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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 04/07/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

   

 

 

Burocracia sem remédio

03/07/2016 - Folha de S.Paulo


Numa cidade de 12 milhões de habitantes, como São Paulo, não há de ser simples a logística para distribuir remédios gratuitos às farmácias estatais e garantir o acesso tempestivo a quem deles depende.

Falhas pontuais acontecem. Cabe ao poder público saná-las de pronto e por elas desculpar-se, sem recorrer a pretextos burocráticos para explicar a inoperância. Eles não têm como minorar o desconforto do doente que fica sem medicamento a que tem direito.

Tendo recebido queixas sobre remédios indisponíveis, o Ministério Público estadual tomou a iniciativa de investigar. Após visitar cinco unidades da prefeitura e uma do Estado, uma promotora constatou o desabastecimento de cerca de cem itens, numa lista de 400, alguns deles por até 180 dias seguidos.

No rol do que está em falta aparecem antibióticos, antitérmicos, antialérgicos e anticonvulsivantes, cujo fornecimento é de responsabilidade municipal, assim como imunoglobulina anti-hepatite B e morfina, do governo estadual.

Essa grave lacuna obriga pacientes e familiares a peregrinar de farmácia em farmácia. A alternativa é pagar o remédio do próprio bolso e, assim, desfalcar o orçamento.

Para mitigar o problema, a prefeitura conta com um sistema denominado Aqui Tem Remédio. Pela internet, a pessoa pode ver em que unidade se acha a medicação.

A própria Secretaria da Saúde, contudo, avisa que a informação se refere ao estoque do dia anterior e não dá garantia de que a busca será bem-sucedida. De todo modo, é uma forma mais humana de tratar contribuintes enfermos.

Não se pode dizer que o mesmo espírito tenha contaminado a reação das duas administrações ao inquérito civil aberto pela promotora. A secretaria municipal atribuiu o problema a atrasos de fornecedores, que diz ter multado.

A congênere estadual negou o desabastecimento, afirmou discordar da metodologia do Ministério Público e dividiu a responsabilidade com o governo federal: "O Estado não tem competência pela compra de todos os itens distribuídos nas farmácias estaduais, uma vez que a compra de certos medicamentos é de responsabilidade do Ministério da Saúde".

Alegações verazes, talvez, mas que não justificam as deficiências, porque tampouco serão inéditas. O bom administrador se antecipa a elas e assegura margem de segurança para manter o serviço, sem escudar-se na própria burocracia.




Promotoria aponta falta de remédios na rede pública

01/07/2016 - Folha de S.Paulo


Farmácias públicas municipais e estaduais em São Paulo sofrem com falta generalizada de medicamentos, aponta o Ministério Público.

Investigação do órgão feita em maio encontrou desabastecimento de cerca de 100 remédios, numa lista de 400 —algumas das medicações chegam a ficar seis meses sem serem oferecidas.

Após receber reclamações, a promotora Dora Strilicherk visitou cinco unidades da prefeitura, que fornecem medicamentos básicos, e uma do Estado, responsável por medicação de alto custo.

Segundo a promotora, a amostra é representativa das duas redes na capital.

Foi constatada carência de antibióticos, antitérmicos, antialérgicos e anticonvulsivos, considerados “básicos e essenciais” pela Promotoria por serem de uso frequente de crianças e idosos.Os itens estão sob responsabilidade da gestão Haddad (PT).

Também faltavam itens como imunoglobulina anti-hepatite Bemorfina, sob responsabilidade do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

O governo estadual diz que discorda da metodologia da promotora e nega que haja desabastecimento em sua rede.

Segundo o Estado, a farmácia não precisa ter medicamento o tempo todo. A prefeitura diz que a reposição de itens sofreu atrasos e que já os repôs (leia mais abaixo).

A autônoma Miriam Kunis, 44, é uma das pacientes com dificuldades de encontrar remédios.

Ela precisa de prednisona, corticoide utilizado por pacientes transplantados (ela tem pâncreas e rins transplantados),a ser oferecido pelo município. Há seis meses ela não encontra o item.

“Oque eles alegam é que o medicamento está sendo comprado, mas nunca tem”, afirma. Sema oferta gratuita, ela compromete parte de suas economias para comprar o produto. A falta da medicação pode causar a rejeição do órgão transplantado.


GESTÃO


De acordo com o inquérito civil aberto pela promotora (primeiro passo de investigação), há mais problema de gestão do que de falta de recursos nos dois sistemas.

As farmácias informam órgãos centrais que haverá falta de medicação, mas a compra não é feita na velocidade adequada, diz a promotora.

“Cabe a quem está acima hierarquicamente pegar essa informação e tomar a providência cabível. Se é sabido que se pode ter problemas com os prazos, é preciso planejar.

Se comprar antes, não vai faltar”, diz Strilicherk.

A paciente Adriana Medina, 29, afirma que ouviu outra avaliação de médicos e funcionários da unidade na zona sul onde procura, sem sucesso, medicamento para tratar seu rim transplantado.

“Dizem que a culpa é da crise.” Ela procura medicação há seis meses.Conseguiu uma doação do produto para atenuar o problema.

A Promotoria também critica a falta de transparência.

De modo geral, os usuários chegam às farmácias sem saber quais medicamentos estão disponíveis. Em caso de falta, não sabem quando serão repostos.

A prefeitura até possui um site que informa a disponibilidade de remédios, por unidade.“O problema é que muitas pessoas não têm condições de acessar a internet”, afirma a promotora.

 

 

Marca própria em farmácia ainda é incipiente

04/07/2016 - DCI


São Paulo - A penetração das marcas próprias no setor de drogarias ainda é muito tímida no Brasil, ao ponto de mesmo grandes redes terem dificuldade para trabalhar com essa estratégia. Apesar disso, algumas empresas vêm investindo forte nesse nicho. A PanVel, por exemplo, é referência e já comercializa mais de 800 produtos.

"De modo geral, o setor de farmácias no Brasil ainda não despertou para as marcas próprias. Mas individualmente há alguns trabalhos interessantes", comenta a presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização (Abmapro), Neide Montesano.

Para o presidente da PanVel, Julio Ricardo Mottin, o pouco uso de marca própria em algumas redes se deve a maior dificuldade de trabalhar com esses itens no setor de perfumaria. "Em higiene e beleza você tem que estar sempre evoluindo. Tem que ter uma agilidade muito grande para acompanhar as mudanças nos produtos", afirma.

Para seguir essa premissa, a rede - que tem mais de 300 lojas espalhadas pelo Sul do País - possui fábricas próprias que produzem 60% dos itens de rótulo exclusivo da empresa, o que garante essa agilidade de adaptação citada pelo presidente, além de um total controle da cadeia de produção.

A companhia começou em 1989 a investir nesses itens e hoje já possui mais de 800 produtos divididos em 18 marcas diferentes. "Hoje em dia, um a cada cinco produtos de perfumaria que vendemos é de marca própria. A participação é de 20% nesse segmento", diz.

Entre os itens próprios com maior saída, o empresário cita a linha de maquiagem, que é líder no segmento com uma participação de mais de 50%.

Outra rede de farmácias que vem investindo na consolidação de sua linha de produtos de marca própria é a Pague Menos, que começou a trabalhar com a estratégia em dezembro de 2008.

De lá para cá, a empresa teve um crescimento expressivo no segmento, que já representa 6,5% do faturamento total da rede, englobando mais de 1.100 itens. A expansão nas vendas desses produtos também foi grande. Em maio deste ano a alta foi de 35%, na comparação interanual.

Para Mottin, da PanVel, as principais vantagens de trabalhar com produtos de marca própria são: a maior margem de lucro na venda desses itens e a fidelização dos consumidores. "A margem é maior, mas a principal vantagem é a fidelização. Você ter um produto que só você comercializa é muito vantajoso e contribui para atrair o cliente."




Independentes apostam no associativismo para avançar

04/07/2016 - DCI


São Paulo - Se entre as grandes redes de farmácias o desafio para trabalhar com marca própria já é grande, entre as independentes é ainda maior. A solução que tem se apresentado é o associativismo, formato que permite aos varejistas pequenos entrarem nesse nicho.

A Assifarma é um exemplo indiscutível das possibilidades geradas pela união das drogarias menores. A rede, que engloba mais de 500 lojas com 11 bandeiras diferentes, já trabalha com 560 itens de rótulo próprio e 36 marcas. De acordo com a consultora farmacêutica da associação, Giovana Dimitrov, a participação da venda desses produtos no total do faturamento já é de cerca de 6%.

"E queremos crescer ainda mais. Até 2020, temos a expectativa de que a marca própria represente cerca de 20% da nossa receita", afirma. A rede começou há dez anos a trabalhar com essa estratégia, com apenas um item.

Apesar de ser o maior exemplo do uso de marca própria em redes associativistas, ele não é o único. Na realidade, duas outras associações ouvidas pelo DCI têm feito um trabalho forte nesse sentido. A Rede Farmácias Associadas possui 250 produtos de marca própria, e também começou com a estratégia em 2006. "Na época decidimos começar por conta dos benefícios de vender esses produtos: a fidelização e a maior rentabilidade", conta o diretor executivo da rede, Jaime Moreira, explicando que a margem de lucro na comercialização dos itens próprios chega a ser 20% maior.

A rede reúne cerca de 300 proprietários e aproximadamente 780 lojas. Segundo Moreira, os varejistas não são obrigados a comercializar os itens de rótulo próprio, mas cerca de 200 proprietários do grupo trabalham com esses produtos dentro de suas lojas.

Outra rede associativista que vem investindo nesse nicho é a Agafarma, que possui 206 itens próprios, divididos em quatro marcas. "A participação da marca própria na rede hoje fica na faixa de 4%. Mas acreditamos que ela vá crescer muito nos próximos anos. Até 2020 pretendemos chegar a uma participação de 7% do faturamento", diz o diretor presidente, Wilson Galli.

Para isso o executivo diz que o fundamental é prezar pela qualidade. "Uma vez que o cliente goste do produto ele só vai encontrar nas nossas lojas".




Brasil testa robô para remover câncer de útero com incisão única

02/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Na quarta-feira, o Brasil testou, de forma pioneira, uma técnica minimamente invasiva no tratamento do câncer de colo de útero. Pela primeira vez nas Américas, a cirurgia de remoção do tumor e dos órgãos afetados pela doença foi feita com o auxílio de um robô por meio de uma única incisão no abdome da paciente.

Batizada de single-port ou single-site (entrada única), a cirurgia permite que o cirurgião faça todo o procedimento inserindo uma câmera e duas pinças do robô em uma incisão de apenas 2,5 centímetros feita no umbigo da paciente. Tradicionalmente, a cirurgia robótica exige pelo menos cinco incisões na barriga da paciente, uma para a inserção de cada instrumento.

“A cirurgia robótica, por si só, já tem mais benefícios do que a videolaparoscopia porque nos dá mais precisão no procedimento. O grande diferencial do robô é a visão em três dimensões, que dá noção de profundidade. Tudo isso com uma câmera Full HD que aumenta em até 20 vezes o local operado e pinças capazes de fazer mais movimentos do que a mão humana”, explica Alexandre Silva e Silva, oncoginecologista do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, onde a cirurgia foi feita.

“Essa precisão diminui o risco de, durante a cirurgia, lesarmos nervos e grandes vasos localizados próximos dos órgãos que devem ser removidos”, diz o cirurgião. Em relação aos benefícios da técnica de incisão única, o especialista ressalta que é um método pouco invasivo e evita a criação de inúmeras cicatrizes no abdome da mulher. Ele propicia ainda rápida recuperação da paciente.

Na operação feita na última quarta-feira, em uma mulher de 41 anos com tumor em estágio inicial, foram retirados o útero, as trompas e os gânglios linfáticos. Todo o material operado foi removido do corpo pelo canal vaginal.


ALTA COM RAPIDEZ


A cirurgia teve duração de quase sete horas e contou com cinco profissionais. Além de Silva, responsável pelo controle do robô e, portanto, pela operação da paciente, participaram dois médicos assistentes, um anestesista e uma instrumentadora. Apesar da complexidade da técnica, a paciente teve alta no dia seguinte e já estará liberada para fazer atividades corriqueiras, como dirigir, sete dias depois da operação.

O treinamento para o controle de robôs para esse tipo de cirurgia só é oferecido fora do País e custa cerca de US$ 30 mil. Para ser capaz de aplicar a técnica, Silva passou por um treinamento em Atlanta, nos Estados Unidos, em maio. A experiência deverá ser relatada pela equipe do Hospital Oswaldo Cruz em periódicos científicos nacionais e internacionais. “É uma técnica que ainda não foi tão difundida porque tanto o treinamento quanto os equipamentos são muito caros e complexos”, diz.


INDICAÇÃO


O médico ressalta, no entanto, que as cirurgias para o tratamento de câncer de colo de útero – tanto as técnicas tradicionais quanto as robóticas – são indicadas apenas para pacientes com tumores iniciais. Para os casos em que a doença está mais avançada, o tratamento preferencial costuma ser feito com base em quimioterapia e radioterapia.




Câncer infeccioso

02/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Quando um fungo se aloja debaixo da unha, uma bactéria no pulmão ou um vírus no nariz, estamos sofrendo uma infecção. Um ser vivo invadiu nosso corpo e está se reproduzindo no nosso interior. É uma doença infecciosa, pois muitas vezes esses malditos seres vivos passam de um ser humano para o outro. Mas, quando uma célula do nosso próprio corpo fica louca e começa a se dividir raivosamente, dizemos que estamos com um câncer. No primeiro caso, o ataque vem de fora. No segundo, de dentro. Mas a vida é mais complexa, e agora parece que existe uma terceira classe de doença, o câncer infeccioso, quando uma célula cancerosa passa de um indivíduo para o outro, se comportando como um agente infeccioso. Antes de entrar em pânico, relaxe. Que se saiba, isso não acontece em seres humanos.

O primeiro indício de que isso acontecia foi descoberto em 2006 e relatado aqui (O que mata os diabos-da-tasmânia, Estado, 8/3/2006). Células de um tumor que ataca o nariz dos agressivos diabos-da-tasmânia passam de um animal para o outro durante as violentas brigas em que esses bichinhos se envolvem. Assim, um tumor que estava crescendo no focinho de um animal, quando é rasgado por uma mordida, sangra, células do tumor espirram com o sangue e são depositadas em um corte no focinho do outro animal.

No mesmo ano foi descrito um caso semelhante em cachorros. Um tipo de câncer que aparece no pênis dos animais é transmitido durante o ato sexual para uma fêmea, onde se desenvolve e acaba sendo passado para outro macho. Tanto nesse caso quanto no do diabo-da-tasmânia, de início os cientistas desconfiavam que o câncer era causado por um vírus que passava de um animal para o outro provocando um novo tumor, mecanismo bem conhecido (parte dos tumores de colo de útero é causada por um vírus transmitido sexualmente, o papiloma vírus). Mas não é isso que acontece nos cachorros e no diabo-da-tasmânia. Quando os cientistas sequenciaram o genoma das células tumorais, descobriram que não pertenciam ao animal no qual estavam crescendo, mas a outro da mesma espécie. Um caso de câncer infeccioso.

Estudando tumores que aparecem em bivalvos marinhos, aqueles moluscos com duas conchas, cientistas descobriram o mesmo fenômeno. Algumas espécies desses animais têm alta frequência de tumores, algo entre três a cinco indivíduos a cada cem coletados. Quando os cientistas sequenciaram parte do genoma desses tumores descobriram que grande parte tinha um perfil genético discordante do perfil genético do animal em que o tumor estava se desenvolvendo. E mais que isso, que os tumores em muitos casos tinham o mesmo perfil genético em muitos animais, sugerindo que eles se espalham na população como se fossem um organismo infeccioso. Esse fenômeno já foi detectado em três espécies de bivalvos.

Em uma quarta espécie de bivalvos os cientistas descobriram que os tumores pertenciam a uma outra espécie de bivalvo. Essa é primeira vez que se demonstra que células de um tumor passam de uma espécie para outra.

Essas descobertas vão incentivar os cientistas a investigar se o mesmo fenômeno acontece em outras espécies. O fato é que parece que a distinção entre doenças infecciosas e câncer já não é tão nítida. Como já disse, esse fenômeno não foi detectado em seres humanos mas, se isso acontecer, em São Paulo estamos preparados. O hospital que trata doenças infecciosas, o Emílio Ribas, fica ao lado do Icesp, hospital que trata de pacientes com câncer. E ainda dizem que nossos políticos não têm visão de futuro.




Pesquisa acha possível relação entre vírus bovino e zika

02/07/2016 - Folha de S.Paulo


O vírus da zika pode não ser o único responsável pela epidemia de microcefalia no Nordeste do país. Traços do VDVB, vírus da diarreia viral bovina, foram encontrados em fetos com microcefalia, segundo pesquisadores. O estudo está sendo desenvolvido pela UFRJ e pelo Ipesq (Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto).

“Estamos trabalhando junto com a SVS (Secretaria de Vigilância em Saúde) para fechar esse ciclo. Ainda é muito precoce para falarmos numa colaboração viral, mas está se encaminhando para essa hipótese”, afirma um dos pesquisadores da UFRJ.

O VDVB é um flavivírus (mesma família que o vírus da dengue e da zika) que causa má-formação em fetos bovinos.

A ação é semelhante ao observado em fetos humanos afetados pelo vírus da zika.

Um tipo de VDVB detectado na Europa já havia sido considerado um possível contaminante de leite e carne.

Três fetos com microcefalia apresentaram traços do VDVB.A descoberta das partículas virais na necropsia do cérebro dos recém-nascidos foi informada ao Ministério da Saúde no dia 20 de junho.

Os pesquisadores tentam agora isolar o vírus para garantir que existe a relação com a zika e os problemas de má-formação.

Segundo os autores do estudo, o VDVB poderia ser um dos responsáveis pela elevada gravidade e número de casos no Nordeste. O vírus não é raro e pode estar presente em até10% das pessoas de determinados grupos.

Contudo, especialistas pregam cautela quanto à possível descoberta: “Faltam evidências sólidas se há algum papel relevante desse vírus no que estamos observando com a zika”, afirma Paolo Zanotto, virologista da USP, que não participou do estudo.


HIPÓTESE


A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Agricultura já foram informados sobre o estudo e a possível sinergia entre os dois vírus.

O Ministério da Saúde informou nesta sexta-feira (1º) que acompanha novas pesquisas que investigam outros fatores que, associados ao vírus da zika, podem levar à microcefalia e a outras má-formações em bebês ainda durante a gestação.

A pasta reforça que é cedo para conclusões sobre a hipótese.

“A presença de partículas ou fragmentos do VDVB nas amostras coletadas não significa a existência de vírus ativo, nem que essa espécie de vírus seja responsável pelas malformações”, diz o Ministério da Saúde em nota.

Segundo Zanotto,é comum a contaminação de reagentes laboratoriais,usados em culturas de células, por exemplo, com o VDVB—não seria inesperado que ele “aparecesse” em testes que procuram por vírus nas amostras.

Os estudos sobre a possível associação entre os casos de microcefalia e o VDBD foram divulgados pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

O Ministério da Saúde enviou uma equipe à Paraíba para ajudar na investigação.




A importância da merenda escolar

02/07/2016 - Folha de S.Paulo


Estudo realizado na Finlândia mostra que uma boa qualidade na alimentação está relacionada a melhor performance cognitiva em crianças de 6 a 8 anos.

A pesquisa é relatada no "British Journal of Nutrition" por Eero Haapala e colaboradores da Universidade Leste da Finlândia, com base em amostra de 428 crianças.

Ela indica que alto consumo de vegetais, frutas, peixes, grãos e cereais, apesar de baixa ingestão de carne, está associado a melhor capacidade de adquirir conhecimento (cognição).

No Brasil, a merenda escolar é um importante programa nacional desenvolvido desde 1955. Consta de proteínas, vitaminas e demais substâncias presentes em alimentos indicados por nutricionistas para consumo das crianças.

Em artigo publicado na "Revista de Nutrição", Rosana Maria Nogueira, da Unicamp, refere que as refeições escolares foram introduzidas como parte de uma política de educação para atrair estudantes, evitar evasão escolar e melhorar o nível de escolaridade e progressão. As questões da fome e da desnutrição eram vistos como impedimentos para a frequência escolar.

Em algumas escolas de São Paulo, alunos protestaram por melhorias no fornecimento de merendas, que para alguns alunos é a única refeição do dia. Talvez seja esta uma das explicações para o elevado índice de analfabetos funcionais no país. Passaram pela escola, mas não compreendem o que leem.

Governo estuda mudar vacinação de animais

02/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Está atualmente em análise no governo a possibilidade de mudança nas regras de vacinação do rebanho brasileiro. A medida poderá ser adotada caso seja comprovada a relação entre BVDV, um vírus considerado comum no gado, e a microcefalia ligada ao vírus zika no Nordeste do País.

O BVDV é encontrado no Brasil há pelo menos 50 anos. Os estudos científicos mostram que o vírus está presente em vários lugares, mas atinge sobretudo o gado leiteiro. Embora a doença provoque perdas econômicas significativas, não é de notificação compulsória. O uso da vacina também não é obrigatório. No entanto, em alguns países europeus onde o imunizante é adotado, a doença está em franco declínio.

A contaminação pelo vírus pode ocorrer por meio das secreções (como durante a alimentação no cocho) e pelo sêmen. O ponto-chave para o controle da doença está na identificação e controle de animais portadores do vírus, mas que não apresentam sintomas. O professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Eduardo Flores, afirmou que esses animais são geralmente contaminados na última fase da gestação. Eles clinicamente são normais, mas excretam vírus continuamente em grandes quantidades.




Regras para Saúde e Educação impediram ajuste, diz Meirelles

02/07/2016 - O Estado de S.Paulo


O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que o ritmo de crescimento dos gastos com Saúde, Educação e Previdência Social ‘inviabilizaram’ um controle maior das despesas nas últimas décadas. Em entrevista à ‘Rádio Estadão’ e ao ‘Broadcast’, serviço em tempo real da ‘Agência Estado’, o ministro lembrou que, com o envio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos ao Congresso, os dispêndios com Saúde e Educação passarão a seguir a regra que prevê correção pela inflação.

“Essas despesas são itens que, na prática, junto com Previdência, inviabilizaram um controle maior de despesas nas últimas décadas”, disse. No caso de Saúde e Educação, o que será corrigido pela inflação a partir da aprovação da PEC será o limite mínimo de gastos nessas duas áreas, destacou Meirelles.

“Com esses itens crescendo vinculados à receita tributária, a tendência é que essas despesas cresçam mais do que o restante e inviabilizem o teto”, disse.

Meirelles afirmou ainda que o projeto representa uma mudança estrutural no gasto público brasileiro, pois prevê crescimento real zero das despesas.

“Hoje, o governo tem capacidade prática discricionária de pouco mais de 10% do Orçamento.

Estamos mexendo na estrutura fiscal pela primeira vez desde a Constituição de 1988”, disse o ministro. “É uma mudança estrutural na evolução das despesas públicas no Brasil.” ‘Bondades’. O ministro da Fazenda reforçou durante a entrevista que o governo do presidente em exercício, Michel Temer não concedeu um pacote de bondades. Segundo ele, todas as iniciativas aprovadas nos últimos dias que elevaram despesas do governo já estavam previstas na meta de resultado primário, que é de um déficit de R$ 170,5 bilhões.

Desde que assumiu em 12 de maio, Temer concedeu medidas que já somam cerca de R$ 125,4 bilhões em gastos e renúncias fiscais – com impactos neste ano e até 2018. Isso inclui o reajuste do Bolsa Família e a liberação de recursos para a educação básica de Estados e municípios.

“Não (há pacote de bondades).

Já existe uma meta de primário este ano, e esses valores se enquadram nessa meta.” O ministro reafirmou que a meta é realista e lembrou que os reajustes de servidores, por exemplo, foram acertados ainda no governo da presidente afastada, Dilma Rousseff. Essas propostas também têm potencial para impactar as contas públicas.

“Esses acordos já estavam previstos (na meta) e se enquadram no teto (de gastos). Esses aumentos estarão sujeitos ao teto, ou seja, vão compor essa regra”, destacou Meirelles.

Meirelles disse ainda que a PEC do teto de gastos vai balizar todas as negociações do governo a partir de agora e ressaltou que a equipe econômica não deve ficar na negociação “de varejo” no Congresso.




Pesquisa investiga ação de vírus de gado em bebês com microcefalia no Nordeste

01/07/2016 - O Estado de S.Paulo


BRASÍLIA - O surto de microcefalia registrado no Nordeste pode ter outras causas além da contaminação do feto pelo zika durante a gestação. Pesquisadores brasileiros encontraram em amostras de fetos com microcefalia provocada por zika traços de um outro vírus, o BVDV, um agente que até hoje se imaginava afetar rebanhos animais, como bovinos.

Os indícios, embora ainda tenham de ser comprovados com testes mais específicos, foram considerados relevantes pelos cientistas. Por precaução, eles comunicaram o Ministério da Saúde antes mesmo da publicação do trabalho em revista científica, em reunião de emergência feita na semana passada.

A pesquisa foi feita por integrantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo IPESQ, Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto. Diante das suspeitas, uma série de medidas foi adotada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi comunicada e nesta quinta-feira, 30, foi realizada uma reunião com o Ministério da Agricultura para avaliar medidas de proteção do gado, caso a hipótese seja mais tarde confirmada.

Um grupo do Ministério da Saúde foi destacado nesta semana para ajudar a estudar o caso. Equipes foram enviadas a campo, na Paraíba, para tentar buscar ligações entre as mulheres que tiveram seus embriões com suspeita de contaminação por BVDV.

Embora intrigados com resultados, pesquisadores que participam do estudo ouvidos pelo Estado mostram-se cuidadosos. Eles dizem ser precipitada qualquer conclusão.

Os trechos do BVDV foram encontrados em três amostras, um número ainda considerado pequeno para fazer alguma afirmação categórica. O grupo agora concentra esforços para fazer o sequenciamento do vírus. Uma tarefa que é cara. Justamente por isso, buscaram auxílio do Ministério da Saúde.

“Essa é uma peça importante dentro desse quebra-cabeças. Nunca foi descartada a possibilidade de que, além do zika, outro vírus estivesse relacionado ao aumento de casos de bebês com problemas neurológicos”, disse um integrante da força-tarefa destacada para avaliar o caso, que atua em Pernambuco.


NOVO


O BVDV é um vírus presente no rebanho de vários países, incluindo o Brasil. Da mesma família do zika (Flaviviridae), ele causa no gado uma série de doenças, como diarreias e problemas respiratórios. O que chama mais a atenção, no entanto, é a grande quantidade de casos de abortos e de más-formações provocadas por esses vírus no gado. Entre os problemas encontrados, está a artrogripose, uma síndrome que provoca má-formação em articulações, já identificada em alguns bebês com microcefalia.

Foi justamente essa semelhança na forma do ataque do vírus na formação do feto de gado e dos bebês com microcefalia associada ao zika que despertou o interesse dos pesquisadores. Assim como acontece com bebês, a literatura mostra que o impacto do BVDV na formação do feto bovino muda de acordo com o período de infecção.

“Abortos e más-formações são mais comuns no primeiro trimestre da gestação dos bovinos”, afirmou o professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal de Santa Maria, Eduardo Flores. Assim como de humanos, o período de gestação no gado é de 9 meses.

O professor afirma que, embora muito presente no rebanho brasileiro, até hoje não houve relato sobre a transmissão do BVDV para seres humanos. Também não há registros sobre contaminação do vírus no meio ambiente. Uma das hipóteses de pesquisadores é de que o fato de o zika e o BVDV serem da mesma família possa aumentar a possibilidade de interação. “Talvez isso ajude a explicar a forma como o zika rompe a barreira placentária e ataca o feto”, diz um representante do governo de Pernambuco.

Essa interação poderia também ajudar a explicar um fato que intriga autoridades sanitárias e a comunidade científica em geral: por que algumas regiões do Nordeste brasileiro foram muito mais afetadas pela síndrome provocada nos bebês pelo zika do que outros Estados ou outros países? A resposta ouvida até agora era de que a epidemia de zika em outras regiões do País é muito recente e que, por isso, seria preciso esperar alguns meses até que bebês com a síndrome congênita começassem a nascer.

“O tempo está passando e a epidemia de grandes proporções esperada no Sudeste não está acontecendo”, afirmou o representante. O último boletim do Ministério da Saúde sobre a microcefalia mostra que há 1.417 casos confirmados no Nordeste e 106 no Sudeste.




Estudo que liga microcefalia e vírus do gado preocupa OMS; novo teste indica elo

02/07/2016 - O Estado de S.Paulo


A Organização Mundial da Saúde (OMS) abriu investigação sobre os resultados preliminares da pesquisa conduzida no Brasil que indica a possibilidade de a epidemia de microcefalia no Nordeste estar relacionada não apenas ao zika, mas também a um vírus que até então se imaginava afetar somente o gado. Os dados iniciais do trabalho, revelados ontem pelo Estado, já são considerados internamente pela OMS como "novas pistas" sobre o impacto da doença.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq) encontraram em amostras de fetos com microcefalia provocada por zika traços do BVDV. Conhecido há mais de 50 anos por afetar rebanhos, como o gado, o vírus causa diarreia, problemas respiratórios, más-formações e abortos nos animais. "Fomos informados sobre esses resultados preliminares", informou a OMS, em um comunicado enviado ao Estado. "Estamos levando a sério a questão, ainda que tenhamos muitas perguntas sobre as descobertas que ainda não foram respondidas."

A OMS promete avançar no assunto, diante do que parece ser uma pista importante. "Estamos trabalhando com especialistas relevantes e com autoridades para encontrar respostas", disse a agência de saúde da Organização das Nações Unidas.


NO BRASIL


Pesquisadores brasileiros se mostram igualmente cuidadosos. Eles alertam para o fato de que serão necessários estudos complementares, antes de fazer qualquer afirmação categórica sobre a relação entre o zika, o BVDV e a microcefalia no Nordeste. Ontem, resultados de novos exames trouxeram um pouco mais de segurança à equipe. Uma outra técnica de diagnóstico foi empregada e os resultados também foram positivos para o BVDV.

Para o grupo, no entanto, isso não basta. Maior certeza sobre a relação zika, BVDV e microcefalia somente será possível quando não apenas traços, mas o vírus inteiro for encontrado em amostras analisadas. "Além disso, é preciso verificar não apenas a presença do vírus, mas o seu papel no ataque das células do embrião infectado", afirmou um integrante da equipe.

Pesquisadores estimam que nos próximos dias devam chegar a novas conclusões. No entanto, eles precisam de recursos para que a pesquisa siga em frente. Todos os recursos usados até o momento neste trabalho foram obtidos com outras linhas de estudo. Não houve nenhum financiamento específico para a pesquisa com zika.

O Ministério da Saúde, que recebeu o pedido de aporte de verbas, informou ontem que o assunto está sendo tratado como prioridade e uma liberação deverá ocorrer em breve. A fonte dos recursos, no entanto, ainda não foi definida.

A ideia de pesquisar uma eventual relação entre o BVDV e o surto de microcefalia no Nordeste não foi à toa. Além de os dois vírus pertencerem à mesma família (Flaviviridae), o BVDV provoca em embriões de gado infectados más-formações que se assemelham às que são constatadas em bebês com síndrome causada pela zika: microcefalia e artrogripose (problema que atinge as articulações).

Na OMS, em Genebra, grupos de especialistas nos últimos meses reforçaram as suspeitas de que microcefalia poderia estar associada a mais de um vírus, além do zika. Testes relacionados com vários cenários chegaram a ser feitos, incluindo com suspeitas de uso de fertilizantes. Até o momento, porém, nenhuma resposta convincente foi descoberta.


EMERGÊNCIA INTERNACIONAL


Em uma reunião realizada no mês passado, a OMS reforçou a necessidade de se criar um plano de trabalho até 2017 para permitir que a pesquisa no setor seja incrementada, justamente para cruzar informações e realizar estudos sobre o impacto de outras doenças e vírus combinados com o zika vírus. Um dos obstáculos, porém, tem sido a falta de recursos e de doadores, que têm sido pouco solidários.

A esperança agora da diretora-geral da OMS, Margaret Chan, é de mobilizar governos e especialistas para que respostas comecem a ser encontradas. Esse foi, segundo a OMS, um dos motivos que levaram a entidade a declarar o zika, e não apenas a microcefalia, como emergência internacional.




Alimentos terão alerta mais visível para alergia

03/07/2016 - O Estado de S.Paulo


Para quem tem alergia alimentar, saber quais são os ingredientes presentes em determinado produto não é uma questão de acesso à informação, mas de segurança.

Os alérgicos, porém, começam hoje uma nova etapa: após um prazo de um ano para adequação, bebidas e alimentos industrializados terão de chegar às gôndolas contendo dados sobre a presença de alergênicos, como castanhas, crustáceos e leite, por determinação de uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Durante anos, famílias lutaram para evitar reações alérgicas, principalmente em crianças.

A leitura dos rótulos e a tentativa de decifrar as pequenas letras e os termos técnicos foram por muito tempo um desafio para a administradora Helena Colonelli, de 38 anos.

O filho João Pedro, de 6 anos, é alérgico a leite desde que nasceu, mas ela só teve o diagnóstico quando iniciou o processo de desmame, quando ele tinha 7 meses. “Ele teve uma reação de pele e achei que ele iria morrer, porque estava todo deformado.

No hospital, me ensinaram a identificar que era só uma reação.

Fizemos exames de sangue, e ele era alérgico a leite.” Helena diz que, no início, as reações surgiam apenas na pele, mas passaram a ser respiratórias.

E não só os alimentos traziam risco. “Ele já teve alergia a um produto de higiene pessoal que tinha leite na fórmula.” A administradora conta que, mesmo antes do começo da vigência da resolução, tem notado mudanças quando vai ao supermercado.

“Percebo uma mudança muito forte, uma melhora na informação. O que antes vinha em letras pequenas e termos técnicos está vindo de forma mais clara. Até em produtos óbvios, como uma caixa de leite que informa: ‘Alérgicos, contém leite’. As indústrias estão se adequando.” Dificuldades. A publicitária Daisy de Castro Alves, de 45 anos, também já encontrou dificuldades ao comprar produtos para o filho Pedro, de 4. Ela só descobriu em janeiro do ano passado que ele tem alergia a leite.

O diagnóstico foi obtido depois que a criança teve quatro episódios de pneumonia. “A reação dele se acumula e se transforma em uma pneumonia. Tiramos o leite da vida dele e nunca mais o Pedro teve alergia.” Daisy diz que, antes de a campanha para que os rótulos se tornassem mais claros ter início, fazer compras era uma longa missão. “Ficava muito mais tempo no supermercado. Minha nutricionista me ajudou muito, porque eu fotografava o rótulo e mandava para ela. Também ligava para o SAC das empresas.

Informação é tudo na vida e, quando você tem segurança do que está comprando, fica feliz.” Um dos movimentos mais atuantes para o estabelecimento da nova regra foi o Põe no Rótulo, que reúne familiares de alérgicos. Mãe de Rafael, de 4 anos, a advogada Cecilia Cury, de 36, uma das coordenadoras do projeto, diz que muitas famílias serão poupadas de agressivos processos alérgicos com a mudança.

“A gente já tem percebido mudança.

Já me emocionei no mercado ao ver produtos que foram causadores de reação no meu filho.

Se tivesse informação há três ou quatro anos, não teria passado por dramas sem necessidade.” Cecília alerta os pais para terem cuidado durante o período em que produtos fabricados antes e depois da resolução serão vendidos juntos.

Pela resolução, 17 tipos de alimentos devem ser citados nos rótulos caso estejam presentes nos produtos. Segundo a Anvisa, estima-se que, no País, de 6% a 8% das crianças com menos de 6 anos de idade tenham alguma tipo de alergia e que a alternativa contra reações é evitar certos alimentos.




Brasileiros comem poucas frutas, verduras e legumes, aponta estudo

04/07/2016 - Folha de S.Paulo


Não é difícil perceber que frutas, legumes e verduras têm perdido espaço para os alimentos industrializados no prato do brasileiro. Um novo estudo confirmou essa tendência e mostrou que o problema é ainda mais grave justamente entre os mais novos.

O trabalho, publicado na revista científica “Journal of Human Growthand Development”, revisou 23 pesquisas feitas no Brasil sobre o tema entre 2005 e 2015. O resultado final mostra,por exemplo, que só 12,5% dos adolescentes consomem uma porção de fruta, legume ou verdura por dia, quando o ideal, segundo a OMS(Organização Mundial da Saúde), seriam cinco porções (ou 400 gramas).

Entre os idosos a situação é um pouco melhor. Em algumas capitais, como Belo Horizonte e Florianópolis, até 40% deles têm um consumo adequado desses alimentos.

Além desse grupo, mulheres e pessoas de melhor nível socioeconômico são as que mais comem alimentos mais saudáveis. Mas, considerando todas as faixas etárias, os resultados não são bons.

Curiosamente, alguns estudos apontam que até 80% das pessoas estavam equivocadas sobre seu próprio consumo de frutas e legumes, acreditando que estavam ingerindo a quantidade ideal de alimentos saudáveis.

Pesquisa do IBGE de 2011 já havia apontado que 90% da população brasileira não consumia os 400 gramas diários de frutas,legumes e verduras preconizados pela OMS.

Segundo o nutrólogo Rubens Feferbaum, professor de pediatria da Faculdade de Medicina da USP e autor do estudo,o consumo inadequado está relacionado ao ganho de peso, o que ajuda a explicar por que mais da metade dos adultos no país está obesa.

“Quando você come frutas e verduras, ingere carboidratos mais complexos, com fibras,e acaba comendo menos carboidratos mais simples [feitos de farinha refinada,como pães brancos e bolachas].” Outro estudo, publicado na revista científica “Plos One”, mostrou ainda que o consumo de frutas e legumes, de fato, ajuda a perder peso, mas depende de quais frutas e legumes estamos falando.

A pesquisa acompanhou a dieta de mais de 117 mil pessoas entre 30 e 40 anos de idade no início do estudo durante um período de 24 anos.

Em geral,o consumo maior de “berries”, como morango e amora, mostrou-se relacionado a uma perda de peso de 500 g. O de frutas cítricas, a uma perda de 112g. Adicionar uma porção diária de tofu ou soja pode representar perda de até 1 kg, enquanto maçãs e peras levam a 560 g a menos.

Batatas, ervilhas e milho não levaram a perda nenhuma.




Em vez de fila do SUS, consultas grátis pela internet

03/07/2016 - O Globo


Desde outubro de 2015, a auxiliar de enfermagem Glória Dioneia Mattos, de 52 anos, tentava, sem sucesso, agendar uma consulta pelo SUS para mostrar seus exames a um oftalmologista. Além de estar sentindo dores, ela tem notado secreção no olho esquerdo, que passou por um transplante de córnea em 1991. Na última sexta-feira, ela conseguiu atendimento médico. Não foi pelo SUS, mas pela campanha #medi copara quem precisa.

O programa mantém um site de agendamento de consultas particulares, Doutor Já. Os idealizadores resolveram credenciar clínicas parceiras e, para cada consulta agendada pelo aplicativo, elas oferecem um atendimento gratuito para um paciente da filado SUS. Basta apessoa apresentar aguia de encaminhamento para comprovar que está na fila de espera.

Na semana passada, Glória saiu de sua casa, em Curicica, embarcou em um BRT e foi até a Policlínica Granato, em Madureira, para ser atendida por um médico do programa, do qual tomou conhecimento pelo Facebook. Pela rede social, enviou uma mensagem e obteve resposta no mesmo dia. Uma semana após remetera guia de encaminhamento do SUS pela internet, ela conseguiu vaga para ser atendida.

— A última consulta que consegui no SUS foi em 2012. Agora, consegui esse atendimento gratuito em menos de uma semana. Vale apena vir de longe. O tempo no ônibus nãoén ad aperto do que já esperei para ser atendida na rede pública — diz ela.

Um dos fundadores do Doutor Já, o publicitário Breno Eudes explica que, para encontrar os pacientes, utiliza o Facebook, além de receber pedidos por email e de visitar associações de moradores de comunidades, apresentando a plataforma. Ele afirma que a campanha, é claro, tem o intuito de dar visibilidade ao Doutor Já, mas faz isso ajudando quem precisa:

— O programa é voltado para quem não tem plano de saúde e não pode pagar caro por uma consulta.

A campanha (www.doutorja.com.br/medicoparaquemprecisa) começou em março e já tem dez clínicas parceiras. A meta é oferecer mil consultas gratuitas até o fim do ano.




Fica, SUS

04/07/2016 - O Globo


A troca do soldado israelense Gilad Shalit por 1.027 prisioneiros, a maioria palestinos, e mesmo o sacrifício de um gorila de espécie ameaçada de extinção para salvar a vida de uma criança foram ações institucionais polêmicas. Parentes de vítimas manifestaram-se contra o acordo com o Hamas. A manutenção de animais em cativeiro e os perigos de interações artificiais com humanos também mobilizaram posicionamentos extremados. No âmbito das bravuras individuais, o elevado valor da vida humana impulsionou gestos para proteger desconhecidos como os do sargento Silvio Holenbach, que retirou um menino de um poço de ariranhas, e do músico Marcelo Yuka, tentando evitar um assalto. Em circunstâncias completamente distintas, os desempates se orientaram pelo provérbio do Talmud: quem salva uma vida, salva o mundo inteiro. Por outro lado, os atos suicidas terroristas, como o recente atentado no aeroporto de Istambul, foram movidos pela vingança e imolação individual em nome de um suposto bem comum.

Sistemas públicos de saúde pressupõem que o valor da vida de cada um é exatamente igual à dos outros, são projeções da coragem coletiva, todos salvam e são igualmente protegidos. Assim, organizam e atualizam a histórica experiência humana e as decisões políticas envolvidas com a prevenção de doenças e cuidados aos enfermos. Caracterizam-se pela preservação de valores solidários e investimentos crescentes das sociedades que os constituíram. No mundo, os gastos com saúde, especialmente os públicos, vêm aumentando, passaram de 3% do PIB em 1948 para 10% em 2013. Mas, no Brasil, os gastos federais com saúde como proporção do PIB mantiveram-se estáveis, enquanto a população crescia e envelhecia. Entre 2014 e 2015, houve retração porque os orçamentos da Saúde são vinculados à arrecadação e, portanto, ao crescimento econômico.

O SUS ficou no meio do caminho, a saúde é direito de todos, o acesso da população aumentou, mas persistiram problemas básicos de qualidade. Valores de igualdade e solidariedade misturaram-se com antigas e renovadas discriminações. Abriu-se uma cissura que pode ser compreendida como consequência de um processo de conflitos de interesses, no qual o público ainda se subordina ao privado, ou como defeito de fabricação.

Alguns economistas brasileiros julgam que o SUS está errado, justificam mais e definitivos cortes em função do mau uso que se faz das verbas para a saúde. Propõem que os que podem paguem, quem não o conseguir tenha uma assistência financiada pelos impostos e que o atendimento no SUS seja cobrado. Numa mesma frase expõem propostas diferentes, preveem ora o desmonte, ora a preservação dos centros de alta complexidade públicos. Então, ou a conversa não é séria, o fim do SUS é apenas uma ameaça, ficará tudo igual, mas pior, ou seria prudente e civilizado contribuir para um debate mais rigoroso.

O primeiro item de qualquer interlocução sensata sobre o SUS é o reconhecimento de que as restrições financeiras conjugadas a nomeações explicitamente clientelistas para o Ministério da Saúde, pelo governo interino, são a antítese do alocação eficiente de gastos. A seguir, é preciso não deixar passar em branco que a saúde foi objeto de cortes prévios e que as anunciadas medidas de limitação de despesas significariam perpetuar o desnivelamento. A terceira preocupação refere-se à relação entre a redução do peso da dívida e dos juros e impacto sobre as políticas sociais.

As divergências não são entre defensores irracionais e irresponsáveis de políticas universais e militantes perfilados para salvação da economia. Ser favorável ao equilíbrio fiscal não significa opor crescimento econômico ao desenvolvimento social e humano. A questão crucial é definir se recursos resultantes da equação menos divida e juros, mais investimentos, retornarão para assegurar o progressivo bem-estar social ou servirão para aprofundar as iniquidades.

Quando o assunto é SUS, alto lá. Passar a tesoura em políticas universais e manter as desonerações fiscais para determinados grupos de pressão é um requinte de crueldade. Em 2015, os gastos tributários do governo federal com saúde foram R$ 25 bilhões, um quarto do total do orçamento destinado ao SUS. Cortes de despesas que atingem a maioria da população e a reiteração da solicitude para direcionar fundos públicos para financiar gastos privados terão resultados previsíveis. Perderemos capacidade de resposta aos problemas de saúde. O enfrentamento de epidemias e realização de transplantes são atribuições públicas porque aplicamos regras elementares da organização de sistemas de saúde de países desenvolvidos. Nababos (expressão utilizada por um defensor da redução da política de saúde a um programa miserável para miseráveis), seja aqui, seja em países ricos, ficam em uma fila única de transplantes, entre outras razões porque não se encontra coração, fígado, medula, na prateleira, e sim dentro de seres humanos. O Brasil realiza transplante porque o SUS existe. A torcida para que pessoas possam continuar a viver, viver até melhor pós-transplante e o desvelo com o transporte dos órgãos e os critérios de prioridade para a definição de receptores existem porque somos sensíveis ao valor da vida.




O mapa do perigo

04/07/2016 - O Globo


A maior parte das devastadoras epidemias que já atingiram os humanos teve origem em animais. Mais precisamente, em mamíferos. E o curioso é que muito pouco se sabe sobre os padrões globais de transmissão dessas doenças, o que dificulta a identificação das zonas de risco e faz com que surtos deste tipo sejam imprevisíveis. Este cenário, no entanto, está com os dias contados, segundo um grupo de pesquisadores americanos. Eles acabam de organizar um mapa mundial com as ocorrências de zoonoses — como são chamadas as doenças transmitidas de animais para humanos. Publicado na revista científica “Trends in Parasitology”, o trabalho revela, por exemplo, que a América Latina é uma zona crítica para doenças transmitidas por morcegos, enquanto a Europa e toda a Rússia têm problemas mais sérios com roedores.

Entre as zoonoses mais comuns estão a raiva, transmitida especialmente por cães e morcegos; a peste, passada por roedores, gatos e até camelos; e a Febre Q, cujos transmissores são animais domésticos em geral.

O mapa feito pelos cientistas da Universidade da Geórgia e do Instituto Cary de Estudos de Ecossistemas reúne dados sobre todas as 27 ordens de mamíferos terrestres. Entre elas estão incluídas mais de duas mil espécies de roedores, camelos do Oriente Médio que transportam síndrome respiratória, morcegos com raiva e animais com cascos, como equinos e bovinos, que são transmissores de doenças alimentares. Os surtos e epidemias são causadas por vírus, fungos ou bactérias hospedados nesses animais. A disseminação dessas doenças, em especial das bacterianas, é particularmente preocupante devido à crescente resistência da população a antibióticos.

Segundo o estudo, a Europa e toda a Rússia são os lugares do mundo com maior predominância de hospedeiros roedores, enquanto as Américas Central e do Sul são pontos críticos globais para morcegos. Já a região com mais hospedeiros primatas é a África Equatorial.

Com o mapa, os cientistas acreditam que será possível prever os próximos surtos a partir dos padrões de transmissão encontrados. Uma das autoras da pesquisa, Barbara Han, ecologista de doenças do Instituto Cary de Estudos de Ecossistemas em Nova York, considera que, assim, será possível minimizar os surtos ou até mesmo evitá-los.

— Entender como os animais estão distribuídos no mundo e por que isso acontece pode não parecer ser aplicável a nossas vidas do dia a dia. Mas prever onde a próxima doença zoonótica pode emergir depende exatamente desse tipo de conhecimento científico — diz Barbara.

A pesquisa revelou que morcegos carregam muito menos doenças zoonóticas (25) do que roedores (85), carnívoros (83), primatas (61) e mamíferos com cascos (59). Mas são justamente os morcegos que estão disseminando doenças pela Amazônia brasileira nos últimos anos. Tem havido novos casos de raiva humana por lá, mesmo que no restante do país os registros tenham diminuído de 173 ocorrências em 1980 para menos de dez ao ano, atualmente.

Outro dado da pesquisa é que mais de 10% das espécies de roedores (244, de um total de 2.220) são hospedeiras de zoonoses e transportam 85 doenças. E, embora existam menos espécies de primatas, uma maior proporção deles, 21%, é composta por hospedeiros zoonóticos (77 de 365).


TRÓPICOS: MAIS ESPÉCIES, MENOS CONTÁGIO


A principal hipótese do estudo era de que as áreas do mundo com maior biodiversidade também teriam mais zoonoses, pela quantidade de animais transmissores. Mas a equipe da pesquisa observou que essa relação não é tão simples assim.

— Fiquei bastante surpresa ao ver que os pontos críticos das zoonoses não estão diretamente ligados às zonas de maior biodiversidade — conta a ecologista. — Existe grande diversidade de espécies nos trópicos, por isso eu esperava ver um padrão semelhante de mais parasitas zoonóticos e patógenos nos trópicos também. De fato encontramos mais hospedeiros zoonóticos nos trópicos, mas observamos que existem mais doenças zoonóticas nas regiões temperadas.

Barbara ressalta, também, que parte significativa das espécies que vivem no Círculo Ártico é transmissora de zoonoses.

— Vemos que, ainda que existam mais espécies nos trópicos, a menor parte delas carrega zoonoses — destaca Barbara. — Em contraste, uma proporção maior de espécies que vivem em latitudes setentrionais, como o Círculo Ártico, transportam zoonoses. Compreender as implicações deste padrão, tendo em conta as tendências de aquecimento do clima, será uma importante linha de investigação que deve ser abordada o mais cedo possível.

Coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública, Marcia Chame pondera que importante analisar os padrões regionais de transmissão, e não somente os mundiais.

— O estudo tem uma abordagem macro, que é muito interessante, mas também é preciso pensar nos padrões regionais, porque são esses padrões que nos ajudarão de fato a traçar estratégias de prevenção e controle — diz ela. — Queremos encontrar estes padrões dentro do Brasil também.

Marcia destaca que a ação humana pode modificar alguns padrões no comportamento de mamíferos e na distribuição deles.

— O tema zoonose vem ganhando importância, finalmente, depois de tantos anos. Isso acontece por conta do ebola e do próprio vírus da zika, que surgiu em animais na África — exemplifica. — Mas é preciso perceber que a atividade do homem influencia muito isso. Os grande focos de peste na Rússia, por exemplo, foram produzidos por roedores, mas em consequência da atividade humana: as plantações de trigo atraíam os roedores e, depois que o trigo era colhido e não havia mais comida para os roedores, eles passaram a atacar os humanos.




Falhas na prevenção contra a pneumonia

02/07/2016 - Correio Braziliense


A queda da temperatura favorece a transmissão de importantes doenças infectocontagiosas. Ao contrário da gripe, em que a vacinação é altamente difundida como forma de prevenção, quase metade dos brasileiros com mais de 50 anos (49%) não sabe que a pneumonia pneumocócica, de origem bacteriana, pode ser evitada da mesma forma. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,6 milhão de pessoas morre de pneumonia por ano no mundo. No Brasil, a enfermidade — somadas todas as causas: viral, bacteriana e fúngica — é a segunda doença respiratória mais comum.

A pneumonia é uma infecção que afeta os pulmões e tem como sintomas característicos tosse, febre e dificuldade de respirar. Crianças, idosos e pessoas com diabetes mellitus, doenças cardíacas e pulmonares, entre outras doenças crônicas, são mais vulneráveis a esse tipo de complicação. A transmissão da bactéria pneumococo se dá de pessoa para pessoa por contato direto com secreções respiratórias, como saliva e muco. Lavar as mãos regularmente e desinfetar superfícies potencialmente contaminadas ajudam a prevenir a doença. Mas a vacina é a forma mais eficaz e segura para evitá-la.

A complicação respiratória representa uma ameaça à saúde, principalmente aos grupos que estão nos extremos da vida. Enquanto meninos e meninas abaixo dos 2 anos não têm o sistema imunológico totalmente desenvolvido, nos idosos e nas idosas, as defesas do organismo começam a se enfraquecer. Mestra em imunologia celular pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e especialista em patologia clínica, Paula Távora afirma que, de cada 10 casos de gripe, quatro demandam hospitalização e podem evoluir para a pneumonia. “As doenças pneumocócicas invasivas são responsáveis por 50% de todas as internações que temos no período outono-inverno”, ressalta.

A especialista explica que a pneumonia invasiva é aquela que desce dos brônquios para o tecido pulmonar. A não invasiva desce para a traqueia, e o paciente desenvolve rinite, sinusite ou bronquite. Como a associação entre o vírus da gripe e a bactéria pneumococo é comum, o ideal seria que os idosos recebessem não apenas a vacina da gripe, mas também a pneumocócica. No entanto, a imunização dessa faixa etária não está contemplada no Programa Nacional de Imunização (PNI).

O PNI oferece a vacina pneumocócica 10 valente a bebês de 2 a 4 meses de idade e um reforço com um ano de vida. Já a pneumocócica 23 é oferecida para idosos acima de 60 anos, mas apenas para os que vivem em instituições fechadas, como casas geriátricas, hospitais, asilos e casas de repouso. A dose de reforço é ministrada cinco anos depois. Além dessas duas situações, pacientes com condições clínicas especiais têm direito à vacina pela rede pública, com doses disponíveis nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie). Nesses locais, a pneumocócica 10 valente é aplicada em criança de 2 meses até 5 anos e a pneumocócica 23, a partir dos 5 anos.

O calendário da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) recomenda a vacina pneumocócica 13 valente e 23 valente para todas as pessoas acima dos 60 anos. “Entre 50 e 60, fica a critério do médico recomendar ou não a vacinação e, na faixa etária entre os 5 e 50 anos, a pneumonia não é tão grave quanto nos extremos da vida. Quem morre de pneumonia são idosos e doentes crônicos e, infelizmente, a saúde pública ainda não oferece a vacina contra a pneumonia para os maiores 60 anos”, afirma a presidente da entidade, Isabella Ballalai.

A orientação da SBIm de vacinação de rotina para os idosos é iniciar a imunização com a 13 valente (dose única). Entre seis e 12 meses depois, deve-se tomar uma 23 valente e, cinco anos depois, repetir a dose. Disponíveis na rede privada, a pneumo 23 tem preço médio de R$ 100 e a pneumo 13, R$ 250. “É importante lembrar também que a vacina não protege apenas contra a pneumonia, mas também contra meningite, sepse e otite. A bactéria pneumococo causa várias doenças além da pneumonia”, salienta Ballalai.


DESINFORMAÇÃO


O desconhecimento também agrava o cenário da enfermidade no país. Estudo encomendado pela farmacêutica Pfizer e realizado entre março e abril deste ano com 3.253 latino-americanos acima de 50 anos, entrevistados na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia, na Costa Rica, no México e no Peru, mostra que 32% dos consultados sequer sabem o que é a pneumonia — o índice cai para 24% quando considerados apenas os brasileiros.

Um número considerado de participantes — 59% — não sabe que exite uma imunização contra a complicação respiratória. Entre os brasileiros, a taxa é de 49%. Sessenta em um por cento dos que enfrentaram o problema disseram que a experiência foi pior do que o esperado. A estimativa é de que, na região dos países consultados, a taxa de mortalidade por pneumonia seja de pelo menos 12%.


DOIS TIPOS DE PROTEÇÃO


O Brasil disponibiliza dois tipos de vacina contra a pneumonia pneumocócica: as polissacarídicas e as conjugadas. No caso da pneumocócica 23 valente (polissacarídica), licenciada em 1977, a indicação é para pessoas a partir de 2 anos de idade e idosos com mais de 60. Os pontos negativos dessa vacina são a curta duração da proteção e a ausência de memória imunológica.

As vacinas pneumocócicas conjugadas foram licenciadas, pela primeira vez, em 2000 e têm o imunogênico polissacarídico associado com um componente proteico. São consideradas um avanço de tecnologia porque conseguem induzir uma resposta imune mesmo em crianças abaixo de 2 anos, com produção de altos títulos de anticorpos e geração de memória imunológica por longo tempo. “A diferença é que as conjugadas geram uma resposta imunológica melhor”, explica a presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Isabella Ballalai.

A vacina protege contra a infecção nos pulmões causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, conhecida popularmente como pneumococo, responsável por três em cada 10 casos de pacientes hospitalizados pela doença respiratória, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. “Pneumonia é o nome genérico para as doenças que atingem os pulmões e podem ser transmitidas por vírus, bactérias e, menos comumente, por alguns fungos”, explica Paula Távora.

Segundo a especialista em patologia clínica, para as pneumonias viróticas, não há tratamento específico, a não ser medidas de suporte. “No caso da infecção por fungo, o tratamento é muito específico, além de ser um tipo que não atinge a população geral nas mesmas proporções que as pneumonias de origem bacteriana”, completa. Paula Távora ressalta que a preocupação com a vacinação contra a pneumococos se apoia na realidade de que a bactéria não escolhe idade, além de ser transmitida facilmente, ou seja, pelas vias respiratórias.

“A literatura nos mostra que a incidência nos extremos da vida é maior. No entanto, o empenho deve ser por estimular o conhecimento em relação à prevenção da pneumonia pneumocócica. A vacina não pode ficar restrita aos bebês. De cada 100 pessoas que têm pneumonia, 50 são atingidas por pneumonia pneumocócica, que leva a complicações e morte, principalmente acima dos 50 anos de idade. A vacina reúne os tipos mais importantes de pneumococos, que causam as pneumonias mais graves, e é a melhor forma de prevenção, indiscutivelmente”, defende.




Maus hábitos levam a mortes precoces

02/07/2016 - Correio Braziliense


Problemas cardiovasculares, cânceres, males respiratórios e diabetes são as doenças que mais mataram na última década na capital federal. Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que 55,1% dos brasilienses morreram em 2014 vítimas de doenças crônicas não transmissíveis. A faixa etária entre 30 e 69 anos é a que mais morre por essas enfermidades — o que é considerado um quadro de mortalidade prematura. O dado não é apenas uma estatística. É um alerta. Autoridades em saúde e especialistas são taxativos ao dizer que a qualidade de vida na infância influencia diretamente o bem-estar dos adultos. A notícia não é boa: a expectativa é que nos próximos 20 anos se tenha uma população que adoece cada vez mais cedo por causa dos hábitos de hoje.

A gravidade e o impacto das doenças crônicas estão diretamente ligados a fatores de risco que são considerados modificáveis e pautados pela urbanização e pelo estilo de vida adotado pela população, como alimentação inadequada, falta de atividade física, tabagismo e uso abusivo de álcool. O cenário é pessimista. No DF, 50,3% da população está acima do peso — sendo 15,8% obesa; 9,7% fumantes; 70,7% não consumem frutas e verduras suficientes para uma alimentação equilibrada; e 21% bebem álcool de maneira abusiva, segundo dados da Secretaria de Saúde.

Desde 2008, a parcela entre 30 e 39 anos vem em escala ascendente por mortes de doenças crônicas. Em 2014, 6.627 pessoas morreram. Dessas, 46% pertenciam a essa parcela da população. “Estamos vivendo uma transição epidemiológica. Há 30 anos, as pessoas morriam por doenças infecciosas causadas por vírus e bactérias. Hoje, estamos morrendo por padrões errôneos de vida. A má alimentação, o sedentarismo, o fumo e o alcoolismo são fatores que trazem doenças a longo prazo”, explica Sarah Tinoco, responsável pela Área Técnica de Doenças Não Transmissíveis (DCNT) da Secretaria de Saúde.

Evitar o excesso de peso, controlar a pressão a arterial e a glicemia — sobretudo na infância — são essenciais para atenuar essa curva. “Somente em 2014, contabilizamos 214 mortes de pessoas entre 30 e 39 anos por agravantes como hipertensão, diabetes e obesidade. Fica o alerta para a mudança do padrão de vida das crianças que estão apresentado doenças crônicas cada vez mais cedo. As pessoas que morreram entre 30 e 39 ficaram doentes com 15 ou 20 anos”, analisa Sarah.


EXPOSIÇÃO PRECOCE


José Lima Oliveira Júnior, especialista em doenças cardiovasculares, salienta que, com o aumento progressivo da expectativa de vida da população, é esperado que as pessoas vivam mais e com melhor qualidade de vida. Entretanto, na última década, segundo o médico, fatores fora da curva epidemiológica, como derrame, infarto com sequelas e doenças renais estão acometendo as pessoas mais cedo. “Estamos pagando um preço de uma geração que não se preocupou com alimentação, atividade física e estresse. Se não começarmos a alterar esse padrão e melhorar a qualidade de vida, vamos ter uma geração de pais enterrando os filhos”, pontua José Lima.

O médico critica a falta de ações para promover a qualidade de vida. “O que temos são ações pontuais, que não ajudam na criação do hábito precocemente. O essencial é doutrinar nossas crianças a manterem práticas de alimentação e atividade física equilibradas”, reclama José Lima Oliveira.


PARA SABER MAIS


Luta contra a obesidade infantil

Uma criança gorda em idade pré-escolar tem 30% de chances de virar um adulto obeso. O risco sobe para 50% caso ela entre na adolescência com quilos a mais. Segundo a Associação Brasileira de Pediatria, a obesidade infantil já atinge 15% das meninas e meninos brasileiros — índice preocupante, uma vez que já se aproxima do encontrado nos Estados Unidos, que é de 20%. Para reverter esse quadro, 24 grandes empresas no Brasil firmaram um compromisso de limitar a publicidade de alimentos e bebidas para menores de 12 anos nos meios de comunicação e nas escolas. O documento prevê apenas uma exceção para produtos que atendam a critérios nutricionais específicos e que recomendem o estímulo responsável do produto. Esse mesmo tipo de compromisso já foi adotado por empresas do setor alimentício em países da Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália.




Caxumba avança 15,5%

02/07/2016 - Correio Braziliense


Nos seis primeiros meses do ano, a capital federal registrou 737 casos de caxumba. Ao todo, ocorreram 20 surtos da doença em Brasília: 13 em escolas, três em residências, dois em complexos penitenciários e dois em locais não divulgados. Somente em junho, houve 12 situações. A ocorrência da doença é maior em homens — 467 foram acometidos pelo mal. Isso representa 63,4% do total. As faixas etárias de 20 a 49 anos, com 58,8% dos casos, e de 15 a 19 anos, com 30,9%, permanecem com as maiores proporções de incidência. Apenas na última semana, o salto da infecção alcançou 15,5%. Até sexta-feira passada, eram 638 contaminados.

Todas as 31 regiões administrativas registraram casos da doença. A incidência acumulada do mal, ou seja, a quantidade de doentes a cada grupo de 100 mil habitantes, é de 25,3% no DF. Ceilândia (133), Taguatinga (111), Guará (67) e Samambaia (66) são as líderes de ocorrência, segundo o Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde. Asa Sul, Ceilândia, Lago Sul, Samambaia e São Sebastião são as cidades que mais identificaram surtos.


PREVENÇÃO


Como medida de combate, a Vigilância Epidemiológica monitora os casos suspeitos. Para frear a doença, a Secretaria de Saúde divulgou 11 medidas de controle. “Quando há surto, a secretaria alerta para a necessidade de isolamento social dos pacientes. Como a contaminação ocorre por meio de gotículas de salivas, devem-se evitar ambientes aglomerados e fechados e compartilhar copos e talheres”, destacou a pasta, em nota. De julho a dezembro do ano passado, foram 130 casos.

A caxumba, doença caracterizada principalmente pelo inchaço das glândulas que produzem saliva, pode ser contraída mais de uma vez, mesmo quando ocorre a vacinação ou a primeira contaminação. Entretanto, esses casos são bastante raros. No Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina a tríplice viral — que protege contra caxumba, sarampo e rubéola — está disponível gratuitamente para pessoas de até 49 anos. Para crianças e adolescentes de até 19 anos, estão disponíveis as duas doses. Para pessoas entre 20 e 49 anos, o sistema público de saúde oferece apenas uma dose. Não existe um tratamento específico para a doença.




Saúde: nenhum passo atrás

04/07/2016 - Correio Braziliense


Há quase três décadas, com a promulgação da Constituição cidadã, os brasileiros conquistaram direitos até então negados pelo regime ditatorial que esteve à frente da nação por 21 anos. O processo de redemocratização do país, em 1985, ocorreu com a mobilização da sociedade e dos movimentos sociais que, além de proclamarem o fim do regime militar, foram às ruas reivindicar sua participação na melhoria das condições de vida do povo brasileiro. E isso ocorreu em 1988, com a convocação da Assembleia Nacional Constituinte.

A Carta Magna estabeleceu, em seu artigo 196, que: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Com isso, surgiu o Sistema Único de Saúde (SUS), que tem como objetivo principal a descentralização das ações, o atendimento integral da população e a participação da comunidade em todo o processo.

Porém, hoje o país passa por um momento em que muitas das conquistas garantidas aos cidadãos pela Constituição de 1988, como o SUS, estão ameaçadas por várias frentes. Uma delas se refere a projetos que tramitam na Câmara e no Senado. Além disso, ações adotadas pelo governo interino colocam em risco os direitos alcançados pela sociedade, principalmente na área de saúde e seguridade social. Uma delas é a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241/2016, que institui novo regime fiscal para a União.

É importante lembrar que a PEC pode reduzir as despesas sociais nas próximas duas décadas, caso a proposta seja aprovada pelo Congresso. E isso será um ponto desastroso para a população — hoje, pelo menos 2/3 do orçamento do Ministério da Saúde banca a manutenção das unidades hospitalares, financia a aquisição de medicamentos, entre outras ações. Caso se leve adiante a defesa da PEC 241/2016, o país sofrerá retrocesso de três décadas.

Diante desse quadro e objetivando sempre a proteção do Sistema Único de Saúde, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) realizará, no próximo dia 6 (quarta-feira), a Marcha em Defesa da Saúde, da Seguridade e da Democracia. Um primeiro ato aconteceu em dezembro do ano passado, quando mais de 10 mil manifestantes de diversos segmentos da sociedade e de todos os Estados brasileiros se reuniram com o mesmo objetivo: a manutenção dos direitos adquiridos pela sociedade por meio da Constituição de 1988.

Desta vez, o objetivo é ir mais além. As entidades que farão parte da mobilização querem mostrar à população que é necessário, ainda, defender a seguridade social. A própria resistência às ameaças feitas ao SUS é uma forma de mostrar a necessidade de garantir a manutenção dos direitos sociais dos cidadãos, que incluem a Previdência e Assistência Social. Isso acontece em um momento em que o governo ataca o Sistema Único de Assistência Social (Suas), extinguindo, por exemplo, órgãos de extrema relevância para a sociedade, como o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Isso vai de encontro ao que estabelece o artigo 194 da Carta Magna, que define como seguridade social as ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. E uma das bandeiras levantadas pela Marcha será justamente a preocupação de que este preceito seja mantido na agenda não só dos movimentos sociais, mas também dos governantes.

Também preocupa a sociedade a diluição do Ministério da Previdência nas pastas da Fazenda e do Desenvolvimento Social e Agrário. Isso poderá acarretar ampla reforma no setor, que deverá atingir também a Consolidações das Leis do Trabalho (CLT), uma conquista que o trabalhador brasileiro obteve em 1943, durante o governo de Getúlio Vargas. Os exemplos mostram que, ao limitar as ações voltadas para setores prioritários para a população brasileira, o governo atinge frontalmente os direitos adquiridos pela sociedade ao longo dos anos, a partir de 1988.

Somente com a mobilização da sociedade brasileira e dos movimentos sociais podemos barrar o cerceamento dos direitos adquiridos pela população. A cada dia as ameaças se aprofundam, mas é necessário que os trabalhadores resistam de forma organizada para que as conquistas sejam mantidas. Além disso, é preciso dialogar com a classe política para que ações voltadas principalmente para a saúde e a seguridade social não sejam prejudicadas pelo Congresso, como sinaliza a atual conjuntura nacional. Nós, brasileiros, não podemos aceitar nenhum passo atrás.




Atenção aos sinais do câncer de intestino

04/07/2016 - Correio Braziliense


O fato de o rastreamento do câncer colorretal ser indicado para as pessoas com mais de 50 anos, ainda que a condição seja assintomática e não exista histórico familiar da doença, alerta para a gravidade do problema. Com chances de cura quando detectada inicialmente, essa neoplasia preocupa pela alta incidência. Popularmente conhecida como câncer de intestino, a doença é a segunda mais frequente entre as mulheres, e a terceira entre os homens. É também o tumor mais prevalente do aparelho digestivo. Só para este ano, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima o registro de 34.280 novos casos.

Segundo o endoscopista Vítor Arantes, coordenador do Serviço de Endoscopia do Hospital Mater Dei Contorno, em Belo Horizonte, e do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os principais métodos utilizados para rastreamento do câncer de intestino são a pesquisa do sangue oculto nas fezes, utilizada em maior escala na população; e a colonoscopia, um exame empregado quando o sangue oculto é positivo ou o paciente tem história familiar da doença, antecedentes de pólipo intestinal ou sintomas como sangramento anal e alteração do hábito intestinal. É consenso entre as sociedades médicas que indivíduos que tenham as condições acima sejam submetidos à colonoscopia.

O risco de uma pessoa desenvolver câncer colorretal é de aproximadamente 5%. Cerca de dois terços dos tumores de intestino grosso se instalam no cólon, enquanto um terço tem origem no reto. Homens e mulheres são acometidos de forma parecida, geralmente depois dos 65 anos de idade. Segundo o oncologista Enaldo Melo de Lima, coordenador do Hospital Integrado do Câncer Mater Dei, o que mais tem contribuído para a incidência da neoplasia, em todo o mundo, são os maus hábitos. “É um câncer muito influenciado pela alimentação e pelo hábito intestinal. A constipação colabora muito, assim como o sobrepeso, a obesidade, o sedentarismo e as dietas ricas em proteína animal e alimentos defumados”, lista.

Mas há um risco aumentado devido à existência de mutações genéticas herdadas. De 5% a 10% dos casos de câncer de intestino grosso são hereditários. A síndrome de Lynsh, também associada a outras neoplasias, e a polipose familiar polipônica são duas doenças que podem desencadear o câncer colorretal. “A polipose, felizmente, é rara. Esse paciente tem que fazer um acompanhamento desde a infância e, muitas vezes, precisa-se retirar o intestino antes que tantos pólipos evoluam para tumores. Mas quase todos os casos hereditários estão relacionados ao Lynsh.”, diz Lima.


MELHOR MÉTODO


Hoje, a colonoscopia é o método mais confiável para a detecção do câncer de intestino e, na grande maioria dos casos, a suspeita é confirmada pela coleta de pólipos para posterior biópsia. Segundo Vítor Arantes, que também é professor da Faculdade de Medicina da UFMG, a imagem endoscópica das lesões tumorais costuma ser bem característica, mas sempre é necessária a biópsia confirmatória para a definição do tratamento. “Além disso, quando se diagnostica um câncer, é importante realizar exames de imagem para estadiamento, inclusive com avaliação de outros órgãos. Isso ajuda a definir o estágio em que se encontra a doença e estabelece a melhor estratégia de tratamento.”

O especialista reconhece uma conscientização progressiva da população em relação à necessidade de realizar exames preventivos para o intestino. “A procura pela colonoscopia, que é o exame mais confiável para detectar os tumores intestinais, ainda que seja um exame invasivo, tem aumentado expressivamente nos últimos 10 anos. O grande benefício em termos de prevenção é justamente o encontro e a retirada dos pólipos intestinais, que são os agentes precursores do câncer de intestino na maioria dos casos. É dessa forma que se previne a doença”, ressalta.

Já a observação de tumores intestinais em fase mais avançada predomina em indivíduos com sintomas como anemia crônica, sangramento nas fezes, mudança do hábito intestinal, cólicas intestinais frequentes e emagrecimento. “Em situações mais raras, encontramos tumores ou pólipos maiores ocultos em indivíduos completamente assintomáticos. Por essa razão, algumas diretrizes têm recomendado rastrear a população assintomática e de baixo risco”, explica Arantes. Mas não se trata de um exame simples. A colonoscopia é um procedimento invasivo e caro, o que dificulta que seja usado em larga escala.

“Uma das mais importantes limitações como método de rastreamento está justamente no fato de ser um exame com riscos inerentes ao método e que requer um preparo intestinal muito rigoroso para seja conduzido de forma bem-sucedida e com qualidade”, afirma o endoscopista. São necessárias, por exemplo, uma avaliação médica antes do procedimento, a ingestão de medicamentos laxativos e uma dieta restrita. Pacientes que retiraram pólipos devem repetir o exame depois de um ano.

A colonoscopia tem avançado com o desenvolvimento de aparelhos de alta resolução, permitindo a ampliação das imagens como se fossem um microscópio interno. Esse recurso, associado ao uso de corantes e a um endoscopista experiente e treinado, é capaz de avaliar se determinada lesão intestinal ou determinado pólipo está em estágio inicial ou não. Entretanto, são equipamentos caros e, portanto, disponíveis apenas em centros de referência na área.

“É um câncer muito influenciado pela alimentação e pelo hábito intestinal.

A constipação colabora muito, assim como o sobrepeso, a obesidade, o sedentarismo e as dietas ricas em proteína animal e alimentos defumados”

Enaldo Melo de Lima, coordenador do Hospital Integrado do Câncer Mater Dei


NOVA OPÇÃO TERAPÊUTICA


No Brasil, os pacientes com tumor estromal gastrointestinal (GIST), ou câncer gastrointestinal inoperável ou metastático, têm agora uma nova opção de tratamento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do regorafenibe para adultos intolerantes a outros tratamentos. Estudos clínicos revelaram que a substância obteve taxa significativa de controle da doença e redução de 73% do risco de progressão ou morte.

Segundo Tulio Pfiffer, oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, o tratamento depende de quando foi feito o diagnóstico da doença. Em fases iniciais, o ideal é a retirada cirúrgica do tumor. Nas tardias, ou quando o carcinoma volta, há poucas opções de tratamento sistêmico, daí a importância do novo medicamento. O Gist é um tumor relativamente raro, representando cerca de 1% dos tumores do aparelho digestivo.


AVANÇOS NO DIAGNÓSTICO


O sequenciamento do DNA trouxe grande contribuição para o enfrentamento ao câncer de intestino. Um estudo recente, por exemplo, alerta que os tumores do lado direito do intestino parecem estar associados a uma mutação do gene BRAF e têm prognóstico pior. O tratamento também tem evoluído muito. Técnicas cirúrgicas por vídeo, com internações de dois a três dias e baixo risco, devem estar disseminadas em 10 ou 15 anos, na opinião do endoscopista Vítor Arantes.

A preservação do reto, que evitaria o uso da bolsa de colostomia, também parece ser uma nova tendência. A técnica, proposta pela pesquisadora brasileira Angelita Gama, foi muito criticada no passado, mas foi reproduzida com sucesso nos Estados Unidos e na Europa.

Outra aposta é no desenvolvimento de técnicas especializadas para a retirada, em bloco, dos tumores do intestino que se encontram em estágio inicial. “Em casos bem selecionados, segundo certos critérios que foram definidos, sobretudo na literatura japonesa, a retirada dos tumores e dos pólipos pode ser feita totalmente por via endoscópica, sem a necessidade de realizar incisões no abdômen, extração do órgão ou uso de bolsas de colostomia”, explica o professor e endoscopista.

Segundo o também professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a cirurgia endoscópica, quando corretamente indicada, possibilita o tratamento eficaz de forma menos invasiva e com recuperação mais rápida do paciente. “Mas esse tipo de tratamento também requer seleção rigorosa dos casos, feita por especialista experiente e com atuação em hospitais com toda a infraestrutura necessária e equipamentos de última geração”, ressalta. (CC)

34.280
Quantidade de registro de novos casos de câncer colorretal no Brasil neste ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer. Os pacientes serão 16.660 homens e 17.620 mulheres

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