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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 22/07/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Anvisa analisa 1,8 mil amostras de remédios em 18 meses

21/07/2016 - Portal Brasil


Nesta quarta-feira (20), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) firmou uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para realizar a análise de 1,8 mil amostras de medicamentos em 18 meses.

O projeto é parte do Programa Nacional de Verificação da Qualidade de Medicamentos (Proveme), da qual também participam as Secretarias de Estado de Saúde e alguns Laboratórios Analíticos.

Dentre os medicamentos que serão avaliados estão os mais notificados por queixas técnicas e desvio de qualidade disponibilizados pelo programa Aqui Tem Farmácia Popular, os mais consumidos pela população brasileira, bem como aqueles presentes em outros programas do Ministério da Saúde.

O programa prevê que laboratórios oficiais da Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Sanitária (RNLVISA) avaliem as características físicas e químicas de medicamentos genéricos, similares e de referência. O ato simbólico de assinatura das Cartas de Acordo foi feito durante o 1º Encontro do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, que acontece na sede da Anvisa, em Brasília, até quinta-feira (21).


O PROGRAMA


O Proveme teve início em 2001 e foi responsável pela análise de mais de três mil medicamentos, e os resultados definiram diversas ações sanitárias, como a suspensão de venda e uso, alterações no registro, inspeção, adoção de ações corretivas pelos fabricantes e instauração de Processos Administrativos Sanitários.

O Proveme está alinhado com a Cooperação Técnica Internacional firmada entre a Anvisa e o Pnud, que tem como foco promover a vigilância pós-mercado de produtos para saúde registrados na Agência, além de auxiliar na construção de uma rede de laboratórios do Sistema de Vigilância e Produtos para a Saúde estruturada, fortalecendo o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e contribuindo na proteção e promoção da saúde da população.




Entenda a diferença entre remédios manipulados e industrializados

21/07/2016 - Portal EBC


O farmacêutico Alex Bahiense explica a diferença entre os medicamentos manipulados e os medicamentos industrializados.

Ele ressalta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o órgão fiscalizador das farmácias e estipula regras para a farmácia de manipulação.

“Farmacêutico é o profissional capacitado para orientar o paciente a como usar o medicamento. Toda farmácia, seja de manipulação seja comunitária, tem que ter um farmacêutico trabalhando para atender a população”, lembra Alex Bahiense.




Contrabandistas vendem pílula que dizem ser a do câncer, que STF proibiu

21/07/2016 - G1 - Bom dia Brasil


O Bom Dia Brasil mostra um escândalo contra a saúde pública. Contrabandistas estão vendendo uma substância que eles dizem ser a pílula do câncer, que foi proibida pelo Supremo Tribunal Federal. O suposto medicamento não teve a eficácia comprovada.

Um executivo queria ajudar um amigo com câncer e não hesitou em pedir o remédio para a vendedora. “Ela disse que buscava no Paraguai. Disse que sabia que era irregular, que corria risco, mas que não ganhava nada em cima disso”, afirmou.

De acordo com a vendedora, as pílulas que vinham do Paraguai eram de fosfoetanolamina - aquela substância que teve a venda proibida há dois meses porque não foi comprovada a eficácia no combate ao câncer. Por telefone, nossa reportagem conversou com a vendedora que negociou com o executivo.

Vendedora: Assim ó, 60 cápsulas, R$ 600.

Bom Dia Brasil: Certo. E como é que a gente faz daí?

Vendedora: Olha, aí, assim, teria que passar por aqui pra pegar, né?

A entrega é feita em um estacionamento por um homem que se apresenta como filho da vendedora. Ele nem desce do carro. Perguntamos quantos comprimidos devem ser tomados por dia.

Entregador: É a primeira vez que ela vai tomar?

Bom Dia Brasil: É.

Entregador: É, os três primeiros dias tem que tomar três por dia.

Bom Dia Brasil: Três por dia?

Entregador: Três por dia. E aí, depois dois por dia.

O frasco é todo branco. Não tem rótulo e ainda vem fora da caixa. Não há nenhuma indicação de que as pílulas são mesmo de fosfoetalonamina, e mesmo se estivesse escrito o nome da substância, ela não poderia estar sendo vendida porque não tem registro na Anvisa.

“É crime, punido com reclusão de 10 a 15 anos, que é comercializar produtos sem registro na Anvisa”, diz a delegada Maria Lúcia Wunderlich dos Santos, da Polícia Federal.

A vendedora fica irritada quando descobre que o cliente, na verdade, é um repórter.

Vendedora: Eu sabia, eu tinha certeza que tu era uma pessoa que queria ferrar com alguém.

Bom Dia Brasil: A gente só está querendo desvendar uma ilegalidade, denunciar algo que é ilegal.

Vendedora: Então, meu querido, não sou eu que tu deve pegar.

Bom Dia Brasil: Mas é a senhora que está vendendo o remédio. Eu negociei com a senhora.

Vendedora: Não, não foi comigo, não.

Para o oncologista Carlos Eugênio Escovar, o consumo de remédios contrabandeados pode trazer riscos aos pacientes. “Se a fosfoetanolamina, que já é uma substância que a gente ainda não consegue dizer para ninguém que tem algum benefício, a gente contraindica, imagina algo que a gente não sabe o que tem dentro de uma cápsula”, afirmou o médico.

A Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Sul disse que este ano já apreendeu mais de 17 mil remédios clandestinos no estado. Mas até agora não tinha recebido denúncia de contrabando desse tipo de substância. A equipe do Bom Dia Brasil vai entregar para a polícia as cápsulas que comprou.




Proteção contra o Alzheimer pela flora intestinal

22/07/2016 - Correio Braziliense


Os antibióticos surgem como um potencial caminho para o enfrentamento ao Alzheimer. Em um experimento com ratos, cientistas dos Estados Unidos detectaram que o medicamento diminuiu o acúmulo da proteína beta-amiloide, ligada ao desenvolvimento da doença neurodegenerativa em humanos. Para os estudiosos, alterações na flora intestinal provocadas pela ação do remédio seriam responsáveis pelo benefício. A afirmação reforça as recentes evidências da relação estreita entre a microbiota e o cérebro.

“Estamos explorando bastante esse território, a forma como o intestino influencia a saúde do cérebro. Essa é uma área em que as pessoas que trabalham com doenças neurodegenerativas têm se interessado cada vez mais porque ela pode influenciar a estrada que percorremos em busca de tratamentos”, explicou, em comunicado à imprensa, Sangram Sisodia, professor de neurociências da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo, divulgado na última edição da revista Scientific Reports.

Na análise, os cientistas focaram em duas substâncias relacionadas ao Alzheimer: a amiloide, uma proteína presente no cérebro; e a microglia, um conjunto de células cerebrais que desempenham funções essenciais no sistema imunológico e no sistema nervoso central e que, para especialistas, está relacionado ao declínio cognitivo causado pela doença. Ratos receberam altas doses de antibióticos ao longo de seis meses e um grupo de controle, não. Depois, uma análise genética de bactérias presentes no intestino das cobaias mostrou que a quantidade de micróbios presentes era praticamente a mesma em todas elas, mas a diversidade da flora intestinal das tratadas com o medicamento tinha subido drasticamente.

Os antibióticos também diminuíram o acúmulo das proteínas amiloides na cobaias e aumentaram a atividade da microglia, o que significa uma defesa maior do corpo contra a doença neurodegenerativa. Os cientistas acreditam que as alterações detectadas podem servir de base para futuras descobertas ligadas ao Alzheimer. “Não propomos que o uso a longo prazo de antibióticos seja um tratamento, o que é absurdo por diversas razões, mas o que esse estudo faz é nos permitir explorar ainda mais essa área, já que mudar a população microbiana do intestino mostrou, em camundongos, uma queda de amiloide”, ressaltou, em comunicado, Myles Minter, pesquisador no Departamento de Neurobiologia da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo.

Sisodia ponderou ainda que o Alzheimer começa a alterar o organismo no paciente por muito tempo, ultrapassando etapas da vida. “Nós sabemos que há mudanças que ocorrem no cérebro e no sistema nervoso central de 15 a 20 anos antes do surgimento dos sintomas. Temos de encontrar formas de intervir quando um paciente começa a mostrar sinais clínicos. Se pudermos aprender como as mudanças nas bactérias do intestino afetam o início e a progressão ou como as moléculas interagem com o sistema nervoso, poderíamos usar essa base para criar um tipo de medicina personalizada”, cogitou.


OUTROS DESAFIOS


Para Cláudia Barata Ribeiro, neurologista do Hospital Prontonorte, em Brasília, e presidente da regional do Distrito Federal da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR), o trabalho norte-americano utiliza informações conhecidas na área médica para buscar mecanismos que possam ajudar a combater o Alzheimer. “A alteração da microbiota pelo uso de antibióticos é algo que sabíamos. O grande ponto de destaque desse trabalho é a constatação da diminuição de placas amiloides, que seguem solúveis no cérebro sem causar problemas, mas, quando se acumulam, podem interferir nas sinapses, estando associadas, assim, ao Alzheimer e a outras doenças neurodegenerativas. Outros medicamentos foram criados com o objetivo de diminuir essas placas, mas nenhum deles funcionou bem”, detalhou.

Segundo Cláudio Roberto Carneiro, coordenador de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), um dos passos decisivos é descobrir o mecanismo que leva à alteração na flora intestinal pelo medicamento testado pelos norte-americanos. “O objetivo seria criar um remédio que não causasse efeitos colaterais, como o antibiótico em excesso. Os próprios autores frisam o quanto ele não é uma opção de tratamento. Trata-se de uma hipótese que precisa de mais aprofundamento, de muito mais pesquisas”, defendeu o especialista.

Para Carneiro, o estudo norte-americano tem que ser visto como mais uma tentativa de entender melhor como a doença de origem desconhecida pode ser tratada. “O acúmulo de amiloide é realmente maior em pacientes que sofrem com Alzheimer, mas temos pessoas com essa substância em excesso que tem uma memória boa. Muitos especialistas também têm relacionado o Alzheimer com o acúmulo de glicose, que pode estar associado ao diabetes tipo 3. Resumindo, ainda precisamos saber muito mais sobre essa enfermidade para combatê-la com sucesso.”

A neurologista Cláudia Barata Ribeiro indica algumas áreas que merecem investigação. “Outro ponto a ser explorado é como essas placas interferem no organismo. Isso porque essa proteína precisa se conectar a um receptor para que o efeito negativo ocorra, independentemente da sua presença. O foco precisa estar também na interação entre eles, precisamos conhecer todos os mecanismos envolvidos”, listou.

Os autores do trabalho darão continuidade à pesquisa e acreditam que uma análise científica mais ampla do funcionamento do organismo humano possa render ainda mais frutos. “Ao juntar ideias de áreas que, por muito tempo, foram estudadas separadas, as possibilidades são realmente incríveis”, opinou Minter.

“Não propomos que o uso a longo prazo de antibióticos seja um tratamento, o que é absurdo por diversas razões, mas o que esse estudo faz é nos permitir explorar ainda mais essa área, já que mudar a população microbiana do intestino mostrou, em camundongos, uma queda de amiloide”

Myles Minter, pesquisador no Departamento de Neurobiologia da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo.




SP inicia testes da pílula do câncer em humanos

22/07/2016 - O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - Os testes em seres humanos com a fosfoetanolamina sintética, mais conhecida como “pílula do câncer”, terão início na próxima segunda-feira no Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp). Os voluntários foram escolhidos entre pacientes do instituto, e a primeira etapa vai analisar a segurança do produto.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 21, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que afirmou que os participantes devem começar a ser avisados hoje. “Estamos com esperança de que (a substância) possa trazer um avanço no tratamento das neoplasias.”

A pesquisa prevê a participação de até 1 mil voluntários e a primeira fase terá dez participantes. Eles vão receber a substância para que seja determinada a segurança da dose que tem sido usada pelos pacientes. Se não tiverem efeitos colaterais, vão continuar fazendo parte do estudo, e uma nova etapa será iniciada, dessa vez com 21 participantes para cada um dos dez tipos de tumor que vão fazer parte da pesquisa, entre eles pulmão, mama, próstata, estômago e fígado. Os participantes serão avaliados e, caso a pílula apresente atividade, serão incluídos mais 20 voluntários em cada grupo.

A eficácia da substância será levada em consideração para a inclusão de mais participantes, que podem chegar a cem para cada tipo de câncer. Os voluntários serão monitorados por uma equipe multidisciplinar do Icesp. Eles vão tomar três comprimidos por dia e, a cada três resultados que apontem a eficácia da pílula nos grupos de voluntários, novos participantes serão incluídos.

“Pretende-se dar todas as chances de a fosfoetanolamina mostrar eficiência. O estudo teve um desenho científico adequado e será feito com todo o rigor científico”, diz David Uip, secretário estadual da Saúde.


RESULTADOS


Diretor do Icesp, Paulo Hoff diz que, se houver a participação dos 1 mil voluntários, a pesquisa deve durar cerca de dois anos, mas os primeiros resultados já devem ser divulgados neste ano.

“Sobre a toxicidade, teremos resposta em dois meses. Em aproximadamente seis meses, a partir de agora, já saberemos quais grupos serão expandidos com a inclusão de mais pacientes e quais serão fechados por ineficácia da droga.”

Hoff explica que não haverá abertura de inscrições para participação no estudo e que os critérios de seleção foram determinados de acordo com o tipo de câncer, mas que também há aspectos gerais que foram levados em consideração.

“O que há de geral é que não será um tipo de pesquisa com pacientes terminais, será em pacientes que não têm opção de tratamento curativo disponível e que o organismo está em boas condições para responder ao tratamento.” Ele afirma ainda que voluntários que puderem ficar por um período de dois meses sem tratamento e que fique comprovado que o intervalo não trouxe impactos negativos para a sobrevida também estarão entre os participantes.


POLÊMICA


A fosfoetanolamina começou a ser distribuída para pacientes com câncer antes de passar por testes em humanos e sem a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela foi desenvolvida pelo professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) Gilberto Chierice.

Testes in vitro e com cobaias estão sendo feitos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), mas a eficácia da substância ainda não foi comprovada.

Hoff afirma que os dados são levados em conta, no entanto, existe a necessidade de informar se a substância é eficaz ou não. “Nós achamos que essa informação é importante, mas, no momento em que temos mais de 20 mil pessoas fazendo uso do produto e um grande interesse popular, é muito importante dar uma resposta definitiva que virá de um estudo em seres humanos.”




23 conquistas contra o câncer

21/07/2016 - Revista Saúde É Vital


1. UM SUPER EXERCITO NO SEU CORPO

Entre os mais de 5 800 estudos apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), ganharam destaque os experimentos focados nas CAR T Celis. "É talvez a novidade mais importante deste ano", conta o médico Sérgio Simon, diretor do Centro Paulista de Oncologia. Por meio desse tratamento, células de defesa do paciente recebem, no laboratório, um receptor específico para se ligarem depois ao câncer. "As CAR T Celis reconhecem tumores que antes passavam despercebidos pelo sistema imune", esclareceu em palestra o hematologista David Porter, da Universidade da Pensilvânia (EUA). Em tese, daria pra adicionar receptores nas nossas tropas celulares segundo traços de cada inimigo — o que abre portas para testar o procedimento em inúmeros tipos da doença. Mais: esse batalhão de elite se replica dentro do corpo, o que traria proteção prolongada. Em trabalhos com leucemia aguda resistente à terapia tradicional, chegou-se a observar uma resposta completa em 94% dos casos. Mas ainda é necessário muito esforço para, acima de tudo, minimizar seus efeitos colaterais, um tanto penosos.


2. GOLPE DUPLO EM UM CÂNCER INFANTIL

Para enfrentar o neuroblastoma de alto risco, que afeta células nervosas fora da cabeça, recorre--se ao transplante autólogo — ele consiste em extrair a medula óssea da criança, dar uma químio potente e reinjetar a mesmíssima medula. "É um jeito de sermos agressivos sem destruí-la", diz Neysimélia Villela, onco pediatra do Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista. Pois o Grupo de Oncologia Infantil dos EUA avaliou um transplante autólogo duplo, ou seja, a técnica foi repetida semanas depois. Aí, 61% dos pequenos ficaram sem complicações em três anos, ante 48% do grupo do método padrão. Isso sem mais reações adversas.


3. TERAPIA DE CHOQUE

Alguns pacientes americanos já passam horas por dia com eletrodos na cabeça que criam um campo elétrico capaz de frear o glioblastoma, o tumor cerebral mais perigoso. O aparelho (da Novocure) fez subir de 29 para 43% a sobrevivência após dois anos. "O resultado impressiona, porém o tratamento é caríssimo", pondera Roberto Abramoff, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.


4. ENFIM, UMA BOA NOVA PARA A BEXIGA

Desde a década de 1970, tratava-se o tumor de bexiga do mesmo jeito: com químio. Mas o cenário vem mudando com o atezolizumabe, um remédio da Roche que faz o sistema imunológico identificar a doença e atacá-la. Numa pesquisa da Universidade de Nova York (EUA), ele aumentou significativamente a sobrevida dos pacientes. "E é mais bem tolerado do que quimioterápicos", garante Arjun Balar, autor do trabalho.


5. UM FREIO NO MIELOMA MÚLTIPLO

Ainda sem chance de cura, esse câncer da medula óssea ao menos vem sendo contido com fármacos inovadores. Um dos mais comentados no encontro da Asco foi o daratumumabe, da Janssen. "Ele mira uma molécula presente na maioria dos mielomas múltiplos, a CD-38", diz Vania Hungria, hematologista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Seu uso baixou o risco de progressão em 70%.


6. FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO

Uma célula normal se converte para o lado negro da Força a partir de mutações no seu DNA. E essa transformação tende a se desenvolver só quando uma parcela das moléculas que reparam estragos no código genético para de funcionar. Mas o curioso é que, graças a isso, o câncer passa a depender (muito!) de uns poucos mecanismos de reparo do genoma para simplesmente não implodir. Daí veio a sacada: que tal criar uma medicação com a capacidade de inibir uma dessas vias e, assim, fazer o DNA do adversário se desfazer por completo? Pois esse comprimido já foi desenvolvido e aprovado nos Estados Unidos e na Europa para combater tumores de ovário — é o olaparibe, da AstraZeneca. "Temos mulheres que estão se beneficiando dessa terapia há mais de cinco anos, o que é um ganho enorme para um tipo agressivo e carente de terapias", diz o oncologista Charlie Gourley, da escocesa Universidade de Edimburgo. A animação é tanta que a droga vem sendo avaliada em mama, próstata, pâncreas... E outras com ação parecida estão pipocando no mercado.


7. QUIMIOTERAPIA REPAGINADA

Ela existe desde a primeira metade do século 20 e nem por isso parou no tempo. No congresso da Asco, novas substâncias, combinações e formas de aplicação foram abordadas, ilustrando como uma velha tática pode render frutos. Um levantamento canadense mostra que a químio intra  peritoneal — injetada na barriga — em união com a versão tradicional (intravenosa) reduziu de 42 para 23% a quantidade de pacientes que viram seu tumor de ovário seguir em progressão por nove meses.


8. ALVO CERTO EM TUMORES GÁSTRICOS

Esse tipo é o quinto mais comum — e temos poucas opções para vencer os casos resistentes. Eis que surge o IMAB362, princípio ativo da farmacêutica Ganymed, que mira a proteína claudin18.2. "Como ela é abundante em cânceres gástricos, estimo que metade das pessoas em estágio avançado é candidata ao tratamento", calcula o oncologista Salah Al-Batran, do Nordwest Hospital, na Alemanha. Nos testes, a sobrevida de alguns pacientes subiu de 8 para 13 meses com a adição do IMAB362.


9. RARO, POREM NÃO MAIS NEGLIGENCIADO

"Até pouco tempo, mediamos a sobrevida de gente com GIST disseminado, um tipo raro de tumor gastrointestinal, em meses", lembra-se Rui Weschenfelder, oncologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. "Hoje, não é difícil vê-los vivendo cinco anos", diz. A mudança se deve à terapia-alvo, classe de remédios precisos que foi inaugurada, nesse tipo da doença, com o imatinibe, da Novartis. Depois chegou o sunitinibe (Pfizer) e, agora no Brasil, o regorafenibe (Bayer), outro destaque na Asco.


10. REVOLUÇÃO PELO PÂNCREAS

Um exemplo de como ajustes na químio fazem uma baita diferença vem do Grupo Europeu de Estudos sobre Câncer Pancreático. Em um experimento com participantes submetidos à cirurgia para remoção desse tumor — o terceiro mais letal —, 107 seguiram a estratégia padrão de receber gencitabina, da Eli Lilly, para aniquilar unidades maléficas remanescentes. Já outros 109 também tomaram a capecitabina, um quimioterápico de uso oral da Roche. Após cinco anos, 16% da primeira turma não morreu, enquanto 29% da segunda seguiu viva. É um número baixo, só que quase duas vezes maior que o anterior. "A descoberta é valiosa, porque mostra como a combinação de agentes citotóxicos dá uma chance maior de sobrevivência sem acrescentar reações colaterais", conclui John Neoptolemos, um dos responsáveis pela investigação.


11. CAVALO DE TROIA ANTICÂNCER

Diz a lenda que, após anos protegendo as muralhas de sua cidade, os troianos viram os gregos recuarem, deixando para trás somente um enorme cavalo de madeira — a oferenda foi vista como sinal de trégua. Ao levarem-no para o interior de seus muros, foram surpreendidos com inimigos saindo desse "presente de grego", o que culminou na derrota de Troia. Guardadas as devidas proporções, é essa a lógica do Rova-T, fármaco criado pela Stemcentrx. "Ele se ancora em uma molécula do tumor chamada DLL3 e, então, libera um veneno potente", ensina o oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, na capital paulista. A promessa possibilita dar uma pancada no alvo sem afetar o resto do corpo. Em dados preliminares, ela brecou o crescimento de um tipo de câncer de pulmão com alta expressão de DLL3 em 89% dos casos.


12. UM APLICATIVO TÃO EFICAZ QUANTO REMÉDIOS DE ÚLTIMA GERAÇÃO

Qualquer tática que suba o índice de sobrevivência de 49 para 75% em um ano entre vítimas de câncer de pulmão avançado seria pra lá de comemorada. É esse o poder de um app online, ainda em desenvolvimento, que chamou atenção em meio a tantos medicamentos na reunião da Asco. Não tem segredo: ele pede para o sujeito reportar semanalmente a intensidade de 12 sintomas e, sozinho, identifica alterações suspeitas no quadro, avisando um profissional. "Introduzimos uma era na qual o paciente dá um feedback contínuo", diz Fabrice Denis, médico envolvido no projeto, do Instituto Interregional de Cancerologia, na França. O oncologista Stephen Stefani, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, dá outra boa notícia: "Estamos trabalhando num programa similar que deve estar disponível ano que vem por aqui".


13. EXAME SIMPLES E MAIS PRECISO PARA A PRÓSTATA

O câncer que se instala nessa glândula faz aumentar a produção de uma proteína, o PSA. Desse achado surgiu um teste sanguíneo capaz de flagrá-la e que ganhou o mundo na década de 1990. Contudo, o tempo mostrou que, isolado, esse método não pega uma parcela considerável de tumores agressivos e, na contramão, capta em excesso os indolentes, que podem dispensar tratamento. Tanto que, até hoje, nenhum estudo ligou o rastreamento populacional com PSA a uma menor mortalidade. "Gastar recursos com um exame que acaba submetendo alguns homens a procedimentos com efeitos colaterais sem aumentar a chance de cura é algo questionável", afirmou em uma aula o epidemiologista Henrik Grõnberg, do Instituto Karolinska, na Suécia. O médico anunciou os resultados de uma pesquisa com um novo teste feito por sua equipe, o Stockholm-3, que usa vários marcadores tumorais e variáveis clínicas. "Ele é mais barato e eficaz que o PSA. E estará disponível em Estocolmo a partir de setembro", revela.


14. PARA ALEM DA LOCALIZAÇÃO

O pembrolizumabe, princípio ativo da MSD, destacou-se em 2016 por, entre outras coisas, trazer bons resultados diante de tumores de pulmão. Mas as melhores respostas foram vistas em gente cuja doença tinha alta taxa da proteína PD-1 — na ausência dela, o poder da droga era similar à químio. Ou seja, a escolha da terapia certa depende cada vez mais de traços moleculares do tumor e menos do local.


15. BIOPSIA SEM CORTE

Para vislumbrar o perfil molecular de um câncer, é preciso tirar um pedaço dele, o que pode ser uma baita chateação em quem se submete à técnica repetidas vezes para saber a evolução do quadro. Daí porque cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) compararam biópsias normais a outras feitas com simples amostras de sangue. "A acurácia foi parecida. Isso põe a biópsia líquida como opção de acompanhamento", diz Philip Mack, autor da experiência.


16. A ERA DAS COMBINAÇÕES

Homenageado por suas contribuições na oncologia, Paul Bunn, da Universidade do Colorado (EUA), fez uma ressalva em seu discurso: "Um remédio sozinho dificilmente vai curar um câncer". Não à toa, ganham força as alianças farmacológicas. Exemplo: juntos, nivolumabe e ipilimumabe (da Bristol), acarretam uma resposta duas vezes maior para um tumor de pulmão do que o uso isolado do primeiro.


17. MAIS TEMPO PARA A HORMÔNIOTERAPIA

É comum mulheres tomarem pílulas que bloqueiam a ação de hormônios femininos por cinco anos após o câncer de mama ter sumido dos radares. Mas um estudo da Universidade Harvard (EUA) indica que ampliar o tempo para uma década derruba em mais 34% o risco de recorrência. "Ele reforça um protocolo já adotado em mulheres de alto risco. Contudo, reações adversas, como secura vaginal, precisam ser debatidas", diz Buzaid.


18. ABAIXO A RESISTÊNCIA

Certos tumores de mama conseguem driblar os efeitos da hormonioterapia. A ciência não se contentou com isso e elaborou o palbociclibe (Pfizer), que, além de abalar a divisão celular das células cancerosas, atua em seus receptores de estrogênio, contribuindo para que não se tornem resistentes. Em uma pesquisa, a união dessa molécula com um anti--hormônio aumentou o tempo de vida sem reincidência do mal. E ela é bem pouco tóxica.


19. MENOS CORTES, MESMA EFICÁCIA

Aquelas cirurgias radicais e mutiladoras estão virando história. Quer prova? Uma investigação de entidades americanas com 891 voluntárias demonstrou que uma operação contra nódulos de mama que preserva mais a região das axilas não culmina em maior risco de recidiva após dez anos. "A vantagem é que ela minimiza limitações de movimento do braço", informa Simon.


20. MENOS CORTES, MESMA EFICÁCIA

Aquelas cirurgias radicais e mutiladoras estão virando história. Quer prova? Uma investigação de entidades americanas com 891 voluntárias demonstrou que uma operação contra nódulos de mama que preserva mais a região das axilas não culmina em maior risco de recidiva após dez anos. "A vantagem é que ela minimiza limitações de movimento do braço", informa Simon.


21. CORAÇÃO RESGUARDADO

Sabe-se há tempos que a químio agride o músculo cardíaco. E mesmo as classes modernas das drogas resultam nesse efeito adverso. "Umas elevam o risco de fibrilação atrial, outras de pressão alta", exemplificou numa aula Javid Moslehi, cardio--oncologista da Universidade Vanderbilt (EUA). O bacana é que, segundo ele, conter tais problemas cedo não os deixa virarem crônicos.


22. OPÇÃO ACESSÍVEL

As drogas biológicas são tão revolucionárias quanto caras. É aí que entram os biossimilares. "Eles têm ação parecida com as originais e são mais baratas", resume Simon. Em estudo da Universidade da Califórnia, o MYL-14010 (da Mylan), biossimilar do trastuzumabe (Roche), exibiu eficácia igual em voluntárias com um tumor de mama. "Achados assim são vitais para dar segurança na hora da prescrição", conta a hematologista Hope Rugo, que conduziu o teste.


23. JUNTOS, VAMOS SUPERAR O CÂNCER

Um dos pontos altos da reunião da Asco foi o discurso de Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, que perdeu um filho por causa de um tumor cerebral. "O desconhecido é ameaçador. Eu e minha família fizemos de tudo para aprender mais sobre a enfermidade contra a qual meu filho lutava. Acreditamos nos melhores doutores para explicar o desconhecido para a gente. [...] Aí notei que ninguém acharia uma resposta sozinho", proferiu. Biden coordena um projeto bilionário que, entre outras coisas, pretende erradicar o câncer apostando no compartilhamento total de informações científicas a respeito dessa doença. Segundo ele, pesquisadores, universidades e empresas têm que disponibilizar todos os dados de suas descobertas para não perdermos tempo com estudos redundantes ou que trazem pouco benefício real. É um desafio sem precedentes — até porque mexe com interesses comerciais enormes. Mas o fato de ser encarado pelo governo americano é um bom sinal. "Imaginem se todos trabalhássemos juntos. Imaginem!"

Pernilongo pode transmitir zika, mostra estudo

22/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco detectaram a presença do vírus zika em pernilongos (Culex quinquefasciatus) coletados no Recife. O mesmo grupo já havia provado, com estudos em laboratório, que o Culex – e não apenas o Aedes aegypti – é também capaz de transmitir o vírus. Mas o novo estudo identificou pela primeira vez pernilongos infectados com zika na natureza.

A pesquisa foi coordenada por Constância Ayres, do Departamento de Entomologia da Fiocruz de Pernambuco. De acordo com ela, na região metropolitana do Recife, onde o estudo foi feito, a população do Culex é 20 vezes maior do que a de Aedes.

“Na primeira etapa, analisamos a competência do Culex para replicar o vírus em sua glândula salivar. Os estudos foram feitos em laboratório, em circunstâncias artificiais, analisando desde a infecção do pernilongo até a liberação do vírus em sua saliva. Nesta nova etapa, coletamos o mosquito em campo e identificamos pela primeira vez a espécie infectada pelo zika na natureza”, disse Constância ao Estado.

A coleta dos mosquitos foi feita com base nos endereços dos casos relatados de zika nas cidades do Recife e Arcoverde. A equipe de pesquisadores examinou cerca de 500 mosquitos.

Na etapa de laboratório, os mosquitos foram alimentados com sangue e vírus, permitindo o acompanhamento do processo de replicação do vírus no inseto.

Cada mosquito foi dissecado para a extração do intestino e da glândula salivar.

Quando o mosquito se alimenta, de acordo com a cientista, o sangue vai direto para o intestino, onde há a primeira barreira para a infecção. “Depois há a barreira de escape no intestino.

Em seguida, ele deve infectar a glândula salivar, depois escapar e sair pela saliva, para depois ser transmitido”, explicou.

Caso a replicação do zika chegue à glândula salivar, significa que o inseto é potencial transmissor.

A partir do terceiro dia após a alimentação artificial, segundo ela, já foi possível detectar o vírus nas glândulas salivares dos pernilongos.

Segundo Constância, serão necessários novos estudos para avaliar o potencial da participação do Culex na disseminação do vírus.




O mosaico do cérebro

22/07/2016 - O Globo


Um novo e detalhado mapa do cérebro dobra o número de regiões conhecidas no córtex e pode ajudar a desvendar problemas por trás de doenças como autismo, demência e epilepsia. Com seus bilhões de neurônios, o cérebro controla desde atividades básicas de nossos corpos, como os batimentos do coração e a respiração, até mais sofisticadas, como o entendimento e uso de um idioma, o reconhecimento de padrões e a solução de problemas, que nos tornam distintamente humanos. E estas últimas são exercidas principalmente pelo córtex cerebral, a parte mais externa do órgão, conhecida por suas muitas dobras e curvas — as chamadas circunvoluções — e que já foi comparada a uma folha de papel amassada.

Desde o fim do século XIX, os cientistas sabem que determinadas regiões do córtex podem ser associadas a funções e sentidos específicos, como a fala, a audição, o tato e a visão, e agora um novo e detalhado mapa cortical, saudado como um marco na neurociência e publicado na edição desta semana da revista “Nature”, vem melhorar enormemente essa compreensão. Com ele, os pesquisadores responsáveis esperam ajudar nos estudos que buscam revelar os problemas por trás, e possíveis tratamentos para desordens e males como autismo, esquizofrenia, demência e epilepsia, e até mesmo guiar as mãos de neurocirurgiões para que evitem danificar áreas que exercem papéis fundamentais no dia a dia dos pacientes, como as envolvidas na linguagem e nas funções motoras.


NÚMERO DE DIVISÕES AINDA PODE AUMENTAR


Produzido por cientistas da Escola de Medicina da Universidade Washington, em St. Louis, no estado americano do Missouri, em colaboração com colegas de outras instituições nos EUA e no Reino Unido, o novo atlas do córtex cerebral mais que dobrou o número de regiões conhecidas do órgão, formando um mosaico ainda mais complexo de seu funcionamento. Ao todo, eles identificaram 180 delas em cada hemisfério cerebral, das quais 97 eram desconhecidas anteriormente e muitas delas subdivisões das que já se sabiam existir, e que agora podem ser incluídas no que se pode imaginar como “macrorregiões” corticais. E esta quantidade deve aumentar, já que os pesquisadores preveem ainda mais subdivisões à medida que os estudos forem aprofundados e as tecnologias de imageamento usadas por eles avançarem.

— O cérebro não é como um computador que pode usar qualquer sistema operacional e rodar qualquer programa — compara David Van Essen, professor de neurociência da universidade americana e autor sênior do artigo na “Nature”. — No lugar disso, o software, isto é, como o cérebro trabalha, está intimamente correlacionado à sua estrutura, seu hardware. Portanto, se quisermos descobrir o que o cérebro pode fazer, temos que entender como ele está organizado e conectado.

Para tanto, os pesquisadores foram buscar os dados para o estudo no Projeto Conectoma Humano, liderado pelo próprio Essen e cujo objetivo é justamente destrinchar as conexões anatômicas e funcionais dos bilhões de neurônios do cérebro e os circuitos que eles formam, tanto entre regiões próximas quanto distantes, que os cientistas batizaram como “conectoma”. Lançado em 2009 pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês), o projeto — inicialmente previsto para durar cinco anos e orçado em US$ 40 milhões (cerca de R$ 130 milhões) — investiu no desenvolvimento e fabricação de um aparelho de ressonância magnética especial usado para examinar os cérebros de 1,2 mil voluntários saudáveis, obtendo informações detalhadas sobre a espessura do córtex, a quantidade de mielina (substância gordurosa que atua como uma espécie de revestimento para isolar as fibras nervosas e evita que elas entrem em “curto-circuito”) e sua atividade tanto quando eles estavam em repouso quanto ao realizarem tarefas simples, como ouvir uma história.

No estudo na “Nature”, os cientistas reuniram estas informações de 210 dos voluntários e, com ajuda de um programa de inteligência artificial, as sobrepuseram e alinharam em um sistema de coordenadas comum para os cérebros de todos eles. Com isso, os pesquisadores não só confirmaram as 83 regiões do córtex de cada hemisfério que já eram conhecidas como identificaram as 97 novas. Além disso, eles puderam delimitar com precisão inédita as fronteiras entre estas áreas, muitas delas que não passavam de “borrões” em mapas anteriores.

— Acabamos com 180 áreas em cada hemisfério, mas não esperamos que este seja o número final — diz Matthew Glasser, também da Universidade Washington e primeiro autor do artigo na “Nature”. — Em alguns casos, identificamos uma porção do córtex que provavelmente poderia ser subdividida, mas na qual não podíamos desenhar uma fronteira com nossos dados e técnicas atuais. No futuro, pesquisadores com métodos melhores irão subdividir estas áreas, então nos focamos em limites que estamos confiantes que sobreviverão ao teste do tempo.

Por fim, os cientistas validaram os resultados obtidos em outros 210 dos voluntários do Projeto Conectoma Humano, que serviu como grupo de controle. Para tanto, eles incluíram no programa de inteligência artificial um novo algoritmo, instruindo para que identificasse as 180 regiões de cada hemisfério cerebral nos exames de ressonância magnética de cada um deles individualmente. O programa foi então capaz de apontar as áreas do córtex do grupo de controle com uma precisão de quase 97%.

E o que é melhor, estes acertos do programa aconteceram mesmo nos raros casos em que alguns dos voluntários apresentavam pequenas variações anatômicas ou funcionais particulares, como em 12 deles cuja região batizada como 55b, nova separação de uma envolvida com a linguagem, estava dividida em duas porções isoladas — os pesquisadores, no entanto, não sabem como essa peculiaridade pode afetar, ou não, o uso da linguagem pelos voluntários.

É principalmente esta capacidade derivada do novo mapa do córtex que os cientistas esperam que vá promover grandes avanços nos estudos dos males que afetam o cérebro ou têm provável origem em problemas na estrutura ou funcionamento do órgão, que cobrem desde Alzheimer e Parkinson a distúrbios mentais como autismo e esquizofrenia, levando em conta ainda o fato de que muitas das regiões recém descobertas desempenham funções ainda desconhecidas e a grande maioria das 180 na verdade estão ligadas a funções variadas.

— No passado, nunca estava claro se os resultados de dois estudos separados com neuroimageamento se referiam à mesma área ou não — destaca Glasser. — Além disso, a capacidade de discriminar diferenças individuais na localização, tamanho e topologia das áreas corticais como diferenças em sua atividade e conectividade deve facilitar a compreensão de como cada uma dessas propriedades estão relacionadas a comportamentos ou fatores genéticos subjacentes.

Nova estratégia quer acabar com Aids em crianças e adolescentes até 2020

21/07/2016 - UOL


Uma nova estratégia para acabar com a aids pediátrica visa levar os serviços de tratamento antirretroviral a 1,6 milhões de crianças e 1,2 milhões de adolescentes em 2018. Batizada de Super-Fast Track (trilha super-rápida, tradução em português), o trabalho tem o objetivo de fechar a lacuna entre o tratamento adulto e o pediátrico e foi lançado na 21ª Conferência Internacional de Aids, em Durban (África do Sul), na terça-feira (19). Segundo o Unaids (Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids), a estratégia vai reunir ações de diversas agências.

A ideia vem da necessidade de garantir que crianças e adolescentes não fiquem para trás enquanto os programas de tratamento se esforçam para alcançar as metas 90-90-90. Leva em conta que a intensificação do tratamento e do diagnóstico para crianças apresentam desafios específicos que exigem soluções diferentes daquelas empregadas para adultos.


META REALISTA


Diagnósticos de HIV/aids em crianças diminuíram drasticamente em Uganda, Suazilândia e Burundi. E outros países, como Cuba e Tailândia, zeraram a transmissão do HIV de mãe para filho. Acabar com a aids em crianças exige esforços especiais em várias regiões altamente afetados pela epidemia. Destacam-se nesse cenário Nigéria, África do Sul e Índia.

De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (20) pelo Unaids, a Nigéria está muito atrás de outros países da África subsaariana no fornecimento de tratamento antirretroviral para crianças. Estima-se que quase 260 mil crianças vivam com HIV na Nigéria, um quarto do total no mundo inteiro e menos de um em cada cinco está recebendo tratamento antirretroviral.

Já na África do Sul, onde quase 240 mil crianças vivem com o HIV, cerca de três quartos estão recebendo antirretroviral. Zimbábue e Quênia igualmente alcançaram elevados níveis de cobertura de tratamento entre as crianças, como resultado de grandes esforços para melhorar o diagnóstico infantil e compromissos nacionais realmente assumidos.

Se o diagnóstico é negligenciado em crianças, ou se bebês expostos ao HIV não são testados no final do período de amamentação, há o risco de passarem anos com o vírus sem serem diagnosticados. "Temos focado no diagnóstico infantil precoce, mas o rendimento que temos conseguido é muito baixo e os dados de vários países indicam que deveríamos estar procurando outras alternativas. O teste deveria já fazer parte da primeira visita da criança nos serviços de saúde", afirmou Chewe Luo, do Unicef, em eunião organizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Os serviços de saúde devem criar oportunidades para testagens fora dos postos, disse o ministro da Saúde de Lesoto, Molotsi Monyamane. Ele informou que a política nacional foi alterada para permitir que conselheiros leigos testem crianças em instalações da base comunitária. E que serviços móveis estão fornecendo serviços de saúde materno-infantil, incluindo o teste de HIV, a menores de cinco anos.

Fazer dos testes de HIV uma parte da rotina de cuidados de saúde da criança é um longo caminho a ser percorrido. Em Lesoto, campanhas de base comunitária como "Know Your Child's Status" (Saiba o status do seu filho) são feitas para promover mais testes. As clínicas de tuberculose são um local importante para o diagnóstico de adolescentes. Francesca Celletti, da Elisabeth Glaser Pediatric Aids Foundation, relatou resultados no rendimento de diagnósticos positivos em diferentes tipos de locais apoiados pela fundação no Quênia. Mostrou que as clínicas de tuberculose são muito mais propensas a identificar adolescentes com HIV do que outros locais de teste, destacando a importância desses serviços para essa população.


INICIAÇÃO IMEDIATA DO TRATAMENTO


Desde 2015, a Organização Mundial de Saúde recomenda o início do tratamento imediato para todas as crianças com menos de cinco anos diagnosticadas com HIV, independentemente da contagem de células CD4. Ren Minghui, da OMS, disse no lançamento da estratégia, na terça (19), que quase todos países afetados que fazem parte da Fast Track já adotaram o tratamento de todas as crianças, independentemente da idade, ou o farão até o fim de 2016.

Embora a cobertura do tratamento em todo o mundo seja maior entre crianças do que entre adultos, o Unaids estima que o número de crianças em tratamento terá de aumentar em pelo menos 83% (cerca de 730 mil inscritos em tratamento) até 2020 para atingir a erradicação da aids pediátrica.

Assim como os atrasos no diagnóstico, há também desafios na adesão das crianças ao tratamento e, não menos importante, a falta de estruturas capazes de garantir a terapia. Simplificar o tratamento para as crianças é essencial.

Apesar de um trabalho considerável para fazer formulações pediátricas fáceis de dosar, a quantidade de antirretrovirais para crianças ainda é limitada e apenas uma combinação de dose fixa está disponível para elas. Pequenos grãos que podem ser polvilhados sobre os alimentos são um jeito de ajudar os pequenos a tomarem a medicação, mas até agora só existe um remédio nesse formato, o lopinavir/ritonavir.

A Drugs for Neglected Diseases Initiative (Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas) está tentando, com o fabricante indiano Cipla, desenvolver duas combinações de quatro drogas em forma de pequenos grãos e espera que os produtos estejam disponíveis em 2018. Os produtos vão combinar lopinavir, ritonavir e lamivudina tanto com abacavir como com zidovudina.


SUPRESSÃO VIRAL


A supressão viral continua sendo mais desafiadora em crianças do que em adultos, em parte devido às dificuldades de adesão, mas também devido ao uso contínuo de combinações de drogas não ideais contendo nevirapina. Crianças com HIV que adquirem resistência à nevirapina como resultado da falência do tratamento materno, seja no momento do parto ou durante a amamentação, continuarão a ter sensibilidade reduzida à droga e o uso limitado da terapia alternativa recomendada contendo lopinavir / ritonavir, muitas vezes leva ao fracasso do tratamento nestas crianças.

Assim como para os adultos, as inovações na prestação de serviços podem melhorar a retenção nos cuidados, seja por meio de sistemas de entrevistas centradas na família, de clínicas comandadas por enfermeiros ou incorporação de apoio dos pares em serviços clínicos. A descentralização dos serviços para aproximá-los das famílias tem sido mostrada para melhorar a retenção nos cuidados em um estudo de cinco países africanos, diminuindo a perda de acompanhamento de metade a três quartos.


CONCLUSÃO: O IMPERATIVO MORAL


A nova ênfase no tratamento pediátrico destina-se a mobilizar recursos e galvanizar a ação, declarou o médico Badara Samb. "Nós não estamos utilizando os recursos adequados para o tratamento pediátrico. Temos os meios para acabar com ela de uma vez por todas e, então, por que não estamos priorizando o tratamento do HIV para as crianças? Aqui temos uma ética e um imperativo moral, e também precisamos ter uma visão mais ampla, ver que mesmo que essas crianças sejam um pequeno número [em relação à epidemia de adultos] elas são a próxima geração."




Estamos no meio de uma verdadeira epidemia mundial de depressão

22/07/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Em 1956, quando surgiu o primeiro antidepressivo, o laboratório Geigy hesitou em lançá-lo no mercado por considerar a depressão um fenômeno de proporções insignificantes. Hoje, 60 anos depois, a Organização Mundial da Saúde estima que entre 350 e 400 milhões de pessoas sofram de alguma forma de depressão. Isso representa algo em torno de 5% da população mundial. No Brasil, os números são mais substantivos. Segundo o IBGE, 7,6% da nossa população foi diagnosticada com depressão. Ainda segundo estudos da Fiocruz, 1 em cada 4 mulheres sofre de depressão pós-parto, número maior do que a média global.

Diante de números dessa magnitude há de se perguntar o que realmente ocorreu nos últimos 60 anos. Estamos no meio de algo como uma verdadeira epidemia mundial de depressão que fez números insignificantes saltarem a proporções massivas. Ou, na verdade, essas pessoas já estavam lá, mas não eram vistas, não eram diagnosticadas de forma correta?

Uma certa ideia de desenvolvimento científico gostaria de nos fazer acreditar na segunda hipótese. Pois se trata de defender que a ciência caminharia a passos largos por meio de uma correspondência cada vez maior ao mundo tal como ele é, independentemente de nossa forma de descrevê-lo. Como se nossa linguagem científica fosse um espelho que aos poucos poderia ser polido, limpado de suas crenças e superstições a fim de alcançar uma translucidez crescente. Pois o desenvolvimento de nossas categorias científicas seria baseado em refutação e descoberta. Refuta-se uma descrição errada, que não corresponde a nada no real, e descobre-se uma "espécie natural", ou seja, um conjunto de fenômenos cuja identidade é dada pelo mundo, não por nós.

Acreditar nessa marcha irresistível da ciência é reconfortante para alguns. Mas será que esse raciocínio vale realmente para categorias clínicas, como a depressão, ou, por exemplo, o transtorno de personalidade histriônica e o transtorno bipolar? É possível dizer, ao contrário, que nossas categorias clínicas ligadas à descrição do sofrimento psíquico, em larga medida, produzem os objetos que elas descrevem?

Pois notemos uma diferença importante entre categorias utilizadas para descrever comportamentos humanos e aquelas utilizadas para descrever fenômenos do mundo físico. Quando descrevemos fenômenos físicos, os objetos envolvidos não apreendem reflexivamente as descrições que deles fazemos. Ao descrever a lei da gravidade, temos poucas chances de uma pedra dizer para si mesma: "Então, é por isso que sempre caio. Hum, interessante".

No entanto, é isso o que acontece quando um paciente se vê como depressivo. Ele apreenderá reflexivamente a categoria que o descreve, ele dirá a si mesmo, "então sou um depressivo", e essa nomeação de si não será indiferente. Ela produzirá novos efeitos e reorientará os efeitos passados, repetindo um fenômeno que teóricos da ciência, como Ian Hacking, chamam de "nominalismo dinâmico". Pois uma doença psíquica não é apenas uma descrição de fenômenos físicos agenciados em conjunto: ela é uma identidade, uma identificação, e esquecemos disso muitas vezes. Da mesma maneira como alguém muda seu comportamento e sua maneira de estar no mundo quando assume para si mesmo, por exemplo, "eu sou negro, eu sou escocês, eu sou judeu etc.", ela mudará quando se ver como depressivo.

Nesse sentido, talvez possamos dizer que o fato de, ao menos segundo o saber psiquiátrico reinante, não haver mais histéricas, neuróticos e paranoicos entre nós (pois todas essas categorias clínicas foram abandonadas nos últimos anos) não significa que o sofrimento que elas nomeavam desapareceram. Significa apenas que eles são narrados de outra forma. A boa questão é, pois: por que, a partir de certo momento, eles serão narrados de outra forma? Por que, a partir de certo momento, preferimos narrar nosso sofrimento como "depressão"?

Não haveria questões exteriores à clínica e próprias ao campo alargado da cultura que nos levaram a preferir certas narrativas a despeito de outras? Isso nos obrigaria a perguntar não apenas sobre descrições, mas sobre valores, ou seja, sobre se nossa ideia de normalidade e saúde não seria portadora de valores que mudam historicamente a partir de dinâmicas que não são apenas ligadas ao universo dos laboratórios e dos hospitais. Mas isso exigiria uma visão do saber médico-psiquiátrico que nos parece atualmente proibida.




Conselho de medicina aprova nova terapia para próstata aumentada

22/07/2016 - Folha de S.Paulo


Em uma dada madrugada de 2003, Atilio Altavista, 56, se levanta e vai ao banheiro.

Volta para a cama, mas logo vem a vontade de novo. Com esforço, consegue urinar. Começavam ali os sintomas do aumento benigno da próstata, problema que atinge cerca de 30% dos homens acima dos 60 anos.

“Só conseguia pensar‘ onde tem banheiro por perto’.

Virou uma neura”, conta.

Até que, em 2015, Atilio se submeteu a um novo tratamento pouco invasivo desenvolvido pelo Hospital das Clínicas da USP.

A técnica, chamada de embolização das artérias da próstata, já tinha recebido parecer favorável do CFM (Conselho Federal de Medicina) em 2014,mas foi aprovada de vez neste ano e pode começar a ser utilizada por outros centros de saúde do Brasil.

O conselho publicou as normas para a prática e criou um site para o cadastramento das instituições de saúde e médicos que queiram realizar o procedimento. Por enquanto, a técnica só será realizada em instituições autorizadas pelo CFM.

O Hospital das Clínicas da USP, que era o único a realizar o procedimento, está iniciando o processo de treinamento para outros centros do país interessados.

Dos 250 pacientes que realizam o procedimento desde o início dos testes em 2008 no hospital, cerca de 90% melhoraram dos sintomas da doença. Nenhum dos pacientes tratados apresentou dificuldades de função sexual ou incontinência urinária.

Contudo, o tratamento não é indicado para homens com câncer de próstata, disfunção da bexiga, para aqueles que realizaram radioterapia na pélvis e para os que têm alergia ao contraste iodado usado. Nestes casos, a chance de os sintomas voltarem é maior.


O PROBLEMA


Quando a próstata de um homem aumenta, ela normalmente pressiona a uretra, canal pelo qual a urina é expelida. É assim que começam as dificuldades.

Em alguns pacientes, abexiga também é pressionada, agravando o quadro de necessidade constante de ir ao banheiro, um dos principais sintomas da doença. Incontinência, jatos fracos e dificuldade para urinar também podem indicar a existência da condição.

A próstata normalmente tem o tamanho de uma avelã.

Idade, hereditariedade, ação de hormônios, falta de atividade física e colesterol alto são fatores que contribuem para o aumento benigno da glândula.

Contudo, somente o aumento dela não significa a existência de algum problema. Os sintomas devem ser a principal preocupação, segundo Francisco Carnevale, 50, diretor de radiologia vascular intervencionista do Hospital das Clínicas da USP e do Hospital Sírio-Libanês.

Foi ele quem desenvolveu a nova técnica para redução de tamanho da próstata. Mais rápido e menos invasivo, o método é feito com anestesia local e permite que o paciente vá para casa no mesmo dia, em torno de duas horas após o procedimento.

Até a chegada do novo tratamento, existiam somente duas formas de cuidar do quadro. Nos casos menos graves, remédios costumam ser indicados, mas seus efeitos colaterais incluem hipotensão (pressão baixa), fadiga, disfunção erétil e diminuição da libido. Para os casos mais graves, a saída era uma cirurgia que abre uma espécie de “túnel” na próstata para a passagem da urina—estima-se que 10% dos pacientes precisem da intervenção cirúrgica.

Os sintomas e a gravidade deles tendem a aumentar com a idade, diz Carnevale. E a vida das pessoas que vivem ao redor do doente também acaba afetada. A vontade constante de urinar acaba interrompendo eventos sociais, filmes e conversas.

“O problema atrapalhava também a vida da minha esposa. E ela sabia que cada vez que eu entrava no banheiro era um martírio, me via saindo vermelho de tanto fazer esforço”, diz Atílio.


COMO FUNCIONA


O procedimento é uma espécie de cateterismo, inserção de um fio de pequena espessura em uma artéria. Este filete avança até chegar à próstata e encontrar os nódulos que impedem a urina de fluir livremente.

Quando os encontra, o médico que conduz o procedimento libera microrresinas acrílicas —pequenos objetos semelhantes à grãos de areia—nos vasos sanguíneos que irrigam a região.

Esta resina impede que o sangue flua para os nódulos e, desta forma, acaba matando o tecido do local. O resultado é a redução de até 40% do tamanho da próstata.

O procedimento ainda permanecerá sob acompanhamento do CFM pelos próximos cinco anos para análise dos dados da aplicabilidade clínica e segurança da técnica.

Essa supervisão é padrão para técnicas de alto risco e alta complexidade, classificação recebida pelo procedimento devido à especialização e ao treinamento necessários, segundo Cacilda Pedrosa, relatora da diretriz que aprovou o procedimento.

Segundo ela, a embolização foi considerado um procedimento de alta complexidade devido aos requisitos necessários para sua realização —como a necessidade de um angiógrafo para avaliar todas as artérias da próstata.

Os riscos incluem isquemias localizadas e sangramentos.

A técnica já começou a ser utilizada na Europa e está em processo de aprovação nos Estados Unidos.




Plano popular não acabará com fila do SUS, diz Barros

22/07/2016 - Folha de S.Paulo


Apesar de defender a criação de um plano de saúde popular, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse em entrevista à Folha não ter expectativa de que a medida “acabe com a fila do SUS”.

“Não estamos aliviando, estamos atendendo mais pessoas”, afirmou.

Segundo Barros, a ideia é reduzir a exigência mínima de cobertura definida pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) para planos de internação hospitalar.

Questionado sobre a preocupação do setor com a qualidade dos planos, rebate as críticas: “E o SUS, garante bom atendimento?”

Folha - Uma das suas bandeiras tem sido o plano de saúde popular. Como surgiu essa proposta e quanto de alívio espera para o SUS?

Ricardo Barros - Plano de saúde acessível tem uma cobertura menor e um custo menor. Todo tipo de procedimento que pudermos oferecer às pessoas com segurança, qualidade e que não sejam feitos pelo SUS significam um alívio na fila.

Todo recurso que entrar é um recurso para a saúde.

Mas esses recursos seriam para o setor privado.

São recursos para a saúde

Se a pessoa faz uma consulta especializada, se é SUS ou não SUS, não importa. Importa que seja atendido.

Isso também deve diminuir os gastos com o SUS? Se pudéssemos diminuir o atendimento, sim, mas não é o caso. Toda a economia que eu fizer com gestão será reaplicada em saúde. Não vamos reduzir gastos em saúde.

São recursos adicionais

Há estimativa de quanto isso pode trazer de economia? Não, porque os planos têm que ser desenvolvidos e precificados pelas empresas.

Hoje há uma cobertura mínima obrigatória. Não haverá exigência semelhante, por mais que seja ainda menor? Isso será decidido pela agência. A lei já permite planos sem internação e alguns estão no mercado.

A ideia então é que sejam só para consultas e exames? Não. Esses já estão autorizados.

[A ideia é] Reduzir a exigência mínima para um plano de saúde de internação hospitalar.

O que deve sair da exigência? O que a ANS achar que pode ser feito sem prejuízo da qualidade do serviço.

Há preocupação de que os planos de saúde não necessariamente são garantia de bom atendimento.

E o SUS, garante bom atendimento? É uma avaliação subjetiva. Ninguém paga o plano se não achar que está tendo reciprocidade.

Propor uma cobertura menor do que a mínima obrigatória não é mexer no principal motivo de existência da ANS? O atendimento vai ser muito bom dentro do que for contratado. O que estamos discutindo é qual a cobertura, não a qualidade do plano.

Se a cobertura é menor, o valor é menor, e mais pessoas podem ter acesso.

O que mais o sr. pretende fazer em relação ao SUS? Melhorar a qualidade das consultas, informatizar o sistema. Vamos otimizar a aplicação de recursos. E investir muito em promoção e prevenção na saúde.

Em outra entrevista à Folha, o sr. disse que o Estado teria que rever a questão das garantias previstas na Constituição, inclusive o direito à saúde.

Não falei de saúde, mas de Previdência. Nosso desafio é conciliar o conceito da Constituição aos limites orçamentários. Quero colocar mais recursos na saúde, mas não do Tesouro, porque o Tesouro não tem.

Seria então transferir parte do atendimento do SUS para o setor privado? Já convoquei o setor privado para oferecer planos para aumentar o acesso à saúde.

Se queremos dar tudo para todos, alguém tem que pagar a conta. Quem? Os que estão recebendo o tudo para todos.

Há que ter um equilíbrio

Quanto espera de alívio na fila?

Não terá nenhum alívio.

Mas as pessoas que estão esperando na fila vão ser atendidas nesses serviços, e outras no SUS. Não tenho expectativa de que acabe a fila.

Não estamos aliviando, estamos atendendo mais pessoas.

Uns pelo plano, outros pelo SUS. Não tenho que atender pelo SUS, tenho que atender a saúde.




Mercado Aberto: Auxílio-doença para trabalhadores dependentes de drogas cai quase 10%

22/07/2016 - Folha de S.Paulo


O número de trabalhadores que receberam seguro-saúde por transtornos psiquiátricos ligados ao uso excessivo de álcool e drogas caiu 9,1% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período de 2015.

Neste ano, 18.658 funcionários foram afastados dos seus empregos por problemas com substâncias, aponta a Previdência Social.

Essa foi a segunda queda consecutiva nas concessões por abuso de drogas -em 2015, o número foi 10% menor que em 2014.

A diminuição de afastados do trabalho com auxílio-doença não significa que a população, nesses anos, passou a consumir menos, diz Marcelo Cruz, vice-presidente da associação brasileira de estudos sobre drogas.

"Os estudos epidemiológicos mostram um aumento, principalmente de álcool", afirma o psiquiatra.

O que mudou é que, em 2013, foram alteradas as diretrizes da Previdência sobre a forma que os médicos peritos devem atuar, afirma Francisco Alves, presidente da associação desses profissionais.

Até então, se uma pessoa se internava voluntariamente em uma clínica, mesmo sem ordem médica, era considerada incapaz para trabalhar e recebia o benefício.

"Havia abusos e muitas fraudes. Agora, o médico preciso checar se existem critérios clínicos de impossibilidade psiquiátrica para o trabalho", afirma Alves.




Governo atua para manter médicos cubanos

22/07/2016 - O Globo


-BRASÍLIA- O ministro da Saúde, Ricardo Barros, quer manter no Brasil os profissionais cubanos que participam do programa Mais Médicos e cujos contratos vencem nos próximos meses. Barros disse ao GLOBO que é preciso aproveitar o entrosamento desses profissionais, que estão há três anos no país, com as comunidades onde atuam.

O ministro disse considerar justo o reajuste pleiteado pelo governo cubano, mas não informou qual percentual será concedido. Dos R$ 10.513 pagos hoje por cada um dos 11.400 médicos vindos de Cuba, o governo daquele país fica com a maior parte do dinheiro.

Neste ano termina o contrato de três anos de parte dos médicos cubanos. Segundo Barros, o Brasil negocia com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) a possibilidade de renovação desse contrato.

Em reunião semana passada no Brasil, a vice-ministra de Saúde Pública de Cuba, Marcia Cobas Ruiz, disse que o contrato deles não seria renovado. Mas, segundo autoridades brasileiras presentes, ela afirmou que viriam outros profissionais para substituí-los. O Ministério da Saúde prefere a permanência de quem já está no país.

— A lei brasileira não permitia a permanência por mais de três anos desses bolsistas, e a medida provisória passou a autorizar. Também da parte deles (governantes cubanos) não havia a autorização para ficar mais tempo. Mas, agora, estão estudando a probabilidade de deixar ficar quem quiser ficar no Brasil. Para nós é melhor, porque o médico já está entrosado com a comunidade. A partir de novembro, serão substituídos os médicos que desejarem voltar para Cuba — disse o ministro.

Uma medida provisória assinada pela presidente afastada, Dilma Rousseff, autoriza a prorrogação, por até três anos, dos contratos de profissionais estrangeiros no Mais Médicos. Diante da resistência de Cuba, o governo brasileiro pediu à Opas, que organiza o convênio entre as duas nações, para que Havana autorize a permanência dos médicos que desejarem ficar. Segundo o ministro, 3,5 mil contratos de médicos cubanos vencem em novembro.

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