Plano B da saúde
05/10/2016 - Revista Você SA
Para muita gente, a medicina é sinônimo de uma carreira glamourosa e com altos rendimentos. Quem trabalha no meio, entretanto, sabe que se trata de uma profissão que exige muitos sacrifícios - como a disposição para fazer longos plantões noturnos ou aos fins de semana - e o investimento de equipar e manter um consultório próprio, sem contar com benefícios como férias remuneradas, 1.3° salário e FGTS pagos pelo empregador. Quem deseja essa segurança tem como opção disputar uma posição num hospital particular ou trabalhar na rede pública de saúde. Mas essas possibilidades começam a se diversificar, com o surgimento de vagas em clínicas populares, de ocupações na indústria farmacêutica e até de aplicativos de marcação de consultas via celular.
Parte das novas oportunidades tem aparecido em empresas que apostam na oferta de atendimento médico mais acessível, uma alternativa para pacientes que não têm plano de saúde, mas não querem depender do Sistema Único de Saúde (SUS). Uma das companhias que crescem nesse nicho é a Global Med. Aberta em 2014, ela já tem duas unidades em operação, uma equipe com mais de 80 médicos de 30 especialidades e quase 15 000 pacientes. Ali, os atendimentos custam entre -55 e 140 reais, valores em média 70% mais baratos do que nas clínicas tradicionais. Segundo Bruno Carvalho, presidente da Global Med, apesar do valor mais baixo, esse modelo de negócio favorece a remuneração dos médicos. "As clínicas convencionais se sustentam graças aos convênios que, por conta das taxas, pagam abaixo do mercado", diz. Outra vantagem seria a garantia do movimento de pacientes, sem o custo de manter um consultório próprio. "Em consultórios particulares não há grande circulação, e os médicos acabam tendo de fechar esses locais."
FRANQUIAS
A GlobalMed também gera oportunidades pela venda de franquias. "Os médicos no geral possuem as competências técnicas, mas não a formação administrativa. Nós oferecemos um modelo de gestão pronto para quem deseja empreender", afirma Bruno Carvalho. O gastro cirurgião paulistano Ricardo Akiba, de 33 anos, é um dos franqueados. Ele percebia que boa parte da população vem perdendo o convênio médico por causa do desemprego. Mas a correria como coordenador da ala cirúrgica do Hospital Municipal Vereador José Storopolli. na capital paulista, e a falta de conhecimento em administração impediam que o projeto de empreender saísse do papel. Após conhecer a GlobalMed, ele tomou coragem e, em julho, inaugurou uma filial no centro de São Paulo. "Fui orientado sobre como escolher o melhor local, como adequar e padronizar o ambiente, além de receber supervisão para montar a equipe médica", diz Ricardo, que vê no investimento uma forma de complementar a renda.
A Fares, outra empresa do ramo de clínicas populares, também tem experimentado um crescimento acelerado. Em apenas três anos, saltou de duas para 16 clínicas e, até 2020, espera abrir mais 13 unidades na região metropolitana de São Paulo. Só entre 201-5 e 2016, seu quadro passou de 300 para 450 médicos. "Beneficência Portuguesa, Sírio Libanês, Albert Einstein, entre outros, são algumas das instituições de origem desses profissionais", diz Adiel Fares, presidente da Fares. "O consultório tem ficado caro e aqui temos uma otimização do marketing e a cultura de que os médicos recomendem uns aos outros aos seus pacientes."
Lançado em setembro de 2015, o aplicativo Docwayjá conta com uma base de 1 800 médicos atendendo 30 000 pacientes em mais de 120 cidades brasileiras. Uma espécie de 'Uber dos médicos', o dispositivo tem como proposta oferecer a consulta médica no local e na hora que o paciente precisar. "Queremos fortalecer a visita domiciliar para melhorar a qualidade do atendimento e tirar o tom impessoal da relação entre médico e paciente", diz Fábio Tiepolo, CEO da startup, de São Paulo.
FLEXIBILIDADE
Ao se registrar na plataforma, os médicos precisam apresentar desde o registro no Conselho Regional de Medicina até o diploma, para ter seu cadastro aprovado. Os pacientes, que também preenchem diversos dados pessoais ao se inscrever, podem escolher os profissionais de acordo com a localidade, especialidade, horário, preço e disponibilidade. Tanto o médico quanto a pessoa atendida podem avaliar um ao outro. De acordo com Fábio Tiepolo, a taxa de 15% cobrada dos médicos sobre o valor da consulta é vantajosa diante do baixo valor por consulta pago pelos convênios. Além disso, os profissionais não gastam com aluguel e montagem de consultório, afinal, os custos se limitam ao deslocamento até a casa do paciente. "Vejo muitos médicos que usam o aplicativo como uma fonte de renda a mais", diz o CEO da Docway. Este é o caso de Andrea Lemos, homeopata de 43 anos e gestora de uma empresa de home care em São Paulo. Ela costuma utilizar o aplicativo nas horas vagas para complementar a remuneração, fazendo atendimentos na região de onde estiver mais próxima no momento. "Não é preciso ir longe porque o próprio médico demarca a região onde quer atuar, e o preço da consulta acaba sendo maior do que o pago pelo convênio", diz a médica, que também elogia a flexibilidade de não ter de reservar um período do dia ou semana para esse trabalho. "Se eu não aceito a consulta por não estar disponível, algum colega irá pegar, como ocorre no Uber", diz.
A base da Docway é composta majoritariamente por médicos jovens, ainda sem recursos suficientes para montar um consultório próprio nem uma rede muito ampla de pacientes. "Nossa maior base são profissionais com até seis anos de formados, mas também há os mais experientes que querem conquistar novos pacientes ou são saudosistas da prática domiciliar", diz Fábio Tiepolo.
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
As oportunidades para os profissionais da área médica também têm crescido no universo corporativo. A farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK). por exemplo, tem aumentado a contratação de médicos para sua equipe de pesquisa científica, principalmente depois de colocar em prática, em dezembro de 201-5, uma ação para promover a função de especialista interno, na qual o médico passa apenas 20 horas semanais dentro da empresa. Tatiana Branco, diretora de assuntos médicos da GSK, explica que, antes, o médico contratado tinha de trabalhar para a farmacêutica em tempo integral, o que o obrigava a abrir mão da experiência clínica. "Nós identificamos, porém, que para uni melhor aproveitamento dentro da GSK, a experiência clínica é fundamental", diz a diretora. Segundo ela, no novo formato, após cumprir a carga horária dentro da empresa, os médicos podem dedicar o resto do seu tempo à atuação no ambiente universitário, em ambulatórios e em suas especialidades. "Nós sempre procuramos profissionais ligados a universidades, que sejam reconhecidos nas sociedades médicas por sua capacidade e que tenham passado por hospitais", diz ela. Atualmente, há sete médicos no cargo de especialista interno e 12 que se dedicam totalmente apenas à GSK.
Na Roche, só neste ano, foram 10 médicos contratados e ainda há cinco vagas abertas para profissionais da área. "Além da atuação como médico responsável pela estratégia e conhecimento científico relacionado a um determinado produto, o profissional pode atuar em diversas áreas, como acesso à saúde, marketing e pesquisa clínica", afirma Denise Morato, diretora de Recursos Humanos da Roche Farina Brasil. Ela acredita que os colaboradores que melhor se encaixam na farmacêutica são aqueles que gostam de buscar soluções inovadoras para a saúde. "O nosso maior desafio é fazer com que esses profissionais entendam a importância do papel que eles têm dentro da nossa indústria", diz a diretora de RH. "Mesmo quando não atua no atendimento direto ao paciente, na indústria farmacêutica o médico conhece de perto o processo que vai ajudar no desenvolvimento de tratamentos para diversos problemas da população", afirma Lenio Alvarenga, diretor médico da Roche.
10 formas de driblar a dor de cabeça
05/10/2016 - Revista Viva Saúde
Todo mundo já sentiu dor de cabeça um dia na vida. Esse tipo específico - a dor aguda - responde bem a analgésicos, anti-inflamatórios e não costuma incomodar por muito tempo. O problema é quando a dor se torna crônica e, muitas vezes, sem uma causa conhecida.
"A cefaleia pode ser considerada crônica quando acontece mais de 15 dias por mês, por pelo menos três meses consecutivos", diz Thais Rodrigues Villa, neurologista da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCE).
O fato é que existem mais de 500 tipos de cefaleia. Entre as cefaleias primárias -aquelas que nao são causadas por doenças como tumor, trombose, fratura ou acidente vascular cerebral (AVC) as mais populares são a cefaleia por tensão, a temida enxaqueca e a cefaleia em salvas.
PROBLEMA MUNDIAL
A enxaqueca é a principal causa das cefaleias crônicas e uma das mais incapacitantes. Ela acomete aproximadamente 2% da população mundial - o equivalente a 4 milhões de pessoas no Brasil. "Ela possui características próprias, como ser de moderada a forte intensidade, ser latejante ou pulsátil, acontecer principalmente na região frontal ou têmporas e predominantemente mais de um lado da cabeça. A enxaqueca vem acompanhada de outros sintomas específicos, como intolerância a luz, cheiro e sons, tonturas, náuseas e, às vezes, vômito", completa Thais.
Outro tipo de cefaleia bastante incomoda é a em salvas, que aparece várias vezes ao dia e acomete, principalmente, homens.
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
O tratamento da cefaleia crônica é multidisciplinar, ou seja, pode envolver não apenas um neurologista, mas psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, odontologistas, entre outros profissionais da saúde. O paciente deve I ser ativo no tratamento e tentar detectar fatores desencadeantes - como estresse, jejum ou 5 um alimento específico - a serem evitados.
OS GATILHOS SÃO TOTALMENTE INDIVIDUAIS
Tem paciente que a gente brinca que a dor aparece quando Deus quer, pois não tem fator desencadeante", conta Daniel Ciampi, coordenador do Centro de Dor do Departamento de Neurologia da Universidade de São Paulo.
MEDICAÇÃO E ACUPUNTURA
Existem medidas físicas que podem ajudar no combate da dor, como acupuntura e fisioterapia analgésica. Alguns pacientes podem necessitar de medicação para reduzir a sensibilidade neuronal, já que os nervos receptores de dor ficam anormalmente estimulados em casos de dor crônica. Por fim, em casos excepcionais, há a indicação de cirurgia.
"Implanta-se um estimulador na região cervical. Ele é um pequeno chip de plástico ligado a uma espécie de marca-passo", descreve Ciampi. A seguir, confira 10 dicas para ajudar pacientes que sofrem com dor de cabeça crônica a lidarem com o problema e ganharem qualidade de vida!
1. INVISTA NO BIOFEEDBACK
É uma técnica que proporciona maior controle sobre as reações do corpo às emoções. Para isso, utiliza aparelhos eletrônicos para medir os sinais emitidos pelo organismo (frequência cardíaca, temperatura, sudorese nas palmas das mãos, tensão muscular, pressão arterial e atividade cerebral) de acordo com o estado emocional em que a pessoa se encontra. "O paciente se torna consciente que essas reações também estão ligadas às crises de dor de cabeça. Com o treinamento em biofeedback desenvolve-se maior autoconhecimento e autocontrole, o que ajuda a prevenir as crises de cefaleia", informa Rose Fukue, psicóloga e pesquisadora do Setor de Cefaleias da Universidade Federal de São Paulo (ünifesp). Em média, são necessárias de 10 a 15 sessões de 45 minutos de biofeedback. "Não há contraindicações: o biofeedback pode ser usado em adultos, adolescentes e crianças", complementa.
2. MAIS ACUPUNTURA
Um estudo publicado na revista Archives of Internai Medicine concluiu pela eficácia da acupuntura em casos de cefaleia crônica. "Em uma sessão para dor de cabeça crônica, os pontos estimulados dependem do tipo de dor, sua localização (frontal, temporal ou parietal) e das características do paciente",feia Dirceu Sales, presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA). A acupuntura melhora o aporte de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina em áreas específicas do sistema nervoso central e minimiza as inflamações. "A acupuntura diminui a tensão muscular na cabeça e no pescoço e melhora a vasodilatação", diz Sales. Duas sessões semanais tratam o problema.
3. EFEITO DIETA REGRADA
Alguns pacientes com enxaqueca têm ^^ sua dor iniciada por alimentos. "Os mais comuns são aqueles que provocam reações quimicamente mediadas. Por exemplo: nitritos (cefaleia do cachorro-quente), glutamato monossódico (cefaleia do restaurante chinês), flavonoides fenólicos (vinho vermelho) etiramina (presente em alimentos defumados, queijos e laticínios)" lista Norma Fleming, neurologista da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED). O mesmo vale para o álcool, feniletilamina e aspartame. "Basicamente, todos agem na pressão arterial, podendo levar a crises", acrescenta Ana Luisa Vilela, nutróloga de São Paulo (SP). Vale ainda evitar jejuns prolongados.
4. MENOS PRESSÃO COM IOGA
O yoga cria, por meio de suas posturas (asanas) e práticas de respiração (pranayamas), uma descompressão musculoesquelética e nervosa. "A descompressão advinda, por exemplo, de um alongamento da espinha, alivia tensões e cargas que favorecem a diminuição de quadros ligados às dores de cabeça em geral", destaca Ana Luisa Matsubara, instrutora do Estudyo lyengar Yoga São Paulo. Ao praticante iniciante, são indicadas duas aulas por semana com duração mínima de 1h30. "É recomendado que o que foi assimilado em sala de aula seja replicado diariamente por 20 a 30 minutos", complementa.
5. E A TOXINA BOTULÍNICA?
Muita gente pensa que o popular botox atua apenas bloqueando a função motora do músculo - motivo pelo qual ele é usado para paralisar marquinhas de expressão. Entretanto, a substância é analgésica à medida que é captada pelos nervos de sensibilidade que levam a informação de dor para o sistema nervoso central (SNC). "Ela é carregada dentro do SNC e diminui o processamento da dor. É como se fosse o efeito de um aspirador de pó: o neurônio aspira a toxina e a carrega para dentro da casa dele, seja na medula, seja no corpo encefálico. É lá dentro que faz efeito analgésico", entrega Ciampi.
6. REMÉDIO CERTO
Para tratamento de dor aguda, analgésicos, anti-inflamatórios e até os das classes dos triptanos (específicos para enxaqueca) dão conta do recado. Em geral, eles duram de três a quatro horas. Porém o tratamento de dor de cabeça crônica exige fármacos que ajudem a reduzir a excitabilidade exagerada dos nervos sensoriais. "O engraçado é que nenhum remédio até hoje foi inventado para enxaqueca. Todos foram descobertos a partir de outras indicações, como depressão, convulsão, pressão alta e tontura", revela Ciampi. "É importante esclarecer isso para os pacientes, porque muitos leem a bula e ficam receosos", complementa. Segundo o neurologista, há uma nova classe de remédios que deve chegar ao mercado em breve para tratar enxaqueca. Elas atuam sobre o CGRP, um peptídeo liberado durante as crises. "Teremos fármacos para prevenir crises e outros para tratá-las", finaliza o neurologista.
7. EXERCÍCIOS FÍSICOS SIM!
Os pesquisadores Volker Busch e Charly Caul publicaram na revista Headache,em 2008, um estudo que evidenciou a eficácia do exercício no tratamento da enxaqueca. Eles analisaram oito pesquisas e quatro relatos de em caso sobre o tema. Os programas apostaram em resistência aeróbica (ciclismo, caminhada etc.). A frequência de treinamento foi de duas a três vezes por semana, com duração entre 20 e 60 minutos. Os mecanismos envolvidos nessa ação estariam relacionados ao aumento de endorfina e à liberação de óxido nítrico de longa duração levando ao relaxamento vascular. "Mas não deve ser feito exercício extenuante, que pode desencadear crises de enxaqueca", adverte Norma. Muitos pacientes queixam-se de não conseguir iniciar uma rotina de atividades físicas por causa da dor. "Nesse caso, alguns medicamentos podem ser associados. Conforme o paciente vai se acostumando com as atividades, as doses são diminuídas", orienta Malcon Botteon, fisiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
8. A ORDEM É MEDITAR
O estresse pode ser um gatilho para a enxaqueca. Por esse motivo, meditações como a mindfulness podem ajudar a prevenir crises e reduzira intensidade da dor. Estudos da neurocientista Sara Lazar, da Universidade de Harvard, revelaram por exames de imagens que oito semanas praticando mindfulness atua diretamente em áreas como o córtex pré-frontal, relacionado a funções como atenção e processamento sensorial. "Pessoas que sofrem com enxaqueca passam grande parte do tempo vigilantes de sua dor e têm uma tendência de lutar contra essas experiências, com autocríticas e julgamentos que acentuam ansiedade e rigidez", explica Vitor Friary, mestre em Psicologia Clínica pela London Metropolitan University e diretor do Centro de mindfulness (RJ). "Atécnica ativa áreas relacionadas à capacidade de regular emoções e de prestar atenção aos próprios pensamentos. Isso significa que o praticante aumenta seu potencial de se relacionar com problemas de uma maneira diferente, flexibilizando-se quando necessário e capaz de administrar emoções difíceis que surgem no contexto da dor", opina.
9. FAÇA ALONGAMENTO E MASSAGEM
A massagem e o alongamento cervical são importantes nas dores de cabeça por tensão. "Os músculos cervicais recebem a inervação das raízes cervicais altas. Esses nervos entram no sistema nervoso através de uma região chamada núcleo caudal trigeminal, local este que também serve de entrada dos estímulos dolorosos provenientes da cabeça. Com isso, uma cefaleia intensa pode causar dor muscular no pescoço, ou uma dor muscular cervical pode irradiar para a região craniana", detalha Norma. Segundo Luciano Lemos Colla, educador físico do Guarujá (SP), cada posição do alongamento deve durar entre 30 segundos a um minuto. "Pessoas que apresentam cefaleia frequente podem fazer o alongamento ao acordar, antes e depois das atividades físicas", recomenda.
10. COMPRESSAS FRIAS
A aplicação de uma compressa fria ou gelo na região cervical ou frontal pode ajudar no alívio da dor. "Parece funcionar pela ação anti-inflamatória e vasoconstritora local. Contudo, não é indicada a todos pacientes nem em todas crises", adverte Norma.
Inovações saudáveis
06/10/2016 - Folha de S.Paulo
Durante anos o Poder Judiciário contribuiu para desorganizar o já precário setor de saúde pública com onerosas decisões de juízes bem-intencionados, mas alheios à repercussão sistêmica de seus atos.
A judicialização da saúde tornou-se um fardo para o SUS. A despesa federal com determinações da Justiça para pagar tratamentos não oferecidos no sistema único saltou de R$ 120 milhões, em 2010, para R$ 1,1 bilhão em 2015 e estimados R$ 1,6 bilhão neste ano —sem contar gastos de Estados e municípios.
Custear o remédio milionário e fora da lista oficial para um contribuinte, por desesperadora que seja sua situação individual, prejudica a atenção dispensada aos demais. Os recursos do SUS, desnecessário dizer, são finitos. O dinheiro que a Justiça manda direcionar a uma única pessoa deixa de chegar a centenas de outras.
Reconhecendo essa realidade, o juiz federal Paulo Marcos Rodrigues, de Guarulhos, tomou um caminho diferente. Determinou que a União use verbas da publicidade oficial, e não do SUS, no montante aproximado de R$ 1 milhão ao ano, para fornecer medicamento importado a uma jovem com doença rara.
A União recorreu, mas o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, manteve a decisão.
Embora criativa, a solução decerto não tem o poder de afastar o problema. Afinal, as verbas de publicidade também são finitas; mais dia, menos dia, a questão da equidade voltará a se impor.
Não é outra a razão por que se aguarda a retomada do julgamento sobre a judicialização no Supremo Tribunal Federal (STF). Três ministros já se pronunciaram em favor de adotar critérios rígidos para dar acesso a drogas e terapias solicitadas por meio da Justiça.
Um dos votos nesse sentido partiu do ministro Luís Roberto Barroso. Ele admite exceções ao que estiver fora da lista do SUS, desde que o paciente comprove a impossibilidade de arcar com os custos, e o sistema público não tenha apresentado "expressa recusa" a incluir o remédio na sua relação.
No caso de terapias sem registro na Anvisa, Barroso condiciona o acesso excepcional a que tenham eficácia comprovada em testes e licença já requerida, mas sem decisão da agência por prazo não razoável (um ano ou mais).
Não há maneira simples de equilibrar os direitos em disputa. O Judiciário deve criar balizas a fim de conciliar o princípio da impessoalidade com a justiça compassiva de cada decisão concreta, mas sem substituir as autoridades eleitas na tarefa de elaborar políticas públicas para o conjunto da população.
Notícias sobre erradicação do HIV? Muita calma nessa hora
05/10/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Nos últimos dias, muitas notícias foram divulgadas com manchetes sugerindo que "a cura do HIV está próxima". Cuidado! Esses títulos chamam nossa atenção na hora –o que é, claro, o que uma boa manchete deve fazer–, mas falar de uma descoberta revolucionária é bastante prematuro.
As notícias citavam um inglês HIV positivo que recebeu um tratamento, ainda em fase de testes, para erradicar o vírus de seu corpo. Testes clínicos feitos durante tratamento, chamado River (sigla em inglês para Research in Viral Erradication of HIV Reservoirs), mostraram que aparentemente não há mais sinais do vírus no sangue do paciente.
Isso pode soar incrível, a não ser que você saiba que o tratamento com antirretrovirais, ao qual o paciente estava sendo submetido, já reduz o HIV a níveis indetectáveis. Os próprios responsáveis pelo River divulgaram uma nota repudiando manchetes que indicavam que o estudo estava próximo de encontrar a cura:
"Não ter sinais do HIV no sangue não significa que os pacientes foram curados, como alguns textos sugerem (...) Esperamos ansiosos os resultados finais desse estudo inédito, mas até lá é preciso enfatizar que não podemos afirmar que um paciente tenha respondido ao tratamento ou tenha sido curado."
CARGA VIRAL
A responsável pela pesquisa, a professora de Medicina do Imperial College London e especialista em HIV, dá detalhes: "Todos que participaram do estudo estavam tomando antirretrovirais e, por isso, têm uma carga viral indetectável, que mostra o grande sucesso deste tratamento."
De fato: a medicação para HIV vem fazendo a doença passar de uma sentença de morte para uma condição crônica, mas administrável –e isso é extraordinário.
Mas a limitação dos antirretrovirais é que eles não eliminam o HIV. O vírus continua dormente em algumas células e começa a se multiplicar se o paciente para de tomar a medicação. É por isso que antirretrovirais devem ser tomados a vida toda. Mas o que o River está tentando fazer é eliminar completamente o vírus do corpo.
'CHUTAR E MATAR'
Até o momento, 39 pacientes foram recrutados. Todos vão receber retrovirais, mas metade também receberá um medicamento que força o vírus a emergir de partes do corpo onde estão escondidos.
Esses pacientes também vão receber duas vacinas para fortalecer o sistema imunológico ao ponto que ele consiga atacar as células infectadas com o HIV –essa estratégia chamada é chamada de "chutar e matar". Esse paciente, cuja identidade não foi revelada, é simplesmente o primeiro do grupo a completar o tratamento.
O estudo só deve ter resultados em 2018. Ele está sendo feito por um grupo de pesquisadores de faculdades britânicas renomadas, como Oxford, Cambridge, University College London e Imperial e King's College. A parceria teve início há seis anos, justamente para buscar a cura para o HIV.
"Esse tipo de colaboração é inédito, e os testes clínicos mostram um progresso notável", diz Mark Samuels, diretor do National Institute for Health Research Office for Clinical Research Infrastructure, que criou a parceria entre as faculdades.
Mas quando então os pesquisadores vão poder cravar que o River é mesmo um sucesso? Isso ainda vai levar tempo, já que exige uma análise de sangue detalhada dos voluntários. "Vamos fazer testes genéticos muito específicos para investigar se há vírus HIV dormentes dentro das células", disse John Frater, professor de Doenças Infecciosas da Universidade Oxford.
Todos os voluntários foram infectados há pouco tempo, o que significa que eles têm um reservatório pequeno do vírus e o sistema imunológico deles ainda não foi prejudicado várias vezes - como acontece com pessoas infectadas há bastante tempo.
Assim, se for possível curar o HIV, esses pacientes podem ser considerados um alvo fácil. E mesmo que o River seja considerado um sucesso, é preciso cautela na hora de interpretar os resultados porque isso não pode ser reproduzido em um paciente que tem HIV há bastante tempo.
"Já foi demonstrado que, em tubos de ensaio, é possível tirar o vírus de células dormentes. Mas teremos de esperar para ver se o mesmo acontece em pacientes", disse Michael Brady, diretor médico da fundação Terrence Higgins Trust. "E mesmo se funcionar, não podemos falar em cura para todo mundo, já que precisaremos de estudos testes mais amplos."
PACIENTE DE BERLIM
Até o momento, apenas uma pessoa parece ter sido curada de uma infecção de HIV. Timoty Ray Brown, conhecido como "o paciente de Berlim", recebeu um transplante de medula óssea de um doador com uma imunidade natural ao vírus. No entanto, esse tipo de transplante pode ser perigoso, e por isso ele nem sempre é recomendado.
Em outro caso, um estudo feito na Califórnia com 80 pacientes HIV vem tentando modificar as células para simular as mutações genéticas de pessoas que têm uma imunidade natural ao vírus.
Um dos voluntários desse estudo, Matt Chappel, está há dois anos sem medicação. Um outro resultado promissor. Ainda assim não custa repetir, sobre qualquer um dos estudos: falar em cura é muito prematuro.
Pesquisa constata alta incidência de câncer de mama antes dos 50 anos
05/10/2016 - G1 - Bom dia Brasil
Um hospital especializado no tratamento de câncer de mama, em São Paulo, fez uma pesquisa e descobriu que quatro em cada dez pacientes tiveram a doença antes dos 50 anos. É antes do que se imaginava, porque, inclusive, o próprio Ministério da Saúde recomenda fazer a mamografia a partir dos 50 anos.
Todos sabem que começar o tratamento no início da doença aumenta muito a chance de cura. Cinco anos depois do diagnóstico, 96% das mulheres que descobriram o câncer na fase mais precoce estavam vivas.
Outubro rosa contra câncer
06/10/2016 - Correio Braziliense
Ao longo das próximas 24 horas, você vai acordar, trabalhar exaustivamente, ter um pouco de lazer e dormir. Nesse mesmo intervalo, 156 brasileiras vão descobrir que têm câncer de mama. Esse tipo de tumor é o que mais afeta as mulheres — cerca de 22% dos novos tumores a cada ano são desse tipo, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para chamar a atenção ao diagnóstico precoce, a campanha Outubro Rosa, criada em 1990 nos Estados Unidos e agora popular no mundo todo, tenta conscientizar a população ao longo do mês.
Promovida no Brasil pelo Inca, a campanha deste ano tem o mote “Vamos falar sobre isso?”, com o objetivo de levantar discussões e fortalecer o diagnóstico. O rastreamento precoce, aliás, é essencial para reduzir a mortalidade. No entanto, os exames nem sempre estão ao alcance da população — no Brasil, o SUS só os recomenda para mulheres acima de 50 anos.
A decisão leva em conta a prevalência da doença, o que costuma acontecer a partir da quinta década de vida. Contudo, um levantamento do Camargo Cancer Center com 4.527 pacientes, feito entre 2000 e 2010, mostrou que quatro em cada 10 mulheres com câncer de mama diagnosticado na instituição tinham menos de 50 anos e não descobririam o tumor se tivessem seguido a orientação do ministério. A Sociedade Brasileira de Mastologia, aliás, recomenda o exame a partir dos 40 anos.
“A gente vê o paciente perdido no sistema”, diz Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, ONG que nasceu em 2009 para fornecer informações e apoio a pacientes com câncer. Ela explica que a maioria das pessoas não costuma conhecer direitos essenciais — como a garantia ao tratamento em no máximo 60 dias após o diagnóstico.
A desinformação e o baixo acesso a tecnologias são as principais causas de mortalidade. Só no Brasil, quase 14,5 mil pessoas morreram por câncer de mama em 2013, conforme o Inca. O índice estabilizou ou está diminuindo no Sul e Sudeste, mas segue aumentando em outras regiões, sobretudo no interior, diz Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Albert Einstein. “Não é só curar, mas também cuidar do paciente e tratar a doença”, defende
A prevenção é comum a outros tipos de câncer: evitar obesidade, álcool e tabagismo, praticar atividade física e ter alimentação saudável. Mais especificamente, é recomendado amamentar e evitar a reposição hormonal após a menopausa. No caso do câncer de mama, tais cuidados são essenciais porque, ao contrário do que muita gente pensa, o fator genético não é fundamental para o aparecimento da doença. “Na imensa maioria dos casos, o câncer aparece porque houve uma mutação na célula, e não porque a pessoa tem uma predisposição a um gene anômalo”, diz Kaliks.
CÂNCER METASTÁTICO
O câncer de mama pode ser classificado em três fases: precoce, quando é apenas restrito à mama; localmente avançado, quando atinge mama e axila; ou metastático (avançado), quando se espalha para outras partes no corpo.
Cerca de 30% das mulheres desenvolvem esse nível mais grave, mesmo que a doença seja diagnosticada cedo, segundo um estudo publicado no periódico The Oncologist. É um recorte considerável.
A campanha Cada Minuto Conta, promovida pela Pfizer em parceria com a União Latino-Americana Contra o Câncer da Mulher, é uma das mobilizações que vai ocorrer neste mês em São Paulo capital. Uma das ações vai acontecer nas estações de metrô.
Transeuntes serão questionados sobre os conhecimentos sobre mitos e verdades acerca do assunto. Apesar de a palavra “metástase” muitas vezes estar associada à morte, a relação não necessariamente é esta.
Aliás, a ciência avançou bastante e desenvolveu medicamentos que conseguem atuar diretamente nas células cancerígenas e oferecer uma maior expectativa de vida às pacientes. É o caso da aposentada Elfriede Galera, de 65 anos, moradora de São Paulo.
Em 2010, ela foi diagnosticada com câncer de mama metastático nos ossos e pulmão, cerca de dois anos após ter ido ao posto de saúde reclamar de assimetria na mama. “Na época, ouvi do médico que meu problema era ter uma pia cheia de louça para lavar”, conta, ao descrever a falta de preparo do profissional ao lidar com o assunto.
Após realizar quimioterapias e uma mastectomia na mama esquerda em 2012, ela convive com a doença em nível avançado. A aposentada reforça que não tem nenhum empecilho e desempenha normalmente suas atividades. Hoje, ela atua como “embaixadora” do Instituto Oncoguia para divulgar que pacientes com câncer metástatico podem, sim, ter uma vida normal.
O marido é peça-chave na história: os dois construíram um veleiro, fizeram vaquinha virtual para arrecadar fundos e criaram a página Veleiro Augenblick, para documentar o processo que a ajuda a ter forças. “Ter um objetivo faz muito bem”, diz. Apesar de Elfriede ser bastante franca e direta, o assunto é espinhoso e nem todo mundo gosta de abordá-lo. “Sinto mais facilidade de falar sobre isso com criança do que com adulto”, relata.
14,5 MIL
Número de mulheres vítimas de câncer de mama no Brasil em 2013.
Avanços no transplante de útero
06/10/2016 - Correio Braziliense
Para muitas mulheres, engravidar é algo impossível mesmo por meio das técnicas de reprodução assistida. Seja porque tiveram de retirar o útero ou devido a anomalias no órgão, são incapazes de gerar. A elas resta esperar que, um dia, transplantes uterinos se tornem viáveis. Cirurgias experimentais recentes têm indicado avanços nesse sentido. Enquanto que, na América Latina, o primeiro transplante de útero foi realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 20 de setembro, ontem, o Hospital Universitário de Baylor, em Dallas, nos Estados Unidos, divulgou a realização de quatro cirurgias do tipo. O raro, nesse caso, é que todas as doadoras estão vivas.
Antes do procedimento de Baylor, foram feitas 17 cirurgias semelhantes no mundo, incluindo a brasileira. Até agora, porém, apenas cinco resultaram no nascimento de bebês. De acordo com os médicos responsáveis pelos procedimentos nos Estados Unidos, realizados entre 14 e 22 de setembro, a equipe reviu, ao longo de dois anos, todos os transplantes prévios antes de decidir se aventurar nessa área.
A identidade e a motivação das doadoras não foram divulgadas. A equipe afirmou apenas que elas têm entre 35 e 60 anos e foram escolhidas entre 50 voluntárias. “Fiquei totalmente impressionado. Elas nos disseram: ‘Nós tivemos nossa chance de nos tornarmos mãe e, agora, nosso útero não nos serve mais. Poderemos doá-lo para quem realmente deseja”, afirmou o cirurgião chefe, Giuliano Testa, à revista Time, que revelou a história com exclusividade.
Por meio de uma nota, a assessoria de imprensa do hospital disse que as quatro receptoras, com idade de 20 a 35 anos, sofrem da síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser, uma anomalia congênita do aparelho reprodutor que afeta uma em cada 5 mil ou 7 mil mulheres em todo o mundo. Quem tem o problema nasce sem útero e ovários, e com pouca profundidade vaginal. Não há estatísticas da incidência dessa doença rara no Brasil.
O procedimento do Hospital das Clínicas da USP também foi executado em uma mulher com essa síndrome. Ela recebeu o útero de uma paciente de 40 anos que teve morte cerebral. Por enquanto, não há sinais de complicações. Chefe do serviço de transplantes e professor da USP, Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque explicou que a equipe foi à Suécia aprender melhor sobre o procedimento. Em Baylor, os cirurgiões receberam uma equipe da Universidade de Gotemburgo que participou dos quatro transplantes. “Eles são os maiores especialistas em transplante uterino, na medida em que cinco nascimentos resultaram das cirurgias que fizeram”, disseram na nota.
REMOÇÃO
Em três das quatro pacientes operadas na instituição norte-americana, depois de vários testes, os médicos notaram que não havia suprimento sanguíneo suficiente para abastecer o novo órgão, por isso, os úteros foram removidos. Os cirurgiões disseram que esses casos vão ajudá-los a aprimorar o procedimento. “Os testes de acompanhamento da quarta paciente indicam um resultado muito diferente”, disseram os cirurgiões. Os exames, de acordo com eles, mostram bom fluxo sanguíneo para o útero, além de não haver sinais de rejeição nem infecção por enquanto. “Estamos cautelosamente otimistas de que ela poderá ser a primeira receptora de um transplante uterino nos Estados Unidos a conseguir ter um útero funcional”, continuaram.
Em fevereiro, um procedimento semelhante foi realizado pelo Hospital da Universidade de Cleveland, nos Estados Unidos. Porém, dois dias após a divulgação de que havia sido um sucesso, a instituição anunciou que teve de retirar o útero porque a receptora rejeitou o órgão. Depois disso, o programa experimental de transplantes uterinos de Cleveland foi suspenso.
Diferentemente de outros órgãos, o útero transplantado tem de ser retirado do corpo em, no máximo, três anos. Toda pessoa que recebe um transplante precisa tomar fortes medicamentos para evitar a rejeição. As drogas imunossupressoras, embora sejam fundamentais para o sucesso da adaptação do corpo ao novo órgão, podem causar tumores. Para minimizar esse risco, as receptoras têm de retirar o útero logo após o nascimento do filho, gerado naturalmente ou por reprodução assistida.
A paciente brasileira vai começar tratamento hormonal para engravidar daqui a seis meses. “Tudo correndo bem, a expectativa é de que, em um ano, ela possa tentar engravidar”, disse Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, da USP, em nota do Portal do Governo de São Paulo. Ele explicou que a equipe tem oito embriões fertilizados com o sêmen do marido. De seis a 12 meses também foi o prazo indicado pela equipe de Baylor para a americana começar a tentar engravidar.
TÉCNICA PRECISA SER APRIMORADA
Diretor do Centro de Reprodução Humana FertilCare, Frederico Corrêa ressalta que o transplante de útero não se trata de um procedimento simples. “Ainda é experimental, com poucos casos. Para desenvolver a técnica, o sueco Mats Brännström levou 15 anos de pesquisa e ela ainda precisa ser aprimorada. É algo para o futuro, temos de esperar o tempo sedimentar o procedimento”, diz.
O médico esclarece que, mesmo que esse transplante se torne mais comum, poucas mulheres precisariam recorrer a ele. “A principal causa da infertilidade na mulher está associada ao ovário, não ao útero. O útero, só quando há a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser ou quando a mulher teve de retirar por causa de uma doença, como câncer”, diz. O transplante de ovário, por sua vez, já é mais usual e, geralmente, se realiza com o órgão da própria paciente, que é congelado antes da realização de tratamentos como a quimioterapia. Mas também existem casos documentados de transplante de outra doadora.
Desde o anúncio dos primeiros transplantes de útero, uma questão ética foi colocada na mesa: valeria a pena expor a mulher a um procedimento complexo e às drogas imunossupressoras já que o útero não é um órgão vital? Especialista em reprodução assistida, Frederico Corrêa acredita que sim. “O conceito de saúde envolve o bem-estar físico e social. Uma mulher que quer muito engravidar e não consegue pode até tentar suicídio. Há muitos casos de depressão, de separação... Não dá para dizer que esse tipo de transplante não é importante porque o desejo de ter um filho é um problema de saúde como qualquer outro.”(PO)
“Não dá para dizer que esse tipo de transplante não é importante porque o desejo de ter um filho é um problema de saúde como qualquer outro”
Frederico Corrêa, diretor do Centro de Reprodução Humana FertilCare
ANS propõe a planos novo fluxo de atendimento a pacientes com câncer
05/10/2016 - Portal EBC
Organizar o atendimento de pessoas com câncer e incentivar a prevenção na rede privada de saúde pode salvar vidas. Com esse objetivo, a Agência Nacional de Saúde (ANS) lançou hoje (5) o projeto Oncorede, em parceria com o hospital oncológico AC Camargo Cancer Center, seguradoras de saúde, associações médicas e com a Fundação do Câncer. A iniciativa reúne 13 medidas que podem melhorar a prestação de serviços e oferece auxilio à rede na adesão.
O projeto identificou gargalos no atendimento aos pacientes com câncer e propôs medidas para melhorar o fluxo, sem entrar nos detalhes do tratamento de cada um. A expectativa é que as mudanças tornem o diagnóstico mais preciso e incentive boas práticas, como os cuidados paliativos, de acordo com a diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, Martha Oliveira, responsável pelo projeto.
Umas das falhas no sistema está no momento entre a realização de exames e o diagnóstico, segundo ela. “Se a gente garantir, da patologia e da radiologia, que todos os laudos com suspeita de câncer ou confirmados sejam entregues ao paciente, ao médico que pediu e, a partir dali, seja disparado o tratamento, já diminuímos um hiato que há na saúde suplementar, onde pacientes ficam perdidos, sem resgatar resultados, simplesmente deixam para lá. Precisamos articular para que a pessoa não fique perdida, com o resultado na mão, e para que comece o tratamento.”
A diretora da ANS também destacou a necessidade de busca ativa de pessoas com potencial de desenvolver a doença, como é o caso de mulheres acima dos 40 anos e que devem fazer exames de câncer de mama pelo menos uma vez ao ano. “Essa população, em que os riscos estão bem comprovado os riscos, não conseguimos atingir. Por outro lado, fazemos exames em pessoas que não têm benefício direto com aquele exame, como as mais jovens”, comparou.
CÂNCER NO BRASIL
O câncer é uma das doenças que mais matam no mundo. No Brasil, é a segunda maior causa de morte. Os casos mais recorrentes são de câncer de pele, de próstata e de mama. Em 2016, o número de diagnósticos deve chegar a 596 mil. Segundo a diretora da ANS, o aumento de casos a cada ano exige um novo modelo de cuidado, ouvindo os pacientes.
“Hoje o sistema está desorganizado. Como elas [as seguradoras] são refratárias a discutir o sistema, elas pagam errado e vão pagando”, afirmou. “Precisamos fazer entender que, se houver um serviço de cuidado paliativo para a pessoa morrer com mais qualidade, não é um gasto a mais. É só uma reorganização. Ela já ia pagar a UTI [Unidade de Terapia Intensiva], vai deixar de pagar a UTI para pagar outro serviço no qual o paciente vai ter mais qualidade”, ponderou.
Durante o lançamento do projeto, no centro do Rio de Janeiro, representantes de seguradoras, que serão as responsáveis por aplicar o novo modelo, reclamaram de não terem sido ouvidas na elaboração das diretrizes. O superintende executivo da Unimed, Adriano Leite Soares, disse que seria “prudente” a participação dos planos desde o início e que não acredita no sucesso das medidas sem o compartilhamento das atribuições com o Sistema Único de Saúde (SUS).
Para auxiliar a rede privada na adesão ao projeto, um portal na internet vai detalhar cada ação e oferecer suporte às seguradoras, a hospitais e clínicas que tiverem interesse na iniciativa. As mudanças no atendimento não são obrigatórias.
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