Em greve, hospital da USP sofre desmonte
02/06/2016 - Folha de S.Paulo
Com médicos em greve desde o início da semana, o HU (Hospital Universitário) da USP enfrenta um desmonte nos últimos anos, com demissão de profissionais, fechamento de leitos e o consequente recuo no número de atendimentos à população.
A reivindicação dos médicos em greve não é salarial.
Eles exigem contratações para recompor as equipes da unidade, localizada no Butantã, zona oeste da cidade.
As consultas ambulatoriais caíram 30%, de 138 mil, em 2013,para 96 mil, em 2015. As urgências recuaram 24%, o que representa 65 mil casos a menos no período. Já nas internações, houve queda de 21% no mesmo período. Procedimentos cirúrgicos, por sua vez, minguaram 25%.
Os dados obtidos pela Folha são do serviço de Estatística do HU. O impacto nos atendimentos é resultado, segundo servidores, do desmonte do hospital.
A crise no HU começou em 2014, quando a reitoria aprovou um PDV(Plano de Demissão Voluntária) na universidade.
A medida foi uma das tentativas de combate à crise financeira da instituição.
Saíram do hospital desde então 43 médicos. Uma redução de 15% —o HU tem hoje 253 médicos. Além disso, 195 servidores administrativos se desligaram da unidade.
Na mesma época, a reitoria propôs transferir o hospital para a Secretaria Estadual de Saúde. Houve resistência dos servidores, e o processo está parado até agora.
Como a USP congelou a partir de 2014 as contratações na universidade, o HU teve de reduzir 21% dos leitos. Foram fechados 49 e o hospital trabalha hoje com 184 leitos.
Para o vice-diretor do HU, Gerson Salvador, a reitoria quer “se livrar” do hospital.
“A situação é reflexo do desmonte da USP, mas a população é a maior prejudicada”.
MENOS ATENDIMENTO
Nos últimos anos, a redução dos procedimentos é maior em algumas modalidades.
Nas urgências de oftalmologia, o HU registrou 11,8 mil atendimentos em 2013, contra 1,2 mil no ano passado.
UMA QUEDA DE 89%.
Os casos urgentes de ginecologia passaram de 11,1 mil para 6,8 mil, um recuo de 39%.As internações nesta especialidade recuaram 37% (foram de 435 para 274).
O atendimento a crianças também foi reduzido. As internações na área caíram 17%. Sem pessoal, o HU cancelou o serviço de pediatria à noite em março de 2015.
Quem consegue ser atendido enfrenta condições ruins. O pronto-socorro tem 12 macas nos corredores, sem equipamentos de monitoramento, conforme a Folha flagrou.
Outras 11 macas (monitoradas) ficam no local.
A mãe da servidora pública Janice da Silva, 50, está desde domingo nessa sala.
“Não tem espaço para todo mundo e é sempre muito cheio”, diz. “Eu senti que os médicos têm feito o melhor, mas eles não dão conta.” O HU é o único hospital de referência na região. Segundo o Conselho Gestor de Saúde do Butantã, 600 mil pessoas dependem dele.
“É uma região de vulnerabilidade, com 54 favelas no entorno. São pessoas sem outra opção”, diz Mario de Souza Filho, ligado ao conselho.
Mesmo em greve, os atendimentos de casos graves estão mantidos.
Parte das atividades dos alunos de Medicina têm sido prejudicadas.
A reitoria não comentou a queda de atendimentos e as condições de atendimento.
Ressaltou que, apesar da paralisação, o funcionamento não foi interrompido.
Hospital de câncer ameaça fechar unidade no interior
02/06/2016 - Folha de S.Paulo
Referência no tratamento da doença, o Hospital de Câncer de Barretos ameaça fechar sua unidade em Fernandópolis (a 555 km de São Paulo).
A instituição, que culpa atrasos no repasse de R$ 30 milhões do governo Geraldo Alckmin (PSDB), divulgou um comunicado nesta quarta (1º) dizendo que o fechamento ocorrerá em 30 dias se os recursos não chegarem.
O atraso é negado pela gestão tucana, que diz ter dado à fundação gestora do hospital cerca de R$ 700 milhões desde 2013 pelos atendimentos em suas unidades, incluindo a de Fernandópolis.
A Secretaria da Saúde do governo Alckmin afirma que, desse total, R$ 178 milhões foram repassados “de forma voluntária para ajudar a cobrir o subfinanciamento federal” e que até o fim do ano serão mais R$ 36,5 milhões.
“Não há qualquer dívida com a entidade”, diz a pasta.
Maior instituição oncológica do país, o Hospital de Câncer de Barretos tem oito unidades.
Se a de Fernandópolis for fechada, os pacientes serão remanejados para a unidade de Jales —que, segundo a instituição, também tem dívidas e corre risco de desativação até o fim do ano.
Inaugurado em 2013, o instituto de Fernandópolis realiza exames preventivos de câncer de colo de útero, de pele, de próstata e de boca.
São no total mais de 3.000 atendimentos por mês.
Com 3.000 m² de área construída, a unidade tem um centro cirúrgico para pequenas operações e biopsias.
Possui estrutura que comporta 50 mamografias e 40 ultrassons por dia, além de 20 biopsias semanais.
OMS recomenda oito semanas de sexo seguro após visitar áreas com zika
01/06/2016 - Folha de S.Paulo / Site
A OMS (Organização Mundial da Saúde) reviu nesta terça-feira (31) a lista de recomendações às pessoas que viajam a áreas afetadas pelo vírus da zika, responsável por um grande número de casos de microcefalia –má-formação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada.
Os viajantes que retornarem dessas áreas deverão se abster, segundo a organização, de ter relações sexuais ou proteger-se durante "pelo menos oito semanas", e não apenas quatro.
Em suas novas recomendações para a prevenção da transmissão sexual do vírus da zika, a OMS diz que as pessoas deverão esperar "seis meses, se o parceiro masculino apresentar sintomas da doença". Esse é "o tempo estimado para garantir que a infecção foi eliminada do corpo e que o vírus não poderá ser transmitido (...) para o parceiro", explicou à imprensa o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.
O vírus da zika está associado na América Latina a uma explosão de casos de microcefalia, uma má-formação grave e irreversível caracterizada por um tamanho anormal do crânio do feto, assim como doenças neurológicas em adultos, incluindo a síndrome de Guillain-Barré.
O mosquito Aedes aegypti é considerado o principal vetor de transmissão do vírus da zika, mas "evidências cada vez maiores apontam que a transmissão sexual é possível", afirma a OMS. Os cientistas ainda não sabem quanto tempo o vírus pode sobreviver no sêmen. O vírus foi detectado 62 dias após a cura de um homem de 68 anos, o período mais longo observado até à data.
A OMS mantém suas recomendações sobre o risco de transmissão sexual do vírus da zika. Os parceiros sexuais de mulheres grávidas que vivem em áreas onde a transmissão local do vírus da zika é conhecida ou que tenham retornado destas regiões devem "adotar práticas sexuais mais seguras ou abster-se de atividade sexual durante o período da gravidez".
Além disso, todos os pacientes infectados e seus parceiros sexuais (em particular as mulheres grávidas) devem receber preservativos e ser informado "sobre as medidas de contracepção e práticas sexuais menos arriscadas", ressalta a OMS.
A organização apela também para que as mulheres que tiverem relações sexuais desprotegidas e que não desejam engravidar por causa de preocupações relacionadas com o vírus da zika tenham um "acesso fácil a serviços de contracepção de emergência". O vírus está ativo em 60 países, mas o Brasil, que receberá em breve os Jogos Olímpicos de 2016, é o país mais afetado no mundo.
EUA têm nascimento de 1º bebê com microcefalia
02/06/2016 - O Estado de S.Paulo
Um bebê com microcefalia provocada pelo vírus da zika nasceu anteontem em New Jersey, nos Estados Unidos. A menina é filha de uma hondurenha de 31 anos que foi infectada no início da gravidez quando viajou para seu país. A criança nasceu prematura, por meio de uma cesárea.
Nos Estados Unidos já foram registrados mais de 500 casos de pessoas com zika contraída no continente.
Vírus infecta e ataca tumor cerebral
02/06/2016 - Correio Braziliense
Os gliomas de alto grau (GAGs) são um tipo agressivo de tumor no cérebro, com baixa expectativa de vida e tratamento sofrido. Os pacientes sofrem de convulsões, edema na cabeça, tromboembolismo, fadiga, disfunção cognitiva e depressão até sucumbirem poucos meses após o diagnóstico. Apesar dos avanços terapêuticos, esse câncer se mantém um passo à frente dos médicos. Mas não por muito tempo, sugerem pesquisadores da Universidade da Califórnia ( EUA). Na última edição da revista Science, eles detalham como utilizaram um vírus de laboratório para atacar o tumor, aumentando a sobrevivência e reduzindo os efeitos colaterais da quimioterapia em 45 pacientes.
A tecnologia desenvolvida pela farmacêutica Tocagen consiste em utilizar o vírus injetável Toca 511 (vocimagene amiretrorepvec) para infectar, seletivamente, tecidos cerebrais com câncer, mas sem provocar danos às estruturas saudáveis. Uma vez no interior das células tumorais, o Toca 511 comporta-se como uma espécie de cavalo de Troia, matando o inimigo de dentro para fora, sem expor o organismo aos níveis elevados de toxicidade da quimioterapia. Ao invadir o tumor, o vírus decodifica uma enzima derivada da levedura, chamada citosina deaminase (CD).
Desse momento em diante, a CD será expressa pelas células cancerosas. Nelas, permitirá a ativação de um pró-fármaco — classe de drogas que só agem após metabolizadas — chamado Toca FC, que é uma versão oral da 5-fluorocitosina (5-FC). Em sua forma original, a 5-FC é ineficaz contra o câncer, sua ação combinada ao de outros medicamentos é voltada para o tratamento de micoses. No entanto, administrada oralmente em humanos, a Toca FC é absorvida e consegue transpor a barreira sangue/cérebro para alcançar as células tumorais que expressam CD.
A interação com a enzima converte a Toca FC em um novo composto, o 5-FU, esse com efeitos anticâncer e um duplo mecanismo de ação: além de matar diretamente as células cancerosas infectadas e as suas vizinhas, aniquila células imunossupressoras que dificultam que o sistema imunológico ataque o tumor. A imunidade do paciente é ativada, posteriormente, por antígenos e proteínas virais liberadas pelas células tumorais quase mortas. Ou seja, os sinais virais indicam aos anticorpos exatamente quais células devem ser combatidas.
SEGURANÇA
Nos testes clínicos de fase I, Michael Vogelbaum mostrou que o tratamento foi seguro em 45 pacientes que haviam se submetidos a cirurgias contra o tumor. “Pessoas que usaram Toca 511 e Toca FC tiveram quase o dobro de melhorias em comparação às tratadas com um quimioterápico muito usado. Elas tiveram sobrevida de 13,6 meses, que é quase o dobro da sobrevivência média”, conta Vogelbaum. Além disso, a análise genômica de amostras do tumor desvendaram assinaturas de micro-RNAS — que ajudam a regular a expressão dos genes — associadas à sobrevivência dos pacientes, o que pode, potencialmente, prever a resposta de cada indivíduo ao tratamento.
“Nossas análises moleculares reforçam a heterogeneidade dos tumores GAG e da metilação deles, que é um fator que pode sensibilizar as células doentes à ação do 5-FU. Os resultados indicam a importância de se obter análises de diversas amostras de tumores, especialmente quando prognósticos podem, potencialmente, afetar as decisões de tratamento. O prognóstico e as características moleculares que contribuem para a sobrevivência podem identificar indivíduos com maior probabilidade de se beneficiar de Toca 511 e Toca FC, sugerindo caminhos para melhorar ainda mais a estratégia”, completa Vogelbaum, acrescentando que os resultados reforçam a viabilidade de testes de fase II e III.
CAUTELA
Oncologista clínico e diretor médico do Centro de Câncer de Brasília (Cettro), Fernando Vidigal considera inteligente a estratégia de utilizar retrovírus para induzir enzimas que ativam quimioterápicos, além de estimular a reação local e sistêmica da imunidade contra o tumor. Outros tratamentos na mesma linha, voltados para combater tumores sólidos, apresentaram resultados igualmente animadores. No entanto, o médico pondera que estudos com um número maior de pacientes devem ser conduzidos, especialmente para comparar os benefícios da técnica viral com outras terapias aprovadas para o tratamento de tumores cerebrais.
“O estudo é animador, porém não deve ser entendido como prática de tratamento a ser incorporado de maneira imediata. A comprovação definitiva de eficácia virá de estudos maiores, que já estão em andamento. Existem boas perspectivas baseadas nos resultados obtidos nos estudos iniciais. Infelizmente, existe um longo caminho a ser percorrido até a liberação de tratamentos oncológicos por estudos científicos e órgãos regulatórios internacionais. Talvez, a grande necessidade de estratégias mais eficazes no tratamento dos tumores cerebrais recorrentes acelere o processo”, acautela Vidigal.
AMBIENTE DECISIVO
Pesquisadores do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, nos Estados Unidos, descobriram que não são características do glioma em si que influenciam na resposta limitada dele ao tratamento, mas o microambiente em que está inserido. Cerca de 30% da massa tumoral é composta por macrófagos, células envolvidas na imunidade e responsáveis por “devorar” elementos estranhos e potencialmente nocivos ao organismo. No entanto, em muitos cânceres como o glioma, a concentração dessas células é associada ao mau prognóstico do paciente. Por isso, a presença delas representa uma abordagem terapêutica atraente. Os achados foram publicados, no mês passado, também na revista Science.
"Pessoas que usaram Toca 511 e Toca FC tiveram quase o dobro de melhorias em comparação às tratadas com um quimioterápico muito usado. Elas tiveram sobrevida de 13,6 meses, que é quase o dobro da sobrevivência média”
Michael Vogelbaum
líder do estudo e pesquisador da Universidade da Califórnia
Palavra de especialista
60 anos de tentativas
“Há mais de um século, já se observava que alguns tumores entravam em remissão após infecções virais. Os relatos inspiraram médicos da década de 1950 a 1960 a iniciarem pesquisas mais aprimoradas, mas os primeiros resultados foram desanimadores porque o efeito era devastador para o tumor e o paciente. Somente em outubro de 2015, a Food and Drug Adminstration (FDA), dos EUA, aprovou o primeiro tratamento com vírus modificado por engenharia genética, o talimogene laherparepvec (T-VEC), para o melanoma. Os pesquisadores reduziram a atividade patogênica e aumentaram a afinidade para células doentes. Muitos vírus infectam células tumorais, mas elas conseguem suprimir a resposta viral normal e, algumas vezes, as mutações que causam o câncer também aumentam a suscetibilidade para infecções. Existem algumas dezenas de estudos similares com vírus ‘oncolíticos’ e a comunidade científica mundial entende que, nos próximos anos, teremos mais novidades na área. Há espaço para aprimoramentos, sem dúvida, quando conseguirmos controlar o sistema imune do paciente para que não gere uma resposta imunológica contra o vírus modificado e, dessa forma, não reduza a ação terapêutica dele.”
Stephen Doral Stefani
oncologista e pesquisador do Hospital do Câncer Mãe e Deus, em Porto Alegre
Descoberto gene da esclerose múltipla
02/06/2016 - Correio Braziliense
Embora a esclerose múltipla (EM) seja recorrente em algumas famílias, até agora, nenhum gene específico associado à doença degenerativa havia sido identificado. Pesquisadores da Universidade de British Columbia (UBC), no Canadá, relatam, na revista Neuron, a mutação de um gene diretamente ligada ao surgimento da enfermidade. “Pouco se sabe sobre os processos biológicos que levam ao aparecimento da doença, e essa descoberta tem enorme potencial para o desenvolvimento de novos tratamentos que combatam as causas subjacentes, não apenas os sintomas”, diz Carles Vilariño-Güell, pesquisador-sênior.
Cerca de 10% a 15% dos casos de EM parecem ter uma componente hereditário, mas análises genômicas só encontram associações fracas entre o risco para o desenvolvimento da esclerose múltipla e variantes genéticas particulares. A mutação encontrada pela equipe de Vilariño-Güell no gene NR1H3, por outro lado, indica 70% de chance de surgimento da doença, caracterizada pelo ataque do sistema imunitário à mielina, capa que protege as fibras do nervo, perturbando o fluxo de informação entre o cérebro e o corpo. A mutação interfere na função da proteína LXRA, que é produto do NR1H3 e está presente em uma a cada mil pessoas com EM.
“Fazendo análise da associação, descobrimos variantes mais frequentes no mesmo gene que são fatores de risco para a esclerose múltipla progressiva”, diz Vilariño-Güell. “Assim, mesmo se o paciente não tiver a mutação rara, os tratamentos que focam essa via provavelmente poderiam ajudá-lo”. Os pesquisadores dizem que a descoberta permitirá o desenvolvimento de modelos celulares e animais para pesquisas focadas no combate à EM. Os achados também colaborarão com o desenvolvimento de drogas para aterosclerose, entre outras doenças, visto que a LXRA regula genes envolvidos na homeostase de lípidos, na inflamação e na imunidade inata.
Mais um passo rumo à vacina universal contra o câncer
02/06/2016 - El País (Brasil)
O câncer não é uma invasão de corpos estranhos como as bactérias e os vírus. A doença é uma espécie de contrário maléfico de nós mesmos, nossas próprias células enlouquecidas, o que a transforma em um inimigo muito difícil de se combater. Durante décadas, a opção medicinal mais frequente contra a doença consistiu em envenenar todas as células do corpo com a esperança de que as cancerosas sofressem mais do que as saudáveis (a quimioterapia). Nos últimos anos, entretanto, apareceram novas opções mais eficientes e menos tóxicas.
Um desses métodos, cada vez mais generalizado e menos experimental, consiste em ajudar o sistema imunológico a identificar as células cancerosas para que ele as destrua. A mais comum dessas imunoterapias consiste em desmontar as estratégias moleculares utilizadas pelo câncer para se confundir entre as células normais. Dessa forma, os glóbulos brancos são capazes de detectá-las e atacá-las.
Durante muitos anos, os cientistas tentaram utilizar contra o câncer o sistema de imunoterapia mais eficiente que conhecemos: as vacinas. Essas substâncias introduzem no corpo algo que se assemelha ao micróbio que se pretende combater. Dessa forma o sistema imunológico é preparado para reconhecer uma ameaça contra a qual a princípio não estava preparado. Mas as células tumorais se parecem muito com as saudáveis e os antígenos que costumam servir ao sistema imunológico para detectar os objetivos que devem ser aniquilados são expressados em ambas de forma semelhante.
Nesta semana, em um artigo publicado na revista Nature, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Mainz (Alemanha) explica como conseguiu desenvolver um sistema que pode ser o primeiro passo para se criar uma vacina universal contra o câncer. Os autores tentaram chegar às células dendríticas do sistema imunológico, capazes de provocar uma resposta contra os tumores e, para consegui-lo, juntaram RNA (as moléculas que permitem ao DNA produzir proteínas) com lipídios e injetaram a mistura em ratos. O envoltório de lipídios conservou o RNA, que normalmente teria sido decomposto pelo organismo, e lhe permitiu chegar às células dendríticas e aos macrófagos (um tipo de glóbulos brancos) presente no baço, nos nódulos linfáticos e na medula óssea. Lá, o RNA se transformou em um antígeno específico para o câncer, dando o sinal necessário para o início de uma resposta imunológica dirigida e potente contra a doença.
Os pesquisadores testaram o sistema em vários modelos de tumores em ratos observando uma intensa reação dos glóbulos brancos ao antígeno injetado nos animais. Além disso, em um pequeno teste com três pacientes com melanoma também observaram que o mecanismo teve os efeitos esperados e o sistema imunológico produziu uma resposta. Na opinião dos autores, o fato de que quase qualquer antígeno pode ser codificado no RNA faz com que esse tipo de vacina possa ser adaptado a qualquer tipo de câncer para provocar um efeito imunitário contra o câncer que se pretende combater. “O desafio técnico é que cada tumor é diferente e tem outros traços característicos, de modo que não é possível utilizar uma vacina idêntica para cada paciente”, diz Ugur Sahin, diretor da TRON, uma organização de pesquisa biofarmacêutica da Universidade de Mainz dedicada a buscar novos remédios contra o câncer. Mas, acrescenta o especialista, “o enfoque da vacina é como um envelope no qual é possível colocar qualquer informação vacinal”. E explica: “O envelope transporta essa informação às células dendríticas que extraem a informação e a utilizam para treinar outras células imunológicas. Isso significa que podemos personalizar e até mesmo individualizar a vacina utilizando esse conceito universal”.
Marisol Soengas, chefa do Grupo de Melanoma do CNIO (Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas), diz que, apesar da ideia inicial não ser nova, o grupo da Universidade de Mainz “consegui realizar seu objetivo de uma forma muito simples”, um conceito que “é interessante”. Sobre a universalidade de um tratamento como esse para atacar os tumores, apesar de considerar a possibilidade, ela não acredita que “os dados obtidos pelos pesquisadores” sejam suficientes para poder afirmar que será possível conseguir uma vacina universal contra o câncer.
Os autores do trabalho publicado pela Nature agora irão testar a técnica em mais pacientes e querem ampliar o uso de sua vacina a outros tipos de câncer. Como explica Sahin, estão “preparando testes clínicos em melanoma, câncer de mama triplo negativo [os de pior prognóstico], câncer de cabeça e pescoço em 2016, e em 2017 queremos realizar testes clínicos de maior envergadura para vários tipos de câncer”.
Cirurgia bariátrica é eficaz no controle do diabetes tipo 2
01/06/2016 - Veja Online
Um novo estudo concluiu que a cirurgia bariátrica é um tratamento altamente eficaz e duradouro contra o diabetes tipo 2 em pessoas obesas — e superior à terapia baseada em medicamentos. A pesquisa, apresentada durante encontro anual do Colégio Americano de Cardiologia, em Chicago, demonstrou que o procedimento permite que a maioria dos pacientes viva sem insulina e outras drogas usadas para controlar o diabetes pelo menos cinco anos após a operação.
O diabetes tipo 2 ocorre quando o organismo de uma pessoa torna-se resistente à insulina, o hormônio que controla os níveis de glicose no sangue. O excesso de peso é um fator de risco importante para a doença.
“Nossos resultados mostram a durabilidade contínua do controle glicêmico após a cirurgia metabólica, perda de peso persistente, além da redução do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares após cinco anos.”, disse Philip Schauer, principal autor do estudo.
O trabalho, feito pela Clínica Cleveland, nos Estados Unidos, é considerado o maior e mais completo sobre o assunto. Foram analisadas três terapias diferentes e os pacientes foram acompanhados por cinco anos. Participaram do estudo 150 pessoas com sobrepeso e diabetes descontrolada, que foram divididas em três grupos: o primeiro recebeu um tratamento à base de medicamentos; o segundo foi submetido à cirurgia com o bypass gástrico; e o último à gastrectomia vertical.
Ao final dos cinco anos de acompanhamento, 88% dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica conseguiram controlar o diabetes sem o uso de insulina. Também houve redução da necessidade de medicações para hipertensão e colesterol. Aqueles submetidos à operação também perderam mais peso, em comparação com os que apenas fizeram a terapia medicamentosa.
Em relação às duas técnicas cirúrgicas analisadas, os pacientes com bypass gástrico mantiveram maior perda de peso e uma taxa mais alta de remissão do diabetes tipo 2, em comparação àqueles submetidos à gastrectomia vertical.
Apesar dos resultados, os autores ressaltam que é preciso analisar os riscos e benefícios da cirurgia de acordo com o perfil de cada paciente. O estudo contou com o apoio da Ethicon Endo-Surgery, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) e da Associação Americana de Diabetes.
CIRURGIA COMO TRATAMENTO
A cirurgia gástrica deveria ser uma opção de tratamento padrão para pacientes com diabetes, é o que sugere uma diretriz publicada recentemente na revista Diabetes Care. O documento, assinado por 45 entidades mundiais, entre elas a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), aponta a operação como mais uma opção a ser considerada no tratamento do diabetes tipo 2 para pacientes com IMC entre 30 e 35. Atualmente o procedimento é indicado apenas para pacientes com IMC igual ou maior 35, com doenças associadas.
“O tratamento do diabetes com a cirurgia metabólica é uma tendência mundial. No Brasil, representa uma alternativa eficaz para 5% a 15% dos 13,5 milhões de diabéticos existentes no país. Combatendo o diabetes podemos diminuir a possibilidade de surgimento das doenças associadas como os problemas renais, de visão, circulatórios, entre outros”, explica Ricardo Cohen, único brasileiro a participar da elaboração do documento.
NÚMEROS ALARMANTES
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de adultos com diabetes quadruplicou nas últimas quatro décadas, passando de 108 milhões de pessoas em 1980 para 422 milhões atualmente.
No Brasil, a porcentagem de pessoas com a doença passou de 5% para 8,1% no mesmo período. Em 2014, foram 71.700 mortes causadas no país pela doença.
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