4 em 10 diagnósticos de câncer de mama foram feitos antes dos 50, mostra estudo
03/10/2016 - O Estado de S.Paulo
Embora o Ministério da Saúde recomende a realização periódica da mamografia somente a partir dos 50 anos, um novo estudo feito pelo A.C. Camargo Cancer Center traz de volta a polêmica sobre a idade a partir da qual as mulheres devem fazer o exame capaz de detectar o câncer de mama.
Levantamento do hospital com 4.527 pacientes mostra que 40% das mulheres que receberam o diagnóstico da doença entre os anos de 2000 e 2010 no centro médico tinham menos de 50 anos e não descobririam o tumor se tivessem seguido a orientação do ministério.
Do total de pacientes acompanhadas, 11,4% descobriram a doença até os 39 anos e outras 28,7%, entre os 40 e os 49 anos.
A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o exame a partir dos 40 anos.
“Não podemos dizer que os dados do A.C. Camargo refletem toda a realidade brasileira, até porque somos um centro de referência em oncologia e isso leva a mais diagnósticos precoces. No entanto, esse estudo mostra que vale a pena investir na mamografia mais cedo.
Sabemos que a curva de incidência da doença começa a aumentar a partir dos 40 anos e, quanto mais cedo descoberto o tumor, maior a chance de cura”, diz Fabiana Baroni Makdissi, cirurgiã oncologista e diretora de Mastologia do A.C. Camargo.
Os dados do levantamento provam o quanto o diagnóstico precoce é decisivo no sucesso do tratamento. Do total de mulheres que descobriram a doença no estágio 1, 96,1% estavam vivas após cinco anos. No grau 2, eram 89,2%. No estágio 3, o índice foi de 71,6%, número que caiu para 30,3% no estágio 4, o mais avançado.
SINAL
Diagnosticada com câncer de mama aos 37 anos, a supervisora de vendas Patrícia Rosa Moreira, hoje com 40, atribui à sorte a realização da mamografia que a fez descobrir a doença.
“Foi por acaso. Eu fui doar sangue e deu uma alteração nas plaquetas.
Resolvi fazer um checkup e pedi para a médica uma guia para fazer mamografia. Ela não queria dar de jeito nenhum, disse que eu ainda não estava na idade, mas eu bati o pé e ela deu”, conta.
O exame feito em 2014 detectou o tumor no grau 2. A supervisora teve de retirar a mama esquerda, fazer 16 sessões de quimioterapia e 25 de radioterapia.
“O câncer já estava com 4 centímetros e eu não tinha nenhum sintoma, ele não era palpável.
NUNCA DESCOBRIRIA SEM UM EXAME
Se eu tivesse feito a mamografia aos 50 anos, ele já estaria espalhado pelo corpo.” O tratamento terminou em dezembro de 2015 e, hoje, Patrícia aguarda pela cirurgia de reconstrução mamária, prevista para dezembro ou janeiro. “Enquanto eu estava no hospital, conheci muitas moças, de menos de 30 anos, com a doença. Acho errado passarem a mamografia só a partir dos 50 anos.” O Ministério da Saúde diz que segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de realização da mamografia para fins de rastreamento entre os 50 e 69 anos, porque “essa é a faixa etária com maior efetividade na prevenção e que possui evidência científica de impacto na mortalidade”.
A pasta diz ainda que orienta os médicos a solicitarem o exame antes às pacientes que tenham histórico da doença na família, especialmente se uma parente de primeiro grau tenha recebido o diagnóstico antes dos 50 anos. Nesses casos, a recomendação é que as mulheres passem por avaliação médica a partir dos 35 anos para que sejam definidos os exames necessários.
Isso porque, no caso de mulheres mais jovens, com estrutura mamária diferente por causa da idade, nem sempre a mamografia é suficiente – podem ser solicitados ultrassom ou ressonância magnética.
POLÊMICA
Há quem critique a realização de mais mamografias para fins de rastreamento por causa do risco de resultado falso positivo – quando o exame inicial aponta a presença de uma lesão que não se confirma maligna em exames adicionais.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, a recomendação para realização da mamografia periodicamente não resultou em queda da taxa de mortalidade por câncer de mama.
Além disso, diz a entidade, o falso positivo pode causar danos às mulheres, como ansiedade, estresse e procedimentos desnecessários.
A oncologista do A.C. Camargo afirma que os benefícios do rastreamento são maiores do que os malefícios. “Por mais que, em alguns casos, a mamografia aponte a suspeita e ela seja descartada depois, em outros casos, o exame vai possibilitar que a mulher descubra mais cedo e tenha mais chances de cura”, afirma Fabiana.
Fim de jejum para exames pode estar próximo
02/10/2016 - Folha de S.Paulo
Uma ideia que agrada aos hipocondríacos de plantão é a flexibilização da necessidade de jejum para a realização de exames de sangue, como aqueles que avaliam os níveis de colesterol e de triglicérides.
A ideia não é nova e a principal implicação, claro, além da comodidade para o paciente, é a otimização do fluxo em laboratórios de análises clínicas.
O fluxo de pacientes poderia ser melhor distribuído ao longo do dia e não só no período da manhã, quando pessoas de todas as faixas etárias se amontoam em busca da realização dos exames.
O problema, pelo menos até agora, era a falta de conversa entre as sociedades médicas, o que dificulta uma mudança uniforme entre os laboratórios sem causar confusão na cabeça dos clínicos que solicitaram os exames.
Isso porque os parâmetros são realmente sensíveis ao estado alimentar do organismo. Obrigar o jejum seria uma maneira de uniformizar as pessoas para que as medidas caiam em uma faixa "normalizada".
Desse modo, a faixa de normalidade é mais estreita e a comparação entre indivíduos é facilitada.
Segundo Carlos Eduardo Ferreira, da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, porém, o jejum poderia mascarar o risco cardiovascular do paciente a ser revelado pelos exames.
"Se houver alteração dos níveis de colesterol mesmo após as refeições, já pode ser um indicativo de que algo está errado", diz.
O médico afirma que as diretrizes já foram alteradas em vários países da Europa e devem ser implantadas de maneira mais uniforme no Brasil em breve.
Ainda é necessário o jejum para avaliar casos elevados de triglicérides, que em concentração elevada pode atrapalhar a leitura de outros testes.
A glicemia de jejum também é importante para o diagnóstico de diabetes, "embora outro exame, a hemoglobina glicada, que não precisa de jejum, também possa ajudar no diagnóstico da doença", afirma Ferreira.
Abastecimento de vacinas será normalizado em 2017, diz ministério
01/10/2016 - Valor Econômico / Site
O desabastecimento de vacinas no Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser superado até o final de 2017, segundo a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues. Segundo Carla, o problema é de produção e não há nenhuma influência da crise econômica. As informações foram dadas durante a 18ª Jornada Nacional de Imunizações, que reúne médicos e outros especialistas em Belo Horizonte de quinta-feira até hoje.
Carla Domingues explica que diversos laboratórios públicos nacionais, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estão passando por um processo de adequação desde 2014 para receberem o certificado de Boas Práticas de Fabricação (BPF). Espera-se que todos eles estejam em condição de obter a certificação no fim deste ano e possam, dessa forma, retomar a produção. Se correr como planejado pelo Ministério da Saúde, a situação deverá estar totalmente normalizada até o fim de 2017.
O principal problema é com a BCG, que previne contra a tuberculose e é aplicada em recém-nascidos. Também há dificuldades com a vacina contra a raiva e com os soros. Diferente das vacinas, que estimulam o corpo do paciente a criar anticorpos, os soros são compostos de anticorpos previamente produzidos em outro organismo.
"Ainda vamos viver um ano com necessidade de otimização. Por isso, é muito importante a prescrição adequada de soros e vacinas para que sejam destinadas exatamente para quem precisa", disse Carla. A ausência dessas vacinas produzidas em solo nacional não é total, embora a distribuição aos Estados esteja muito aquém dos quantitativos de uso mensal, mas a situação é pior para as que são produzidas no exterior.
As vacinas contra hepatite A e a DPTa, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, estão com 100% de desabastecimento. Esses dois imunizantes não são destinados a toda a rede pública e sim para os centros de Referência em Imunológicos Especiais (CRIEs), que atendem pacientes com problemas de saúde específicos, como alérgicos, imunodeprimidos, infectados por HIV, pessoas que realizam tratamento de quimioterapia ou radiação, entre outros.
Segundo a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, a produção das vacinas no exterior também enfrenta problemas e o fornecimento ao mercado internacional foi afetado. "Estamos falando de um material biológico em que os processos produtivos são sujeitos a instabilidades. Em um momento pode produzir mais, em outra hora, menos. O produto também passa por um rigoroso controle de qualidade e se tiver alguma contaminação, tem que ser desprezado", explicou.
Carla descarta que a crise econômica brasileira esteja entre os fatores responsáveis pelo desabastecimento. O problema seria exclusivo de produção nacional e internacional. "Desde 2013, temos uma lei que estabelece a obrigatoriedade do Programa Nacional de Imunizações. Mesmo se houver um contingenciamento no orçamento do Ministério da Saúde ou do Governo Federal. Os investimentos nas vacinas não podem sofrer cortes", ressaltou.
Saúde não tem preço, mas tem custos
01/10/2016 - Época
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal retomou o julgamento de um dos mais difíceis temas já enfrentados pela Corte: o direito de receber medicamentos de alto custo não previstos nas listas do Sistema Único de Saúde (SUS) - ou ainda sem registro no país. Na véspera da sessão, a empregada doméstica Alcirene de Oliveira, de 37 anos, cujo caso provocou a discussão no Supremo, estava ansiosa por ouvir dos ministros uma solução para seu drama - um drama como o de outros milhares de brasileiros que, todos os anos, buscam a Justiça na tentativa de fazer valer o direito universal à saúde. Como faz todas as noites, Alcirene sentou na beira da cama de casal onde dorme sozinha em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em seguida, introduziu um tubo flexível no orifício aberto cirurgicamente na parte inferior do abdome. Vítima de insuficiência renal crônica desde a adolescência, ela depende de um recurso artificial para continuar viva. Durante o sono, o sangue é filtrado para a remoção de água e toxinas. Um ritual repetido 365 dias por ano.
O mau funcionamento dos rins provocou um distúrbio hormonal chamado de hiperparatireoidismo. Ele causa degradação óssea, dores articulares e doença cardiovascular. Em 2008, depois de se tratar com remédios convencionais sem sucesso, Alcirene procurou a De- tênsoria Pública e exigiu na Justiça o fornecimento de um medicamento importado - o Mimpara (cloridrato de cinacalcete). Ele não fazia parte das listas do SUS e nem sequer tinha registro na Anvisa. O juiz acatou o pedido. Durante um ano, Alcirene tomou o remédio. “Fez toda a diferença. Meus exames de sangue melhoraram e as dores diminuíram”, afirma. A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais recorreu da decisão e, em 2009, a paciente deixou de receber o tratamento. Passou a mitigar a doença com outras drogas disponíveis na rede pública e restrições alimentares. A Defensoria Pública levou o caso ao STF. Anos se passaram até que o recurso fosse apreciado pelos ministros. Tempo suficiente para que o Mimpara fosse aprovado pela Anvisa. Desde setembro do ano passado, ele faz parte dos protocolos de tratamento do SUS.
HISTÓRIA EXEMPLAR
A empregada doméstica Alcirene de Oliveira, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ela exigiu do SUS um remédio importado.
O CASO CHEGOU AO STF
sim, a empregada doméstica não consegue recebê-lo com regularidade. Comprar o remédio é impossível. Para isso, ela precisaria gastar mais de R$ 2 mil por mês — quase o triplo do valor da aposentadoria por invalidez com a qual sobrevive.
Os ministros entenderam que o caso de Alcirene era de repercussão geral. Assim como o de outra cidadã que exigiu do governo do Rio Grande do Norte um tratamento de alto custo contra a hipertensão arterial pulmonar. Isso significa que a decisão do STF será aplicada posteriormente pelas instâncias inferiores, em casos idênticos. O tema é dos mais sensíveis. De um lado, há os dramas individuais de cidadãos que lutam pela vida e acreditam ter o direito a todo e qualquer recurso criado pela indústria farmacêutica. Se o Artigo 196 da Constituição determina que “saúde é direito de todos e dever do Estado”, eles esperam ver todas as necessidades atendidas, custe o que custar. Em vigília em frente ao tribunal, pacientes e familiares argumentavam que negar tratamento equivale a condenar o doente à morte.
Do outro lado, estão os gestores públicos, que têm a obrigação de zelar pelo direito coletivo à saúde. Os administradores têm a expectativa de que a Suprema Corte interrompa a escalada das ações judiciais que, até o final do ano, deverá consumir RS 7 bilhões dos municípios, dos estados e da União, segundo estimativa do Ministério da Saúde . “Não há solução juridicamente fácil nem moralmente barata aqui”, disse o ministro Luís Roberto Barroso, durante a sessão. “É preciso reconhecer o esgotamento do modelo segundo o qual é possível dar tudo a todos. No contexto de escassez de recursos, escolhas trágicas precisam ser feitas.” A complexidade do tema levou ao adiamento da decisão pela segunda vez em duas semanas. O ministro Teori Zavascki pediu vista do processo - algo que Barroso havia feito na sessão anterior. Três ministros votaram, sem que houvesse acordo total entre eles. Não há data definida para a retomada do julgamento. O ministro Marco Aurélio Mello é a favor do fornecimento de medicamento de alto custo, desde que pacientes e familiares não possam custear o tratamento. Ele defende que o SUS forneça remédios importados, desde que o produto tenha registro em outros países e não existam similares no Brasil. Segundo o ministro Edson Fachin, o Estado pode ser obrigado a fornecer medicamentos dispendiosos não previstos na rede pública, quando eles já tiverem sido registrados na Anvisa. Admite exceções, caso a agência demore a analisar o pedido de registro da droga pelo fabricante.
Num voto longo e cheio de ponderações acerca do funcionamento do SUS, o ministro Luís Roberto Barroso ressaltou a importância das escolhas de saúde baseadas em avaliações técnicas. Argumentou que a judicialização traz um problema de legitimidade democrática. “Não podem ser os juízes a fazer escolhas alocatícias se eles não estudaram medicina nem foram eleitos para decidir o que fazer com o orçamento da saúde.” Para o ministro, os governos não podem ser obrigados a custear remédios fora da lista do SUS. Defendeu exceções, com base em cinco critérios. Entre eles, que o medicamento não tenha sido recusado em análise da comissão técnica do Ministério da Saúde que avalia se vale a pena incorporar novos produtos no SUS. Barroso é contra o fornecimento de remédios sem registro na Anvisa, exceto em casos de eficácia comprovada e demora da agência (um ano ou mais) na análise do produto.
Embora o Artigo 196 da Constituição dê margem à suposição de que o cidadão deva ter acesso a toda e qualquer tecnologia médica, o ordenamento do SUS é detalhado por leis específicas. Elas determinam que os serviços devem ser ofertados por meio de políticas públicas criadas pelo Ministério da Saúde. O bom gestor público precisa ser sensível às necessidades especiais. Deve, por exemplo, criar protocolos adequados ao tratamento dos portadores de doenças raras. Ao mesmo tempo, só pode fazer bom uso dos recursos públicos se tiver liberdade para basear suas escolhas em análises técnicas dos custos e benefícios dos medicamentos. O que está em jogo no STF é o conflito entre o direito à saúde e à vida de uns (aqueles que procuram a Justiça) e o direito à saúde e à vida dos outros (aqueles que deixam ser atendidos pelo Estado quando a excessiva judicialização desorganiza as previsões orçamentárias).
O fenômeno brasileiro alcança grandes proporções em São Paulo. O Estado destina R$ 1 bilhão por ano para cumprir 47 mil demandas judiciais para o fornecimento de medicamentos. É quase o dobro do que gasta (R$ 600 milhões) com a distribuição regular de remédios para 700 mil cidadãos. Só 13% das ações partem da Defensoria Pública. A maioria das demandas é ingressada por advogados particulares e se baseia em laudos e prescrições de médicos privados. Em muitos casos, as ações judiciais são estimuladas por empresas farmacêuticas que financiam associações de pacientes.
Toda nação com bom sistema de saúde oferece apenas os tratamentos e procedimentos previstos numa lista. É assim no Reino Unido, na França, na Espanha, no Canadá. Todos fazem escolhas técnicas e arcam com a impopularidade delas. No Brasil, a judicialização faz todo sentido quando o Estado não cumpre o que as listas determinam. Idealmente, a Justiça deveria ser palco para resolver disputas excepcionais, mas a saúde brasileira está longe do ideal. “A judicialização não deve ser vista como uma forma de burlar o sistema”, diz Carlos Eduardo Paz, defensor público-geral federal. “Quando o doente decide enfrentar a via-crúcis do Judiciário, é um sinal de desespero, uma prova de que as coisas não funcionam de outra forma”, afirma. Paz levou o caso de Alcirene ao STF. “Não comemoramos quando conseguimos uma liminar favorável a algum paciente”, diz. “Sabemos que a novela será longa até o remédio chegar.”
Foco no câncer de mama
01/10/2016 - Correio Braziliense
Neste mês, as atenções do setor de saúde e da área médica estarão voltadas para o diagnóstico, a prevenção e o tratamento do câncer de mama. O Outubro Rosa tenta sensibilizar leigos e profissionais da área sobre o carcinoma que mais acomete mulheres no mundo: serão descobertos 57.960 casos este ano no Brasil, estima o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).
Coordenador do Serviço de Mastologia e presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador antecipa que a arma mais poderosa para enfrentar o câncer é a medicina individualizada. “Hoje, com nome amplo de câncer de mama, temos inúmeras possibilidades de enfermidade. É preciso lançar mão de iniciativas que detectam a doença mais precocemente e dão diagnósticos mais completos, que nos permitam entender de forma mais adequada o caso específico de cada mulher”, defende o médico, lembrando da existência de kits genéticos que fazem o mapeamento de até 70 genes diferentes, apontando as chances maiores ou menores de recidivas e as melhores indicações de vacinas, cirurgias e tratamentos.
Segundo o presidente da Rede Mater Dei, a última tendência é de que a tomossíntese, que aumenta em até 25% a possibilidade de detecção do tumor no estágio inicial, seja incorporado ao rol de procedimentos, concomitantemente à mamografia e ultrassonografia que costumam ser indicadas como exames de rotina pela maioria dos médicos no país. “O resultado do exame em três dimensões aumenta a acuidade visual, além de reduzir bastante a chance de recall, quando a paciente é chamada a repetir a mamografia para conferir a imagem”, explica o médico, lembrando que o serviço vem sendo oferecido pelo hospital, desde janeiro.
Com a palestra “Tomossíntese: É ético não fazer?”, a médica norte-americana Elizabeth Morris esteve em Belo Horizonte para defender a importância da prática durante o 13º Simpósio Internacional de Mastologia da Rede Mater Dei de Saúde, em março.“Com a mamografia, conseguimos detectar quatro casos de nódulos ou indícios do tumor a cada mil mulheres. Com o uso do ultrassom de mamas, a proporção atinge sete a cada mil mulheres. Na ressonância magnética, mais indicada para pacientes de alto risco, a taxa chegaria a três a cada 100 mulheres”, comparou a chefe do serviço de imagem de mama do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de Nova York.
“De tudo isso, o mais importante é lembrar às mulheres de fazer sempre a radiografia das mamas. Quem faz o rastreamento do câncer no início leva maior vantagem do que quem deixa passar muito tempo da doença”, reforçou a especialista. Segundo Henrique Salvador, o autoexame das mamas é importante para a mulher conhecer o seu corpo, mas não mais como estratégia para diagnóstico precoce e redução de mortalidade.
Já a mamografia é indicada aos 40 anos e, a partir daí, uma vez por ano. “Você pode até fazer uma mamografia de base aos 35, em uma mulher que tenha histórico de casos de câncer de mama na família. Em uma mulher muito jovem, não há necessidade do exame porque, a mama sendo mais densa, a tendência é dar muito resultado falso positivo, confundindo o diagnóstico”, compara.
COMPLEMENTARES
Em geral, os métodos de exame de mama são complementares, devendo ser feitos sempre do mais simples até o mais sofisticado, primeiro vendo se há uma indicação médica e, depois, seguindo o protocolo à medida que vá aparecendo alguma alteração. “Ou seja, não se vai fazer ressonância em todas as mulheres, mas é indicado em mulheres de altíssimo risco ou em casos de mamas densas, há indicação de se fazer a complementação da ressonância regularmente”, completa Salvador.
Mulheres com alto risco de ter câncer de mama são aquelas que têm mais de duas parentes em primeiro grau (mãe e irmãs) que já tiveram câncer de mama, principalmente se a doença ocorreu antes da menopausa. À medida que o grau de parentesco vai se distanciando, como por exemplo, envolvendo o surgimento de nódulos em tias, o risco também diminui. “Mas é diferente se na mesma família ocorrer o câncer em várias tias. Enfim, o critério geral é que haja um número grande de parentes de primeiro e segundo graus e que a doença tenha se manifestado antes da menopausa”, acrescenta o médico.
GENÉTICA
Em relação ao efeito Angelina Jolie, que fez aumentar em 20 vezes o número de testes genéticos para a sensibilização do mesmo tipo de câncer da atriz, com mutação no gene BRCA1, são raros os casos da necessidade de se fazer a mastectomia preventiva das mamas, mas existem em Belo Horizonte. Só este ano, o Hospital Mater Dei fez a cirurgia em cerca de 20 mulheres, sendo que uma delas tinha em torno de 30 anos.
Depois de perder a mãe, a avó e uma tia com câncer, com mais de 85% de chances de vir a desenvolver a doença, Jolie se submeteu a uma mastectomia radical e à remoção dos ovários e trompas. “Essas cirurgias são feitas no mundo inteiro há muitos anos, mas hoje são indicadas com mais critério e apenas para mulheres com mutações genéticas que apresentam mais de 70% de chance de desenvolver o câncer de mama ao longo da vida. Não só por uma questão de ética, mas também para evitar de expor essas pessoas, que podem sofrer prejuízos na imagem pessoal, no trabalho e até na apólice do seguro, suas identidades são preservadas”, afirma Henrique Salvador.
“É preciso lançar mão de iniciativas que detectam a doença mais precocemente e deem diagnósticos mais completos, que nos permitam entender de forma mais adequada o caso específico de cada mulher. Henrique Salvador, mastologista
25%
Aumento da possibilidade de descoberta do câncer em estágio inicial quando usado o exame de tomossíntese
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