Anvisa analisa 1,8 mil amostras de remédios em 18 meses
21/07/2016 - Portal Brasil
Nesta quarta-feira (20), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) firmou uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para realizar a análise de 1,8 mil amostras de medicamentos em 18 meses.
O projeto é parte do Programa Nacional de Verificação da Qualidade de Medicamentos (Proveme), da qual também participam as Secretarias de Estado de Saúde e alguns Laboratórios Analíticos.
Dentre os medicamentos que serão avaliados estão os mais notificados por queixas técnicas e desvio de qualidade disponibilizados pelo programa Aqui Tem Farmácia Popular, os mais consumidos pela população brasileira, bem como aqueles presentes em outros programas do Ministério da Saúde.
O programa prevê que laboratórios oficiais da Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Sanitária (RNLVISA) avaliem as características físicas e químicas de medicamentos genéricos, similares e de referência. O ato simbólico de assinatura das Cartas de Acordo foi feito durante o 1º Encontro do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, que acontece na sede da Anvisa, em Brasília, até quinta-feira (21).
O PROGRAMA
O Proveme teve início em 2001 e foi responsável pela análise de mais de três mil medicamentos, e os resultados definiram diversas ações sanitárias, como a suspensão de venda e uso, alterações no registro, inspeção, adoção de ações corretivas pelos fabricantes e instauração de Processos Administrativos Sanitários.
O Proveme está alinhado com a Cooperação Técnica Internacional firmada entre a Anvisa e o Pnud, que tem como foco promover a vigilância pós-mercado de produtos para saúde registrados na Agência, além de auxiliar na construção de uma rede de laboratórios do Sistema de Vigilância e Produtos para a Saúde estruturada, fortalecendo o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e contribuindo na proteção e promoção da saúde da população.
Entenda a diferença entre remédios manipulados e industrializados
21/07/2016 - Portal EBC
O farmacêutico Alex Bahiense explica a diferença entre os medicamentos manipulados e os medicamentos industrializados.
Ele ressalta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o órgão fiscalizador das farmácias e estipula regras para a farmácia de manipulação.
“Farmacêutico é o profissional capacitado para orientar o paciente a como usar o medicamento. Toda farmácia, seja de manipulação seja comunitária, tem que ter um farmacêutico trabalhando para atender a população”, lembra Alex Bahiense.
Contrabandistas vendem pílula que dizem ser a do câncer, que STF proibiu
21/07/2016 - G1 - Bom dia Brasil
O Bom Dia Brasil mostra um escândalo contra a saúde pública. Contrabandistas estão vendendo uma substância que eles dizem ser a pílula do câncer, que foi proibida pelo Supremo Tribunal Federal. O suposto medicamento não teve a eficácia comprovada.
Um executivo queria ajudar um amigo com câncer e não hesitou em pedir o remédio para a vendedora. “Ela disse que buscava no Paraguai. Disse que sabia que era irregular, que corria risco, mas que não ganhava nada em cima disso”, afirmou.
De acordo com a vendedora, as pílulas que vinham do Paraguai eram de fosfoetanolamina - aquela substância que teve a venda proibida há dois meses porque não foi comprovada a eficácia no combate ao câncer. Por telefone, nossa reportagem conversou com a vendedora que negociou com o executivo.
Vendedora: Assim ó, 60 cápsulas, R$ 600.
Bom Dia Brasil: Certo. E como é que a gente faz daí?
Vendedora: Olha, aí, assim, teria que passar por aqui pra pegar, né?
A entrega é feita em um estacionamento por um homem que se apresenta como filho da vendedora. Ele nem desce do carro. Perguntamos quantos comprimidos devem ser tomados por dia.
Entregador: É a primeira vez que ela vai tomar?
Bom Dia Brasil: É.
Entregador: É, os três primeiros dias tem que tomar três por dia.
Bom Dia Brasil: Três por dia?
Entregador: Três por dia. E aí, depois dois por dia.
O frasco é todo branco. Não tem rótulo e ainda vem fora da caixa. Não há nenhuma indicação de que as pílulas são mesmo de fosfoetalonamina, e mesmo se estivesse escrito o nome da substância, ela não poderia estar sendo vendida porque não tem registro na Anvisa.
“É crime, punido com reclusão de 10 a 15 anos, que é comercializar produtos sem registro na Anvisa”, diz a delegada Maria Lúcia Wunderlich dos Santos, da Polícia Federal.
A vendedora fica irritada quando descobre que o cliente, na verdade, é um repórter.
Vendedora: Eu sabia, eu tinha certeza que tu era uma pessoa que queria ferrar com alguém.
Bom Dia Brasil: A gente só está querendo desvendar uma ilegalidade, denunciar algo que é ilegal.
Vendedora: Então, meu querido, não sou eu que tu deve pegar.
Bom Dia Brasil: Mas é a senhora que está vendendo o remédio. Eu negociei com a senhora.
Vendedora: Não, não foi comigo, não.
Para o oncologista Carlos Eugênio Escovar, o consumo de remédios contrabandeados pode trazer riscos aos pacientes. “Se a fosfoetanolamina, que já é uma substância que a gente ainda não consegue dizer para ninguém que tem algum benefício, a gente contraindica, imagina algo que a gente não sabe o que tem dentro de uma cápsula”, afirmou o médico.
A Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Sul disse que este ano já apreendeu mais de 17 mil remédios clandestinos no estado. Mas até agora não tinha recebido denúncia de contrabando desse tipo de substância. A equipe do Bom Dia Brasil vai entregar para a polícia as cápsulas que comprou.
Proteção contra o Alzheimer pela flora intestinal
22/07/2016 - Correio Braziliense
Os antibióticos surgem como um potencial caminho para o enfrentamento ao Alzheimer. Em um experimento com ratos, cientistas dos Estados Unidos detectaram que o medicamento diminuiu o acúmulo da proteína beta-amiloide, ligada ao desenvolvimento da doença neurodegenerativa em humanos. Para os estudiosos, alterações na flora intestinal provocadas pela ação do remédio seriam responsáveis pelo benefício. A afirmação reforça as recentes evidências da relação estreita entre a microbiota e o cérebro.
“Estamos explorando bastante esse território, a forma como o intestino influencia a saúde do cérebro. Essa é uma área em que as pessoas que trabalham com doenças neurodegenerativas têm se interessado cada vez mais porque ela pode influenciar a estrada que percorremos em busca de tratamentos”, explicou, em comunicado à imprensa, Sangram Sisodia, professor de neurociências da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo, divulgado na última edição da revista Scientific Reports.
Na análise, os cientistas focaram em duas substâncias relacionadas ao Alzheimer: a amiloide, uma proteína presente no cérebro; e a microglia, um conjunto de células cerebrais que desempenham funções essenciais no sistema imunológico e no sistema nervoso central e que, para especialistas, está relacionado ao declínio cognitivo causado pela doença. Ratos receberam altas doses de antibióticos ao longo de seis meses e um grupo de controle, não. Depois, uma análise genética de bactérias presentes no intestino das cobaias mostrou que a quantidade de micróbios presentes era praticamente a mesma em todas elas, mas a diversidade da flora intestinal das tratadas com o medicamento tinha subido drasticamente.
Os antibióticos também diminuíram o acúmulo das proteínas amiloides na cobaias e aumentaram a atividade da microglia, o que significa uma defesa maior do corpo contra a doença neurodegenerativa. Os cientistas acreditam que as alterações detectadas podem servir de base para futuras descobertas ligadas ao Alzheimer. “Não propomos que o uso a longo prazo de antibióticos seja um tratamento, o que é absurdo por diversas razões, mas o que esse estudo faz é nos permitir explorar ainda mais essa área, já que mudar a população microbiana do intestino mostrou, em camundongos, uma queda de amiloide”, ressaltou, em comunicado, Myles Minter, pesquisador no Departamento de Neurobiologia da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo.
Sisodia ponderou ainda que o Alzheimer começa a alterar o organismo no paciente por muito tempo, ultrapassando etapas da vida. “Nós sabemos que há mudanças que ocorrem no cérebro e no sistema nervoso central de 15 a 20 anos antes do surgimento dos sintomas. Temos de encontrar formas de intervir quando um paciente começa a mostrar sinais clínicos. Se pudermos aprender como as mudanças nas bactérias do intestino afetam o início e a progressão ou como as moléculas interagem com o sistema nervoso, poderíamos usar essa base para criar um tipo de medicina personalizada”, cogitou.
OUTROS DESAFIOS
Para Cláudia Barata Ribeiro, neurologista do Hospital Prontonorte, em Brasília, e presidente da regional do Distrito Federal da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR), o trabalho norte-americano utiliza informações conhecidas na área médica para buscar mecanismos que possam ajudar a combater o Alzheimer. “A alteração da microbiota pelo uso de antibióticos é algo que sabíamos. O grande ponto de destaque desse trabalho é a constatação da diminuição de placas amiloides, que seguem solúveis no cérebro sem causar problemas, mas, quando se acumulam, podem interferir nas sinapses, estando associadas, assim, ao Alzheimer e a outras doenças neurodegenerativas. Outros medicamentos foram criados com o objetivo de diminuir essas placas, mas nenhum deles funcionou bem”, detalhou.
Segundo Cláudio Roberto Carneiro, coordenador de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), um dos passos decisivos é descobrir o mecanismo que leva à alteração na flora intestinal pelo medicamento testado pelos norte-americanos. “O objetivo seria criar um remédio que não causasse efeitos colaterais, como o antibiótico em excesso. Os próprios autores frisam o quanto ele não é uma opção de tratamento. Trata-se de uma hipótese que precisa de mais aprofundamento, de muito mais pesquisas”, defendeu o especialista.
Para Carneiro, o estudo norte-americano tem que ser visto como mais uma tentativa de entender melhor como a doença de origem desconhecida pode ser tratada. “O acúmulo de amiloide é realmente maior em pacientes que sofrem com Alzheimer, mas temos pessoas com essa substância em excesso que tem uma memória boa. Muitos especialistas também têm relacionado o Alzheimer com o acúmulo de glicose, que pode estar associado ao diabetes tipo 3. Resumindo, ainda precisamos saber muito mais sobre essa enfermidade para combatê-la com sucesso.”
A neurologista Cláudia Barata Ribeiro indica algumas áreas que merecem investigação. “Outro ponto a ser explorado é como essas placas interferem no organismo. Isso porque essa proteína precisa se conectar a um receptor para que o efeito negativo ocorra, independentemente da sua presença. O foco precisa estar também na interação entre eles, precisamos conhecer todos os mecanismos envolvidos”, listou.
Os autores do trabalho darão continuidade à pesquisa e acreditam que uma análise científica mais ampla do funcionamento do organismo humano possa render ainda mais frutos. “Ao juntar ideias de áreas que, por muito tempo, foram estudadas separadas, as possibilidades são realmente incríveis”, opinou Minter.
“Não propomos que o uso a longo prazo de antibióticos seja um tratamento, o que é absurdo por diversas razões, mas o que esse estudo faz é nos permitir explorar ainda mais essa área, já que mudar a população microbiana do intestino mostrou, em camundongos, uma queda de amiloide”
Myles Minter, pesquisador no Departamento de Neurobiologia da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo.
SP inicia testes da pílula do câncer em humanos
22/07/2016 - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Os testes em seres humanos com a fosfoetanolamina sintética, mais conhecida como “pílula do câncer”, terão início na próxima segunda-feira no Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp). Os voluntários foram escolhidos entre pacientes do instituto, e a primeira etapa vai analisar a segurança do produto.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 21, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que afirmou que os participantes devem começar a ser avisados hoje. “Estamos com esperança de que (a substância) possa trazer um avanço no tratamento das neoplasias.”
A pesquisa prevê a participação de até 1 mil voluntários e a primeira fase terá dez participantes. Eles vão receber a substância para que seja determinada a segurança da dose que tem sido usada pelos pacientes. Se não tiverem efeitos colaterais, vão continuar fazendo parte do estudo, e uma nova etapa será iniciada, dessa vez com 21 participantes para cada um dos dez tipos de tumor que vão fazer parte da pesquisa, entre eles pulmão, mama, próstata, estômago e fígado. Os participantes serão avaliados e, caso a pílula apresente atividade, serão incluídos mais 20 voluntários em cada grupo.
A eficácia da substância será levada em consideração para a inclusão de mais participantes, que podem chegar a cem para cada tipo de câncer. Os voluntários serão monitorados por uma equipe multidisciplinar do Icesp. Eles vão tomar três comprimidos por dia e, a cada três resultados que apontem a eficácia da pílula nos grupos de voluntários, novos participantes serão incluídos.
“Pretende-se dar todas as chances de a fosfoetanolamina mostrar eficiência. O estudo teve um desenho científico adequado e será feito com todo o rigor científico”, diz David Uip, secretário estadual da Saúde.
RESULTADOS
Diretor do Icesp, Paulo Hoff diz que, se houver a participação dos 1 mil voluntários, a pesquisa deve durar cerca de dois anos, mas os primeiros resultados já devem ser divulgados neste ano.
“Sobre a toxicidade, teremos resposta em dois meses. Em aproximadamente seis meses, a partir de agora, já saberemos quais grupos serão expandidos com a inclusão de mais pacientes e quais serão fechados por ineficácia da droga.”
Hoff explica que não haverá abertura de inscrições para participação no estudo e que os critérios de seleção foram determinados de acordo com o tipo de câncer, mas que também há aspectos gerais que foram levados em consideração.
“O que há de geral é que não será um tipo de pesquisa com pacientes terminais, será em pacientes que não têm opção de tratamento curativo disponível e que o organismo está em boas condições para responder ao tratamento.” Ele afirma ainda que voluntários que puderem ficar por um período de dois meses sem tratamento e que fique comprovado que o intervalo não trouxe impactos negativos para a sobrevida também estarão entre os participantes.
POLÊMICA
A fosfoetanolamina começou a ser distribuída para pacientes com câncer antes de passar por testes em humanos e sem a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela foi desenvolvida pelo professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) Gilberto Chierice.
Testes in vitro e com cobaias estão sendo feitos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), mas a eficácia da substância ainda não foi comprovada.
Hoff afirma que os dados são levados em conta, no entanto, existe a necessidade de informar se a substância é eficaz ou não. “Nós achamos que essa informação é importante, mas, no momento em que temos mais de 20 mil pessoas fazendo uso do produto e um grande interesse popular, é muito importante dar uma resposta definitiva que virá de um estudo em seres humanos.”
23 conquistas contra o câncer
21/07/2016 - Revista Saúde É Vital
1. UM SUPER EXERCITO NO SEU CORPO
Entre os mais de 5 800 estudos apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), ganharam destaque os experimentos focados nas CAR T Celis. "É talvez a novidade mais importante deste ano", conta o médico Sérgio Simon, diretor do Centro Paulista de Oncologia. Por meio desse tratamento, células de defesa do paciente recebem, no laboratório, um receptor específico para se ligarem depois ao câncer. "As CAR T Celis reconhecem tumores que antes passavam despercebidos pelo sistema imune", esclareceu em palestra o hematologista David Porter, da Universidade da Pensilvânia (EUA). Em tese, daria pra adicionar receptores nas nossas tropas celulares segundo traços de cada inimigo — o que abre portas para testar o procedimento em inúmeros tipos da doença. Mais: esse batalhão de elite se replica dentro do corpo, o que traria proteção prolongada. Em trabalhos com leucemia aguda resistente à terapia tradicional, chegou-se a observar uma resposta completa em 94% dos casos. Mas ainda é necessário muito esforço para, acima de tudo, minimizar seus efeitos colaterais, um tanto penosos.
2. GOLPE DUPLO EM UM CÂNCER INFANTIL
Para enfrentar o neuroblastoma de alto risco, que afeta células nervosas fora da cabeça, recorre--se ao transplante autólogo — ele consiste em extrair a medula óssea da criança, dar uma químio potente e reinjetar a mesmíssima medula. "É um jeito de sermos agressivos sem destruí-la", diz Neysimélia Villela, onco pediatra do Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista. Pois o Grupo de Oncologia Infantil dos EUA avaliou um transplante autólogo duplo, ou seja, a técnica foi repetida semanas depois. Aí, 61% dos pequenos ficaram sem complicações em três anos, ante 48% do grupo do método padrão. Isso sem mais reações adversas.
3. TERAPIA DE CHOQUE
Alguns pacientes americanos já passam horas por dia com eletrodos na cabeça que criam um campo elétrico capaz de frear o glioblastoma, o tumor cerebral mais perigoso. O aparelho (da Novocure) fez subir de 29 para 43% a sobrevivência após dois anos. "O resultado impressiona, porém o tratamento é caríssimo", pondera Roberto Abramoff, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
4. ENFIM, UMA BOA NOVA PARA A BEXIGA
Desde a década de 1970, tratava-se o tumor de bexiga do mesmo jeito: com químio. Mas o cenário vem mudando com o atezolizumabe, um remédio da Roche que faz o sistema imunológico identificar a doença e atacá-la. Numa pesquisa da Universidade de Nova York (EUA), ele aumentou significativamente a sobrevida dos pacientes. "E é mais bem tolerado do que quimioterápicos", garante Arjun Balar, autor do trabalho.
5. UM FREIO NO MIELOMA MÚLTIPLO
Ainda sem chance de cura, esse câncer da medula óssea ao menos vem sendo contido com fármacos inovadores. Um dos mais comentados no encontro da Asco foi o daratumumabe, da Janssen. "Ele mira uma molécula presente na maioria dos mielomas múltiplos, a CD-38", diz Vania Hungria, hematologista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Seu uso baixou o risco de progressão em 70%.
6. FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO
Uma célula normal se converte para o lado negro da Força a partir de mutações no seu DNA. E essa transformação tende a se desenvolver só quando uma parcela das moléculas que reparam estragos no código genético para de funcionar. Mas o curioso é que, graças a isso, o câncer passa a depender (muito!) de uns poucos mecanismos de reparo do genoma para simplesmente não implodir. Daí veio a sacada: que tal criar uma medicação com a capacidade de inibir uma dessas vias e, assim, fazer o DNA do adversário se desfazer por completo? Pois esse comprimido já foi desenvolvido e aprovado nos Estados Unidos e na Europa para combater tumores de ovário — é o olaparibe, da AstraZeneca. "Temos mulheres que estão se beneficiando dessa terapia há mais de cinco anos, o que é um ganho enorme para um tipo agressivo e carente de terapias", diz o oncologista Charlie Gourley, da escocesa Universidade de Edimburgo. A animação é tanta que a droga vem sendo avaliada em mama, próstata, pâncreas... E outras com ação parecida estão pipocando no mercado.
7. QUIMIOTERAPIA REPAGINADA
Ela existe desde a primeira metade do século 20 e nem por isso parou no tempo. No congresso da Asco, novas substâncias, combinações e formas de aplicação foram abordadas, ilustrando como uma velha tática pode render frutos. Um levantamento canadense mostra que a químio intra peritoneal — injetada na barriga — em união com a versão tradicional (intravenosa) reduziu de 42 para 23% a quantidade de pacientes que viram seu tumor de ovário seguir em progressão por nove meses.
8. ALVO CERTO EM TUMORES GÁSTRICOS
Esse tipo é o quinto mais comum — e temos poucas opções para vencer os casos resistentes. Eis que surge o IMAB362, princípio ativo da farmacêutica Ganymed, que mira a proteína claudin18.2. "Como ela é abundante em cânceres gástricos, estimo que metade das pessoas em estágio avançado é candidata ao tratamento", calcula o oncologista Salah Al-Batran, do Nordwest Hospital, na Alemanha. Nos testes, a sobrevida de alguns pacientes subiu de 8 para 13 meses com a adição do IMAB362.
9. RARO, POREM NÃO MAIS NEGLIGENCIADO
"Até pouco tempo, mediamos a sobrevida de gente com GIST disseminado, um tipo raro de tumor gastrointestinal, em meses", lembra-se Rui Weschenfelder, oncologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. "Hoje, não é difícil vê-los vivendo cinco anos", diz. A mudança se deve à terapia-alvo, classe de remédios precisos que foi inaugurada, nesse tipo da doença, com o imatinibe, da Novartis. Depois chegou o sunitinibe (Pfizer) e, agora no Brasil, o regorafenibe (Bayer), outro destaque na Asco.
10. REVOLUÇÃO PELO PÂNCREAS
Um exemplo de como ajustes na químio fazem uma baita diferença vem do Grupo Europeu de Estudos sobre Câncer Pancreático. Em um experimento com participantes submetidos à cirurgia para remoção desse tumor — o terceiro mais letal —, 107 seguiram a estratégia padrão de receber gencitabina, da Eli Lilly, para aniquilar unidades maléficas remanescentes. Já outros 109 também tomaram a capecitabina, um quimioterápico de uso oral da Roche. Após cinco anos, 16% da primeira turma não morreu, enquanto 29% da segunda seguiu viva. É um número baixo, só que quase duas vezes maior que o anterior. "A descoberta é valiosa, porque mostra como a combinação de agentes citotóxicos dá uma chance maior de sobrevivência sem acrescentar reações colaterais", conclui John Neoptolemos, um dos responsáveis pela investigação.
11. CAVALO DE TROIA ANTICÂNCER
Diz a lenda que, após anos protegendo as muralhas de sua cidade, os troianos viram os gregos recuarem, deixando para trás somente um enorme cavalo de madeira — a oferenda foi vista como sinal de trégua. Ao levarem-no para o interior de seus muros, foram surpreendidos com inimigos saindo desse "presente de grego", o que culminou na derrota de Troia. Guardadas as devidas proporções, é essa a lógica do Rova-T, fármaco criado pela Stemcentrx. "Ele se ancora em uma molécula do tumor chamada DLL3 e, então, libera um veneno potente", ensina o oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, na capital paulista. A promessa possibilita dar uma pancada no alvo sem afetar o resto do corpo. Em dados preliminares, ela brecou o crescimento de um tipo de câncer de pulmão com alta expressão de DLL3 em 89% dos casos.
12. UM APLICATIVO TÃO EFICAZ QUANTO REMÉDIOS DE ÚLTIMA GERAÇÃO
Qualquer tática que suba o índice de sobrevivência de 49 para 75% em um ano entre vítimas de câncer de pulmão avançado seria pra lá de comemorada. É esse o poder de um app online, ainda em desenvolvimento, que chamou atenção em meio a tantos medicamentos na reunião da Asco. Não tem segredo: ele pede para o sujeito reportar semanalmente a intensidade de 12 sintomas e, sozinho, identifica alterações suspeitas no quadro, avisando um profissional. "Introduzimos uma era na qual o paciente dá um feedback contínuo", diz Fabrice Denis, médico envolvido no projeto, do Instituto Interregional de Cancerologia, na França. O oncologista Stephen Stefani, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, dá outra boa notícia: "Estamos trabalhando num programa similar que deve estar disponível ano que vem por aqui".
13. EXAME SIMPLES E MAIS PRECISO PARA A PRÓSTATA
O câncer que se instala nessa glândula faz aumentar a produção de uma proteína, o PSA. Desse achado surgiu um teste sanguíneo capaz de flagrá-la e que ganhou o mundo na década de 1990. Contudo, o tempo mostrou que, isolado, esse método não pega uma parcela considerável de tumores agressivos e, na contramão, capta em excesso os indolentes, que podem dispensar tratamento. Tanto que, até hoje, nenhum estudo ligou o rastreamento populacional com PSA a uma menor mortalidade. "Gastar recursos com um exame que acaba submetendo alguns homens a procedimentos com efeitos colaterais sem aumentar a chance de cura é algo questionável", afirmou em uma aula o epidemiologista Henrik Grõnberg, do Instituto Karolinska, na Suécia. O médico anunciou os resultados de uma pesquisa com um novo teste feito por sua equipe, o Stockholm-3, que usa vários marcadores tumorais e variáveis clínicas. "Ele é mais barato e eficaz que o PSA. E estará disponível em Estocolmo a partir de setembro", revela.
14. PARA ALEM DA LOCALIZAÇÃO
O pembrolizumabe, princípio ativo da MSD, destacou-se em 2016 por, entre outras coisas, trazer bons resultados diante de tumores de pulmão. Mas as melhores respostas foram vistas em gente cuja doença tinha alta taxa da proteína PD-1 — na ausência dela, o poder da droga era similar à químio. Ou seja, a escolha da terapia certa depende cada vez mais de traços moleculares do tumor e menos do local.
15. BIOPSIA SEM CORTE
Para vislumbrar o perfil molecular de um câncer, é preciso tirar um pedaço dele, o que pode ser uma baita chateação em quem se submete à técnica repetidas vezes para saber a evolução do quadro. Daí porque cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) compararam biópsias normais a outras feitas com simples amostras de sangue. "A acurácia foi parecida. Isso põe a biópsia líquida como opção de acompanhamento", diz Philip Mack, autor da experiência.
16. A ERA DAS COMBINAÇÕES
Homenageado por suas contribuições na oncologia, Paul Bunn, da Universidade do Colorado (EUA), fez uma ressalva em seu discurso: "Um remédio sozinho dificilmente vai curar um câncer". Não à toa, ganham força as alianças farmacológicas. Exemplo: juntos, nivolumabe e ipilimumabe (da Bristol), acarretam uma resposta duas vezes maior para um tumor de pulmão do que o uso isolado do primeiro.
17. MAIS TEMPO PARA A HORMÔNIOTERAPIA
É comum mulheres tomarem pílulas que bloqueiam a ação de hormônios femininos por cinco anos após o câncer de mama ter sumido dos radares. Mas um estudo da Universidade Harvard (EUA) indica que ampliar o tempo para uma década derruba em mais 34% o risco de recorrência. "Ele reforça um protocolo já adotado em mulheres de alto risco. Contudo, reações adversas, como secura vaginal, precisam ser debatidas", diz Buzaid.
18. ABAIXO A RESISTÊNCIA
Certos tumores de mama conseguem driblar os efeitos da hormonioterapia. A ciência não se contentou com isso e elaborou o palbociclibe (Pfizer), que, além de abalar a divisão celular das células cancerosas, atua em seus receptores de estrogênio, contribuindo para que não se tornem resistentes. Em uma pesquisa, a união dessa molécula com um anti--hormônio aumentou o tempo de vida sem reincidência do mal. E ela é bem pouco tóxica.
19. MENOS CORTES, MESMA EFICÁCIA
Aquelas cirurgias radicais e mutiladoras estão virando história. Quer prova? Uma investigação de entidades americanas com 891 voluntárias demonstrou que uma operação contra nódulos de mama que preserva mais a região das axilas não culmina em maior risco de recidiva após dez anos. "A vantagem é que ela minimiza limitações de movimento do braço", informa Simon.
20. MENOS CORTES, MESMA EFICÁCIA
Aquelas cirurgias radicais e mutiladoras estão virando história. Quer prova? Uma investigação de entidades americanas com 891 voluntárias demonstrou que uma operação contra nódulos de mama que preserva mais a região das axilas não culmina em maior risco de recidiva após dez anos. "A vantagem é que ela minimiza limitações de movimento do braço", informa Simon.
21. CORAÇÃO RESGUARDADO
Sabe-se há tempos que a químio agride o músculo cardíaco. E mesmo as classes modernas das drogas resultam nesse efeito adverso. "Umas elevam o risco de fibrilação atrial, outras de pressão alta", exemplificou numa aula Javid Moslehi, cardio--oncologista da Universidade Vanderbilt (EUA). O bacana é que, segundo ele, conter tais problemas cedo não os deixa virarem crônicos.
22. OPÇÃO ACESSÍVEL
As drogas biológicas são tão revolucionárias quanto caras. É aí que entram os biossimilares. "Eles têm ação parecida com as originais e são mais baratas", resume Simon. Em estudo da Universidade da Califórnia, o MYL-14010 (da Mylan), biossimilar do trastuzumabe (Roche), exibiu eficácia igual em voluntárias com um tumor de mama. "Achados assim são vitais para dar segurança na hora da prescrição", conta a hematologista Hope Rugo, que conduziu o teste.
23. JUNTOS, VAMOS SUPERAR O CÂNCER
Um dos pontos altos da reunião da Asco foi o discurso de Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, que perdeu um filho por causa de um tumor cerebral. "O desconhecido é ameaçador. Eu e minha família fizemos de tudo para aprender mais sobre a enfermidade contra a qual meu filho lutava. Acreditamos nos melhores doutores para explicar o desconhecido para a gente. [...] Aí notei que ninguém acharia uma resposta sozinho", proferiu. Biden coordena um projeto bilionário que, entre outras coisas, pretende erradicar o câncer apostando no compartilhamento total de informações científicas a respeito dessa doença. Segundo ele, pesquisadores, universidades e empresas têm que disponibilizar todos os dados de suas descobertas para não perdermos tempo com estudos redundantes ou que trazem pouco benefício real. É um desafio sem precedentes — até porque mexe com interesses comerciais enormes. Mas o fato de ser encarado pelo governo americano é um bom sinal. "Imaginem se todos trabalhássemos juntos. Imaginem!"
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