37015
ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS

83507
PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS
CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 20/09/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Luta por medicamentos caros

20/09/2016 - O Globo


Entidades se mobilizam em torno de julgamento no STF que decidirá se governo deve arcar com custos de remédios não fornecidos pelo SUS. Grupos que representam pacientes com doenças raras estão se mobilizando em torno de um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que pode afetar diretamente o tratamento de enfermidades desse tipo. Está nas mãos da Corte decidir se o poder público deve arcar com medicamentos de alto custo que não estão incluídos no Sistema Único de Saúde (SUS) e, ainda, determinar se é obrigação do Estado financiar remédios que não têm autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Associação Brasileira de Assistência à Mucoviscidose (Abram) estará, hoje, em Brasília, para tentar sensibilizar os ministros sobre o direito do acesso às medicações. Por outro lado, a Advocacia Geral da União alega que decisões judiciais envolvendo medicamentos caros podem desestabilizar o sistema de saúde.

O julgamento começou na quinta-feira passada, mas foi interrompido após um pedido de vistas do ministro Luís Roberto Barroso e deve voltar à pauta até o início de outubro. São dois recursos em análise. Num deles, o governo do Rio Grande do Norte questiona a obrigação de arcar com um remédio caro não listado pelo SUS. O outro foi impetrado por uma paciente que tentou acesso a um medicamento não autorizado pela Anvisa, mas teve o pedido negado pelo estado de Minas Gerais. Em seu voto, o relator do julgamento, Marco Aurélio Mello, decidiu que o poder público deve, sim, pagar pelo medicamento se ficar comprovada a imprescindibilidade do remédio e a incapacidade financeira do paciente e de sua família para obtê-lo. Mas ele também determinou que o poder público não deve ser obrigado a arcar com os custos de um medicamento que não tem o aval da Anvisa. Dez ministros ainda precisam declarar seus votos.


TRATAMENTO DE R$ 30 MIL MENSAIS


Os representantes da Abram querem entregar documentos de defesa da causa nos gabinetes dos 11 ministros, com dados não apenas sobre a mucoviscidose — mais conhecida como fibrose cística, distúrbio genético que afeta o pulmão e o sistema digestivo —, mas também com informações de outras associações que representam acometidos por doenças raras. Além disso, entidades como o Instituto Vidas Raras vêm fazendo campanha nas redes sociais, publicando depoimentos de pacientes com doenças pouco conhecidas que necessitam de medicamentos específicos. Segundo a Abram, todo o tratamento de fibrose cística custa cerca de R$ 30 mil mensais. Apenas um dos medicamentos custaria R$ 6 mil por mês.

— A única porta aberta, hoje, para nós é o Judiciário. O paciente está sendo fragilizado nesse processo e, pior, criminalizado por aqueles que afirmam ser essa demanda uma forma de onerar o Estado sem necessidade — desabafa o empresário Sérgio Sampaio, presidente da Abram, cujo filho, de 28 anos, tem fibrose cística. — Na espera de um registro na Anvisa, as pessoas vão a óbito. Defendemos que drogas não-experimentais, registradas por órgãos como o FDA (órgão que regulamenta alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) possam ser requeridas por meio da Justiça no Brasil.

Os casos em julgamento no STF tratam de substâncias específicas — que, no decorrer dos processos, já tiveram autorização, respectivamente, da Anvisa e do SUS —, mas, como as análises receberam classificação de “repercussão geral”, as decisões da Corte em torno do tema determinarão uma orientação para outros casos semelhantes em instâncias inferiores. Em um dos processos, Carmelita Anunciada de Souza pediu ao governo potiguar medicamento para miocardiopatia isquêmica e hipertensão arterial pulmonar e conseguiu. Na outra ação, Alcirene de Oliveira exigiu do governo mineiro um remédio para doença renal crônica, mas não obteve a substância, porque o produto não era autorizado pela Anvisa. Os dois casos chegaram à mais alta corte do país por meio de recursos.

— Hoje, há decisões muito distintas pelo país, o Judiciário e a população precisam de um norte. O estado de Minas Gerais entende que há um grave risco para a saúde da pessoa o uso de um medicamento que não teve sua eficácia, segurança e qualidade comprovadas pela agência reguladora — afirma o procurador do estado de Minas Gerais Rafael Augusto Baptista Juliano.

Os estados são grandes interessados na questão da judicialização da saúde. Um levantamento da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) analisou 9,6 mil ações judiciais impetradas para a obtenção de medicamentos em 2015 em quatro estados brasileiros e revelou que 33% foram contra os estados e outras 33% contra municípios. Já o Ministério da Saúde desembolsou, em 2015, R$ 1,2 bilhão por força de decisões judiciais.

Durante sua sustentação oral na sessão de quinta-feira passada no STF, a advogada-geral da União, Grace Maria Mendonça, disse que “a União defende que o planejamento e a organização do sistema sejam preservados, para que seja possível atender a coletividade” e que “não se está aqui, de forma alguma, desconsiderando as situações graves que atingem o cidadão brasileiro, mas o fato é que os recursos do Estado são limitados. É preciso ter uma forma sistematizada para atender a coletividade”.


REFÉNS DA INDÚSTRIA


Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Bioética da UnB, Volnei Garrafa defende que o Estado Brasileiro atue pela maioria:

— Se o sistema público não aprovou o medicamento, não tem que ser liberado. O FDA é americano, nós estamos na República Federativa do Brasil. Nem tudo que o FDA faz é bom para o Brasil — afirma Garrafa, também membro do Comitê Internacional de Bioética da Unesco

A biomédica Miriam Figueira, de 28 anos, descobriu a fibrose cística tardiamente, aos 13 anos e, desde então, faz uso contínuo de um antibiótico inalatório para evitar infecções crônicas, uma das consequências da doença, que é genética e não tem cura. Segundo Miriam, a Anvisa liberou duas versões desse medicamento, porém depois de 10 anos de uso contínuo, as opções pararam de fazer o efeito desejado. Ela descobriu uma opção mais potente, já aprovada na Europa e nos Estados Unidos, e está há sete anos na luta pelo tratamento.

— Fiquei dois anos na Justiça brigando para ter acesso, consegui e agora de seis em seis meses tenho que recorrer de novo para continuar tendo acesso. Eu não quero ficar exigindo um remédio não aprovado, só que a empresa não tem interesse em aprovar no Brasil. Minha vida não pode esperar até a empresa ter interesse. A gente fica refém das indústrias e do governo — desabafa.

Rafael Torres Carneiro, de 27 anos, é formado em Direito e está estudando para concurso público. Por causa da fibrose cística, ele perde, em média, cerca de três horas de estudo por dia fazendo o tratamento necessário para conviver com a doença. Segundo ele, existe um remédio já disponível em diversos países, como os Estados Unidos, que resolveria esse problema, mas a droga ainda não passou pelo processo de habilitação da Anvisa, que dura cerca de três anos.

—O Orkambi diminuiria meu tempo de nebulização e a progressão da doença, que diminui minha capacidade pulmonar com o tempo. Eu ganharia uma sobrevida. O que o STF tem que entender é que esses remédios não são terapias alternativas nem pílulas milagrosas. São remédios testados por agências americanas, europeias com alta capacidade de estudo e de pesquisa.




Anvisa proíbe 14 medicamentos e 2 cosméticos

19/09/2016 - Portal Exame


Em uma proibição em série, a Anvisa determinou nesta segunda-feira (19) a suspensão de 14 medicamentos e dois cosméticos do mercado.

Segundo a agência, a medida foi tomada por conta de irregularidades que vão de "material estranho na solução" a "fragmentos de vidro dentro da ampola".

Na tabela abaixo, retirada do site da própria agência, você pode conferir os nomes, os lotes, as empresas e as razões que levaram ao veto de tais produtos.

As resoluções foram publicadas no Diário Oficial da União.

Hyplex B (Polivitmínico solução injetável, ampola 2mL) 1414227 (Val. 31/12/2016) Equiplex Indústria Farmacêutica Limitada Resultado insatisfatório no ensaio de aspecto, devido a presença de material estranho na solução Suspensão da distribuição, comercialização e uso do lote em questão; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque

Ringer com Lactato, solução endovenosa de 500mL 16040287 (Val. 04/2018) Hypofarma - nstituto de Hypodermia e Farmácia Limitada Relato da COVISA de "fragmento de vidro dentro de ampola" Interdição cautelar do lote do produto em questão

Água para Injeção, 10mL 1630477 (Val 18/03/2018) Equiplex Indústria Farmacêutica S.A Comunicado de falha no fechamento das ampolas, gerando como consequência vazamento das mesmas Suspensão da distribuição, comercialização e uso do lote em questão; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque

SOLUÇÃO DE CLORETO DE SÓDIO 0,9% (Soro Fisiológico); SOLUÇÃO DE IODO 2% (Tintura de Iodo); SOLUÇÃO DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 3% (Água Oxigenada Líquida); SOLUÇÃO DE ÁCIDO BÓRICO 3% (Água Boricada); ÁGUA PURIFICADA - LBS Laborasa Indústria Farmacêutica Limitada Cancelamento do Certificado de Boas Prá- ticas de Fabricação da empresa LBS Laborasa Indústria Farmacêutica Ltda, publicado em 18/05/2015 Proibição da fabricação, distribuição, comercialização, divulgação e uso de todas as apresentações dos produtos listados; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque

AZITROPHAR (Azitromicina 500 mg, comprimidos revestidos); CIPROFINAX (Cloridrato de Ciprofloxacino, 500 mg, comprimidos revestidos); DOXICLIN (Cloridrato de Doxiciclina 100 mg, comprimidos revestidos) - Pharlab Indústria Farmacêutica S.A Comprimidos revestidos com Insumos Ativos não autorizados pela Anvisa Proibição da distribuição, comercialização e uso de todos os lotes dos medicamentos; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque

AZITROPHAR 600mg, pó para suspensão oral 158371 - Val. 10/2017; 158365 - Val. 09/2017; 158369 - Val. 09/2017 Pharlab Indústria Farmacêutica S.A Resultado insatisfatório no ensaio de Aspecto Suspensão da distribuição, comercialização e uso dos lotes em questão; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque.

Xaropinho Vovó Isabel - 100% natural e Xaropinho 7 ervas (todos os produtos e demais medicamentos) F. dos Santos Comércio de Mel - ME Empresa sem Autorização de Funcionamento nesta Agência Proibição da fabricação, bem como da distribuição, comercialização, divulgação e uso de todas as apresentações dos produtos; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque.


COSMÉTICOS


Gel Cola Up Extreme Mirra?s 250/F07 B&M Indústria, Comércio e Distribuição de Cosméticos Limitada-ME. Notificação de evento adverso grave supostamente associado ao uso do lote em questão Interdição cautelar do lote em questão

X Tenso Moisturist Creme de Relaxamento de Cabelos Naturais 60LN0021 (Val 11/17) Procosa Produtos de Beleza Limitada Resultado insatisfatório nos ensaios de rotulagem e determinação de pH, especificação fora do limite Proibição da distribuição, comercialização e uso do lote; Determinar que empresa promova o recolhimento do estoque.




Pacientes e famílias criam clubes de doação de remédios nas redes sociais

18/09/2016 - O Estado de S.Paulo


De um lado, pacientes à beira do desespero, vítimas de doenças graves lutando contra o tempo. De outro, remédios controlados e caríssimos, geralmente obtidos na rede pública. Dezenas de grupos de Facebook têm funcionado como um balcão de trocas e doações de medicamentos.

Em geral, são unidades remanescentes de algum parente que morreu ou de um paciente que finalizou o tratamento.

E a família usa a rede social para passar adiante, na intenção de fazer o bem.

A prática, no entanto, é proibida pelo Ministério da Saúde nos casos de remédios de alto custo distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e daqueles conseguidos via ação judicial. Segundo a pasta, quem estiver de posse do medicamento “deve comunicar ao ministério, para que seja providenciado o recolhimento e a posterior distribuição para pessoas que estejam precisando”. Embora proibida, a prática não é considerada crime nem tem punições previstas.

Alguns especialistas alertam para os riscos do uso de um medicamento doado, mas para quem tem um parente com um quadro grave e não consegue o remédio na rede pública, o Facebook acabou se tornando o único recurso.

É assim que a desempregada Luanna Batista, de 23 anos, tem buscado o Tarceva – cuja caixa com 30 comprimidos custa em torno de R$ 7 mil – para sua avó, Maria, de 63 anos, que sofre de câncer de pulmão. “No centro médico (de Santa Bárbara d’Oeste, onde a família mora) conseguimos cinco caixas, que eram de um paciente que tinha morrido”, conta a neta. “Ela teve uma boa melhora, mas aí o remédio acabou e não conseguimos mais.” Luanna passou a postar pedidos em várias comunidades do Facebook. “Agora estou para receber 17 comprimidos de uma pessoa de Campinas.

Mas sei que vai acabar e preciso continuar tentando para conseguir mais”, diz. A família já acionou o Estado judicialmente para obter o medicamento e espera a decisão.

Desde que a filha Roberta, de 5 anos, foi diagnosticada com uma síndrome renal, a dona de casa Andreia Silva, de 31 anos, também tem recorrido à internet em busca de doações. “A primeira caixa eu consegui. Agora estou postando nos grupos”, conta ela, que mora na Bahia e precisa de Tacrolimo (cuja caixa custa cerca de R$ 90). “E sei que ela vai precisar de outros remédios, alguns que custam R$ 3 mil, R$ 5 mil”, afirma.


CRÍTICAS


Coordenador do curso de especialização em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Walter Cintra Ferreira Junior afirma que a prática, embora seja reflexo de uma demanda não solucionada ante as dificuldades de financiamento dos sistemas público e privado, não pode ser vista como solução. “Com essas trocas, você perde o controle da manutenção, da validade, da estocagem, da posologia que o paciente vai tomar. Isso sem falar sobre o controle de receitas e a possibilidade gravíssima de uma pessoa confundir o medicamento”, diz.

Para Lúcio Flávio Gonzaga Silva, do Conselho Federal de Medicina (CFM), outro problema é o eventual uso dos itens sem a devida prescrição médica.

“Os fármacos têm efeitos colaterais, interações com outros remédios. E isso tudo deve ser avaliado por um profissional.

Há riscos na automedicação”, afirma o conselheiro.

Nos maiores grupos acompanhados pelo Estado, a regra é que o doador sempre exija do beneficiário a apresentação da receita. Os administradores da página, no entanto, não têm condições de controlar todas as transações (mais informações abaixo).

“O que nos preocupa nessa situação, independentemente da questão legal, é a questão técnica, a cadeia de segurança de um medicamento. Só de se expor à luz ou à umidade, os medicamentos já se alteram e podem perder o efeito”, afirma Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP).




‘Quando peguei os medicamentos na mão, eles pareciam um troféu’

18/09/2016 - O Estado de S.Paulo


Não foram poucos os momentos difíceis que a empresária Tereza Satiko Watanabe, de 74 anos, enfrentou nos últimos 15 anos, após receber o diagnóstico de um câncer de mama. Nesse período, cirurgias, quimioterapias e medicamentos conseguiram controlar o tumor temporariamente, mas, com o passar dos anos, a doença foi avançando e chegou ao fígado, ao pulmão e aos ossos.

Em abril deste ano, a família da idosa, moradora da zona leste de São Paulo, se deparou com o maior desafio dessa luta: a doença havia progredido ainda mais e os dois únicos medicamentos capazes de controlar o câncer desta vez custavam, juntos, R$ 19 mil por mês e não eram oferecidos pelo SUS. O plano de saúde da idosa foi acionado, mas se negava a liberar as drogas.

“A gente entrou em desespero, começou a querer vender tudo que a gente tinha para comprar esses remédios”, conta a administradora Miriam Watanabe Tamada, de 46 anos, filha de Tereza.

Foi quando a família conheceu a ONG Amor Rosa, que dá apoio a pacientes com câncer.

Entre as atividades da fundadora da entidade, Ana Maria Obranovich, de 67 anos, está a busca de remédios oncológicos nos grupos de doação do Facebook para redistribuí-los aos beneficiários da ONG.

“Entrei em contato com a Ana Maria, falei sobre o remédio e ela disse que talvez conseguiria.

Mas antes me fez muitas perguntas, quis saber onde minha mãe se tratava, exigiu todas as garantias. Percebi que era um trabalho muito responsável”, diz Miriam.

No dia 4 de junho, a família recebeu as duas caixas dos medicamentos e Tereza pôde iniciar o tratamento. “Quando peguei aqueles remédios na mão, pareciam um troféu, era a vida da minha mãe em jogo”, afirma Miriam.

Ana Maria conta que conseguiu as duas drogas por meio do grupo Doação de Remédios (São Paulo-SP). “A ONG vai fazendo essa ponte entre famílias de pacientes que morreram e aqueles que precisam. Mas, para evitar ações de pessoas malintencionadas, faço um controle grande. Exijo o comprovante de que a pessoa está se tratando, a receita e ela tem de assinar um recibo quando retira”, diz a fundadora da ONG.




Farmácia Popular tem continuidade garantida e perspectiva de expansão

19/09/2016 - DCI


São Paulo - Após uma série de incertezas a respeito da continuidade do programa Farmácia Popular, o Ministério da Saúde garante que ele deve seguir e ser ampliado nos próximos anos. A perspectiva para o futuro é aumentar o elenco de medicamentos oferecidos e o número de lojas credenciadas.

"Hoje está muito claro para o governo, que além de continuar, ele quer melhorar a iniciativa", disse em entrevista ao DCI a gerente do programa, Melissa Borges de Farias. De acordo com ela, do orçamento de R$ 3,2 bilhões previsto para este ano, apenas R$ 2 bilhões foram gastos. "Estamos até com uma sobra de dinheiro, que repassamos para outra área. Como tivemos a redução do valor de referência, conseguimos otimizar os nossos recursos", diz.

Apesar da perspectiva de expansão do número de medicamentos, Melissa aponta que não tem garantia de que ela ocorrerá já no próximo ano. "A certeza que temos é que vamos retomar os credenciamentos e ampliar o número de farmácias integrantes", diz. Desde janeiro deste ano a adesão para novas drogarias está fechada.

Em relação ao orçamento previsto para 2017, a representante do Ministério da Saúde diz que o valor enviado ao Congresso foi 2% superior ao deste ano, de R$ 3,2 bilhões. "Ele ainda não está garantido, precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional. Mas a possibilidade de aprovação é muito grande", afirma Melissa.

A iniciativa, que surgiu em 2004 com o intuito de ampliar o acesso a medicamentos considerados essenciais, funciona hoje em duas frentes: pelas redes próprias do programa, e por meio de parcerias com farmácias da iniciativa privada (o chamado 'Aqui Tem Farmácia Popular'). Na primeira vertente são oferecidos 113 itens, alguns com desconto de 90% e outros gratuitos, enquanto nas redes privadas apenas 25 produtos são englobados.

Em relação ao número de lojas, fazem parte hoje 540 redes próprias, e 34.681 drogarias credenciadas. De acordo com o presidente-executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sergio Mena Barreto, todas as 27 empresas associadas à entidade são credenciadas ao programa. Já em número de unidades, das 6.180 operações, cerca de 4.800 integram o Farmácia Popular.

Isso se deve, segundo ele, por uma demora no processo de credenciamento de novas lojas, que, em geral, só ocorre uma vez ao ano. "Esse processo deveria ser mais rápido, principalmente se sua empresa já integra o programa. Para essas redes, a inclusão de novas filiais deveria até ser feita de forma automática", diz Barreto.

Outro pleito do executivo é em relação a uma fiscalização mais efetiva, com o intuito de prevenir fraudes. Para ele, a instauração da gratuidade para medicamentos de hipertensão, diabetes e asma, abriu uma possibilidade maior para esse tipo de ação. "Quando o cliente tem que pagar os 10%, isso inibe a fraude. Quando você não tem que dar contrapartida o estímulo é muito maior."

A gerente do programa, Melissa, afirma que de fato há casos de fraude, tanto por parte do cliente quanto das próprias farmácias, mas que o governo faz um trabalho constante no sentido de mitigar ao máximo esse tipo de conduta.

Barreto aponta ainda que a universalidade do programa é outro ponto que merece questionamentos. "Teria que rever o princípio dele. Ou focar só nos pacientes do SUS, ou cobrar uma porcentagem maior para quem é da rede privada", diz, acrescentando que dessa forma seria possível expandir as categorias e ampliar o acesso para quem realmente necessita do programa.


PARTICIPAÇÃO NO SETOR


De acordo com Barreto, a participação das vendas do Farmácia Popular no faturamento total das redes da Abrafarma ainda é muito baixa, e representa apenas 1,72% do todo.

Desde a criação da iniciativa, aponta, essa porcentagem sempre ficou abaixo de 2%. "É um valor muito baixo se compararmos com países da Europa, por exemplo, onde cerca de 80% de todos os medicamentos vendidos nas farmácias são pagos pelo governo", afirma.

Quando se trata das redes independentes e associativistas, no entanto, esse valor é relativamente maior. De acordo com o presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, a fatia que as vendas do Farmácia Popular tem hoje no faturamento total das lojas da entidade gira em torno de 5%. "É um valor relevante", diz. "Além disso, o programa traz para dentro das nossas lojas um novo consumidor, que pode não gastar muito, mas que está apto para comprar outros produtos", aponta.

De acordo com o executivo, das 9.334 drogarias associadas à entidade, cerca de 4 mil são credenciadas. Sobre a possibilidade expansão no número de medicamentos, ele diz que seria ótimo para o setor.




Lojas Raia Drogasil vão trocar itens comprados pela internet

19/09/2016 - DCI


São Paulo - A varejista farmacêutica Raia Drogasil, através das bandeiras Droga Raia e Drogasil, aceitará a troca de medicamentos comprados pela internet em suas unidades físicas.

De acordo com o comunicado da empresa, o produto a ser trocado deverá estar na embalagem original, inviolada e com a nota fiscal.

Ao todo, a rede possui mais de 1300 lojas espalhadas pelo País. A troca deverá ser efetuada nas unidades que levam a mesma bandeira do site onde o cliente adquiriu o produto. Se o preço da mercadoria trocada for menor, o cliente pode usar a diferença para comprar outro item ou solicitar o reembolso. "A missão da Raia Drogasil é oferecer mais conveniência e comodidade aos clientes. O lançamento desse serviço é mais um passo da companhia para apresentar uma experiência única de compra em todos os seus canais de vendas", comenta o gerente de Vendas Multicanal da Raia Drogasil, Diego Killian.

O prazo de troca após a compra no site ou televendas da Droga Raia e da Drogasil é de até 30 dias. Se a loja física escolhida pelo cliente não tiver o produto que ele procura para efetuar a troca, os funcionários farão a busca no sistema da rede para localizar o item na unidade mais próxima. Existe inclusive, a possibilidade de avaliar a entrega do produto em endereço indicado pelo cliente sem frete adicional, se ele estiver na capital de São Paulo ou áreas sob consulta.

Raia Drogasil inaugura loja focada em experimentação em SP

19/09/2016 - Portal Exame


A rede de varejo farmacêutico Raia Drogasil inaugurou nesta segunda-feira na cidade de São Paulo um novo formato de loja, que destaca como diferenciais a experimentação e ações voltadas ao público feminino e relacionadas aos produtos de beleza e higiene.

Além de monitores de vídeo e painéis digitais, onde serão exibidos conteúdos informativos sobre diversos produtos, serviços e benefícios, há previsão de que diversas marcas façam com frequência no local experimentações e demonstração de produtos e maquiagens.

As ações da companhia subiam 1 por cento às 12h40, enquanto o Ibovespa tinha ganho de 1,2 por cento. No ano, o papel acumula ganho de cerca de 87 por cento, entre as 10 maiores valorizações do índice.

A loja, sob a bandeira Droga Raia, está localiza no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, e funcionará 24 horas.

"Essa nova loja foi pensada para atender o estilo de vida dos consumidores que vivem em grandes centros, estão sempre em busca de produtos de qualidade, de novidades e têm menos tempo para fazer compras", disse o presidente da Raia Drogasil, Marcílio Pousada, em nota à imprensa.

A loja está dentro da estratégia da empresa anunciada no final de julho, de abertura bruta de 200 pontos de venda neste ano.




What's News: A Sanofi

20/09/2016 - Valor Econômico


A Sanofi, farmacêutica francesa, processou a Merck Sharp Dohme por violação de patente para impedir que a rival americana lance um concorrente para o Lantus, seu remédio campeão de vendas contra a diabetes. Na ação, a Sanofi alega que a MSD violou até dez patentes, inclusive uma da insulina Lantus e da caneta aplicadora da insulina, a SoloSTAR. Uma porta-voz da MSD negou as acusações.




Mercado Aberto: Plano de saúde popular

20/09/2016 - Folha de S.Paulo


O governo vai discutir com as operadoras de saúde a possibilidade de os planos populares terem regras regionais e uma maior coparticipação dos clientes nos custos, diz Solange Mendes, presidente da FenaSaúde, entidade do setor.

O grupo de trabalho criado pelo Ministério da Saúde para debater o tema também vai avaliar a flexibilização de regras regionais. A ideia é que a operadora não precise garantir serviços caso uma cidade não tenha prestadores.

"Há consenso de que esses pontos podem reduzir preços, mas ainda serão avaliados."

A federação propõe ampliar de 30% para até 50% o teto de coparticipação —em que o beneficiário partilha parte dos gastos utilizados.

Outro ponto que deve entrar na pauta é o da hierarquização do acesso. As empresas defendem que a atenção básica seja priorizada.

A proposta para criar os novos planos é debatida entre entidades do setor de saúde, de defesa do consumidor e a ANS (agência reguladora).




Riscos desconhecidos

18/09/2016 - O Estado de S.Paulo


Estudo divulgado na última semana revelou que novas substâncias químicas que trazem risco de vida estão sendo colocadas em comprimidos vendidos como se fossem LSD (ácido lisérgico) ou ecstasy, duas das drogas sintéticas mais populares entre os jovens.

O trabalho do Centro de Controle de Intoxicações (CCI), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identificou as drogas fentanil e butilona. Só em agosto, seis jovens entre 18 e 30 anos foram intoxicados por essas substâncias e um deles morreu por parada cardíaca.

O fentanil é derivado opioide, usado como anestésico e analgésico, cerca de 50 vezes mais potente que a morfina. Foi o uso dessa substância que matou o cantor Prince, em junho.

Já a butilona tem uma estrutura química semelhante à das anfetaminas, é empregada em alguns países como agrotóxico e repelente, mas também tem efeitos euforizantes e alucinógenos.

Ela pode levar a intoxicações tão graves como as provocadas por cocaína ou metanfetamina. As informações foram divulgadas pelo Estado.

De acordo com o CCI, em um único exame foram encontradas quatro drogas distintas. A interação entre as diferentes substâncias pode potencializar seus efeitos, alguns deles com riscos para a vida, como taquicardia, arritmia, depressão respiratória, convulsões, hipertermia, hipertensão arterial e enfarte, entre outros.

O grande problema é que a origem dessas drogas é impossível de ser controlada, já que são ilícitas, produzidas clandestinamente no País ou importadas por traficantes. São comuns variações nas doses, contaminação por substâncias desconhecidas ou mesmo a troca ou a combinação entre diferentes componentes por questões econômicas ou de mercado. Assim, quem consome nunca sabe exatamente o que está tomando.

Muitos dos jovens, no calor do momento, misturam esses comprimidos com álcool, o que aumenta a chance de problemas. Como as sintéticas são, em geral, associadas às festas e às baladas, elas têm certo status de “drogas da moda” entre os mais novos. Muitos não enxergam perigos que elas podem trazer.

Um relatório de 2013 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime já apontava um aumento de 50% do número de novas substâncias psicoativas.

De lá para cá, essa tendência continuou.

O que surge como novidade na Europa e nos EUA chega alguns anos depois nos países em desenvolvimento.

A internet facilita a aquisição de novas drogas, com uma velocidade que pega de surpresa as autoridades, os médicos e os próprios consumidores.


REDUÇÃO DE DANOS


Do ponto de vista da saúde, algumas estratégias podem ser empregadas na tentativa de reduzir danos. A primeira delas seria fornecer mais informação para os jovens sobre os riscos dessas substâncias. É importante que eles entendam a dificuldade de atestar a “origem” desses produtos, os efeitos colaterais e o problema das interações entre eles e com a bebida.

Além disso, é fundamental que as equipes de saúde dos hospitais sejam informadas sobre quais as novas drogas que circulam, seus efeitos e possíveis medidas de suporte clínico e tratamento.

Em alguns países, como na Holanda, há centros financiados por agências governamentais em que os consumidores podem levar seus comprimidos para testar sua composição e dose. Embora esse tipo de serviço seja pouco viável em países que não têm legislações específicas para o consumo dessas substâncias, ele poderia ajudar a evitar mortes.

Há também sites, alguns deles feitos por usuários, que ajudam a checar informações e deixar alertas para eventuais riscos do uso dessas novas substâncias. Um exemplo é o australiano pillreports.com. O neurosoup.com também vai nessa mesma linha. Vale dar uma olhada.




Raia Drogasil: a nova estrela da Bolsa

17/09/2016 - IstoÉ Dinheiro


O americano Warren Buffett comprou 1,3% de Petro China, entre 2002 e 2003, por US$ 488 milhões. Muitos analistas achavam, na época, que ele estava fazendo um mau negócio, ao investir numa empresa que valia US$ 37 bilhões e que passava por dificuldades. No momento em que resolveu se desfazer das ações, em 2007, a companhia petrolífera era avaliada em US$ 275 bilhões, e as ações garantiram aos seus bolsos US$ 3,6 bilhões. Em cinco anos, o retorno foi de 720%. É por essas e outras que Buffett ganhou o apelido de Oráculo de Omaha.

Guardadas as devidas proporções, muitos investidores deram uma tacada tão certeira ao comprar ações da Raia Drogasil, empresa surgida em 2011 com a fusão entre a Drogasil, que era a segunda maior rede de farmácias do Brasil, controlada pelas famílias Pires Oliveira Dias e Galvão, e a Droga Raia, a terceira do mercado, comandada pela família Pipponzi. A empresa é atualmente a estrela mais brilhante dentre as companhias de capital aberto brasileiras. E não foi só pelos resultados aferidos enquanto o varejo fazia salivar a boca dos investidores do mundo inteiro.

Nos últimos dois anos, em meio à grave crise econômica pela qual o País atravessa, nenhuma ação de grande empresa se valorizou mais do que a da Raia Drogasil. No período, ela subiu 221,9% na Bovespa, até a quinta-feira 15, enquanto o índice Ibo-vespa cresceu 1,3%. Com isso, tornou-se a 23ª em-presa mais valiosa da Bolsa. O seu valor de mercado atingiu R$ 21,2 bilhões, bastante acima de Lojas Renner (R$ 15,9 bilhões), GPA (R$ 13,4 bilhões) e Natura (R$ 13,4 bilhões).

Mais do que o fato de virar a queridinha dos investidores, o caso da Raia Drogasil, a líder do setor, com mais de 1,2 mil lojas, deve se tornar motivo de estudo nas escolas de negócio. Mesmo os investidores mais críticos das estratégias de consolidação de mercado reconhecem que a Raia Drogasil é um exemplo bem-sucedido. “Sou uma pessoa bastante cética, e, como há um número avassalador de processos de fusões que não dão certo, não defendo essa estratégia para gerar valor”, diz Fabio Alperowitch, gestor do fundo Fama Investimentos e investidor da Raia Drogasil.

“Mas a rede fez uma integração tão boa que criou uma barreira de entrada grande para outros competidores e agora é um modelo a ser perseguido.” Junto com o mau momento da economia, essa barreira de entrada, baseada na escala e na gestão bem azeitada que permite boas margens de rentabilidade, tem feito com que gigantes internacionais não avancem no País. Em 2013, quando a americana CVS comprou o controle da Onofre por R$ 600 milhões, esperava-se que faria investimentos vultosos para tomar a liderança no País. Isso não aconteceu e agora ela está avaliando fechar 12 das 47 lojas em operação.

Já a segunda maior rede dos EUA, a Walgreens, que supostamente estaria próxima de desembarcar no País, também continua apenas na ameaça. O sucesso da Raia Drogasil pode ser resumido em algumas cifras notáveis. Desde o anúncio da fusão, em 2011, o número de lojas aumentou 58,7%, a receita bruta subiu 97,4%, o Ebitda (medida de geração de caixa), 153,1% e o lucro líquido ajustado, 157,2%. O ano passado foi especial. A receita atingiu R$ 9,4 bilhões, com uma expansão de 21,1%, e o lucro chegou a R$ 391,1 milhões, o que representou um incremento de 43,6%.

“Conseguimos criar uma cultura própria baseada na eficiência e na visão de longo prazo, combinando o melhor da expertise da Raia e da Drogasil”, afirma o CEO Marcílio Pousada, que assumiu em julho de 2013, depois de comandar a Livraria Saraiva, para dar continuidade à fusão iniciada por Cláudio Roberto Ely, que vinha da Drogasil. “As integrações entre empresas dão errado porque não costumam ser uma fusão entre iguais, e uma marca se sobrepõe à outra.” Durante dois anos, os executivos mapearam toda a malha de distribuição, a localização de cada loja e identificaram qual empresa negociava melhor cada produto, para escolher com o que ficar de cada rede.

Descobriram que o sistema comercial e o software financeiro e contábil da Raia eram melhores, enquanto a Drogasil se destacava por conseguir fazer fortes promoções de produtos e ter bons centros de distribuição. Além disso, a Drogasil estava posicionada no Sudeste e Centro-Oeste, e a Raia, no Sul e Sudeste. Agora, a companhia promete dar um passo ousado. Os varejistas que sofrem com um fluxo de caixa apertado buscaram crescer rápido demais e foram afetados com a baixa demanda durante a crise. Mas a Raia Drogasil, na contramão das revisões pessimistas de estratégia de suas parceiras de setor, considera que tem capacidade de crescer até mais rapidamente do que vinha projetando.

Avançou sobre o Nordeste e hoje conta com 79 lojas na região. Em 2015, inaugurou 156 unidades no País , ante uma média de 130 nos dois anos anteriores. Em 2016 e 2017, o ritmo vai aumentar para 200 lojas por ano. A previsão, até o primeiro trimestre, era de abrir apenas 165 unidades neste ano. “Percebemos que podemos crescer sem perder a qualidade de atendimento, dos farmacêuticos, dos gerentes e da distribuição, e sempre nos colocando nas melhores esquinas”, diz Pousada. A estratégia para garantir que os pontos sejam os melhores possíveis e não haja perda de rentabilidade da operação é manter a expansão de forma orgânica.

O plano poderia ser visto com ceticismo se estivesse sendo anunciando por outra companhia. “É um desafio enorme”, diz Paola Mello, analista do Citibank. “Mas o mercado dá o benefício da dúvida a eles, porque a empresa sempre entrega o prometido. Tanto que os analistas consolidam em suas análises exatamente o plano anunciado, o que não acontece em relação a muitas empresas.” A escolha dos pontos da Raia Drogasil obedece a toda uma disciplina. As lojas de rua precisam estar em esquinas, e elas precisam ter um posicionamento estratégico.

É necessário haver um bom fluxo de veículos, de modo que os motoristas tenham uma boa visão da loja, quando passam em sua frente. Até mesmo a incidência do sol é considerada. A gestão do grupo ainda tem uma agilidade incomum no setor para fechar pontos. Se, poucos meses depois de inaugurada, uma unidade não trouxer o resultado projetado, ela é prontamente fechada. No segundo trimestre deste ano, duas lojas foram fechadas. Outro ponto central da estratégia está na gestão de estoques completamente automatizada, para que o abastecimento das farmácias fique sempre próximo do ideal.

Por exemplo, um inalador que custa R$ 200 vai estar disponível em regiões de renda mais alta, e vai haver mais de uma unidade por loja apenas em épocas do ano de maior ocorrência de problemas respiratórios. “O modelo de negócios está tão redondo que a rede nada de braçadas no setor”, afirma Mello. “Uma rede pequena não tem a menor condição de competir nesse nível.” A aposta no crescimento orgânico não significa que aquisições estejam fora do mapa. Em julho de 2015, a rede comprou o controle da 4-Bio, em-presa especializada em medicamentos especiais, como os para tratamentos oncológicos e doenças crônicas, que faturou R$ 185,6 milhões no ano passado. O investimento para adquirir 55% do capital da 4-Bio foi de R$ 24 milhões.

“As maiores redes americanas, a CVS e a Walgreens, também possuem operações com medicamentos especiais”, diz Pousada. “É uma tendência.” Outro plano da Raia Drogasil que será anunciado ao mercado envolve testar modelos de lojas maiores. Na segunda-feira 19, ela inaugura uma unidade no Conjunto Nacional, prédio tradicional que ocupa toda a quadra que conecta a Avenida Paulista, a Rua Augusta e a Alameda Santos, em São Paulo. Uma antiga loja Droga Raia, no icônico ponto, recebeu monitores de vídeo e painéis digitais para exibir informações sobre diversos produtos e vai dobrar de tamanho. Serão mais de 13 mil itens divididos em três espaços: beleza, infantil e saúde.

O objetivo é promover a experimentação e fazer ações de marketing voltadas ao público feminino e relacionadas aos produtos de beleza e higiene. Isso beneficia os fabricantes parceiros. Segundo analistas do setor, a indústria de bens de consumo está disposta a pagar mais pela exposição privilegiada de seus produtos nas gôndolas da Raia Drogasil do que nas das redes concorrentes, diz a analista de um banco de investimentos. Não é por acaso, então, a proximidade da empresa com a Natura, a maior empresa brasileira de cosméticos, que começou a testar a venda dos seus produtos no varejo por meio da Raia Drogasil.

O outro motivo dessa parceria é o fato de os controladores da companhia de beleza, Luiz Antonio Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos, que eram acionistas da Raia, ainda estarem entre os principais acionistas da rede formada a partir da fusão em 2011. Além da estratégia bem executada, a Raia Drogasil também se beneficia de um bom momento do setor, que ocorre por dois motivos. O primeiro é que vender remédio no Brasil é um negócio lucrativo. Em alguns medicamentos, as margens chegam a 200%. “A margem do Viagra genérico, que é um dos mais pedidos, pode chegar a 180%”, diz o proprietário de uma farmácia localizada em um bairro popular em São Paulo.

As margens em cosméticos e itens de higiene pessoal são igualmente polpudas. Até por isso, o sonho de consumo do setor é um marco legal parecido com o dos EUA, em que as unidades das grandes redes, como CVS e a Walgreens, parecem verdadeiros supermercados. O segundo motivo é que, por características próprias, o varejo de medicamentos brasileiro é resiliente à crise. Apesar de todas as campanhas do governo e do próprio setor, as deficiências da saúde pública e os altos preços da saúde privada – sem falar na cultura popular – estimulam o brasileiro a recorrer à automedicação. E a venda de remédios não arrefece, faça chuva ou faça sol.

Até mesmo em meio à crise geral do comércio varejista, que registrou retração, após 11 anos de altas, de 4,3%, no ano passado, segundo dados do IBGE. No mesmo período, houve crescimento de 3% nas vendas dos artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos. Segundo a consultoria IMS Health, a indústria de medicamentos vendeu R$ 45 bilhões no ano passado, 7,4% acima do que em 2014. Esse desempenho é puxado pelo envelhecimento da população. A Agência Nacional de Saúde estima que um milhão de pessoas ultrapassam os 65 anos de idade no Brasil, todos os anos. Entre 2011 e 2032, a porcentagem da faixa da população acima desta idade vai subir de 7% para 14%.

“Além disso, muitos dos insumos dos medicamentos são importados, o que tem feito os preços caírem com a desvalorização recente do dólar”, diz Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Mesmo assim, o setor não é fácil de operar. O BTG Pactual investiu em oito aquisições para montar a rede BR Pharma, mas não tem encontrado sucesso na área e tenta se desfazer do negócio. O que complicou os pupilos de André Esteves, além das dificuldades de integração entre as redes, é a complexidade em operar um negócio onde há milhares de fornecedores e os mais importantes operam em regime de oligopólio. Pior: o setor é intensivo em mão de obra e exige o gerenciamento de estoques com milhares de itens, com inúmeras transações de pequeno valor. Mas pode ficar cada vez ainda mais difícil fazer negócios no segmento farmacêutico.

Segundo relatório de Guilherme Assis, analista do Banco Brasil Plural, a possível recuperação da economia nos próximos meses pode fazer o crescimento do setor de drogarias ficar mais próximo do resultado geral do mercado. Nos últimos dois anos, o setor se descolou do restante da economia e virou a menina dos olhos dos investidores, mas, historicamente, em períodos de crescimento, as farmácias se expandem menos que outras categorias de consumo, como móveis, eletrodomésticos e roupas. Há quem diga que os investidores mais certeiros já teriam ganhado bastante, e quem não aproveitou essa oportunidade deveria procurar a próxima estrela da Bolsa. Mas essa visão não é unânime.

Diversos analistas ainda receitam a compra de ações da empresa, mesmo após ela triplicar de valor em dois anos. O fato é que as ações da Raia Drogasil continuam disputadas. A ponto de, em agosto, alguns acionistas indicarem estar de olho na liberação, em novembro, de 4% da empresa que estão em posse dos principais acionistas, no momento em que a fusão completa cinco anos. O “lockup” de 40% do capital até 2021 previsto em contrato na época da fusão abria espaço para a liberação de 10% até o quinto aniversário do negócio. Faltam 4%. Mas ninguém garante que os investidores principais já querem se desfazer desses papéis.


ENTREVISTA


Marcílio Pousada, CEO da Raia Drogasil


Qual é o segredo dos bons resultados da empresa?

A Raia Drogasil nasceu em novembro de 2011 das duas melhores companhias do setor. Ficamos de 2013 até fevereiro de 2014 integrando toda estrutura de back office. Buscamos trazer o expertise das duas companhias e pegar o melhor de cada uma delas. Conseguimos criar uma cultura própria a partir disso, baseada na eficiência e na visão de longo prazo. As integrações entre empresas dão errado porque não costumam ser uma fusão entre iguais.

O ritmo de expansão está aumentando?

Em 2013, foram 130 lojas abertas e mais 131 no ano seguinte, numa expansão focada no Nordeste. No ano passado, aumentamos para 156 unidades e agora revimos a nossa previsão para chegar a um ritmo de 200 unidades por ano, em 2016 e 2017, em todo o Brasil.

Não é um ritmo muito forte, que pode dificultar manter a rentabilidade?

O desafio é manter a qualidade da loja. Mas escolhemos as 200 melhores esquinas do País e investimos em crescer bem, com bom atendimento, contratar e treinar farmacêuticos e gerentes, e ter os produtos certos e preparar os centros de distribuição.

O sucesso da Raia Drogasil criou uma barreira de entrada para competidores, inclusive para os internacionais?

Temos muitos competidores, e que são bons. O mercado é competitivo e bastante pulverizado, com 30 mil farmácias pelo Brasil. Mas temos escala e as melhores esquinas.

Se a empresa está privilegiando o crescimento orgânico, por que comprou 4-Bio, no ano passado?

Essa é uma estratégia de crescimento horizontal. A 4-Bio vende medicamentos especiais, para tratamentos oncológicos e de doenças crônicas. A marca tem um atendimento diferente, com entrega de remédios em casa.




What's News: A Johnson & Johnson

19/09/2016 - Valor Econômico


A Johnson & Johnson fechou acordo para comprar a divisão de equipamentos para cirurgia ocular da Abbott por US$ 4,33 bilhões, informaram as duas empresas americanas. A aquisição, toda em dinheiro, dará à J&J a segunda maior empresa do setor de cirurgia de cataratas do mundo, que movimenta globalmente US$ 8 bilhões e cresce a um ritmo de 5% ao ano. A Abbott, que havia comprado a unidade em 2009, está remanejando sua divisão de equipamentos para se concentrar em outros segmentos.

Infecções resistentes a antibióticos podem gerar crise financeira

19/09/2016 - IstoÉ Online


A expansão das chamadas superbactérias, resistentes a todos os tratamentos médicos conhecidos, pode desencadear uma crise financeira similar, ou até pior do que a de 2008 – alertou um estudo do Banco Mundial publicado nesta segunda-feira (19).

A resistência antimicrobiana está em aumento e, no futuro, muitas doenças infecciosas não poderão ser tratadas, o que implicará um alto custo para os Estados e o aumento do número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza.

Esse problema pode representar um custo de até US$ 100 trilhões globalmente em 2050.

“Devemos saber que, a menos que seja enfrentado rapidamente e com seriedade, o problema da resistência aos antibióticos terá consequências desastrosas para a saúde humana e animal, para a produção de alimentos e para a economia global”, advertiu a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan.

Intitulado “Doenças resistentes aos medicamentos: uma ameaça para nosso futuro econômico”, o relatório analisa o que pode ocorrer, se os antibióticos e outros remédios antimicrobianos deixarem de surtir efeito.

A propagação das doenças levaria cerca de 28 milhões de pessoas para a extrema pobreza até 2050, especialmente nos países em desenvolvimento, indica o relatório.

“Em linhas gerais, o mundo mostra uma tendência de redução da pobreza extrema para 2030, aproximando-se da meta de menos de 3% da população vivendo nessa situação. Mas a resistência aos antibióticos põe em risco que se possa atingir esse objetivo”, acrescenta.

Além disso, os países de menor renda podem perder mais de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) até 2050, e o volume de exportações no mundo pode se reduzir em 3,8% até esse mesmo ano, segundo as projeções.

“O aumento global nos custos da atenção em Saúde pode ser de entre US$ 300 bilhões e US$ 1 trilhão” por ano em 2050, afirma o estudo.

A produção de víveres também pode cair entre 2,6% e 7,5%, anualmente.

Esse problema será abordado nesta semana em uma sessão especial na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.

“A dimensão e a natureza dessa ameaça poderiam nos levar a um retrocesso nos êxitos alcançados no desenvolvimento e poderiam nos afastar dos nossos objetivos de erradicar a pobreza extrema”, ressaltou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.

“Não podemos bancar os custos que representaria a inação, especialmente os países mais pobres. Devemos reagir com urgência para evitar essa crise potencial”, alertou.




Pânico e dilemas da zika chegam aos EUA

18/09/2016 - Folha de S.Paulo


"É menina", diz a administradora Luciana Coelho, 38. "Vai se chamar Louise." Grávida de sete meses, a paulista já decorou o quarto ("um mix de ursinhos e anjos dourados") e organizou seu chá de bebê –usou faixa tipo miss onde se lia "mommy" (mamãe) e cortou o bolo branco com glacê rosa, as mesmas cores do seu vestido longo.

Duas semanas antes da festa, contudo, o site da CNN, um dos principais canais de notícia dos EUA, exibia uma capa assustadora. "Eles estão aqui", dizia, acompanhada da foto de um Aedes aegypti.

Era para a vida ser doce em Celebration, comunidade projetada pela Disney em Orlando (Flórida). Coelho, que estuda inglês, para lá se mudou em janeiro, com o marido e os outros filhos, Victor, 13, e Victoria, 9. O vírus da zika chegou junto aos EUA, um ano após se espalhar pelo Brasil.

Até o último dia 7, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, 43 pessoas foram infectadas por mosquitos nativos dos EUA, 1,5% do total de casos no país, de 2.964; a maioria contraiu o vírus em viagens.

Por ora, o país computou 17 bebês com danos de nascença, sem especificar quais (se era microcefalia, por exemplo). O Estado mais afetado é a Flórida, em que se estima que vivam 300 mil brasileiros e onde se situam dois ímãs turísticos, Miami e Orlando.

O governo estadual ofereceu testes gratuitos para zika, e em um mês 86 grávidas receberam o resultado positivo. Coelho mora a 380 km do epicentro da epidemia, Miami, e mesmo assim teme engrossar a estatística. Evita ao máximo sair de casa e, quando sai, lambuza-se de repelente –gasta US$ 30 (R$ 100) por mês com os produtos.

Há também o medo de que a zika aja como repelente para o turismo na Flórida, que movimenta US$ 82 bilhões anuais. Parques de diversão já oferecem proteção contra os mosquitos, assim como o álcool em gel virou moda em banheiros após a onda de gripe. A Disney abriu uma seção em seu site, enfeitada com a fadinha azul de "Bela Adormecida", com medidas de precaução contra o vírus.

Para especialistas, é questão de tempo até que os mosquitos cheguem a Orlando. O pânico cruzou o país: em Nova York (520 casos, todos relacionados a viagens), grandes redes de farmácia exibem "repelentes antizika" no balcão, ponto nobre das vendas.


FIM DA PICADA


O assunto virou até queda de braço política: na semana retrasada, senadores democratas bloquearam um plano que liberaria US$ 1,1 bilhão para combater a epidemia. Motivo: proposto por republicanos, o projeto impede a alocação de recursos na Planned Parenthood, organização que dá assistência a mulheres e distribui contraceptivos –o país registrou ao menos 24 casos de contágio por ato sexual.

Pró-aborto, a rede de clínicas é alvo de fúria de conservadores, que já a acusaram de lucrar com a venda de partes de feto para pesquisa (o que foi negado). Para democratas, seria precedente perigoso minar a ação da entidade.

Familiar ao Brasil, a discussão também se instalou nos EUA –o aborto deve ser permitido para grávidas contaminadas? O dilema moral: o procedimento seria feito antes mesmo de saber se o feto tem defeitos congênitos, já que o diagnóstico só se dá com a gestação avançada (aí, seria tarde para tirar o bebê).

"O Congresso deveria poder cuidar de emergências médicas sem financiar grupo esquerdista pró-aborto", diz Tony Perkins, presidente do Conselho de Pesquisa da Família e aliado do presidenciável republicano, Donald Trump.

Ele bate de frente com o presidente do Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas, Thomas Gellhaus. "A objeção moral de um médico jamais deveria ser barreira para a mulher ter acesso a todos os serviços que impeçam as consequências potencialmente trágicas da zika", afirma.

Evangélica, Luciana Coelho não cogitaria o aborto em hipótese alguma: "Sou a favor da vida. Não podemos decidir quem vai ou quem fica". Nativa de Miami e da mesma fé, Jessie (que preferiu omitir sobrenome), 22, conta que interrompeu a gravidez ao descobrir que contraiu o vírus. "Eu amo Deus, e sei que ele entenderá que eu não tenria como pagar as contas médicas se algo desse errado."




Cubanos do Mais Médicos avisam: não querem voltar

18/09/2016 - O Estado de S.Paulo


A médica cubana Gretel Nuria Remon Perez, de 29 anos, veio para o Brasil com a primeira leva de profissionais do Mais Médicos, e tem uma boa razão para querer continuar no País. No dia 5 de agosto, ela se casou com o brasileiro Mauro Augusto Fernandes, de 28 anos, e já planeja ter filhos. Desde abril de 2014, Gretel compõe o quadro de profissionais do Programa Saúde da Família que atende a população de Pilar do Sul, interior de São Paulo.

Para ela, o município agrícola de 30 mil habitantes, na região de Sorocaba, tornou-se o lugar dos sonhos. “Meu futuro é ficar aqui”, disse.

O governo brasileiro definiu a prorrogação do programa com Cuba por mais três anos, mas o governo cubano está exigindo que haja rotatividade entre os profissionais. O plano é substituir cerca de 4 mil médicos em atividade no Brasil até o fim deste ano – no total, há 11,4 mil profissionais cubanos no País. Casada com o brasileiro, Gretel acredita que vai poder ficar aqui. O casal precisa viajar a Cuba para que a nova situação seja homologada pelo governo de lá, mas ainda não definiu a data. “Casamos por amor, nem levamos em conta essa nova situação. Mas agora deixar o Brasil está fora dos planos”, disse a médica.

Formada em Cuba há seis anos, Gretel trabalhou um ano na Venezuela e veio para o Brasil na expectativa de atuar em um grande centro. Quando foi enviada para Pilar do Sul, estranhou de início, mas logo se acostumou.

“As condições de saúde aqui são muito parecidas com as de Cuba.” A médica atende na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Nova Pilar. Ela conta que conheceu Fernandes em uma atividade de saúde na praça da cidade. O marido é enfermeiro e logo se aproximou da “doutora”. “No começo foi só amizade, não tinha nenhuma outra intenção, mas depois rolou”, afirmou o jovem.


JÁ OS PACIENTES ELOGIAM A DOUTORA


“Na primeira consulta, não achei que ela era a médica, pois é muito jovem, e fiquei um pouco desconfiada, pois não entendia direito o que falava. Foi só a primeira impressão, logo ela me deixou à vontade e acertou tudo o que eu tinha. Hoje somos amigas e ela vai na minha casa”, disse a aposentada Idalina Lopes, de 61 anos.


PASSEATA


Entre os médicos cubanos que atuam no interior de São Paulo, a maioria prefere continuar no Brasil. No caso de Eduardo Rogério Fraga Martin, de 34 anos, é a população do Bairro do Turvo, na zona rural de Tapiraí, que não quer sua saída.

Os moradores já fizeram uma passeata pela permanência do médico. “Ele é uma bênção do céu, desde que chegou, não só a saúde, tudo aqui só melhorou”, disse Terezinha Leite, uma das líderes comunitárias.

Uma das conquistas foi uma Unidade Básica de Saúde (UBS) nova, construída depois que o cubano se instalou na comunidade.

O secretário de Saúde, Francisco Vieira Filho, defende a permanência dos dois médicos que atuam em Tapiraí.

“Com a ajuda deles, conseguimos criar um modelo de atenção à saúde básica que está sendo referência para outras cidades.” Reverenciado pelos moradores e cortejado pelos amigos, o médico quer continuar na cidade.

“A população está familiarizada com nosso trabalho e já conhece os problemas de cada um. Seria muito triste ter de ir para outro lugar.” Já a médica Yamile Rodriguez Palacio, de 29 anos, teria todos os motivos para querer voltar para Cuba. Quando começou a trabalhar pelo Mais Médicos em Sorocaba, no início de 2014, havia deixado em seu país os pais, dois irmãos – um deles adolescente – e seu marido.

Mesmo assim, ela torce para poder continuar atuando em uma UBS da periferia. “Já trabalhei em Belize, na América Central, mas aqui é diferente, o apoio é maior e a população reconhece nosso trabalho.”




Entidades querem acesso fácil à adrenalina

17/09/2016 - Folha de S.Paulo


Era uma noite tranquila de dezembro. Lisiane Carafini, 37, acordou para alimentar seu bebê e ouviu uma tosse estranha. Ela achou o marido, Leonardo Semprebom, irreconhecivelmente inchado. Era a primeira crise anafilática dele. Na segunda, morreu. Para evitar casos como esse, entidades lutam para trazer uma pequena "caneta" de adrenalina para o Brasil.

A anafilaxia é um processo alérgico grave que pode levar à morte. Ela ocorre no contato entre o organismo e alérgenos, substâncias que, mesmo aparentemente inofensivas, são tidas pelo corpo como um perigo. Leite, ovo, peixes, castanhas e crustáceos lideram a lista de causas da doença, segundo a Anafilaxia Brasil, projeto da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

Semprebom nunca tinha tido crises. A primeira, sem explicação óbvia, foi no final de 2015. Os sintomas, clássicos do quadro clínico, foram tosse, partes do corpo inchando e fala difícil pelo aumento da língua.

A esposa, Lisiane, não sabia o que estava acontecendo e, por sorte, tinha uma irmã, médica, por perto.

Em casos de crise anafilática, o ideal é chegar rapidamente a um pronto-socorro. Contudo, entidades como a Asbai e a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), afirmam que uma pequena "caneta" de adrenalina é a melhor opção para evitar a perigosa evolução das crises.

"Ter anafilaxia é você ter uma corda no seu pescoço", afirma Elaine Gagete da Silva, coordenadora do grupo de anafilaxia da Asbai.

A caneta possui uma dose adequada de adrenalina para impedir o agravamento da crise anafilática. A pessoa faz a aplicação intramuscular do medicamento na coxa.

A adrenalina é importante para impedir que o plasma sanguíneo "vaze" dos vasos, invadindo os órgãos. Isso reduz a chance de inchaços, que podem fechar a garganta e levar à morte.

Elaine adverte que a caneta é só um procedimento de emergência, um primeiro socorro que possibilita a chegada segura até um hospital.

Nos EUA, a chamada EpiPen é vendida pela farmacêutica Mylan. Recentemente, a empresa foi criticada pelo aumento no preço do remédio. Em embalagens com duas ampolas, o valor passou de cerca de US$ 100 em 2007 para US$ 600 (R$ 1.970) em 2016.


PARA OS PEQUENOS


Em crianças os quadros de anafilaxia podem ser mais graves. "O sistema imunológico da criança não está completamente formado", afirma Luciana Rodrigues, presidente da SBP.

Ana Carla Karam, 48, tem um protocolo doméstico para que a família possa comer fora. Seu filho, Gabriel Kern, 6, tem uma grave alergia a ovo. A cada refeição, Ana precisa perguntar ingredientes e até mesmo ver a embalagem do que foi usado no prato. "É estressante, porque não podemos dar bobeira."

A professora, aconselhada por um alergista, passou a importar EpiPens. Aonde vai, ela leva uma consigo. Outra fica no colégio do garoto.

"A adrenalina autoinjetável pode salvar vidas", diz Luciana. "Em poucos minutos o indivíduo pode morrer".

Por ser importado, o remédio fica caro e pouco acessível para o público em geral.


'OPORTUNIDADE'


Procurada pela Folha, a Mylan diz que "continua a explorar a oportunidade de trazer o autoinjetor EpiPen para o mercado brasileiro" e que "dessa vez não pode comentar além disso".

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma que não há pedido de registro do produto em análise ou aguardando análise. "É importante destacar que, para que um medicamento seja registrado e comercializado no Brasil, é necessário que uma empresa/laboratório solicite este registro", diz.

O Ministério da Saúde diz que a epinefrina, conhecida como adrenalina injetável, está disponível no SUS. Segundo a pasta, o uso exclusivo em ambientes hospitalares visa evitar o uso indiscriminado do medicamento.

Segundo dados do Ministério, o SUS realizou, em 2015, 548 internações por choques anafiláticos. Em 2016 foram contabilizados 334.




SP lidera ranking de judicialização da saúde pública, diz Interfarma

16/09/2016 - Valor Econômico / Site


O Estado de São Paulo lidera o ranking nacional de judicialização da saúde pública e somente em dois meses do ano passado, janeiro e setembro, foram movidas 3.014 ações para obtenção de medicamentos e tratamentos negados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É o que mostra o estudo “Judicialização da Saúde na Prática – Fatos e dados da realidade brasileira”, produzido pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), com lançamento na segunda-feira.

O levantamento indica que o Rio Grande do Sul lidera a lista quando considerado o número de ações por cem mil habitantes, com quase 25, frente à média de 7,45 dos demais Estados. São Paulo fica em segundo lugar, com 6,79 ações por cem mil habitantes.

Conforme a Interfarma, há três principais razões para o aumento da judicialização da saúde pública. O primeiro é o montante de recursos direcionados para a área, que em 2016 sofreu um corte de R$ 24 bilhões frente ao orçamento original de 2015. Em seguida está o fato de o SUS não incorporar a maior parte dos medicamentos mais modernos. Além disso, há atrasos e problemas logísticos que resultam na indisponibilidade de determinados tratamentos na rede pública.

O levantamento da Interfarma foi feito a partir de uma amostra de ações judiciais em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, nos meses de janeiro e setembro para o primeiro Estado e de março e novembro do ano passado para os demais.

“São quase 15 mil ações impetradas em tribunais de Justiça. Elas foram analisadas, uma a uma, e trazem uma amostra dos impactos negativos que a judicialização causa para o sistema de saúde do Brasil”, diz em nota o presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto.

Para chegar a essa amostra, foram pesquisadas ações com os termos “medicamento” e “remédio” no Banco de Sentenças do Tribunal do Estado de São Paulo e no Banco de Jurisprudência do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.




Mortes confirmadas por chikungunya crescem 1.400% neste ano

16/09/2016 - Valor Econômico / Site


Após chegar a ser considerada uma doença que "avançou menos do que o esperado", a febre chikungunya tem acendido um alerta entre especialistas e autoridades de saúde neste ano. Dados de um novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde já confirmam, ao menos, 91 mortes relacionadas à infecção, transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Em todo o ano passado, eram seis mortes registradas — um crescimento de 1.417% no período.

Há ainda outras mortes suspeitas de ligação com a doença em investigação — o ministério não informa o total, mas secretarias estaduais de saúde dão sinais: só em Pernambuco, há 225 mortes suspeitas de ligação com arboviroses (como dengue, zika e chikungunya) ainda em análise.

Ao todo, as mortes já confirmadas ocorreram em nove Estados. Destes, Pernambuco registra o maior número de casos, com 46 registros já reconhecidos pelo Ministério da Saúde, seguido do Rio Grande do Norte, com 19. Os demais são Paraíba (7), Ceará (6), Rio de Janeiro (4), Bahia (4), Alagoas (2) e Maranhão (2) e São Paulo (1).

Segundo o ministério, a maior parte das mortes já confirmadas ocorreu entre os meses de fevereiro e março, período em que há maior proliferação de Aedes no país. A idade das vítimas variou entre zero a 98 anos — com média de 62 anos.

A pasta afirma ainda que o aumento no número de mortes reflete um trabalho de busca ativa realizado nos Estados — daí a demora para confirmação dos registros pelo governo federal.


CASOS DE INFECÇÃO


O número de casos classificados como prováveis de infecção pelo vírus chikungunya também tem registrado aumento nos últimos meses. De janeiro a 13 de agosto deste ano, já foram notificados 216.102 casos tidos como prováveis após atendimento na rede de saúde. Em todo o ano de 2015, foram 38.332 — aumento de 463%.

Também cresceu o número de cidades que registram casos de "chiku", como costuma ser chamada em alguns locais: de 696 em 2015, já são 2.248 neste ano. Entre as regiões, o Nordeste é o mais afetado, com 87% dos casos registrados.

A situação preocupa os serviços de saúde, uma vez que a chikungunya é marcada por sintomas como febre alta e repentina, dores de cabeça e nos músculos e fortes dores nas articulações dos pés e das mãos — que podem se estender por meses e anos.


ZIKA E DENGUE


O boletim do Ministério da Saúde também traz dados atualizados sobre zika e dengue. Em relação ao zika, foram notificados 196.976 casos prováveis da doença até o dia 13 de agosto.

Boletim anterior da pasta, com informações até julho, apontava 174.003 registros. Não há dados de 2015. Neste ano, também foram confirmados três mortes como relacionados ao zika.

Já os registros de dengue alcançam 1,4 milhão de casos desde janeiro deste ano. Gráficos do Ministério da Saúde, porém, registram redução no número de novos casos nas últimas semanas.

Ainda assim, o alerta persiste, já que os últimos meses do ano costumam apresentar um aumento na proliferação de Aedes aegypti devido ao calor e ao aumento das chuvas, clima favorável ao mosquito transmissor.




A redução da severidade nas crises de asma

17/09/2016 - Folha de S.Paulo


Uma possível forma de reduzir a severidade nas crises de asma foi apresentada recentemente, em Londres, no congresso da Sociedade Respiratória Europeia.

O uso de suplemento de vitamina D junto com o tratamento de asma reduz o risco de ataques severos, segundo revisão realizada por Adrian Martineau, do Queen Mary University de Londres e colaboradores da rede Cochrane.

Foram analisadas sete pesquisas realizadas em seis países (Canadá, Índia, Japão, Polônia, Reino Unido e Estados Unidos), perfazendo o total de 435 crianças e 658 adultos.

Observaram que suplementos de vitamina D em portadores de asma leve a moderada reduziu de 3% a 6% a necessidade de serviços hospitalares de urgência por crises severas.

Os autores destacam a necessidade de maiores estudos sobre a ação da vitamina D em crianças e adultos portadores de asma grave.

O objetivo é ver se eles também receberão os mesmos benefícios do grupo estudado, de adultos com asma leve a moderada.

A asma é uma doença crônica caracterizada pela dificuldade respiratória e presença de sibilos na respiração.

Um alerta: os suplementos de vitamina D não podem ser consumidos de forma aleatória. Seu uso deve ser feito sob controle médico. O excesso de vitamina D no sangue pode interferir na ação de outros medicamentos e os casos de toxicidade podem levar à anorexia e arritmia cardíaca.




Multivacinação para crianças começa nesta segunda-feira

19/09/2016 - Folha de S.Paulo


A Campanha Nacional de Multivacinação para crianças e adolescentes começa nesta segunda-feira (19), em postos de saúde de todo o país.

Pela primeira vez, jovens de 10 a 15 anos estão incluídos na ação, que também tem como público-alvo crianças de nove anos de idade e menores de cinco anos.

Outra novidade é que serão aplicadas vacinas contra mais tipos de doença. Antes, o Ministério da Saúde costumava aproveitar as campanhas contra a poliomielite, em agosto, para verificar se havia crianças que ainda não tinham tomado algumas vacinas.

Agora, o foco foi ampliado para todas as doses recomendadas no Calendário Nacional de Vacinação. O objetivo é reduzir o número de não imunizados e aumentar a proteção da população, principalmente entre adolescentes.

“É um público mais resistente a buscar os serviços de saúde”, diz a coordenadora geral substituta do Programa Nacional de Imunizações, Ana Goretti.

Ao todo, serão ofertadas 26 milhões de doses. Dessas, 19 milhões são de doses extras contra a hepatite A, poliomielite e febre amarela, por exemplo, além de tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), pentavalente, entre outras.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), ressalta a importância de receber todas as doses das imunizações. “Não adianta você vacinar uma dose e não colocar a segunda ou a terceira. Dependendo do tipo de vacina, a imunização não acontece”, afirma.

A campanha seguirá até o dia 30 de setembro. O dia de mobilização nacional, chamado de“dia D”, ocorrerá em 24 de setembro.


MUDANÇAS NAS VACINAS


Em janeiro, o Ministério da Saúde alterou o esquema de dosagem de quatro vacinas: poliomielite, HPV, meningocócica C (conjugada) e pneumocócica 10 valente. As mudanças atendem a recomendações de especialistas e também da OMS (Organização Mundial de Saúde).

No caso da pólio, por exemplo, a proteção passou a ser feita com três doses injetáveis (2º,4º e 6º mês de vida) e dois reforços orais, a “gotinha” (15º mês e aos quatro anos).

Antes, ela era feita com duas doses injetáveis e três orais.

A vacina contra o HPV, indicada para meninas de 9 a 13 anos, passou a ser aplicada em duas doses —antes eram três. A alteração ocorreu após estudos mostrarem que não há consequências na proteção com a redução de uma dose.

Já a meningocócica agora é dada um pouco mais cedo, dos 12 meses aos quatro anos, e a pneumocócica, em duas doses (no 2º e 4º mês), com reforço a partir de 12 meses.




Registros de zika no Rio indicam epidemia

17/09/2016 - O Estado de S.Paulo


No meio dos Jogos Olímpicos, o Rio tornou-se o primeiro Estado do Sudeste a registrar oficialmente epidemia de zika – mais de 300 casos por 100 mil habitantes.

É o que mostra o mais recente boletim do Ministério da Saúde, que aponta ainda que, entre as doenças mais transmitidas atualmente pelo Aedes aegypti, a que mais preocupa é a febre chikungunya.

Até 13 de agosto, foram registrados 196.976 casos prováveis de zika no País (taxa de incidência de 96,3 casos por 100 mil habitantes), distribuídos em 2.277 municípios. Acabaram confirmados 101.851 casos. A Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência: 188,1 casos/100 mil habitantes. Entre as unidades da federação com registro de epidemia estão Mato Grosso (652,9 casos/100 mil habitantes), Bahia (328,2 casos/ 100 mil) e Rio (363,6 casos/ 100 mil). As menores taxas estão no Sul: Santa Catarina (1,3 por 100 mil, com apenas 86 casos relatados) e Rio Grande do Sul (2,3/100 mil).

Em 2016, foram confirmadas laboratorialmente três mortes por zika: 2 no Rio e 1 no Espírito Santo. O Estado que recebeu a Olimpíada ainda responde por praticamente 1 em cada três casos confirmados no País: 60.176. Como só foi relatada transmissão autóctone de febre pelo vírus zika no País a partir de abril de 2015, não é possível fazer comparações. Em relação às gestantes, foram registrados 16.264 casos prováveis, sendo 8.904 confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial, segundo o ministério.


CHIKUNGUNYA


Ao comparar os dados com o boletim anterior, do início de julho, chama a atenção o avanço da febre chikungunya.

Foram identificados 53 novos óbitos, levando para 91 os registros em 2016 – ante 6 em todo o ano passado. Em 2015, foram registrados no País 38.332 casos prováveis da febre (incidência de 18,7 casos/100 mil habitantes), distribuídos em 696 municípios, dos quais 13.236 foram confirmados. Em 2016, até 13 de agosto, foram registrados 216.102 relatos prováveis de chikungunya (taxa de incidência de 105,7 casos/100 mil), distribuídos em 2.248 municípios.

Desses, 102.638 casos foram confirmados.

No momento, a Região Nordeste, marcada no fim do ano passado pela epidemia de zika, agora enfrenta problemas com a chikungunya, com 335,6 casos/ 100 mil habitantes. Entre as unidades da federação, preocupam Rio Grande do Norte (649,1 casos/100 mil), Pernambuco (434,7) e Alagoas (397,9).


DENGUE


Já o avanço da dengue no País apresenta ritmo lento.

O número de casos deste ano – 1.426.005 – já é inferior ao do mesmo período de 2015 – 1.479.950 casos.




Campanha apaga monumentos para alertar sobre câncer ocular infantil

18/09/2016 - O Estado de S.Paulo / Site


Neste domingo, 18, às 19h30, as luzes do Teatro Municipal, na região central de São Paulo, serão apagadas para alertar sobre o retinoblastoma, tipo de câncer ocular mais comum em crianças. A ação faz parte do Dia Nacional de Conscientização e Incentivo ao Diagnóstico Precoce do Retinoblastoma, celebrado hoje, e também será realizada em pontos turísticos de Brasília e Belo Horizonte.

A doença é considerada rara e atinge cerca de 400 crianças entre 0 e 5 anos por ano no Brasil. Embora possa se agravar, levando à cegueira e à morte, o tumor pode ser curado se o diagnóstico for feito de forma precoce.

"O diagnóstico é muito simples, fundamentalmente feito por um pediatra com a verificação do fundo de olho ainda na maternidade. Depois, pode ser visto quando aparece um mancha branca com o reflexo da luz. Quando a criança é fotografada, se tem o branco, é porque tem algo na frente, que é o tumor. Estamos falando cada vez mais do diagnóstico precoce, porque, quando a mancha aparece, é porque o caso já está mais avançado", explica Sidnei Epelman, oncologista pediátrico e presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (TUCCA). A mancha branca é chamada de leucocoria.

O retinoblastoma é uma doença genética e hereditária. Ela pode apenas um ou os dois olhos. O tratamento pode ser feito com laserterapia e quimioterapia. "Além de salvar o olho, podemos salvar a vida da criança. Quanto mais precoce é detectado, mais brando é o problema. É uma doença curável quando tratada de forma adequada."




A escolha é da mulher

17/09/2016 - Veja


LEMBRO QUANDO, HÁ UM ANO exatamente, em setembro de 2015, surgiram os primeiros casos de microcefalia resultantes da epidemia de zika vírus. Naquele tempo, no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, no Recife, onde trabalho, o ambiente das salas nas quais as gestantes aguardavam sua vez para fazer o primeiro exame de ultrassom era leve e descontraído — para a maioria, a única ansiedade era saber o sexo do seu bebê.

Hoje a situação é completamente diferente. O ambiente é tenso. Todas têm medo de receber um diagnóstico de síndrome congênita do vírus. De outubro do ano passado a julho deste ano chegaram a 1709 os casos de microcefalia no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, e o estado com o maior número de ocorrências confirmadas ainda é Pernambuco, com 371 casos. Depois vêm Bahia, com 277, e Paraíba, com 148.

Não há ainda evidências suficientes para estabelecer as reais possibilidades de, uma vez contaminada pelo vírus, a gestante ter seu filho portador de síndrome congênita da zika. A doença inclui, além de microcefalia, outras malformações graves, como hidrocefalia, calcificações intracranianas, cegueira, surdez, retardo mental e doenças articulares. Mesmo quando a criança de uma gestante portadora do vírus não apresenta alterações ao nascer, é possível, à semelhança de outras síndromes de infecções congênitas, que com o passar dos meses ou dos anos venham a surgir atrasos de desenvolvimento motor e cognitivo ou outras complicações.

Em sua maioria, as mulheres com filhos acometidos por essa síndrome vivem na Região Nordeste, em locais sem saneamento básico, e utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). São elas que, após o nascimento dos bebês, passam a se dedicar integralmente a eles, levando-os a consultas com neuropediatra, oftalmologista, otorrinolaringologista, geneticista, ortopedista, fisioterapeutas, nutricionistas e terapeuta ocupacional, entre outros. Essa tarefa é difícil para quem mora nos grandes centros urbanos e praticamente impossível para aquelas que residem em áreas rurais. Muitas dessas mães perdem condições de se dedicar ao trabalho e passam a depender de familiares e companheiros — que muitas vezes as abandonam.

Essas mulheres — a quem já foram negados saneamento básico, contracepção efetiva, assistência e apoio social — não podem ser submetidas a mais uma violência do Estado contra a sua dignidade: a de não lhes assegurar autonomia na decisão de manter ou não a gravidez diante do risco da microcefalia. Primeiro, porque não cabe ao Estado decidir por elas, mas apoiá-las e garantir-lhes assistência qualquer que seja a sua decisão. Depois, negar às mulheres o direito de decidir ou não pela continuidade de uma gravidez com risco de microcefalia contraria frontalmente as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No início do ano, a OMS declarou ser a epidemia do vírus zika uma emergência de saúde pública, diante não apenas das desordens neurológicas provocadas pelo vírus nos fetos como também do sofrimento causado aos familiares. As ações emergenciais recomendadas pela OMS para o enfren-tamento da epidemia foram: a) acesso irrestrito aos métodos contraceptivos mais efetivos; b) disponibilização de teste so-rológico para o diagnóstico de zika de rotina no pré-natal; e c) aborto nos casos de sorologia positiva para zika.

Entre as ações emergenciais recomendadas pela OMS para o enfrentamento da epidemia de zika está o aborto. Passados mais de seis meses dessa declaração, pode-se facilmente verificar que o Brasil a ignorou. Em relação ao acesso aos métodos contraceptivos mais efetivos, o governo brasileiro limitou-se a sugerir às mulheres adiar o sonho da gravidez — como se planejar a gravidez fosse algo fácil para a maioria das brasileiras em idade reprodutiva. Mesmo antes da epidemia de zika, resultados da pesquisa. Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz. mostravam que 55% das mulheres tinham filhos sem planejamento. Os métodos contraceptivos mais eficazes a que a OMS se refere incluem o dispositivo intrau-terino (DIU) e os implantes. Esses contraceptivos, classificados como de longa duração, têm maior eficiência que os métodos mais populares — como a pílula e a camisinha —, já que não dependem de uma ação direta e da disciplina da usuária. Por isso, os métodos de longa duração favorecem a adesão e diminuem o número de falhas. O Ministério da Saúde, no entanto, além de não promover nenhuma ação para aumentar a taxa de uso do DIU no Brasil (que, diga-se de passagem, é muito pequena: apenas 1,5%), decidiu não incorporar os implantes entre os métodos disponibilizados pelo SUS.

Em relação ao segundo ponto definido pela OMS — a disponibilização de teste sorológico para o diagnóstico de zika de rotina no pré-natal —, também não houve avanços. Esses exames no Brasil não estão acessíveis no pré-natal da rede pública e os que estão não apresentam resultados precisos. Em meio a esse cenário desolador, ganha força a terceira e última recomendação da OMS, referendada pela Procuradoria-Geral da República. Na semana passada, a PGR enviou ao Supremo Tribunal Federal parecer favorável à garantia de acesso ao aborto seguro às gestantes infectadas pelo vírus zika e em sofrimento psíquico.

Essa proposta respeita os direitos fundamentais da gestante protegidos por nossa Constituição Federal, como o direito à dignidade da pessoa humana, à saúde, à privacidade, à integridade física e moral, à igualdade e à autonomia reprodutiva — essa última resguardada por diversos tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário, e também pelo reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher pela comunidade internacional.

Por fim. a interrupção da gravidez quando a sorologia for positiva para zika nada tem a ver com eugenia, como já se chegou a dizer, dado que tal teoria não reconhece o direito à autonomia e foi praticada apenas em regimes políticos totalitários. As mulheres não podem ser obrigadas a manter uma gravidez sob riscos elevados para a saúde do bebê, tampouco ser forçadas a abortar. Num Estado democrático de direito, deve-se reconhecer a possibilidade de escolha.




Uma revolução contra o colesterol

17/09/2016 – IstoÉ


Um dos maiores especialistas do mundo no combate às doenças do coração, o médico inglês Peter Sever foi o porta-voz, durante o Congresso Europeu de Cardiologia, realizado em Roma, na Itália, de uma notícia revolucionária. Sever, que é professor de Farmacologia Clínica e Terapêutica do Imperial College of London, expôs em detalhes o impacto que uma nova classe de remédios pode provocar no combate ao colesterol. As medicações Repatha e Praluent, já disponíveis no Brasil, reduzem os níveis de LDL, o chamado colesterol ruim, em até 70%. “Conseguimos uma mudança jamais vista antes”, afirmou Server à ISTOÉ, durante um dos breves intervalos entre as sessões do evento. Na entrevista a seguir, o professor falou também de outros avanços da medicina.

O que representa a chegada dessa nova classe de remédios contra o colesterol?

Vivemos uma revolução no tratamento do colesterol. Tivemos avanços com o uso das estatinas (drogas usadas até agora), mas nada tem se mostrado tão eficiente quanto essas medicações. O colesterol ruim pode ser reduzido em cerca de 70%. As estatinas conseguem uma redução de 40%.

Como se chega a esse resultado?

Os remédios atuam sobre uma proteína específica associada ao acúmulo de LDL. Por isso, são precisos e chegam diretamente no alvo.

Qual o impacto futuro que essas drogas terão no combate às doenças cardiovasculares?

Prevemos que haverá uma grande redução no número de infarto. Assim que isso for comprovado, os órgãos regulatórios de todo o mundo poderão contar com as evidências para decidir sobre a extensão das indicações das drogas e das políticas públicas de acesso a elas.

No momento, são indicadas a quem?

A grupos de pessoas com altos índices de colesterol e risco cardiovascular, pacientes com predisposição genética ao acúmulo de LDL e aqueles intolerantes às estatinas.

As estatinas deixaram de ser eficientes?

Não. Mas muitas pessoas reclamam de seus efeitos colaterais. Queixam-se de dores musculares, insônia e disfunções sexuais ligadas ao uso destes medicamentos. Os testes clínicos com essa nova classe de medicamentos mostram ótimos resultados na redução do LDL sem causar estes efeitos colaterais, representando uma opção para os pacientes.

Um dos problemas em relação a novos remédios, especialmente os biológicos, é seu alto custo, o que impede o acesso da maioria das pessoas a eles. O mesmo deverá acontecer com essa nova categoria?

Alguns países podem não ter dinheiro para fazer a distribuição a uma parcela maior da população. Mas sabemos que existem três companhias que vão competir nesse mercado e, com isso, a tendência é que os preços diminuam.

“Os países pobres registrarão um aumento no número de infartos. As nações desenvolvidas assistirão a uma redução no total de eventos deste tipo”

“Os países pobres registrarão um aumento no número de infartos. As nações desenvolvidas assistirão a uma redução no total de eventos deste tipo”

Todos sabem o que é preciso fazer para controlar o colesterol. Dieta saudável e exercício físico. Por que os índices de pessoas com alto colesterol ainda são tão expressivos?

A informação não é insuficiente, a educação é que está errada. As pessoas, muitas vezes, apenas se recusam a seguir o que é orientado. O fator mais importante para prevenção é a educação, não apenas entre os médicos, mas do público em geral. As pessoas sabem que cigarro faz mal para a saúde, estão cientes de que consumir muito álcool pode ser prejudicial para o fígado e sabem que gordura e colesterol são ruins para o coração. Mas, normalmente, não prestam atenção nos fatores de risco, e isso é muito ruim.

O nível da adesão dos pacientes aos tratamentos é muito diferente em países desenvolvidos e nos emergentes?

Há mais aderência aos tratamentos nos Estados Unidos. Mas, em geral, muitas pessoas acabam ignorando suas condições de saúde. A maior parte das populações não segue as recomendações passadas pelos médicos, inclusive no Reino Unido. Na América do Sul ocorre o mesmo. Mas o trabalho deve ser conjunto. Os governos têm a responsabilidade de educar a sociedade acerca dos fatores de risco, como se proteger. A comunidade médica deveria participar mais de congressos, por exemplo, para se atualizar e se preparar melhor. Seria um caminho muito efetivo.

Há muita dificuldade de controle em relação aos outros fatores de risco, como o sedentarismo e a hipertensão. Pelos mesmos motivos?

Vamos pensar em todos os outros fatores de risco além do colesterol: tabagismo, pressão alta, sedentarismo e diabetes. Quanto ao tabagismo, realmente não é fácil fazer as pessoas pararem de fumar. Para hipertensão, temos medicamentos capazes de controlá-la, mas quantos pacientes de fato são capazes de reduzir a pressão sanguínea efetivamente? Na maioria dos países, esse número varia de 25% a 50%. É muito difícil convencer as pessoas a mudarem seu estilo de vida.

Qual a responsabilidade dos médicos nessa tarefa?

Os médicos não têm tempo para instruir bem os pacientes. A média de uma consulta no Reino Unido é de quatro a seis minutos. Eles perguntam apenas nome, idade e o problema principal. O ideal seria que todos os pacientes passassem por uma triagem primária antes das consultas, com espaço para conversar com enfermeiros sobre seu estilo de vida, dieta, rotina de exercícios, uso de medicamentos, tratamentos em curso etc. Informações que seriam adicionadas nas fichas de cada paciente, servindo de base para o médico conduzir a consulta. Mas, infelizmente, 99% dos médicos não têm este tipo de abordagem.

E o papel das autoridades públicas?

No Reino Unido, existem campanhas educativas para prevenção realizadas pelo Departamento Nacional de Saúde Pública. Acredito que esta é a direção certa. O grande problema é que muitos governos sofrem forte pressão da indústria alimentícia, assim como da tabagista, para que seus produtos continuem a vender muito. Há um claro conflito de interesses. E as pessoas sofrem as consequências disso.

Levantamentos epidemiológicos alertam sobre o aumento no número de crianças com colesterol alto, obesas e hipertensas. Como é possível reverter isso para que não se crie uma nova geração de pacientes de alto risco?

A obesidade é um dos maiores problemas envolvendo crianças. Nos últimos cinco ou seis anos, o número de jovens obesos aumentou significativamente e, agora, vemos crianças de doze, treze anos desenvolvendo a diabetes tipo 2. A doença, intimamente ligada à obesidade, só era diagnosticada em adultos anos atrás. Esse problema se deve exclusivamente à combinação de maus hábitos alimentares e falta da prática de exercícios físicos. É claro que há a exceção dos pacientes que sofrem de doenças genéticas. Para estes casos, existe a possibilidade de tratamentos precoces com medicação.

Muitos especialistas defendem a proibição da propaganda de produtos infantis com alto teor de gordura e açúcar. O senhor concorda com isso?

Sim. Os governos têm muita responsabilidade nisso. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, as autoridades tentaram implementar uma taxação extra para produtos ricos em açúcar, mas é muito difícil colocar isso em prática. As empresas da indústria alimentícia faturam bilhões de dólares com a venda desses produtos. Mas, no Reino Unido, por exemplo, tivemos avanços como a proibição de propagandas de alguns produtos específicos na tevê antes das 21 horas, para evitar que as crianças sejam influenciadas. Pensando no futuro, a educação alimentar do jovens deveria ser algo muito mais difundido.

O que ainda falta ser descoberto sobre o coração?

Não conhecemos todas as doenças cardíacas, mas acredito que chegamos a um nível muito avançado. Se olharmos o conjunto de pessoas que foram acometidas por doenças cardiovasculares, em 95% dos casos podemos explicar a condição analisando os fatores colesterol, tabagismo, pressão arterial, diabetes e prática de exercícios. Excluindo esses pontos, não há muito com o que se preocupar. “Muitos governos sofrem pressão da indústria tabagista e as pessoas sofrem as consequências”

Tratamentos cada vez mais personalizados têm sido usados contra o câncer. Este será o caminho para as doenças do coração?

Há uma diferença entre os tratamentos contra câncer e colesterol. O progresso nos tratamentos personalizados do câncer está no estudo da célula tumoral e o desenvolvimento de anticorpos contra aquele tipo específico de tumor, combatendo a doença de maneira mais eficaz. Para as doenças cardiovasculares, não são necessários tratamentos tão personalizados.

Por que doenças cardiovasculares em mulheres têm sido negligenciadas em todo o mundo?

Porque até os 55 anos o risco de ataques cardíacos em mulheres é substancialmente menor do que em homens. Ao longo do tempo, principalmente depois da menopausa, a diferença diminui, mas é uma preocupação que surge mais tarde. No entanto, as mulheres estão hoje muito mais sujeitas ao estresse, acumulando funções no mercado de trabalho e dentro de casa. Esse é um ponto a ser considerado, já que o estresse é um dos fatores de risco para infarto. Os médicos devem deixar de ignorar os sinais de doença cardíaca em mulheres jovens.

Qual a sua perspectiva sobre a evolução das doenças cardíacas em todo o mundo?

A perspectiva é diferente de acordo com o país. No Reino Unido, os ataques do coração diminuíram 50% nos últimos dez anos. Esta é uma redução fantástica. Isso se deve parcialmente a mudanças de hábitos e ao uso de medicamentos. O acesso aos tratamentos tem aumentado. Nos países subdesenvolvidos, porém, a alimentação de má qualidade ainda é um sério fator de risco. Para os próximos anos, acredito que viveremos um contraste. Os países pobres registrarão uma situação mais dramática, com um aumento constante em níveis de colesterol e doenças do coração. Por outro lado, as nações desenvolvidas, como Alemanha e Reino Unido entre outros, assistirão a uma redução no número de pessoas que sofrem infarto.

Icone do VLibras Widget. Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana.