras para colocá-las em operação", declarou a prefeitura por meio de nota.
Em Pirenópolis (GO), a UPA está pronta sem funcionar há dois meses, afirma o secretário de Saúde, Hisham Hamida. Segundo ele, o município recebeu na semana retrasada verba de uma emenda parlamentar para comprar equipamentos para a unidade. Agora, ele diz que vai recorrer a algum parlamentar para ter verba extra de custeio.
PARADOS
Em apresentação feita em setembro no Palácio do Planalto, o ministro Ricardo Barros (Saúde) informou que havia 140 UPAs concluídas sem funcionar em todo o país. O ministério afirma que o dado integra uma lista de "2.698 serviços da rede pública que deveriam estar recebendo R$ 3,5 bilhões ao ano de custeio do Ministério da Saúde, conforme compromissos assumidos anteriormente, e não estão".
A pasta declara ter obtido uma economia de R$ 1 bilhão nos cem primeiros dias de gestão de Barros, o que permitiu resolver parte desse passivo. O ministério diz ainda que transfere regularmente verbas para o custeio de UPAs e outras unidades de saúde.
"Esse é o caminho que estamos buscando, aprimorar a gestão, incluindo aperfeiçoamento de sistemas de informação e otimização dos recursos do SUS, para que o Ministério da Saúde seja administrado com mais eficiência", diz a pasta em nota.
Insegurança faz garota beber mais
18/12/2016 - O Estado de S.Paulo
Garotas que têm uma percepção distorcida da sua imagem corporal correm maior risco de abusar do álcool. Estudos divulgados na semana passada mostram avanços importantes na abordagem do uso e do abuso de álcool entre os mais jovens, particularmente entre as meninas.
Pesquisadores da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, investigaram 6,5 mil garotas entre 14 e 18 anos e concluíram que uma autoimagem negativa aumenta a chance de comportamentos de risco. Quase 68% das entrevistadas já tinham bebido pelo menos uma vez na vida, 38% tinham uma percepção distorcida de si mesmas e 18% abusaram de álcool nos 30 dias antes da pesquisa. O risco de abuso foi quase 20% maior entre aquelas inseguras com seu corpo. O consumo mais pesado do álcool foi mais comum entre as meninas mais velhas, nas de origem latina, nas que já fumavam e entre aquelas que tinham iniciado sua vida sexual precocemente.
Os resultados vão ser publicados na edição de janeiro do periódico médico Journal of Studies on Alcohol and Drugs e, foram antecipados pelo jornal inglês Daily Mail.
O trabalho não investigou especificamente as causas desse abuso de álcool, mas é possível que esse seja um comportamento adotado na tentativa de elas relaxarem, ficarem mais confortáveis com seu corpo e se sentirem mais aceitas pelo grupo. Ainda existe uma relação possível do uso de bebida como um recurso para diminuir ou controlar a fome naquelas que se enxergam acima do peso.
Levantamentos recentes já haviam apontado o fenômeno do aumento proporcional do consumo e abuso de álcool entre as mulheres mais jovens, sendo que em alguns países elas já bebem mais do que os garotos. Interessante pensar que parte desse fenômeno, além das transformações sociais que deixaram o comportamento entre os dois gêneros cada vez mais parecido, pode ter relação com a insatisfação com questões físicas e corporais, que tendem a ser mais frequentes entre as mulheres.
Geração mais “limpa”. Novos dados também divulgados na última semana revelam que uma nova geração de 8 a 15 anos, que bebe e fuma menos, pode estar a caminho. Números do NHS (Sistema Nacional de Saúde, do Reino Unido), mostram que apenas um em cada seis jovens (17%) nessa faixa etária já bebeu. Em 2003, esse índice era de 45%. Em relação ao cigarro, 4% já fumaram. Em 2003, 19% já tinham experimentado o tabaco. A pesquisa avaliou 5.700 crianças.
Segundo os especialistas, o fenômeno se deve, em parte, ao fato de crianças e jovens ficarem cada vez mais tempo conectados na internet, dentro de suas casas. Eles têm frequentado menos festas, parques, ruas e pubs e, portanto, ficam menos expostos à influência dos pares para o consumo de álcool e cigarro.
Os alertas em relação aos riscos das substâncias podem ter chegado, também, com mais força a essa geração, sinalizando que a educação nas escolas para o consumo responsável e as campanhas de informação complementam as estratégias de prevenção.
O maior controle nos pontos de venda também pode ter efeito na queda do consumo por menores de 18. Assim, os jovens têm hoje mais subsídios para fazer melhores escolhas.
Nos Estados Unidos, existe tendência semelhante. Um novo levantamento divulgado pela Universidade de Michigan, Monitoring the Future (Monitorando o Futuro), que contou com a participação de mais de 45 mil estudantes americanos de 14, 16 e 18 anos, mostra que apesar de o álcool continuar sendo a droga mais utilizada no país pelos jovens, seu consumo está em queda nos últimos anos. Os dados são da agência de notícia Efe e do Daily Mail.
Em 2016, pouco mais de um terço dos adolescentes de 18 anos já bebeu nos EUA (37%). Em 2001, esse valor era de 53%. O consumo de outras drogas também caiu no geral. A única exceção é a maconha, cujo consumo se manteve estável nos últimos anos.
Por aqui, além de um melhor controle da venda de álcool para menores, ações nas escolas, mais campanhas de prevenção e engajamento de jovens em projetos que focam no consumo responsável podem trazer resultados semelhantes em um futuro próximo.
Diariamente, 4 mulheres morrem nos hospitais por complicações do aborto
18/12/2016 - O Estado de S.Paulo
O Brasil registra uma média de quatro mortes por dia de mulheres que buscam socorro nos hospitais por complicações do aborto. Até setembro, foram 1.215. Os registros de 2015 têm padrão semelhante: de janeiro a dezembro, houve 1.664 relatos de mulheres que morreram depois de dar entrada em hospitais por complicações relacionadas à interrupção da gravidez.
Os números do Ministério da Saúde obtidos pelo Estado apontam que o impacto da proibição do aborto para saúde das brasileiras vai muito além do que está no Sistema de Notificação de Mortalidade (SIM). O banco de dados, usado como fonte oficial, indica 54 mortes comprovadas de mulheres em decorrência da interrupção da gravidez em 2014 – último ano com estatísticas divulgadas. Pelas informações do SIM, o aborto teria sido responsável por 3,3% das mortes ligadas ao período da gravidez ou ao parto.
Bem menos do que hipertensão, hemorragias ou infecções.
Os dados obtidos consideram mortes de pacientes nos hospitais com complicações do aborto. Mas o ministério alerta não ser possível afirmar que todos os óbitos podem ser atribuídos ao procedimento provocado, feito na maioria das vezes de forma clandestina. Técnicos justificam que as mortes poderiam ter sido causadas, por exemplo, por outros problemas que não tinham relação com a interrupção da gravidez. Ou até mesmo que o aborto tenha sido resultado de problema de saúde apresentado pela paciente.
“A morte por aborto é sempre subestimada em países que proíbem a prática. Seja pela clandestinidade, seja por falhas apresentadas no registro”, afirmou o médico Cristião Rosa, integrante da associação Grupo Médico pelo Direito de Decidir (Global Doctors for Choice).
Há ainda os números envolvendo apenas as internações por complicações de aborto. Entre 2010 e 2014, os registros se aproximavam de uma média de 200 mil por ano. Os números preliminares de 2016 chegam a 123.312.
Pelas até então estatísticas oficiais, haveria uma morte de mulher por aborto a cada dois dias.
Bem menos do que os números obtidos pelo Estado. “Um caso a cada dois dias já é uma matança.
Uma tragédia que poderia ser perfeitamente evitável”, diz Rosa.
Ele afirma que a interrupção da gravidez quando feita com a assistência adequada é um procedimento seguro. Em casos raríssimos leva à morte. “As taxas de morte são menores, por exemplo, do que as do parto normal.” O médico afirma ocorrer 0,5 morte a cada 100 mil abortos legais e seguros. O indicador chega a quase zero quando a interrupção é feita até a 10.ª semana de gravidez. Conforme dados obtidos pela reportagem, foram autorizados 768 abortos no País de janeiro a junho deste ano – no mesmo período do ano passado, houve 738.
Para o médico, esse dado, por si só, já seria razão suficiente para mudar as regras brasileiras e liberar a interrupção da gravidez no País. “Quantas vidas poderiam ter sido poupadas?”, questiona. “Porque uma coisa é certa: criminalizar o aborto não diminui a prática. Aborto existe desde que a humanidade existe.
E vai continuar existindo.” Rosa avalia que, além de não resolver o problema dos altos índices de aborto, a criminalização traz outro problema.“Você joga a mulher na clandestinidade.
Nessa situação, ela se coloca em risco reprodutivo e de vida.” Grupos contrários à mudança dizem temer que, com a liberação, as estatísticas de aborto aumentem de forma expressiva.
Rosa reconhece haver um aumento, normalmente nos primeiros anos seguintes à mudança da regra.
Mas ele atribui o fenômeno à melhor informação, não a um aumento real. “As estatísticas aumentam porque o procedimento sai da clandestinidade e mais casos chegam aos serviços de saúde. “Com a liberação, os países, a sociedade, os sistemas de saúde adquirem outro nível de responsabilidade com a saúde reprodutiva. As estratégias para lidar com a gravidez indesejada são intensificadas”, avalia.
AÇÕES DE GOVERNO
É justamente nessas estratégias que o governo deveria intensificar suas ações, diz ele. A primeira delas, é ampliar o acesso à educação sexual. O segundo ponto essencial, completa, é garantir métodos contraceptivos de longa duração, como DIU e implantes hormonais. “A pílula anticoncepcional tradicional em muitos casos não resolve, principalmente com adolescentes. Falta no posto de distribuição, a unidade de saúde fecha no fim de semana, ela esquece de tomar...” No Brasil, implantes hormonais não são distribuídos no Sistema Único de Saúde. “Há uma discussão eterna, mas o tema não segue adiante. Sofrem com isso sobretudo as jovens.” Uma das estratégias elogiadas é a ampliação da oferta de métodos de contracepção de emergência: a pílula do dia seguinte.
“O recurso é essencial. Ele evita abortos clandestinos.”
ANÁLISE: Carmen Hein de Campos
As mais pobres são as maiores vítimas
A criminalização do aborto atinge fundamentalmente as mulheres pobres, uma vez que as mulheres com recursos fazem abortos em clínicas, sem nenhum problema com a polícia.
As mulheres pobres ou têm de pedir uma autorização judicial ou fazem abortos inseguros.
A criminalização viola alguns direitos fundamentais das mulheres. O direito à autonomia sexual e reprodutiva, à dignidade e à liberdade. Também tem impacto na saúde reprodutiva. Se a mulher faz um abortamento inseguro, pode sofrer sequelas do ponto de vista reprodutivo.
Pode nunca mais poder engravidar.
A mulher engravida, mas não engravida sozinha. Tem o parceiro, que deveria ser responsável. O Brasil é um País hipócrita e, a quem diz querer criminalizar o aborto sob o pretexto de preservar a vida, cabe a pergunta: a vida de quem?
‘Sangrei muito. Nunca mais pude engravidar’
18/12/2016 - O Estado de S.Paulo
A enfermeira X., de 38 anos, passou por dois abortos na adolescência. O primeiro numa clínica luxuosa no Leblon, na zona sul do Rio. O segundo, sem apoio, numa casa no subúrbio, em bairro que não soube precisar. “Era um lugar sujo, horrível e me trataram mal o tempo todo. Como se eu tivesse culpa, como se fosse bem feito eu passar por aquilo. Senti uma dor miserável.
Sangrei muito. Nunca mais pude engravidar” , conta a mulher, que se emocionou a recordar os episódios em entrevista ao Estado.
A primeira gravidez ocorreu aos 15 anos, do primeiro namorado, oito anos mais velho.
Ele queria ter o filho. X, não.
Sem coragem de falar para o namorado que não levaria a gravidez adiante, pediu ajuda para a mãe. “Eu era muito nova.
Disse que queria fazer o aborto”.
X. e o namorado continuaram juntos. E ele nunca a perdoou pelo aborto. Insistiu para que ela engravidasse de novo.
Dizia que ficariam juntos, se casariam e formariam uma família. “Um ano depois, minha mãe morreu e eu engravidei de novo. Foi horrível. O segundo aborto não foi uma decisão minha. Foi decidido numa reunião entre meu pai, minha tia e minha irmã”, ela conta. “Meu corpo todo doía.
E eu só sentia solidão. São essas as palavras que me vem à cabeça quando lembro aquele período: solidão e dor”. O namoro terminou depois do segundo aborto. O rapaz engravidou outra jovem e se casou.
AMIGA
Já Valéria tinha 16 anos quando engravidou de seu namorado, também adolescente.
Com medo da reação dos pais, ela procurou a mãe de uma amiga, que era enfermeira, para buscar ajuda.
Fez o aborto em uma clínica clandestina na cidade de Paulista, na Região Metropolitana do Recife. Estava com sete semanas de gestação. Pagou o equivalente a dois salários mínimos, na época. Hoje, aos 26, ela se prepara para casar, e ainda sofre as consequências provocadas pela infecção contraída durante o procedimento.
Não pode mais engravidar.
“Fiquei três meses internada, um deles na UTI. Meus pais obviamente descobriram que eu havia abortado e sofreram muito. Eu não me arrependo do aborto em si. Mas me arrependo de não ter conversado com meus pais e procurado um local seguro. Isso mexeu com toda a minha vida.
Vou me casar em dois meses e não posso ter filhos biológicos”, contou.
VIÚVO
O engenheiro H.L, 34 anos ficou viúvo há dois anos.
A mulher, J.L morreu, aos 30 anos, em decorrência de complicações do aborto feito em uma clínica clandestina do Recife.
“Estávamos nos preparando para ir morar fora do Brasil.
Ela havia passado na seleção de um mestrado bastante disputado na Inglaterra e estava muito feliz. Eu já tinha conseguido a transferência na empresa onde trabalho e faltavam apenas dois meses para a mudança. Estava viajando, quando recebi a ligação de minha sogra”, revelou.
Só descobriu o que havia acontecido 12 horas depois de receber a notícia da morte da companheira, quando conversou com os médicos que a atenderam em um dos maiores hospitais privados da cidade – o útero e outros órgãos foram perfurados na intervenção clandestina. “Minha mulher não morreu simplesmente.
Ela foi assassinada e eu nem sabia que estava grávida.
Imagino que ela achou que um bebê, naquela altura, iria mexer com todos os planos da mudança, do mestrado. Com a morte dela, morri também.”
As mais pobres são as maiores vítimas
18/12/2016 - O Estado de S.Paulo
A criminalização do aborto atinge fundamentalmente as mulheres pobres, uma vez que as mulheres com recursos fazem abortos em clínicas, sem nenhum problema com a polícia.
As mulheres pobres ou têm de pedir uma autorização judicial ou fazem abortos inseguros.
A criminalização viola alguns direitos fundamentais das mulheres. O direito à autonomia sexual e reprodutiva, à dignidade e à liberdade. Também tem impacto na saúde reprodutiva. Se a mulher faz um abortamento inseguro, pode sofrer sequelas do ponto de vista reprodutivo.
Pode nunca mais poder engravidar.
A mulher engravida, mas não engravida sozinha. Tem o parceiro, que deveria ser responsável. O Brasil é um País hipócrita e, a quem diz querer criminalizar o aborto sob o pretexto de preservar a vida, cabe a pergunta: a vida de quem?
Supremo está no centro da discussão
18/12/2016 - O Estado de S.Paulo
A discussão sobre aborto no Brasil foi retomada por causa do nascimento de bebês portadores da síndrome de zika congênita.
Uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) foi apresentada no Supremo Tribunal Federal, solicitando, entre outras providências, liberação da interrupção da gravidez nos casos em que a gestante está contaminada pelo vírus. O pedido aguarda julgamento.
O debate ganhou ânimo também depois do entendimento há três semanas dado pela 1.ª Turma do STF de que o aborto praticado no primeiro trimestre de gestação não é crime. “A compreensão constitucional do ministro Luis Roberto Barroso pode se tornar um prólogo do que vamos assistir”, afirma a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Débora Diniz.“Dialoga com o Direito Internacional. Como afirmou o ministro, as democracias desse planeta autorizaram o aborto.” Risco. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no entanto, já avisou ser contrária. Para o secretário-geral da CNBB, d.
Leonardo Steiner, a ADI vem acompanhada de um risco: o de se rejeitar as deficiências. “Entramos em um perigo grande, o de valorizar apenas pessoas sadias”, avalia.
Hospitais alertam para golpe contra famílias de pacientes
17/12/2016 - O Globo
A filha de um paciente do Hospital Silvestre, em Santa Teresa, até recebeu um comunicado ao fazer a internação na unidade e chegou a ler avisos colados nos elevadores, alertando para golpes aplicados por telefone. Mas, preocupada com a piora do quadro de saúde do pai, não se deu conta de imediato que a ligação do “doutor Paulo Martins” era uma farsa. Ele alegava urgência para o pagamento de um procedimento, que seria reembolsado pelo plano de saúde. Por sorte, uma médica que acompanha a família impediu que caíssem no que está sendo chamado de “Golpe do Hospital”, um crime que se alastra em unidades públicas e particulares do Rio e de outros estados do país.
— Meu pai foi internado no dia 19 de novembro. Mas foi na terça-feira que recebemos a ligação. Coincidentemente, seu quadro havia piorado. Na verdade, ligaram para a casa da minha mãe e a empregada me repassou o recado. Eu liguei para o celular de um homem que se identificava como médico, Paulo Martins. Ele informou que os exames tinham constatado um quadro de préleucemia e que precisariam fazer novos exames, iriam submeter meu pai a uma medicação que deveria começar imediatamente — disse a filha do paciente, que prefere não ser identificada.
De acordo com a família, o suposto médico afirmou que o único horário disponível para a aplicação da medicação seria às 17h30m.
— Para agilizar, eu teria que fazer um depósito numa conta. Desconfiei quando ele disse que era do centro cirúrgico. Meu pai não estava nessa unidade. Também estranhei quando me perguntou qual a conta bancária de minha preferência para depositar R$ 2.438, com desconto. Pedi à médica da família para falar com ele e ela me retornou dizendo que se tratava de um maluco — contou a filha, que procurou a administração do hospital.
DESGASTE EMOCIONAL
Vários hospitais privados do Rio estão colocando comunicados em suas dependências para alertar a população sobre o golpe. No Hospital Unimed-Rio, os casos são acompanhados pela ouvidoria da unidade. De acordo com o diretor administrativo, Gabriel Massot, mesmo com todos os esforços, o crime persiste:
— Isso causa desgaste não só administrativo, mas principalmente emocional. Às vezes o paciente entende como má fé do hospital, que fica vendido. Tenho os prontuários eletrônicos travados, não deixo qualquer funcionário ter acesso aos documentos de pacientes. Mesmo assim, alguém consegue os dados. Parece que há uma quadrilha com contatos com funcionários de muitos hospitais, porque conseguem informações que são fechadas ao extremo.
Fazer a divulgação por meio de banners e comunicados informando sobre o golpe está entre as recomendações do grupo de trabalho constituído pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
— As vítimas são sempre parentes que estão vulneráveis, em razão da gravidade do estado de saúde de seu parente. E, de fato, nem todo medicamento ou procedimento é coberto pelos planos. E há autorizações que às vezes demoram. Mas nossa principal recomendação é para o hospital informar aos pacientes que as unidades de saúde não cobram valores extras por telefone — explicou o presidente da Anahp, Francisco Balestrin.
Segundo ele, os hospitais também foram orientados a reforçar seus processos de segurança da informação:
— Verificou-se que, em alguns casos, os detalhes sobre os pacientes agendados para a realização de procedimentos foram repassados, de boa-fé, por atendentes que não estavam adequadamente preparados para lidar com essas demandas.
Anticorpo contra o zika
17/12/2016 - Correio Braziliense
Pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências descobriram um anticorpo que neutraliza o vírus zika e poderá se transformar em um candidato a vacinas e tratamentos contra a doença. A substância foi isolada do organismo de um paciente chinês que voltou infectado da Venezuela. A busca pela imunização e por terapias eficazes cresce na medida em que a enfermidade deixou os trópicos e passou a ser um problema global.
Embora em adultos a zika não costume provocar efeitos graves, em mulheres grávidas há o risco de o bebê nascer com diversas anomalias, incluindo microcefalia. No surto de 2015, 80 mil pessoas de 69 países foram infectadas e, embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha excluído, no mês passado, a doença da lista das emergências de saúde pública internacionais, ela ainda é uma preocupação, pois não existem vacinas nem tratamentos apropriados.
No laboratório de imunologia do Hospital de Sheizen, onde o estudo foi conduzido, a equipe de Qihui Wang isolou 13 anticorpos monoclonais do sangue do paciente infectado. Dois deles — Z23 e Z3L1 — mostraram-se promissores. “Somos o primeiro grupo a identificar anticorpos específicos do zika. Esses anticorpos são muito importantes para o desenvolvimento de tratamentos futuros e esperamos fazer a primeira vacina para prevenir e controlar a doença”, diz Wang.
BLOQUEIO
De acordo com ele, os outros anticorpos que vêm sendo investigados atualmente reconhecem tanto a dengue quanto o zika, ambos os vírus transmitidos pelo mosquido Aedes aegypt. Diferentemente, o Z23 e o Z3L1 atuam exclusivamente contra o vírus, indicando um alto grau de especialização. “Isso é importante para evitar efeitos colaterais potenciais”, afirma. Já se sugeriu que, em regiões onde a dengue é endêmica, uma vacina que aumente ainda mais a quantidade de anticorpos circulantes no organismo possa desencadear reações autoimunes.
Wang também investigou o mecanismo de ação dos anticorpos. O médico diz que eles atuam bloqueando regiões do envelope viral, a camada de proteínas que protege o núcleo do vírus. Dessa forma, o Z23 e o Z3L1 impedem que o zika entre nas células e passe a se reproduzir.
Segundo ele, embora sejam necessárias mais análises, a equipe espera, em breve, começar os testes clínicos, com pacientes humanos. “Esses anticorpos podem ser úteis tanto para estimular a resposta imunológica do hospedeiro contra o vírus, com uso para produção de vacinas, quanto para neutralizar o efeito do vírus, com o potencial de criarmos um medicamento antiviral para pacientes já infectados”, explica.
Dose dupla contra a arritmia
19/12/2016 - Revista Saúde É Vital
Cientistas da Universidade de Navarra bolaram e colocaram à prova uma nova solução terapêutica para a mais comum das arritmias — a fibrilação atrial, marcada por descompassos nos batimentos do coração, ainda eleva em cinco vezes o risco de um derrame. A ideia testada foi aliar dois procedimentos em uma intervenção só. Primeiro, os médicos dão choques na veia pulmonar, que leva sangue para o músculo cardíaco. "Assim, silenciamos impulsos elétricos anormais", explica o cardiologista Gabriel Ballesteros, líder do estudo. Depois, eles instalam um dispositivo que tampa o apêndice atrial esquerdo, local onde se formam 90% dos coágulos (veja o infográfico ao lado). "A estratégia beneficiaria pessoas que não podem tomar remédios anticoagulantes, o principal tratamento hoje", analisa o médico Silas Galvão Filho, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
1.TREMELIQUE
O coração possui uma corrente elétrica normal, que dita o ritmo dos batimentos. Na fibrilação atrial, esses impulsos são instáveis e surgem em áreas que não têm essa função — como na veia pulmonar.
2 FRITURA
Um cateter é inserido na veia femoral, na virilha, e levado até o órgão. Lá, o dispositivo literalmente queima a entrada da veia pulmonar, impedindo que ela continue a influenciar os pulsos.
3 ROLHA
Um segundo cateter vai até o átrio esquerdo e instala uma estrutura para fechar o apêndice que existe ali. Caso algum trombo se forme, ele não consegue sair, entupir os vasos do cérebro e causar AVC
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