Infecções resistentes a antibióticos podem gerar crise financeira
19/09/2016 - IstoÉ Online
A expansão das chamadas superbactérias, resistentes a todos os tratamentos médicos conhecidos, pode desencadear uma crise financeira similar, ou até pior do que a de 2008 – alertou um estudo do Banco Mundial publicado nesta segunda-feira (19).
A resistência antimicrobiana está em aumento e, no futuro, muitas doenças infecciosas não poderão ser tratadas, o que implicará um alto custo para os Estados e o aumento do número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza.
Esse problema pode representar um custo de até US$ 100 trilhões globalmente em 2050.
“Devemos saber que, a menos que seja enfrentado rapidamente e com seriedade, o problema da resistência aos antibióticos terá consequências desastrosas para a saúde humana e animal, para a produção de alimentos e para a economia global”, advertiu a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan.
Intitulado “Doenças resistentes aos medicamentos: uma ameaça para nosso futuro econômico”, o relatório analisa o que pode ocorrer, se os antibióticos e outros remédios antimicrobianos deixarem de surtir efeito.
A propagação das doenças levaria cerca de 28 milhões de pessoas para a extrema pobreza até 2050, especialmente nos países em desenvolvimento, indica o relatório.
“Em linhas gerais, o mundo mostra uma tendência de redução da pobreza extrema para 2030, aproximando-se da meta de menos de 3% da população vivendo nessa situação. Mas a resistência aos antibióticos põe em risco que se possa atingir esse objetivo”, acrescenta.
Além disso, os países de menor renda podem perder mais de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) até 2050, e o volume de exportações no mundo pode se reduzir em 3,8% até esse mesmo ano, segundo as projeções.
“O aumento global nos custos da atenção em Saúde pode ser de entre US$ 300 bilhões e US$ 1 trilhão” por ano em 2050, afirma o estudo.
A produção de víveres também pode cair entre 2,6% e 7,5%, anualmente.
Esse problema será abordado nesta semana em uma sessão especial na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
“A dimensão e a natureza dessa ameaça poderiam nos levar a um retrocesso nos êxitos alcançados no desenvolvimento e poderiam nos afastar dos nossos objetivos de erradicar a pobreza extrema”, ressaltou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.
“Não podemos bancar os custos que representaria a inação, especialmente os países mais pobres. Devemos reagir com urgência para evitar essa crise potencial”, alertou.
Pânico e dilemas da zika chegam aos EUA
18/09/2016 - Folha de S.Paulo
"É menina", diz a administradora Luciana Coelho, 38. "Vai se chamar Louise." Grávida de sete meses, a paulista já decorou o quarto ("um mix de ursinhos e anjos dourados") e organizou seu chá de bebê –usou faixa tipo miss onde se lia "mommy" (mamãe) e cortou o bolo branco com glacê rosa, as mesmas cores do seu vestido longo.
Duas semanas antes da festa, contudo, o site da CNN, um dos principais canais de notícia dos EUA, exibia uma capa assustadora. "Eles estão aqui", dizia, acompanhada da foto de um Aedes aegypti.
Era para a vida ser doce em Celebration, comunidade projetada pela Disney em Orlando (Flórida). Coelho, que estuda inglês, para lá se mudou em janeiro, com o marido e os outros filhos, Victor, 13, e Victoria, 9. O vírus da zika chegou junto aos EUA, um ano após se espalhar pelo Brasil.
Até o último dia 7, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, 43 pessoas foram infectadas por mosquitos nativos dos EUA, 1,5% do total de casos no país, de 2.964; a maioria contraiu o vírus em viagens.
Por ora, o país computou 17 bebês com danos de nascença, sem especificar quais (se era microcefalia, por exemplo). O Estado mais afetado é a Flórida, em que se estima que vivam 300 mil brasileiros e onde se situam dois ímãs turísticos, Miami e Orlando.
O governo estadual ofereceu testes gratuitos para zika, e em um mês 86 grávidas receberam o resultado positivo. Coelho mora a 380 km do epicentro da epidemia, Miami, e mesmo assim teme engrossar a estatística. Evita ao máximo sair de casa e, quando sai, lambuza-se de repelente –gasta US$ 30 (R$ 100) por mês com os produtos.
Há também o medo de que a zika aja como repelente para o turismo na Flórida, que movimenta US$ 82 bilhões anuais. Parques de diversão já oferecem proteção contra os mosquitos, assim como o álcool em gel virou moda em banheiros após a onda de gripe. A Disney abriu uma seção em seu site, enfeitada com a fadinha azul de "Bela Adormecida", com medidas de precaução contra o vírus.
Para especialistas, é questão de tempo até que os mosquitos cheguem a Orlando. O pânico cruzou o país: em Nova York (520 casos, todos relacionados a viagens), grandes redes de farmácia exibem "repelentes antizika" no balcão, ponto nobre das vendas.
FIM DA PICADA
O assunto virou até queda de braço política: na semana retrasada, senadores democratas bloquearam um plano que liberaria US$ 1,1 bilhão para combater a epidemia. Motivo: proposto por republicanos, o projeto impede a alocação de recursos na Planned Parenthood, organização que dá assistência a mulheres e distribui contraceptivos –o país registrou ao menos 24 casos de contágio por ato sexual.
Pró-aborto, a rede de clínicas é alvo de fúria de conservadores, que já a acusaram de lucrar com a venda de partes de feto para pesquisa (o que foi negado). Para democratas, seria precedente perigoso minar a ação da entidade.
Familiar ao Brasil, a discussão também se instalou nos EUA –o aborto deve ser permitido para grávidas contaminadas? O dilema moral: o procedimento seria feito antes mesmo de saber se o feto tem defeitos congênitos, já que o diagnóstico só se dá com a gestação avançada (aí, seria tarde para tirar o bebê).
"O Congresso deveria poder cuidar de emergências médicas sem financiar grupo esquerdista pró-aborto", diz Tony Perkins, presidente do Conselho de Pesquisa da Família e aliado do presidenciável republicano, Donald Trump.
Ele bate de frente com o presidente do Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas, Thomas Gellhaus. "A objeção moral de um médico jamais deveria ser barreira para a mulher ter acesso a todos os serviços que impeçam as consequências potencialmente trágicas da zika", afirma.
Evangélica, Luciana Coelho não cogitaria o aborto em hipótese alguma: "Sou a favor da vida. Não podemos decidir quem vai ou quem fica". Nativa de Miami e da mesma fé, Jessie (que preferiu omitir sobrenome), 22, conta que interrompeu a gravidez ao descobrir que contraiu o vírus. "Eu amo Deus, e sei que ele entenderá que eu não tenria como pagar as contas médicas se algo desse errado."
Cubanos do Mais Médicos avisam: não querem voltar
18/09/2016 - O Estado de S.Paulo
A médica cubana Gretel Nuria Remon Perez, de 29 anos, veio para o Brasil com a primeira leva de profissionais do Mais Médicos, e tem uma boa razão para querer continuar no País. No dia 5 de agosto, ela se casou com o brasileiro Mauro Augusto Fernandes, de 28 anos, e já planeja ter filhos. Desde abril de 2014, Gretel compõe o quadro de profissionais do Programa Saúde da Família que atende a população de Pilar do Sul, interior de São Paulo.
Para ela, o município agrícola de 30 mil habitantes, na região de Sorocaba, tornou-se o lugar dos sonhos. “Meu futuro é ficar aqui”, disse.
O governo brasileiro definiu a prorrogação do programa com Cuba por mais três anos, mas o governo cubano está exigindo que haja rotatividade entre os profissionais. O plano é substituir cerca de 4 mil médicos em atividade no Brasil até o fim deste ano – no total, há 11,4 mil profissionais cubanos no País. Casada com o brasileiro, Gretel acredita que vai poder ficar aqui. O casal precisa viajar a Cuba para que a nova situação seja homologada pelo governo de lá, mas ainda não definiu a data. “Casamos por amor, nem levamos em conta essa nova situação. Mas agora deixar o Brasil está fora dos planos”, disse a médica.
Formada em Cuba há seis anos, Gretel trabalhou um ano na Venezuela e veio para o Brasil na expectativa de atuar em um grande centro. Quando foi enviada para Pilar do Sul, estranhou de início, mas logo se acostumou.
“As condições de saúde aqui são muito parecidas com as de Cuba.” A médica atende na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Nova Pilar. Ela conta que conheceu Fernandes em uma atividade de saúde na praça da cidade. O marido é enfermeiro e logo se aproximou da “doutora”. “No começo foi só amizade, não tinha nenhuma outra intenção, mas depois rolou”, afirmou o jovem.
JÁ OS PACIENTES ELOGIAM A DOUTORA
“Na primeira consulta, não achei que ela era a médica, pois é muito jovem, e fiquei um pouco desconfiada, pois não entendia direito o que falava. Foi só a primeira impressão, logo ela me deixou à vontade e acertou tudo o que eu tinha. Hoje somos amigas e ela vai na minha casa”, disse a aposentada Idalina Lopes, de 61 anos.
PASSEATA
Entre os médicos cubanos que atuam no interior de São Paulo, a maioria prefere continuar no Brasil. No caso de Eduardo Rogério Fraga Martin, de 34 anos, é a população do Bairro do Turvo, na zona rural de Tapiraí, que não quer sua saída.
Os moradores já fizeram uma passeata pela permanência do médico. “Ele é uma bênção do céu, desde que chegou, não só a saúde, tudo aqui só melhorou”, disse Terezinha Leite, uma das líderes comunitárias.
Uma das conquistas foi uma Unidade Básica de Saúde (UBS) nova, construída depois que o cubano se instalou na comunidade.
O secretário de Saúde, Francisco Vieira Filho, defende a permanência dos dois médicos que atuam em Tapiraí.
“Com a ajuda deles, conseguimos criar um modelo de atenção à saúde básica que está sendo referência para outras cidades.” Reverenciado pelos moradores e cortejado pelos amigos, o médico quer continuar na cidade.
“A população está familiarizada com nosso trabalho e já conhece os problemas de cada um. Seria muito triste ter de ir para outro lugar.” Já a médica Yamile Rodriguez Palacio, de 29 anos, teria todos os motivos para querer voltar para Cuba. Quando começou a trabalhar pelo Mais Médicos em Sorocaba, no início de 2014, havia deixado em seu país os pais, dois irmãos – um deles adolescente – e seu marido.
Mesmo assim, ela torce para poder continuar atuando em uma UBS da periferia. “Já trabalhei em Belize, na América Central, mas aqui é diferente, o apoio é maior e a população reconhece nosso trabalho.”
Entidades querem acesso fácil à adrenalina
17/09/2016 - Folha de S.Paulo
Era uma noite tranquila de dezembro. Lisiane Carafini, 37, acordou para alimentar seu bebê e ouviu uma tosse estranha. Ela achou o marido, Leonardo Semprebom, irreconhecivelmente inchado. Era a primeira crise anafilática dele. Na segunda, morreu. Para evitar casos como esse, entidades lutam para trazer uma pequena "caneta" de adrenalina para o Brasil.
A anafilaxia é um processo alérgico grave que pode levar à morte. Ela ocorre no contato entre o organismo e alérgenos, substâncias que, mesmo aparentemente inofensivas, são tidas pelo corpo como um perigo. Leite, ovo, peixes, castanhas e crustáceos lideram a lista de causas da doença, segundo a Anafilaxia Brasil, projeto da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
Semprebom nunca tinha tido crises. A primeira, sem explicação óbvia, foi no final de 2015. Os sintomas, clássicos do quadro clínico, foram tosse, partes do corpo inchando e fala difícil pelo aumento da língua.
A esposa, Lisiane, não sabia o que estava acontecendo e, por sorte, tinha uma irmã, médica, por perto.
Em casos de crise anafilática, o ideal é chegar rapidamente a um pronto-socorro. Contudo, entidades como a Asbai e a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), afirmam que uma pequena "caneta" de adrenalina é a melhor opção para evitar a perigosa evolução das crises.
"Ter anafilaxia é você ter uma corda no seu pescoço", afirma Elaine Gagete da Silva, coordenadora do grupo de anafilaxia da Asbai.
A caneta possui uma dose adequada de adrenalina para impedir o agravamento da crise anafilática. A pessoa faz a aplicação intramuscular do medicamento na coxa.
A adrenalina é importante para impedir que o plasma sanguíneo "vaze" dos vasos, invadindo os órgãos. Isso reduz a chance de inchaços, que podem fechar a garganta e levar à morte.
Elaine adverte que a caneta é só um procedimento de emergência, um primeiro socorro que possibilita a chegada segura até um hospital.
Nos EUA, a chamada EpiPen é vendida pela farmacêutica Mylan. Recentemente, a empresa foi criticada pelo aumento no preço do remédio. Em embalagens com duas ampolas, o valor passou de cerca de US$ 100 em 2007 para US$ 600 (R$ 1.970) em 2016.
PARA OS PEQUENOS
Em crianças os quadros de anafilaxia podem ser mais graves. "O sistema imunológico da criança não está completamente formado", afirma Luciana Rodrigues, presidente da SBP.
Ana Carla Karam, 48, tem um protocolo doméstico para que a família possa comer fora. Seu filho, Gabriel Kern, 6, tem uma grave alergia a ovo. A cada refeição, Ana precisa perguntar ingredientes e até mesmo ver a embalagem do que foi usado no prato. "É estressante, porque não podemos dar bobeira."
A professora, aconselhada por um alergista, passou a importar EpiPens. Aonde vai, ela leva uma consigo. Outra fica no colégio do garoto.
"A adrenalina autoinjetável pode salvar vidas", diz Luciana. "Em poucos minutos o indivíduo pode morrer".
Por ser importado, o remédio fica caro e pouco acessível para o público em geral.
'OPORTUNIDADE'
Procurada pela Folha, a Mylan diz que "continua a explorar a oportunidade de trazer o autoinjetor EpiPen para o mercado brasileiro" e que "dessa vez não pode comentar além disso".
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma que não há pedido de registro do produto em análise ou aguardando análise. "É importante destacar que, para que um medicamento seja registrado e comercializado no Brasil, é necessário que uma empresa/laboratório solicite este registro", diz.
O Ministério da Saúde diz que a epinefrina, conhecida como adrenalina injetável, está disponível no SUS. Segundo a pasta, o uso exclusivo em ambientes hospitalares visa evitar o uso indiscriminado do medicamento.
Segundo dados do Ministério, o SUS realizou, em 2015, 548 internações por choques anafiláticos. Em 2016 foram contabilizados 334.
SP lidera ranking de judicialização da saúde pública, diz Interfarma
16/09/2016 - Valor Econômico / Site
O Estado de São Paulo lidera o ranking nacional de judicialização da saúde pública e somente em dois meses do ano passado, janeiro e setembro, foram movidas 3.014 ações para obtenção de medicamentos e tratamentos negados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É o que mostra o estudo “Judicialização da Saúde na Prática – Fatos e dados da realidade brasileira”, produzido pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), com lançamento na segunda-feira.
O levantamento indica que o Rio Grande do Sul lidera a lista quando considerado o número de ações por cem mil habitantes, com quase 25, frente à média de 7,45 dos demais Estados. São Paulo fica em segundo lugar, com 6,79 ações por cem mil habitantes.
Conforme a Interfarma, há três principais razões para o aumento da judicialização da saúde pública. O primeiro é o montante de recursos direcionados para a área, que em 2016 sofreu um corte de R$ 24 bilhões frente ao orçamento original de 2015. Em seguida está o fato de o SUS não incorporar a maior parte dos medicamentos mais modernos. Além disso, há atrasos e problemas logísticos que resultam na indisponibilidade de determinados tratamentos na rede pública.
O levantamento da Interfarma foi feito a partir de uma amostra de ações judiciais em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, nos meses de janeiro e setembro para o primeiro Estado e de março e novembro do ano passado para os demais.
“São quase 15 mil ações impetradas em tribunais de Justiça. Elas foram analisadas, uma a uma, e trazem uma amostra dos impactos negativos que a judicialização causa para o sistema de saúde do Brasil”, diz em nota o presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto.
Para chegar a essa amostra, foram pesquisadas ações com os termos “medicamento” e “remédio” no Banco de Sentenças do Tribunal do Estado de São Paulo e no Banco de Jurisprudência do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.
Mortes confirmadas por chikungunya crescem 1.400% neste ano
16/09/2016 - Valor Econômico / Site
Após chegar a ser considerada uma doença que "avançou menos do que o esperado", a febre chikungunya tem acendido um alerta entre especialistas e autoridades de saúde neste ano. Dados de um novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde já confirmam, ao menos, 91 mortes relacionadas à infecção, transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Em todo o ano passado, eram seis mortes registradas — um crescimento de 1.417% no período.
Há ainda outras mortes suspeitas de ligação com a doença em investigação — o ministério não informa o total, mas secretarias estaduais de saúde dão sinais: só em Pernambuco, há 225 mortes suspeitas de ligação com arboviroses (como dengue, zika e chikungunya) ainda em análise.
Ao todo, as mortes já confirmadas ocorreram em nove Estados. Destes, Pernambuco registra o maior número de casos, com 46 registros já reconhecidos pelo Ministério da Saúde, seguido do Rio Grande do Norte, com 19. Os demais são Paraíba (7), Ceará (6), Rio de Janeiro (4), Bahia (4), Alagoas (2) e Maranhão (2) e São Paulo (1).
Segundo o ministério, a maior parte das mortes já confirmadas ocorreu entre os meses de fevereiro e março, período em que há maior proliferação de Aedes no país. A idade das vítimas variou entre zero a 98 anos — com média de 62 anos.
A pasta afirma ainda que o aumento no número de mortes reflete um trabalho de busca ativa realizado nos Estados — daí a demora para confirmação dos registros pelo governo federal.
CASOS DE INFECÇÃO
O número de casos classificados como prováveis de infecção pelo vírus chikungunya também tem registrado aumento nos últimos meses. De janeiro a 13 de agosto deste ano, já foram notificados 216.102 casos tidos como prováveis após atendimento na rede de saúde. Em todo o ano de 2015, foram 38.332 — aumento de 463%.
Também cresceu o número de cidades que registram casos de "chiku", como costuma ser chamada em alguns locais: de 696 em 2015, já são 2.248 neste ano. Entre as regiões, o Nordeste é o mais afetado, com 87% dos casos registrados.
A situação preocupa os serviços de saúde, uma vez que a chikungunya é marcada por sintomas como febre alta e repentina, dores de cabeça e nos músculos e fortes dores nas articulações dos pés e das mãos — que podem se estender por meses e anos.
ZIKA E DENGUE
O boletim do Ministério da Saúde também traz dados atualizados sobre zika e dengue. Em relação ao zika, foram notificados 196.976 casos prováveis da doença até o dia 13 de agosto.
Boletim anterior da pasta, com informações até julho, apontava 174.003 registros. Não há dados de 2015. Neste ano, também foram confirmados três mortes como relacionados ao zika.
Já os registros de dengue alcançam 1,4 milhão de casos desde janeiro deste ano. Gráficos do Ministério da Saúde, porém, registram redução no número de novos casos nas últimas semanas.
Ainda assim, o alerta persiste, já que os últimos meses do ano costumam apresentar um aumento na proliferação de Aedes aegypti devido ao calor e ao aumento das chuvas, clima favorável ao mosquito transmissor.
A redução da severidade nas crises de asma
17/09/2016 - Folha de S.Paulo
Uma possível forma de reduzir a severidade nas crises de asma foi apresentada recentemente, em Londres, no congresso da Sociedade Respiratória Europeia.
O uso de suplemento de vitamina D junto com o tratamento de asma reduz o risco de ataques severos, segundo revisão realizada por Adrian Martineau, do Queen Mary University de Londres e colaboradores da rede Cochrane.
Foram analisadas sete pesquisas realizadas em seis países (Canadá, Índia, Japão, Polônia, Reino Unido e Estados Unidos), perfazendo o total de 435 crianças e 658 adultos.
Observaram que suplementos de vitamina D em portadores de asma leve a moderada reduziu de 3% a 6% a necessidade de serviços hospitalares de urgência por crises severas.
Os autores destacam a necessidade de maiores estudos sobre a ação da vitamina D em crianças e adultos portadores de asma grave.
O objetivo é ver se eles também receberão os mesmos benefícios do grupo estudado, de adultos com asma leve a moderada.
A asma é uma doença crônica caracterizada pela dificuldade respiratória e presença de sibilos na respiração.
Um alerta: os suplementos de vitamina D não podem ser consumidos de forma aleatória. Seu uso deve ser feito sob controle médico. O excesso de vitamina D no sangue pode interferir na ação de outros medicamentos e os casos de toxicidade podem levar à anorexia e arritmia cardíaca.
Multivacinação para crianças começa nesta segunda-feira
19/09/2016 - Folha de S.Paulo
A Campanha Nacional de Multivacinação para crianças e adolescentes começa nesta segunda-feira (19), em postos de saúde de todo o país.
Pela primeira vez, jovens de 10 a 15 anos estão incluídos na ação, que também tem como público-alvo crianças de nove anos de idade e menores de cinco anos.
Outra novidade é que serão aplicadas vacinas contra mais tipos de doença. Antes, o Ministério da Saúde costumava aproveitar as campanhas contra a poliomielite, em agosto, para verificar se havia crianças que ainda não tinham tomado algumas vacinas.
Agora, o foco foi ampliado para todas as doses recomendadas no Calendário Nacional de Vacinação. O objetivo é reduzir o número de não imunizados e aumentar a proteção da população, principalmente entre adolescentes.
“É um público mais resistente a buscar os serviços de saúde”, diz a coordenadora geral substituta do Programa Nacional de Imunizações, Ana Goretti.
Ao todo, serão ofertadas 26 milhões de doses. Dessas, 19 milhões são de doses extras contra a hepatite A, poliomielite e febre amarela, por exemplo, além de tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), pentavalente, entre outras.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), ressalta a importância de receber todas as doses das imunizações. “Não adianta você vacinar uma dose e não colocar a segunda ou a terceira. Dependendo do tipo de vacina, a imunização não acontece”, afirma.
A campanha seguirá até o dia 30 de setembro. O dia de mobilização nacional, chamado de“dia D”, ocorrerá em 24 de setembro.
MUDANÇAS NAS VACINAS
Em janeiro, o Ministério da Saúde alterou o esquema de dosagem de quatro vacinas: poliomielite, HPV, meningocócica C (conjugada) e pneumocócica 10 valente. As mudanças atendem a recomendações de especialistas e também da OMS (Organização Mundial de Saúde).
No caso da pólio, por exemplo, a proteção passou a ser feita com três doses injetáveis (2º,4º e 6º mês de vida) e dois reforços orais, a “gotinha” (15º mês e aos quatro anos).
Antes, ela era feita com duas doses injetáveis e três orais.
A vacina contra o HPV, indicada para meninas de 9 a 13 anos, passou a ser aplicada em duas doses —antes eram três. A alteração ocorreu após estudos mostrarem que não há consequências na proteção com a redução de uma dose.
Já a meningocócica agora é dada um pouco mais cedo, dos 12 meses aos quatro anos, e a pneumocócica, em duas doses (no 2º e 4º mês), com reforço a partir de 12 meses.
Registros de zika no Rio indicam epidemia
17/09/2016 - O Estado de S.Paulo
No meio dos Jogos Olímpicos, o Rio tornou-se o primeiro Estado do Sudeste a registrar oficialmente epidemia de zika – mais de 300 casos por 100 mil habitantes.
É o que mostra o mais recente boletim do Ministério da Saúde, que aponta ainda que, entre as doenças mais transmitidas atualmente pelo Aedes aegypti, a que mais preocupa é a febre chikungunya.
Até 13 de agosto, foram registrados 196.976 casos prováveis de zika no País (taxa de incidência de 96,3 casos por 100 mil habitantes), distribuídos em 2.277 municípios. Acabaram confirmados 101.851 casos. A Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência: 188,1 casos/100 mil habitantes. Entre as unidades da federação com registro de epidemia estão Mato Grosso (652,9 casos/100 mil habitantes), Bahia (328,2 casos/ 100 mil) e Rio (363,6 casos/ 100 mil). As menores taxas estão no Sul: Santa Catarina (1,3 por 100 mil, com apenas 86 casos relatados) e Rio Grande do Sul (2,3/100 mil).
Em 2016, foram confirmadas laboratorialmente três mortes por zika: 2 no Rio e 1 no Espírito Santo. O Estado que recebeu a Olimpíada ainda responde por praticamente 1 em cada três casos confirmados no País: 60.176. Como só foi relatada transmissão autóctone de febre pelo vírus zika no País a partir de abril de 2015, não é possível fazer comparações. Em relação às gestantes, foram registrados 16.264 casos prováveis, sendo 8.904 confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial, segundo o ministério.
CHIKUNGUNYA
Ao comparar os dados com o boletim anterior, do início de julho, chama a atenção o avanço da febre chikungunya.
Foram identificados 53 novos óbitos, levando para 91 os registros em 2016 – ante 6 em todo o ano passado. Em 2015, foram registrados no País 38.332 casos prováveis da febre (incidência de 18,7 casos/100 mil habitantes), distribuídos em 696 municípios, dos quais 13.236 foram confirmados. Em 2016, até 13 de agosto, foram registrados 216.102 relatos prováveis de chikungunya (taxa de incidência de 105,7 casos/100 mil), distribuídos em 2.248 municípios.
Desses, 102.638 casos foram confirmados.
No momento, a Região Nordeste, marcada no fim do ano passado pela epidemia de zika, agora enfrenta problemas com a chikungunya, com 335,6 casos/ 100 mil habitantes. Entre as unidades da federação, preocupam Rio Grande do Norte (649,1 casos/100 mil), Pernambuco (434,7) e Alagoas (397,9).
DENGUE
Já o avanço da dengue no País apresenta ritmo lento.
O número de casos deste ano – 1.426.005 – já é inferior ao do mesmo período de 2015 – 1.479.950 casos.
Campanha apaga monumentos para alertar sobre câncer ocular infantil
18/09/2016 - O Estado de S.Paulo / Site
Neste domingo, 18, às 19h30, as luzes do Teatro Municipal, na região central de São Paulo, serão apagadas para alertar sobre o retinoblastoma, tipo de câncer ocular mais comum em crianças. A ação faz parte do Dia Nacional de Conscientização e Incentivo ao Diagnóstico Precoce do Retinoblastoma, celebrado hoje, e também será realizada em pontos turísticos de Brasília e Belo Horizonte.
A doença é considerada rara e atinge cerca de 400 crianças entre 0 e 5 anos por ano no Brasil. Embora possa se agravar, levando à cegueira e à morte, o tumor pode ser curado se o diagnóstico for feito de forma precoce.
"O diagnóstico é muito simples, fundamentalmente feito por um pediatra com a verificação do fundo de olho ainda na maternidade. Depois, pode ser visto quando aparece um mancha branca com o reflexo da luz. Quando a criança é fotografada, se tem o branco, é porque tem algo na frente, que é o tumor. Estamos falando cada vez mais do diagnóstico precoce, porque, quando a mancha aparece, é porque o caso já está mais avançado", explica Sidnei Epelman, oncologista pediátrico e presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (TUCCA). A mancha branca é chamada de leucocoria.
O retinoblastoma é uma doença genética e hereditária. Ela pode apenas um ou os dois olhos. O tratamento pode ser feito com laserterapia e quimioterapia. "Além de salvar o olho, podemos salvar a vida da criança. Quanto mais precoce é detectado, mais brando é o problema. É uma doença curável quando tratada de forma adequada."
A escolha é da mulher
17/09/2016 - Veja
LEMBRO QUANDO, HÁ UM ANO exatamente, em setembro de 2015, surgiram os primeiros casos de microcefalia resultantes da epidemia de zika vírus. Naquele tempo, no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, no Recife, onde trabalho, o ambiente das salas nas quais as gestantes aguardavam sua vez para fazer o primeiro exame de ultrassom era leve e descontraído — para a maioria, a única ansiedade era saber o sexo do seu bebê.
Hoje a situação é completamente diferente. O ambiente é tenso. Todas têm medo de receber um diagnóstico de síndrome congênita do vírus. De outubro do ano passado a julho deste ano chegaram a 1709 os casos de microcefalia no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, e o estado com o maior número de ocorrências confirmadas ainda é Pernambuco, com 371 casos. Depois vêm Bahia, com 277, e Paraíba, com 148.
Não há ainda evidências suficientes para estabelecer as reais possibilidades de, uma vez contaminada pelo vírus, a gestante ter seu filho portador de síndrome congênita da zika. A doença inclui, além de microcefalia, outras malformações graves, como hidrocefalia, calcificações intracranianas, cegueira, surdez, retardo mental e doenças articulares. Mesmo quando a criança de uma gestante portadora do vírus não apresenta alterações ao nascer, é possível, à semelhança de outras síndromes de infecções congênitas, que com o passar dos meses ou dos anos venham a surgir atrasos de desenvolvimento motor e cognitivo ou outras complicações.
Em sua maioria, as mulheres com filhos acometidos por essa síndrome vivem na Região Nordeste, em locais sem saneamento básico, e utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). São elas que, após o nascimento dos bebês, passam a se dedicar integralmente a eles, levando-os a consultas com neuropediatra, oftalmologista, otorrinolaringologista, geneticista, ortopedista, fisioterapeutas, nutricionistas e terapeuta ocupacional, entre outros. Essa tarefa é difícil para quem mora nos grandes centros urbanos e praticamente impossível para aquelas que residem em áreas rurais. Muitas dessas mães perdem condições de se dedicar ao trabalho e passam a depender de familiares e companheiros — que muitas vezes as abandonam.
Essas mulheres — a quem já foram negados saneamento básico, contracepção efetiva, assistência e apoio social — não podem ser submetidas a mais uma violência do Estado contra a sua dignidade: a de não lhes assegurar autonomia na decisão de manter ou não a gravidez diante do risco da microcefalia. Primeiro, porque não cabe ao Estado decidir por elas, mas apoiá-las e garantir-lhes assistência qualquer que seja a sua decisão. Depois, negar às mulheres o direito de decidir ou não pela continuidade de uma gravidez com risco de microcefalia contraria frontalmente as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No início do ano, a OMS declarou ser a epidemia do vírus zika uma emergência de saúde pública, diante não apenas das desordens neurológicas provocadas pelo vírus nos fetos como também do sofrimento causado aos familiares. As ações emergenciais recomendadas pela OMS para o enfren-tamento da epidemia foram: a) acesso irrestrito aos métodos contraceptivos mais efetivos; b) disponibilização de teste so-rológico para o diagnóstico de zika de rotina no pré-natal; e c) aborto nos casos de sorologia positiva para zika.
Entre as ações emergenciais recomendadas pela OMS para o enfrentamento da epidemia de zika está o aborto. Passados mais de seis meses dessa declaração, pode-se facilmente verificar que o Brasil a ignorou. Em relação ao acesso aos métodos contraceptivos mais efetivos, o governo brasileiro limitou-se a sugerir às mulheres adiar o sonho da gravidez — como se planejar a gravidez fosse algo fácil para a maioria das brasileiras em idade reprodutiva. Mesmo antes da epidemia de zika, resultados da pesquisa. Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz. mostravam que 55% das mulheres tinham filhos sem planejamento. Os métodos contraceptivos mais eficazes a que a OMS se refere incluem o dispositivo intrau-terino (DIU) e os implantes. Esses contraceptivos, classificados como de longa duração, têm maior eficiência que os métodos mais populares — como a pílula e a camisinha —, já que não dependem de uma ação direta e da disciplina da usuária. Por isso, os métodos de longa duração favorecem a adesão e diminuem o número de falhas. O Ministério da Saúde, no entanto, além de não promover nenhuma ação para aumentar a taxa de uso do DIU no Brasil (que, diga-se de passagem, é muito pequena: apenas 1,5%), decidiu não incorporar os implantes entre os métodos disponibilizados pelo SUS.
Em relação ao segundo ponto definido pela OMS — a disponibilização de teste sorológico para o diagnóstico de zika de rotina no pré-natal —, também não houve avanços. Esses exames no Brasil não estão acessíveis no pré-natal da rede pública e os que estão não apresentam resultados precisos. Em meio a esse cenário desolador, ganha força a terceira e última recomendação da OMS, referendada pela Procuradoria-Geral da República. Na semana passada, a PGR enviou ao Supremo Tribunal Federal parecer favorável à garantia de acesso ao aborto seguro às gestantes infectadas pelo vírus zika e em sofrimento psíquico.
Essa proposta respeita os direitos fundamentais da gestante protegidos por nossa Constituição Federal, como o direito à dignidade da pessoa humana, à saúde, à privacidade, à integridade física e moral, à igualdade e à autonomia reprodutiva — essa última resguardada por diversos tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário, e também pelo reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher pela comunidade internacional.
Por fim. a interrupção da gravidez quando a sorologia for positiva para zika nada tem a ver com eugenia, como já se chegou a dizer, dado que tal teoria não reconhece o direito à autonomia e foi praticada apenas em regimes políticos totalitários. As mulheres não podem ser obrigadas a manter uma gravidez sob riscos elevados para a saúde do bebê, tampouco ser forçadas a abortar. Num Estado democrático de direito, deve-se reconhecer a possibilidade de escolha.
Uma revolução contra o colesterol
17/09/2016 – IstoÉ
Um dos maiores especialistas do mundo no combate às doenças do coração, o médico inglês Peter Sever foi o porta-voz, durante o Congresso Europeu de Cardiologia, realizado em Roma, na Itália, de uma notícia revolucionária. Sever, que é professor de Farmacologia Clínica e Terapêutica do Imperial College of London, expôs em detalhes o impacto que uma nova classe de remédios pode provocar no combate ao colesterol. As medicações Repatha e Praluent, já disponíveis no Brasil, reduzem os níveis de LDL, o chamado colesterol ruim, em até 70%. “Conseguimos uma mudança jamais vista antes”, afirmou Server à ISTOÉ, durante um dos breves intervalos entre as sessões do evento. Na entrevista a seguir, o professor falou também de outros avanços da medicina.
O que representa a chegada dessa nova classe de remédios contra o colesterol?
Vivemos uma revolução no tratamento do colesterol. Tivemos avanços com o uso das estatinas (drogas usadas até agora), mas nada tem se mostrado tão eficiente quanto essas medicações. O colesterol ruim pode ser reduzido em cerca de 70%. As estatinas conseguem uma redução de 40%.
Como se chega a esse resultado?
Os remédios atuam sobre uma proteína específica associada ao acúmulo de LDL. Por isso, são precisos e chegam diretamente no alvo.
Qual o impacto futuro que essas drogas terão no combate às doenças cardiovasculares?
Prevemos que haverá uma grande redução no número de infarto. Assim que isso for comprovado, os órgãos regulatórios de todo o mundo poderão contar com as evidências para decidir sobre a extensão das indicações das drogas e das políticas públicas de acesso a elas.
No momento, são indicadas a quem?
A grupos de pessoas com altos índices de colesterol e risco cardiovascular, pacientes com predisposição genética ao acúmulo de LDL e aqueles intolerantes às estatinas.
As estatinas deixaram de ser eficientes?
Não. Mas muitas pessoas reclamam de seus efeitos colaterais. Queixam-se de dores musculares, insônia e disfunções sexuais ligadas ao uso destes medicamentos. Os testes clínicos com essa nova classe de medicamentos mostram ótimos resultados na redução do LDL sem causar estes efeitos colaterais, representando uma opção para os pacientes.
Um dos problemas em relação a novos remédios, especialmente os biológicos, é seu alto custo, o que impede o acesso da maioria das pessoas a eles. O mesmo deverá acontecer com essa nova categoria?
Alguns países podem não ter dinheiro para fazer a distribuição a uma parcela maior da população. Mas sabemos que existem três companhias que vão competir nesse mercado e, com isso, a tendência é que os preços diminuam.
“Os países pobres registrarão um aumento no número de infartos. As nações desenvolvidas assistirão a uma redução no total de eventos deste tipo”
“Os países pobres registrarão um aumento no número de infartos. As nações desenvolvidas assistirão a uma redução no total de eventos deste tipo”
Todos sabem o que é preciso fazer para controlar o colesterol. Dieta saudável e exercício físico. Por que os índices de pessoas com alto colesterol ainda são tão expressivos?
A informação não é insuficiente, a educação é que está errada. As pessoas, muitas vezes, apenas se recusam a seguir o que é orientado. O fator mais importante para prevenção é a educação, não apenas entre os médicos, mas do público em geral. As pessoas sabem que cigarro faz mal para a saúde, estão cientes de que consumir muito álcool pode ser prejudicial para o fígado e sabem que gordura e colesterol são ruins para o coração. Mas, normalmente, não prestam atenção nos fatores de risco, e isso é muito ruim.
O nível da adesão dos pacientes aos tratamentos é muito diferente em países desenvolvidos e nos emergentes?
Há mais aderência aos tratamentos nos Estados Unidos. Mas, em geral, muitas pessoas acabam ignorando suas condições de saúde. A maior parte das populações não segue as recomendações passadas pelos médicos, inclusive no Reino Unido. Na América do Sul ocorre o mesmo. Mas o trabalho deve ser conjunto. Os governos têm a responsabilidade de educar a sociedade acerca dos fatores de risco, como se proteger. A comunidade médica deveria participar mais de congressos, por exemplo, para se atualizar e se preparar melhor. Seria um caminho muito efetivo.
Há muita dificuldade de controle em relação aos outros fatores de risco, como o sedentarismo e a hipertensão. Pelos mesmos motivos?
Vamos pensar em todos os outros fatores de risco além do colesterol: tabagismo, pressão alta, sedentarismo e diabetes. Quanto ao tabagismo, realmente não é fácil fazer as pessoas pararem de fumar. Para hipertensão, temos medicamentos capazes de controlá-la, mas quantos pacientes de fato são capazes de reduzir a pressão sanguínea efetivamente? Na maioria dos países, esse número varia de 25% a 50%. É muito difícil convencer as pessoas a mudarem seu estilo de vida.
Qual a responsabilidade dos médicos nessa tarefa?
Os médicos não têm tempo para instruir bem os pacientes. A média de uma consulta no Reino Unido é de quatro a seis minutos. Eles perguntam apenas nome, idade e o problema principal. O ideal seria que todos os pacientes passassem por uma triagem primária antes das consultas, com espaço para conversar com enfermeiros sobre seu estilo de vida, dieta, rotina de exercícios, uso de medicamentos, tratamentos em curso etc. Informações que seriam adicionadas nas fichas de cada paciente, servindo de base para o médico conduzir a consulta. Mas, infelizmente, 99% dos médicos não têm este tipo de abordagem.
E o papel das autoridades públicas?
No Reino Unido, existem campanhas educativas para prevenção realizadas pelo Departamento Nacional de Saúde Pública. Acredito que esta é a direção certa. O grande problema é que muitos governos sofrem forte pressão da indústria alimentícia, assim como da tabagista, para que seus produtos continuem a vender muito. Há um claro conflito de interesses. E as pessoas sofrem as consequências disso.
Levantamentos epidemiológicos alertam sobre o aumento no número de crianças com colesterol alto, obesas e hipertensas. Como é possível reverter isso para que não se crie uma nova geração de pacientes de alto risco?
A obesidade é um dos maiores problemas envolvendo crianças. Nos últimos cinco ou seis anos, o número de jovens obesos aumentou significativamente e, agora, vemos crianças de doze, treze anos desenvolvendo a diabetes tipo 2. A doença, intimamente ligada à obesidade, só era diagnosticada em adultos anos atrás. Esse problema se deve exclusivamente à combinação de maus hábitos alimentares e falta da prática de exercícios físicos. É claro que há a exceção dos pacientes que sofrem de doenças genéticas. Para estes casos, existe a possibilidade de tratamentos precoces com medicação.
Muitos especialistas defendem a proibição da propaganda de produtos infantis com alto teor de gordura e açúcar. O senhor concorda com isso?
Sim. Os governos têm muita responsabilidade nisso. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, as autoridades tentaram implementar uma taxação extra para produtos ricos em açúcar, mas é muito difícil colocar isso em prática. As empresas da indústria alimentícia faturam bilhões de dólares com a venda desses produtos. Mas, no Reino Unido, por exemplo, tivemos avanços como a proibição de propagandas de alguns produtos específicos na tevê antes das 21 horas, para evitar que as crianças sejam influenciadas. Pensando no futuro, a educação alimentar do jovens deveria ser algo muito mais difundido.
O que ainda falta ser descoberto sobre o coração?
Não conhecemos todas as doenças cardíacas, mas acredito que chegamos a um nível muito avançado. Se olharmos o conjunto de pessoas que foram acometidas por doenças cardiovasculares, em 95% dos casos podemos explicar a condição analisando os fatores colesterol, tabagismo, pressão arterial, diabetes e prática de exercícios. Excluindo esses pontos, não há muito com o que se preocupar. “Muitos governos sofrem pressão da indústria tabagista e as pessoas sofrem as consequências”
Tratamentos cada vez mais personalizados têm sido usados contra o câncer. Este será o caminho para as doenças do coração?
Há uma diferença entre os tratamentos contra câncer e colesterol. O progresso nos tratamentos personalizados do câncer está no estudo da célula tumoral e o desenvolvimento de anticorpos contra aquele tipo específico de tumor, combatendo a doença de maneira mais eficaz. Para as doenças cardiovasculares, não são necessários tratamentos tão personalizados.
Por que doenças cardiovasculares em mulheres têm sido negligenciadas em todo o mundo?
Porque até os 55 anos o risco de ataques cardíacos em mulheres é substancialmente menor do que em homens. Ao longo do tempo, principalmente depois da menopausa, a diferença diminui, mas é uma preocupação que surge mais tarde. No entanto, as mulheres estão hoje muito mais sujeitas ao estresse, acumulando funções no mercado de trabalho e dentro de casa. Esse é um ponto a ser considerado, já que o estresse é um dos fatores de risco para infarto. Os médicos devem deixar de ignorar os sinais de doença cardíaca em mulheres jovens.
Qual a sua perspectiva sobre a evolução das doenças cardíacas em todo o mundo?
A perspectiva é diferente de acordo com o país. No Reino Unido, os ataques do coração diminuíram 50% nos últimos dez anos. Esta é uma redução fantástica. Isso se deve parcialmente a mudanças de hábitos e ao uso de medicamentos. O acesso aos tratamentos tem aumentado. Nos países subdesenvolvidos, porém, a alimentação de má qualidade ainda é um sério fator de risco. Para os próximos anos, acredito que viveremos um contraste. Os países pobres registrarão uma situação mais dramática, com um aumento constante em níveis de colesterol e doenças do coração. Por outro lado, as nações desenvolvidas, como Alemanha e Reino Unido entre outros, assistirão a uma redução no número de pessoas que sofrem infarto.
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