PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 114 - NOV-DEZ / 2013
Revista 114 Personagem
Militância e transformação
Cinco décadas de profissão, cinco décadas de lutas
Membro do Comitê Sênior do CRF-SP e secretário-geral do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de São Paulo, dr. Deodato Rodrigues Alves, participou da grande transformação das farmácias e drogarias do país com o advento da indústria farmacêutica nas décadas de 1950 e 60.
Nascido em 1939, em Santa Cruz das Palmeiras (SP), passou a infância no Vale do Paraíba, em Cachoeira Paulista. E foi nessa época, na farmácia de seu tio, que teve seu primeiro contato com a área. “A priori, eu ajudava limpando vidros, depois passei a auxiliar na manipulação dos medicamentos. Foi aí que tomei gosto pela Farmácia”, comenta.
No início de década de 1950, a indústria farmacêutica estava começando e a manipulação de medicamentos era comum nas farmácias, principalmente do interior.
Aos 15 anos, dr. Deodato mudou-se para São Paulo com a família, onde trocou a drogaria pelo jornal Folha da Manhã, atualmente Folha de S.Paulo, onde iniciou como office boy. Lá também atuou no setor de estatística, publicidade e paginação. “Mas, na hora de escolher a faculdade, escolhi a de Farmácia, principalmente porque venho de uma família de farmacêuticos.”
Outro fator que o influenciou a escolher essa profissão foi a grande confiança que os farmacêuticos inspiram. “Naquela época, a população procurava mais o farmacêutico do que o próprio médico. Lembro-me que no interior, às vezes, as pessoas batiam em casa e tínhamos que atender, por exemplo, às três horas da manhã”, fala.
Ingressou na Universidade de São Paulo (USP) em 1958, mesmo ano em que começou a trabalhar no Laboratório Crinoseda de sutura, indústria farmacêutica. “Iniciei no controle de qualidade e logo passei para a produção de fio cirúrgico.”
Dr. Deodato formou-se em 1962, na primeira turma de Farmácia Bioquímica da faculdade. A essa altura, o laboratório já tinha sido adquirido pela Johnson & Johnson e, em 1963, foi transferido para a unidade de São José dos Campos, onde assumiu o cargo de gerente de produção e farmacêutico responsável da fábrica de sutura cirúrgica. Em 1967, retornou a São Paulo, buscando morar mais próximo da família.
Foi então que começou a trabalhar na indústria de alimentos Anderson Clayton, onde assumiu a gerência do controle e garantia de qualidade. A empresa foi adquirida pela Unilever, onde dr. Deodato permaneceu até se aposentar, em 2005.
O integrante do Comitê Sênior do CRF-SP afirma que contribuiu sensivelmente com a indústria farmacêutica do país e dá dicas para quem quer atuar na área. “É importante ter seriedade e respeito às normas, mas sempre questionar. Questionar a si próprio e também aos processos de trabalho, visando à melhoria dos serviços prestados e à garantia da ética em todas as ações”.
Transformação da farmácia
Dr. Alves conta que a indústria passou por uma significativa transformação desde a época em que iniciou na profissão até os dias de hoje. Nas décadas de 50, 60 e 70, os medicamentos eram, em sua maior parte, manipulados. Hoje praticamente tudo é industrializado.
A geração de 1950 também pôde acompanhar outra importante modificação, que foi a consolidação dos Conselhos de Farmácia. “Sem os conselhos, seriam colocadas em risco a profissão e, principalmente, a população.”
Para ele, os conselhos enfrentam dificuldades decorrentes da baixa qualidade dos cursos de Farmácia. “Estamos vivenciando uma grande quantidade de farmacêuticos com baixa qualidade técnica. Antes era o contrário. Essa é uma das minhas lutas, tanto como voluntário do CRF-SP, quanto como secretário-geral do sindicato, melhorar a qualidade da classe e evitar o subemprego.”
Lutas Políticas
Dr. Deodato sempre militou pela profissão e atuou com postura crítica no sindicato, desde a época de acadêmico até os dias atuais. Na faculdade, participou das discussões sobre a criação dos conselhos e da mudança de nome do curso de Farmácia para Farmácia Química.“Esse foi um processo histórico para a profissão. Queriam transformar o farmacêutico em bioquímico, como acontece em outros países. Lutamos fortemente contra isso, assim como pela instalação dos Conselhos Federal e Regionais de Farmácia, sem os quais não haveria fiscalização e, talvez, nem mesmo a profissão.”
Monica Neri
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