Revista 106 - Entrevista



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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 106 - FEV - MAR - ABR / 2012

Revista 106 setinha Entrevista – Dr. Marcelo Polacow Bisson


Desafio do tamanho do estado de São Paulo

Conselheiro federal por São Paulo destaca projetos como a obrigatoriedade de um farmacêutico por Unidade Básica de Saúde e enfatiza os avanços da profissão nos últimos anos

Dr. Marcelo Polacow (Foto: Chico Ferreira / Agência Luz) Quando começou a fazer Farmácia, em 1985, dr. Marcelo Polacow Bisson se deparou com  uma realidade bem diferente da atual. Era uma época em que o foco do curso era a indústria farmacêutica e as análises clínicas e a assistência farmacêutica era tema secundário, visto como algo menor. Era comum, nas poucas faculdades de Farmácia que existiam no Brasil, o estudante passar todo o período de formação sem ter contato com qualquer paciente.

Hoje o cenário é outro. A formação extremamente técnica da época deu lugar a uma visão mais humana da profissão. As ações dos Conselhos Regionais vem contribuindo para transformar farmácias e drogarias em estabelecimentos de saúde, a profissão vem se consolidando e o farmacêutico, conquistando seu espaço.

Após alguns anos como diretor do CRF-SP, dr. Marcelo, que é professor, mestre e doutor em Farmacologia, assumiu em 2012 o desafio de representar o Estado de São Paulo junto ao Conselho Federal de Farmácia (CFF). Entre seus objetivos como conselheiro federal estão ampliar a presença do farmacêutico no sistema público de saúde e a luta por melhores condições de trabalho para o exercício da profissão.  Thais Noronha

Revista do Farmacêutico - Quais as diferenças entre o Marcelo Polacow que entrou no curso de Farmácia em 1985 e o atual conselheiro federal por São Paulo?

Dr. Marcelo Polacow - Minha visão de mundo era muito mais restrita do que é hoje. O Marcelo Polacow, conselheiro federal por São Paulo, é uma pessoa que vivenciou todas as mudanças ocorridas no mundo e na profissão nos últimos 27 anos. O fato mais relevante desse período, sem sombra de dúvida, foi a globalização (que se iniciou em meados dos anos 90), que permitiu o acesso a outros modelos de assistência farmacêutica e a nascente atenção farmacêutica. Minha visão tecnicista mudou e passou a ser focada no paciente, em que o medicamento passa a ser o meio e, o usuário, nossa missão principal. Com meu ingresso na carreira pública como oficial farmacêutico da Polícia Militar, passei a ter uma real dimensão do trabalho assistencial do farmacêutico focado na gestão da saúde e bem-estar dos pacientes. Depois, como professor, comecei a imprimir nas minhas aulas o real significado da profissão farmacêutica e as necessidades da sociedade em relação ao medicamento e atenção farmacêutica. Os anos 2000 considero um período de maturidade profissional, e foi nessa época que assumi pela primeira vez um cargo de diretor do CRF-SP, e comecei a acompanhar e participar ativamente dos debates para reconduzir o farmacêutico a sua devida posição de destaque na sociedade.

Dr. Marcelo representa o CRF-SP, como conselheiro federal, durante Reunião Plenária no Conselho Federal de Farmácia, em Brasília (Foto: Iosikasu Maeda / CFF)
Dr. Marcelo representa o CRF-SP, como conselheiro federal, durante Reunião Plenária no Conselho Federal de Farmácia, em Brasília (Foto: Iosikasu Maeda / CFF)

RF - O que significou ter participado da diretoria do CRF-SP nos últimos anos? Quais os aprendizados?

MP - No início do ano 2000 assumi pela primeira vez um cargo de diretoria do CRF-SP, como secretário-geral, o que possibilitou conhecer a fundo toda a legislação que regulamenta a profissão e o funcionamento da estrutura administrativa dos CRFs e sua relação com o CFF.  Depois, em 2007, como vice-presidente e responsável pela área de Fiscalização do Conselho, priorizei as ações educativas em detrimento das punitivas, embora, nos casos necessários, tenham sido instaurados os devidos processos éticos. Não podemos nos esquecer de que a função principal dos CRFs é a manutenção da disciplina e da ética profissional. Nesse período, em conjunto com os demais diretores, buscamos um modelo de eficiência de gestão do CRF-SP voltado aos princípios de qualidade total, reestruturação e modernização da estrutura administrativa, bagagem essa que levo para o CFF. O contato muito próximo com a categoria farmacêutica permitiu conhecer a fundo seus anseios e o que esperam de um representante em Brasília no Conselho Federal.

RF – Quais os principais projetos que, na sua opinião, irão beneficiar diretamente o farmacêutico nos próximos quatro anos?

MP - Atualmente os assuntos que precisam de tramitação urgente são aqueles relacionados às condições de trabalho, salários e ao âmbito profissional. O projeto das 30 horas tem recebido atenção especial deste conselheiro federal em conjunto com os demais conselheiros e diretoria do CFF. Outro projeto importante é o de garantir que todas as unidades básicas de saúde contem com a presença de farmacêuticos e que esses profissionais tenham uma participação efetiva no SUS. Além disso, existe um projeto que estabelece o piso salarial mínimo de mais de R$ 4 mil por mês. As questões relacionadas à formação profissional devem ser exaustivamente discutidas pois, como sabemos, o número de faculdades de Farmácia aumentou muito nos últimos anos, e a qualidade de muitas delas ainda deixa a desejar, uma vez que o MEC não executa como deveria seu papel de fiscalizar e avaliar a qualidade dos cursos. Precisamos também de uma ação mais incisiva em relação à regulamentação sanitária no Brasil. O que tenho percebido é que a Anvisa publicou uma série de RDCs que sobrecarregaram o farmacêutico de funções administrativas e o afastaram ainda mais de sua missão clínica e assistencial, e um exemplo disso é o próprio SNGPC. Isso precisa ser revisto de maneira urgente, pois vivemos um período de hiperregulação sanitária, o que burocratiza e nada agrega na segurança do uso de medicamentos em nosso país. Enfim, a pauta é longa. Há muito trabalho a ser feito e, de minha parte, muita disposição para trabalhar.

Em reunião com o farmacêutico holandês dr. Dick Tromp e o conselheiro do CRF-SP, dr. Adriano Falvo (Foto: Divulgação / CRF-SP)
Em reunião com o farmacêutico holandês dr. Dick Tromp e o conselheiro do CRF-SP, dr. Adriano Falvo (Foto: Divulgação / CRF-SP)

RF - Como os resultados obtidos em São Paulo podem contribuir para as ações a serem propostas ao CFF?

MP - Precisamos levar para o CFF as boas experiências que temos em São Paulo, assim como também podemos aprender com as boas experiências desenvolvidas pelo Brasil afora. Não podemos deixar de considerar as particularidades regionais na implantação desses projetos. Posso dizer com segurança que São Paulo pode contribuir em áreas como gestão administrativa, assessoria jurídica, fiscalização, ações de defesa do âmbito profissional, mas seguramente temos muito o que aprender com os outros estados.

RF - O que os farmacêuticos podem esperar da sua atuação como conselheiro federal?

MP - Uma gestão de muito trabalho e focada nas necessidades da sociedade brasileira e também nos anseios dos farmacêuticos.  Como disse, temos uma pauta extensa pela frente. Há quem se sinta desanimado diante de tudo o que ainda precisamos conquistar para que a profissão atinja o respeito que merece, mas vejo isso como algo extremamente motivador, um grande desafio e uma imensa oportunidade. Sabemos que as grandes mudanças que precisamos não virão da noite para o dia, num passe de mágica, mas elas serão o somatório das pequenas conquistas de cada dia. É nisso que acredito.

 

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