ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS

PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

CLIPPING - 14/09/2015

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

Transferência de princípio ativo

12/09/2015 - Correio Braziliense


Muitos dos medicamentos que tratam dor ou combatem alguma doença foram, originalmente, identificados em plantas que hoje correm risco de extinção ou são difíceis de cultivar. Em alguns casos, essas espécies ainda são a fonte primária para a elaboração das drogas. Para continuar obtendo os princípios ativos sem ameaçar a biodiversidade, uma equipe de cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, desenvolveu um método inusitado. Eles identificaram o sistema utilizado para a fabricação das substâncias e o enxertaram em outra espécie para que ela também as produzisse. A ideia é, futuramente, explorar essa tecnologia no trigo, um cereal que cresce abundantemente sob qualquer tipo de condição climática.

“As pessoas têm utilizado plantas para usar novos químicos e testado sua atividade há muito tempo”, diz Elizabeth Sattely, professora de engenharia química de Stanford e principal autora do estudo, publicado na revista Science. “O que nos surpreende é que, apesar de uma quantidade muito grande de produtos extraídos de plantas serem usados atualmente como medicamentos, ainda temos de cultivar a planta, isolar o composto e, só depois, transformá-lo em remédio”, observa.

Sattely focou a pesquisa em um importante agente quimioterápico, o etoposide, utilizado no mundo todo para inibir o crescimento de diversos tumores, como câncer de pulmão e leucemia. Apesar do amplo uso, o único método atual de sintetizar o composto é por meio de extratos da mayapple-himalaia, uma planta que demora para crescer e só existe naturalmente a 4 mil metros acima do nível do mar, na montanha asiática que dá nome ao vegetal.

No laboratório de engenharia química de Stanford, a pesquisadora usou uma nova técnica para identificar as proteínas que trabalham na “linha de montagem” da molécula utilizada na fabricação do medicamento. Depois, ela mostrou que essas mesmas proteínas podem produzir o composto fora da planta. Então, os cientistas transplantaram a “maquinária” para uma outra espécie vegetal, a folha de tabaco, de fácil cultivo. No futuro, o trigo poderá servir de base para os enxertos. “Tanto a planta quanto o trigo podem fornecer um ambiente controlado para a produção da droga. Esse trabalho poderá levar a novas formas de modificar padrões naturais de produção de substâncias usadas em medicamentos que são mais seguras ou efetivas que a fonte natural”, observa Sattely. “Uma grande promessa da biologia sintética é a capacidade de reproduzir sistemas naturais, mas, se não sabemos quais são as proteínas usadas, não podemos nem iniciar o empreendimento”, observa.

No caso da mayapple-himalaia, uma série de proteínas trabalham dentro das folhas para produzir uma defesa química contra predadores. Essa substância, após algumas poucas modificações em laboratório, torna-se o popular quimioterápico. De acordo com a cientista, tudo começa com uma molécula nada ameaçadora. Quando a mayapple sente que será atingida, ela começa a produzir proteínas que fornecem o composto. Uma a uma, elas adicionam um pouco de química aqui, outro ali, subtraem alguns elementos e, no fim, a substância inicialmente inofensiva torna-se uma espécie de veneno contra os insetos predadores.

O desafio era descobrir quais das muitas proteínas encontradas na folha da mayapple estavam envolvidas nesse padrão. Sattely começou com a constatação de que as “operárias” da linha de produção não se encontravam sempre na folhagem da planta. “É apenas quando a folha sofre um ferimento que a molécula é fabricada”, diz. E se a molécula só surge após um dano, as proteínas que a constroem provavelmente só apareceriam nessas situações. No fim, a cientista descobriu que, ao ser danificada, 31 novas proteínas surgem na folha. Depois de fazer combinações, Sattely chegou às 10 que, de fato, fazem parte da montagem molecular.

Química aplicada

O objetivo da pesquisa não é apenas mover a maquinária molecular de uma planta para outra. Agora que a cientista provou que o processo de fabricação da substância funciona fora da espécie original, Sattely quer enxertar as proteínas no trigo, que pode ser cultivado em grandes quantidades no laboratório para conseguir uma fonte mais estável no processo de produção de medicamentos. De acordo com ela, produzir remédios no cereal também fornece alguma flexibilidade que não está presente quando se isola uma droga diretamente de plantas. “Nós só podemos usar o que a planta nos dá”, justifica.

Já no trigo, os cientistas podem modificar os genes para produzir proteínas com funções diversas. Com isso, seria possível melhorar a composição das drogas existentes. Sattely diz que o trabalho de Stanford é um bom exemplo de como a química pode ser aplicada aos problemas de saúde humano. Ela acredita que a técnica desenvolvida poderá ser usada em diversas outras plantas e medicamentos. “Meu interesse realmente é identificar novas moléculas e padrões de plantas que são importantes para a saúde humana”, diz.

“A elucidação do padrão metabólico utilizado para a fabricação do composto mostra que o campo da biologia sintética já chegou muito longe”, avaliou a química Sarah E. O’Connor, do Departmento de Química Biológica do Centro John Innes, que não participou do estudo. Em um artigo publicado na Science, ela observou que, no futuro, os laboratórios poderão fabricar medicamentos de forma mais segura e estável. “Não apenas drogas anticâncer, mas para qualquer outra doença”, escreveu.




Mercosul fará compra conjunta de remédios

12/09/2015 - O Estado de S.Paulo


O Brasil vai passar a fazer compra conjunta de medicamentos com países do Mercosul. A estratégia, formalizada em um acordo assinado nesta sexta-feira, 11, em Montevidéu, no Uruguai, tem como objetivo reduzir o preço de remédios de alto custo que são usados em países do bloco. A primeira negociação começa no próximo mês, com quatro medicamentos: três indicados no tratamento de hepatite C e um para pacientes com HIV. A expectativa é de que a aquisição seja feita já em dezembro.

“A centralização de compras no território brasileiro trouxe economia de até 70% em alguns produtos. Esperamos que, com a ampliação dessa estratégia, os benefícios sejam alcançados também pelos demais países do bloco”, afirmou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Adriano Massuda. Desde 2010, a compra de medicamentos classificados como estratégicos passou a ser feita pelo governo federal. Até então, muitos produtos eram adquiridos por governos estaduais ou municipais, separadamente. A mudança trouxe uma redução do preço final. “Quando compramos uma quantidade maior, o poder de negociação é reforçado. E os preços caem.”

A ideia é estender para medicamentos de alto custo, como os usados para pacientes com câncer, aids e doenças raras, um mecanismo de compra já usado com sucesso para a aquisição de vacinas. Atualmente, parte dos imunizantes é adquirida por meio do Fundo Rotatório, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). No caso dos medicamentos, a Opas também ficaria encarregada da compra, mas por meio de outro braço da organização, o Fundo Estratégico. “Países integrantes repassam os recursos para a Opas, que se encarrega da compra”, contou o secretário.

Massuda acredita que o novo formato não deva provocar resistência de indústrias farmacêuticas. “Há uma perspectiva para elas de ampliação de mercado”, avaliou. “E, para países envolvidos, uma redução de preços, algo que acaba ampliando o acesso da população aos produtos”, completou. Os quantitativos serão definidos governo a governo.

A estratégia deverá ser estendida em 2016 para outros medicamentos. O acordo assinado nesta sexta por Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Chile, Equador e Suriname, prevê também a adoção de um banco de preços, com detalhes sobre as compras de medicamentos feitas pelos Ministérios da Saúde da América do Sul.




Indústria farmacêutica investe cerca de US$ 300 milhões em pesquisas no Brasil

13/09/2015 - Portal Boas Praticas


A indústria farmacêutica investe entre 12% e 16% de seu faturamento anual em pesquisas, o que representa US$ 120 bilhões a US$ 160 bilhões mundo afora. Contudo, o Brasil recebe apenas US$ 300 milhões para pesquisa e desenvolvimento de novas terapias.

“Esse investimento é muito pequeno. Precisamos resolver dois problemas no país para que possamos nos tornar mais competitivos no cenário mundial”, afirma Antônio Britto, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).

O principal problema é o tempo de aprovação da pesquisa clínica. Um estudo é avaliado em 30 dias na Coréia, em 60 dias nos EUA, em até 75 dias na Europa, mas no Brasil é preciso esperar 12 meses; o dobro da média mundial.

Isso acontece por causa da dupla avaliação do sistema CEP/Conep, em que a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) avalia novamente os estudos submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

“É fundamental mantermos um padrão elevado de análise ética das pesquisas clínicas submetidas à aprovação, mas não podemos demorar tanto para isso. Essa morosidade acaba fazendo com que muitos estudos deixem de ser feitos no país, o que dificulta o acesso dos pacientes às drogas experimentais e também prejudica o avanço da ciência no país”, afirma Britto. Recentemente, os principais pesquisadores da área médica no país assinaram uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff, em que reivindicavam atenção para o problema. Eles argumentavam que a pesquisa não poderia se tornar refém da burocracia sob o pretexto de proteger a ética. Mais de 40 médicos participaram da iniciativa.

Outra questão é referente à integração entre universidade e iniciativa privada.

“Os principais centros geradores de novas drogas são centros em que o governo apoia pesadamente a pesquisa básica; a indústria e a universidade trabalham de forma muito integrada para transformar a pesquisa básica em pesquisa aplicada, o que significa novos medicamentos no mercado. No Brasil, a universidade resiste em trabalhar com a iniciativa privada e a iniciativa privada resiste em assumir riscos”, avalia o presidente-executivo da Interfarma.

No primeiro semestre, as associadas da Interfarma deixaram de realizar 16 estudos no Brasil devido à morosidade dos órgãos regulatórios. As pesquisas tinham como objetivo investigar alternativas de combate a problemas como câncer, doenças raras, diabetes e esclerose múltipla.

Ao perder estudos, o país vai caindo no ranking mundial de pesquisas clínicas e, por consequência, desperdiça oportunidades de se tornar inovador. Hoje, embora o Brasil seja o quinto mercado farmacêutico do mundo, ele ocupa apenas a 15ª colocação entre as nações que mais realizam estudos clínicos. Apenas 2,3% das 186 mil pesquisas em andamento mundo afora são realizadas no Brasil; equivalente a 4.309 protocolos.




Certezas pesadas

13/09/2015 - Correio Braziliense


Na Grécia antiga, Moirai — trindade de deusas que determinavam o curso da vida humana — punia e recompensava rigorosamente os homens que, impotentes diante dela, aceitavam o destino com resignação. O mito foi superado pela ciência, que, especialmente nas sociedades ocidentais, procura explicar criteriosamente as condições humanas, biológicas ou não. Para alguns indivíduos, porém, as respostas científicas se tornaram uma espécie de Moirai moderno, são usadas como muleta para isentá-los da responsabilidade pela própria saúde. Um estudo publicado recentemente na revista Health Education & Behavior constata esse tipo de boicote: pessoas que justificam que a obesidade é determinada pela genética descuidam mais da saúde do que aquelas que, apesar de saberem da influência do DNA, se preocupam em controlar o peso.

Mike Parent, da Universidade Texas Tech, nos Estados Unidos, chegou à conclusão após analisar dados de 4.166 homens e 4.655 mulheres com 18 a 79 anos e inscritos em uma pesquisa nacional de saúde e nutrição. A idade média dos participantes era de 46 anos. Eles foram instruídos a responder se concordavam com afirmativas apresentadas por um formulário. Entre elas, “algumas pessoas nasceram para serem gordas e outras para serem magras, não há muita coisa que se possa fazer para mudar isso”.

Os participantes também foram questionados sobre a atenção a informações nutricionais nos rótulos dos alimentos; se consumiam frutas e vegetais ou preferiam alimentos prontos; como tinha sido a ingestão de congelados um mês antes da pesquisa; além da quantidade de refeições realizadas fora de casa na semana anterior à investigação. “A crença de que o peso é imutável foi negativamente relacionada com hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e a alimentação balanceada. Também encontramos evidências de que a relação entre a crença de que o peso pode ser controlado e esses hábitos saudáveis difere por faixa etária”, detalha Parent.

Segundo o pesquisador, à medida que envelhecem, as pessoas que acreditam que o peso é ditado pelo DNA se tornam menos atentas às informações nutricionais, preferem os alimentos congelados e descartam a prática de exercícios físicos da rotina. Os mais jovens e adeptos da mesma crença relataram, no experimento, seguir uma dieta levemente pior, mas não demonstraram ser tão resistentes às atividades físicas. Parent diz que outros estudos detectaram ainda diferenças de gênero na adoção de hábitos saudáveis, com as mulheres sendo mais cuidadosas. Essa relação, porém, não apareceu em seus resultados.

Passivas

Trabalhos anteriores ao de Mike Parent mostram que, se as pessoas acreditam que um atributo especial pode ser alterado e melhorado, elas estabelecem metas persistentes para alcançá-lo. As que se dão por vencidas, contudo, enxergam esse atributo como intocável, inalcançável. A chamada teoria da entidade afirma que indivíduos com essa visão de mundo tendem a aceitar o fracasso sem questionar. Em 2010, Jeni Burnette, professora da Universidade da Carolina do Norte, também nos Estados Unidos, publicou, na revista Personality and Social Psychology Bulletin, uma pesquisa para investigar esse fenômeno.

Algumas pessoas foram aleatoriamente escolhidas para ler artigos que defendiam ou refutavam a imutabilidade do peso. Conforme os resultados, aquelas que leram o primeiro material relataram menor disposição e intenção para se exercitar do as que ficaram com o conteúdo sobre a possibilidade de controle do peso. “Em outro estudo, participantes que expressaram interesse em perder peso e tinham os conceitos da teoria da entidade apresentaram expectativas de perda de peso menores, evitaram o enfrentamento quando confrontadas sobre o retrocesso no emagrecimento e, em última análise, emagreciam menos, mesmo com acompanhamento nutricional”, acrescenta Parent.

O pesquisador alerta que o convencimento de que a genética é o principal fator para a obesidade leva a um comportamento autodestrutivo, que gera problemas como diabetes tipo 2, doença cardiovascular, câncer, dores nas costas, depressão, distúrbios de autoimagem e transtornos do sono. Na verdade, segundo ele, a genética responde por, no máximo, 60% da variação do peso. E em casos específicos.

Nutróloga e especialista em medicina do esporte pela Associação Médica Brasileira, Alice Amaral esclarece que não existe obesidade saudável, nem mesmo quando o obeso ainda não desenvolveu problemas metabólicos. “Ele apresenta um risco 24% maior de morte prematura, que pode ser causada por eventos súbitos, como o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular encefálico. Isso porque um dos riscos mais evidentes da obesidade é o acúmulo de gordura nas artérias”, explica. Pode acontecer, diz a especialista, de o obeso ter uma reserva metabólica funcional orgânica que compense as alterações ocasionadas pelo peso em excesso. “Mas, com certeza, essas alterações vão aparecer muito antes do esperado”, adverte.

Segundo a nutróloga, as chances de uma criança filha de pais obesos desenvolver obesidade é 80% maior do que a com pais magros. Para médicos e cientistas, já está bem estabelecido que a genética responde por apenas parte dessa herança. Já o ambiente em que a pessoa está inserida é determinante para a expressão dos genes envolvidos na engorda. O estado mental do indivíduo, a médica acrescenta, também deve ser levado em consideração.

Alice Amaral conta que a depressão é responsável por aumentar em 30% as possibilidades de ganho de peso devido, principalmente, ao aumento das taxas de cortisol, hormônio do estresse que favorece o acúmulo de células de gordura na região abdominal. Outra relação é a redução da produção de noradrenalina e serotonina, substâncias que induzem a uma disfunção hormonal que tem como consequência o maior desejo por carboidratos. Todas essas dificuldades, porém, não devem ser consideradas barreiras, defende a nutróloga. “Importante é saber que existe luz no fim do túnel. Genética não é destino.”




Palavra de especialista

Rotina desequilibrada


“As pessoas dizem que existem obesos saudáveis porque não apresentam nenhuma síndrome metabólica. Porém, esse conceito é muito relativo, pois leva em conta apenas o índice de massa corporal (IMC), que indica um peso acima do normal. Só que isso geralmente acontece com atletas que têm massa magra exuberante, e o músculo pesa muito, os deixando mais pesados do que o considerado adequado pelo cálculo do IMC. Eles, então, são considerados obesos, mas só entre aspas, pois não são gordos. Dificilmente, existirá um obeso com mais massa gorda que seja saudável. A obesidade se desenvolve, basicamente e na maioria dos casos, em decorrência do desequilíbrio no estilo de vida. Estudos muito básicos identificaram genes isolados responsáveis pelo ganho descontrolado de peso. Dificilmente a pessoa tem um gene exclusivo que a faz engordar, mas um conjunto que facilita isso. E é muito raro. É fundamental que não exista a ideia de que a genética é determinante para a obesidade. Todo paciente pode fazer alguma coisa para mudar seu corpo e sua qualidade de vida, cuja expectativa aumenta em termos de anos.”




What's News: A farmacêutica irlandesa Shire

14/09/2015 - Valor Econômico


A farmacêutica irlandesa Shire está cogitando tornar sua oferta de aquisição da americana Baxalta mais atraente para os acionistas desta ao lançar um programa de recompra de ações logo após o fechamento do negócio, dizem pessoas a par do plano. Em agosto, a Shire anunciou uma oferta em ações que avaliava a firma de biotecnologia em US$ 30,6 bilhões, com base na cotação das ações na época. A Baxalta recusou a proposta por considerá-la muito baixa.




Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

14/09/2015 - DCI


A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deve lançar até dezembro uma norma que vincula à qualidade do atendimento os reajustes de valores pagos pelas operadoras de planos de saúde aos prestadores de serviço, como hospitais e laboratórios. Será uma espécie de selo de qualidade para hospitais acreditados. Segundo a ANS, a ideia é que a partir de janeiro os hospitais, clínicas, laboratórios que tenham acreditação possam ter o reajuste baseado no IPCA, enquanto os que não tiverem tenham um índice menor, que pode girar em 90% do IPCA.




Um médico sem fronteiras

14/09/2015 - Veja


"Opera como um Deus", dizem dele os melhores médicos do Brasil. Acusam-no de operar demais, em casos desnecessários, mas é puro despeito, dito quase em tom de brincadeira, para tentar explicar os recordes do cirurgião paulistano Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, de 65 anos. do Hospital Albert Einstein.

São 750 cirurgias por ano, portanto sessenta mensais, duas por dia. Ele calcula já ter realizado pelo menos 20000 operações.

São números quase inacreditáveis, que o próprio Macedo, avesso a qualquer celebração pública, homem discreto e calado, compara a feitos dos esportes. Diz ele: "O cirurgião não é um atleta, mas é solicitado como se fosse".

Para, pensa e busca no ar uma metáfora ainda mais esclarecedora de sua rotina: "A cirurgia exige esforço semelhante ao de uma maratona". Macedo se comporta como um campeão olímpico para fazer jus à sua fama de craque dos bisturis, especializado em aparelho digestivo. Para Ben-Hur Ferraz Neto. cirurgião de fígado e pãncreas lotado na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, outro que não descansa. Macedo "tem uma força de trabalho tão espetacular que é difícil para qualquer jovem acompanhá-lo".

Por considerar sua atividade como a de um esportista, Macedo faz do cotidiano uma travessia espartana. Um único toque de alarme do despertador, às 6h30, de segunda a segunda, o tira da cama. Uma xícara grande de café puro e amargo é a primeira refeição. A caminho do hospital, ouve no carro alguma peça para piano de Mozart ("calma", descreve) ou preferencialmente Nessun Dorma, ária de Puccini, na voz de Luciano Pavarotti. porque dali em diante nada de dormir. Mentalmente desenha o que fará durante o dia. A depender da técnica utilizada na cirurgia, ele terá de ficar sentado, praticamente imóvel, ao longo de seis horas. É assim no caso dos procedimentos robóticos, quando manipula um equipamento com 3 metros de altura e quatro braços compridos de metal que farão as vezes das mãos humanas sobre o corpo do paciente, o que é comum na extração de tumores no pâncreas, nos rins e nos intestinos.

Em operações convencionais, não é raro ele permanecer por nove horas em pé, manipulando o doente.

Meticuloso, preciso, cuidadoso, Macedo trata de seu corpo como se fosse o de seus pacientes. Ao se aproximar dos 60 anos. sentiu uma natural queda no vigor. Sofria com gripes constantes, que chegavam a incomodar durante vinte dias. O pequeno sinal de debilidade dificilmente afetaria a qualidade do trabalho. Mas foi o suficiente para que o médico mudasse o estilo de vida de maneira drástica. Passou a devorar artigos científicos sobre alimentação, atividade física e taxas sangüíneas. Estudioso compulsivo, leu 25 pesquisas científicas.

O objetivo era criar um programa de saúde personalizado que lhe permitisse recuperar a disposição para as longas e duras jornadas de trabalho.

Como não havia um Macedo que tratasse dele, fez tudo solitariamente.

Um dos maiores desafios era permanecer por horas a fio em jejum sem ficar com fome nem se sentir fraco. A questão foi resolvida da seguinte forma: passou a seguir a ferro e fogo o jejum, sem concessão nem mesmo à badalada barrinha de cereal. A medida teve como base o princípio fisiológico de que em longos períodos de privação alimentar perde-se a fome. Há uma lógica — o hábito do jejum faz com que o organismo fabrique um produto químico chamado corpo cetônico.

Esse composto, feito de gordura corporal, tem duas funções primordiais.

Uma delas é dar energia ao coração e ao corpo.




Cirurgia para controlar a diabetes

14/09/2015 - IstoÉ


Com 1,56 metros e 83 quilos, a dona de casa paulista Amanda Abreu não demorou a ser diagnosticada com diabetes tipo 2. A doença, descoberta em 2006, mudou sua rotina. Ela aboliu os doces e passou a ingerir medicamentos diariamente. Em novembro de 2011, Amanda se submeteu à cirurgia de redução de estômago. Hoje, aos 30 anos, está 24 quilos mais magra e a enfermidade desapareceu. “Eu não tomei mais remédios, foi excelente”, diz. A dona de casa é a prova viva da conclusão a que chegou uma pesquisa publicada este mês pelo King’s College London, no Reino Unido, em parceria com a Universita Cattolica em Roma, na Itália. O estudo concluiu que operações bariátricas podem controlar a diabetes tipo 2. “A cirurgia vai se tornar uma importante opção terapêutica para a doença”, afirmou à ISTOÉ um dos responsáveis pelo trabalho, Francesco Rubino, professor de cirurgia bariátrica e metabólica no King’s College e cirurgião consultor no hospital da universidade.

Animado com o resultado alcançado por Amanda, seu marido, o montador Eduardo de Abreu, seguiu o mesmo caminho. Diferente da mulher, ele sofre há 15 anos de diabetes tipo 1, forma mais grave da doença. Depois da redução de estômago, emagreceu e diminuiu de quatro para um e meio o número de frascos de insulina que recebe por mês. Para comprovar o que se observa em pacientes como Amanda e Abreu, a nova pesquisa acompanhou 60 obesos diabéticos entre 30 e 60 anos. O primeiro grupo, com 20 pessoas, seguiu o tratamento convencional, com medicamentos. As outras 40 realizaram operações de estômago. Metade dos pacientes que se submeteu à cirurgia controlou a diabetes. Em comparação, nenhuma pessoa apenas medicada superou a doença. Também foi observado uma diminuição nas complicações decorrentes da enfermidade entre os que fizeram a redução – o risco cardiovascular caiu pela metade e a qualidade de vida subiu. “A operação bariátrica pode influenciar vários mecanismos, enquanto as drogas alteram um por vez. Não é surpresa que o procedimento seja mais poderoso do que as medicações”, afirma Rubino.

A eficácia da cirurgia se dá por dois motivos. Primeiro, a obesidade. O excesso de peso pode causar diabetes tipo 2 porque faz com que a insulina, hormônio responsável pela passagem do açúcar do sangue para as células, não funcione direito. Segundo, e mais importante, porque o tubo gastrointestinal é um regulador da insulina. Alterá-lo cirurgicamente pode trazer efeitos positivos na produção do hormônio. Em outras palavras, se por um lado a magreza faz com que a insulina funcione melhor, por outro a produção do hormônio é otimizada pela retirada de partes do estômago e do intestino. “Este procedimento controla a diabetes”, afirma Pedro Luiz Bertevello, gastroenterologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

O próximo passo de Rubino será comprovar se só quem está acima do peso poderá se beneficiar, já que a nova pesquisa estudou pacientes com IMC superior a 35. Os especialistas consultados por ISTOÉ foram unânimes em dizer que ainda é cedo para recomendar o bisturi a pessoas com diabetes tipo 2 que estão em dia com a balança. Uma pesquisa conduzida pelo coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz de São Paulo, Ricardo Cohen, porém, mostrou que ele dá resultados em gordinhos moderados, com IMC entre 30 e 35. Ou seja, o procedimento não serve a todos os 387 milhões de diabéticos no mundo. “Mais de 10 milhões de brasileiros têm diabetes. Como operar todas essas pessoas? Eu mando alguns para a cirurgia, mas muitos não podem ir”, diz Walter Minicucci, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. Também por isso, o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, vê o método “como mais uma arma, não como solução”.

O Brasil deve ser o primeiro país do mundo com grande volume cirúrgico a regulamentar a ida para a mesa de operações em caso de diabetes. Profissionais e sociedades clínicas do País mandarão ao Conselho Federal de Medicina uma proposta para decidir as diretrizes da prática, que deve valer já este ano. Por enquanto, pessoas como Amanda aprovam a novidade: “Hoje posso comer chocolate de novo”, comemora.




Há um ano, um lugar feito de grandes corações

13/09/2015 - O Globo


Nascido do trabalho voluntário da médica Rosa Celia, Hospital Jutta Batista, em Botafogo, voltado para crianças cardíacas, faz um ano. Em 2007, o aviso sobre o fim da pediatria do Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, deixou a cardiologista Rosa Celia em desespero. Era lá que as crianças cardiopatas do projeto Pro Criança Cardíaca, fundado por ela, eram operadas, sem custos para as famílias. Com os coraçõezinhos dos pequenos sob risco, a médica passou uma semana doente. A solução era construir um hospital próprio, mas faltavam recursos e um endereço. Não levou muito tempo para que um importante colaborador fizesse a primeira doação. Só que ainda era preciso encontrar um lugar. Rosa Celia passou a percorrer casas antigas, estacionamentos e até postos de gasolina, mas não achou o espaço ideal. Até que, numa noite, ela teve um sonho.— Eu sonhei que, de repente, as portas do Pró-Cardíaco se fechavam. Nisso, uma estrutura bem em frente abria suas portas e toda a nossa equipe entrava. Dias depois, vi um prédio velho do outro lado da rua, que o PróCardíaco tentou comprar ao longo de cinco anos. Pensei: não acredito! — lembrou Rosa Celia na manhã da última quarta-feira, enquanto tomava café no refeitório do Hospital Pediátrico Pro Criança Jutta Batista, que, depois de amanhã, completará seu primeiro ano de funcionamento.

CONSTRUÇÃO SOLIDÁRIA

Tudo aconteceu como no sonho. A equipe da pediatria do Pró-Cardíaco que trabalhava no projeto de Rosa Celia só precisou atravessar a rua: foi todo mundo admitido no novo hospital, erguido na Rua Dona Mariana. A cardiologista conseguiu sensibilizar os mais variados corações — de Roberto Carlos e Maria Bethânia a Eike Batista (cuja mãe, enfermeira, batiza a unidade) — e, assim, construiu e equipou um moderno prédio de sete andares, ao custo de R$ 80 milhões, angariados por meio de doações, shows e outros eventos beneficentes.

Mas os desafios da doutora Rosa Celia, como é respeitosamente chamada por médicos e pacientes, não acabaram ali. Com tecnologia de ponta e sem fins lucrativos, o Jutta Batista busca a autossustentabilidade. O que significa não depender de doações, principalmente em tempos de crise econômica. Inaugurado em 2014, após cinco anos de obras, como uma unidade pediátrica completa — que atende da otorrinolaringologia à neurologia, passando por exames laboratoriais, tomografias e ressonâncias magnéticas —, o Hospital Jutta Batista precisa receber mais crianças com planos de saúde para atingir sua capacidade máxima, de 70 leitos. É o atendimento via rede privada que garante as cirurgias, de graça, de meninos e meninas cardiopatas do Pro Criança Cardíaca.

UMA UNIDADE COMPLETA

Com a ocupação girando em torno de 50%, e dois andares quase sempre vazios, não é raro o hospital ter de recorrer ao seu fundo de reserva para manter o funcionamento em ordem e dar continuidade às internações e cirurgias de alta complexidade do projeto. Segundo Rosa Celia, a explicação para o problema está no fato de muitos pediatras pensarem que o Jutta Batista é um hospital filantrópico, que só recebe casos de cardiopatia.— A finalidade do hospital é manter o Pro Criança Cardíaca. Mas o projeto tem uma despesa grande — afirma Rosa Celia. — As pessoas têm a ideia de que aqui é só um hospital cardiológico, uma unidade só para crianças pobres. Não é. E precisamos estar com o hospital cheio, para que ele possa se autossustentar. A gente não pode viver sempre de doações.

A médica destaca que, mesmo quando a conta não fecha, nenhuma criança do projeto fica sem cirurgia. A fila anda de acordo com a urgência. A meta é sempre manter 30% da ocupação do Jutta Batista voltados para a turminha encaminhada pelo Pro Criança Cardíaca, que é inteiramente mantido por doações. No primeiro ano de funcionamento do hospital, foram feitos, por meio do projeto, 25 procedimentos cirúrgicos, sendo três de cateterismo. E foram 14 internações.

No Jutta Batista, as crianças do Pro Criança Cardíaca e as tratadas com planos de saúde são cuidadas lado a lado, sem distinção. Na semana passada, coraçõezinhos batiam em ritmo forte no CTI. Um deles é o de Ana Gabrielle, de 6 anos, que, desde os 2, vem sendo acompanhada pelo projeto. Na sexta-feira retrasada, ela enfrentou uma complexa cirurgia, que durou seis horas. Cianótica (sintoma que deixa a pele com uma coloração arroxeada), a menina nasceu com as artérias pulmonares muito finas e, ainda bebê, precisou passar por uma operação paliativa para garantir o fluxo de sangue por elas. Hoje, Ana Gabrielle se recupera de uma intervenção para a correção total do problema.

Ana Gabrielle está indo muito bem no pós- operatório. A mãe, Suelen da Silva Cubillo, de 26 anos, conta que procurou Rosa Celia por indicação de uma pediatra que uma amiga conhecia. Só assim conseguiu salvar a vida da filha.

— Eu falei para a doutora que não tinha condições de pagar, que moro em Iguaba Grande, e que lá não tem recurso médico, não há hospital que faça esse tipo de tratamento. E, pelo fato de a Ana Gabrielle ser cardiopata, muitos médicos se recusavam a atendê-la — conta Suelen, que é recepcionista e, no hospital, recebe o alento da equipe. — Está sendo muito difícil. Ela não tem pai, só conta comigo e minha mãe. Às vezes, desabo, mas aí todo mundo aqui diz que vai ficar tudo bem, que ela está sendo medicada. Quando Ana Gabrielle fala que quer ir para casa, eu explico que, antes, a tia Rosa Celia precisa cuidar de seu coraçãozinho.

Rosa Celia sabe, com precisão, o quadro de cada criança que passa tanto pelo seu consultório particular na Rua Sorocaba — ligado ao hospital por uma passagem da qual só ela tem a chave — quanto pelo projeto, com sede na mesma rua do Jutta Batista. Na quarta-feira, antes das 7h ela já se reunia no hospital com sua equipe de cardiologistas para discutir os casos que seriam encaminhados para o centro cirúrgico naquela manhã. A jornada estava somente começando para ela, cujo trabalho se estendeu até a meia-noite. É a médica quem dá a notícia do fim de cada cirurgia aos pais. Apesar da longa experiência (ela não revela a idade de jeito algum), enquanto o paciente não vai para o leito, o coração dela também fica apertado. Para manter o equilíbrio, lança mão de técnicas de meditação.

— Uma coisa que aprendi é substituir, no momento de pânico, um pensamento ruim por um bom. É quando eu penso nas coisas boas que a gente fez, quantas vidas nós salvamos. É uma técnica para tirar o medo — revela a doutora, nascida em Palmeira do Índios, em Alagoas, e criada num orfanato em Botafogo.

DEDICAÇÃO À CAUSA

Rosa Celia começou a se apaixonar pela medicina aos 15 anos, ouvindo o barulho das ambulâncias (‘‘eu ficava encantada”). Queria aprender a dar injeção nas colegas do internato. Especializada em cardiologia pediátrica em Londres, ela se tornou uma referência no Brasil, Antes mesmo do Pro Criança Cardíaca — criado em 1996 e com mais de mil cirurgias em seu histórico —, já atendia crianças de famílias humildes em seu consultório. Hoje, ela trabalha com outras cinco cardiologistas pediátricas.

Uma das crianças que está sob os cuidados da equipe de Rosa Celia é Ivy, de apenas 8 meses. O bebê foi operado no mesmo dia em que Ana Gabrielle e se recupera no CTI. Seu atendimento é custeado de forma particular, mas a atenção recebida é a mesma da filha de Suelen.— Na gestação, foi diagnosticado que Ivy tinha uma cardiopatia grave. A doutora Rosa Celia vem acompanhando minha filha desde então, e chegou o momento de operar. Agora, posso respirar aliviado. O coraçãozinho dela está a mil — diz o engenheiro Ricardo André Guarnieri, feliz por ver Ivy bem e por acompanhar de perto todo o trabalho do Jutta Batista. — Nunca vi a doutora Rosa Celia negar uma criança. Aqui, o que seria lucro é revertido para ajudar. Graças a casos como o da minha filha, outras crianças podem receber atendimento gratuito.




Projeto mapeia a dengue no Brasil

14/09/2015 - Correio Braziliense


Superando 1 milhão de casos registrados no Brasil apenas no primeiro semestre deste ano — mais do que o dobro do ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde —, a dengue é foco de plano nacional que visa elaborar uma estratégia para a possível introdução de uma vacina no calendário oficial de imunizações. Quatro estudos contratados pelo governo federal buscam obter um detalhamento da doença de acordo com as diferentes realidades do território nacional (veja quadro abaixo). Parte dessa frente é o inquérito nacional de soroprevalência, liderado por um laboratório de Minas Gerais e que obtém amostras de sangue em voluntários de 63 municípios. O objetivo é realizar exames e detectar anticorpos da classe IgG contra o patógeno transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. O resultado indicará se a pessoa teve contato anterior com um dos quatro sorotipos do vírus: Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.

“Posteriormente, essa informação será analisada com as obtidas nos demais estudos em curso. Com a ajuda de processos de simulação computacional, será possível propor ao Ministério da Saúde a melhor estratégia para vacinação entre as diferentes propostas que estão sendo discutidas. Esse é um projeto de grande relevância para a saúde no Brasil e resultará em grandes benefícios para a população”, afirma Marcelo Burattini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do trabalho.

Iniciado no fim de junho, o inquérito tem previsão de ser concluído até o mês que vem. Burattini conta que a discussão sobre a futura introdução da vacina começou por meio dos comitês assessores dos programas nacionais de controle da dengue (PNCD) e do Programa Nacional de Imunizações (PNI) há cerca de cinco anos. Desde então, surgiram definições de quais estudos preparatórios deveriam ser conduzidos. “Vários pesquisadores de São Paulo, Goiás e Bahia participam diretamente. Porém o estudo também prevê o levantamento de pesquisas e publicações sobre a dengue realizados de forma a permitir a obtenção de um panorama da pesquisa da área no Brasil”, acrescenta Burattini.

A pesquisa de soroprevalência busca principalmente conhecer o padrão de exposição da população brasileira ao vírus da dengue, considerando os diversos estados e municípios afetados. A análise dos dados permitirá calcular parâmetros descritivos da dinâmica da doença no Brasil, cruciais para a proposição de estratégias de vacinação otimizadas. Os exames, coletados por 65 laboratórios conveniados, são liderados pelo Hermes Pardini, laboratório mineiro que venceu a licitação realizada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento de Medicina (SPDM). O projeto prevê a realização de mais de 63 mil testes de dosagem de anticorpos da classe IgG para dengue em voluntários com idade de 1 a 20 anos.

Os exames serão realizados em 26 unidades da Federação — exceto Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a ocorrência de dengue autóctone é baixa. Entre os critérios de inclusão, os municípios do inquérito devem ter apresentado em ao menos três dos últimos cinco anos ocorrências de dengue igual ou superior a 300 casos por 100 mil habitantes e serem polos regionais. Algumas cidades foram eliminadas pela proximidade entre elas. “Os voluntários são recrutados entre os municípios que comparecerem às unidades de saúde selecionadas ou às unidades laboratoriais”, acrescenta o coordenador do trabalho.

Segurança

Depois da coleta, da identificação e da centrifugação dos materiais biológicos pelos laboratórios conveniados, o Hermes Pardini realizará os exames no Núcleo Técnico Operacional (NTO) da empresa em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Gerente corporativa de produção do laboratório, Junia Dias Franco Pérez explica que, como o Hermes Pardini já realiza o exame de sorologia para dengue há alguns anos, as únicas preparações para a pesquisa foram a compra adicional de reagentes e o aumento de mão de obra especializada.

Antes do processo, as amostras são identificadas com o nome completo do paciente e uma etiqueta de código de barras que permite fazer seu rastreamento. No NTO, são inseridas em um equipamento que faz todo o teste automaticamente — em etapas de pipetagem da amostra, pipetagem de reagente com antígeno marcado com anticorpo, pipetagem de conjugado, etapas de lavagem da amostra e leitura da reação.

Depois da análise, o teste é interfaceado a fim de que o profissional habilitado avalie o resultado em conjunto com o histórico do paciente e demais exames para, então, ser liberado. “É notória a segurança de todo o processo, por meio da automação e da informatização. Evitamos, assim, possíveis falhas de identificação da amostra, falhas analíticas que ocorrem em maior frequência em processos manuais e erros de digitação e de liberação de resultados”, aponta Junia.

Frentes de mapeamento

Além do inquérito nacional de soroprevalência, outros três estudos apontam melhor estratégia para introdução da vacina no Brasil:

Levantamento da morbimortalidade

Reanálise de 5,5 milhões de casos de dengue notificadas ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) entre 2000 e 2014. Durante o período, foi obtido o registro detalhado de ocorrências da doença no país, com informações como quadro clínico, tempo para atendimento, diferenças regionais, por sorotipo, gênero e idade, formas graves, risco para hospitalização e óbitos

Estudos da imunidade celular na dengue

Busca entender o papel da imunidade celular na resposta imune à dengue, caracterizando células e receptores envolvidos, dinâmica da resposta de ativação celular, dinâmica da ativação dos mecanismos de resposta inflamatória intracelular e sua participação nas formas clássicas e complicadas da dengue.

Análise comparativa de estratégias vacinais

Pretende analisar diferentes estratégias vacinais em discussão para a definição da melhor estratégia para o Brasil. Será realizado com o auxílio de técnicas de modelagem baseadas em lógica nebulosa.




Planos de saúde: é bom olhar para fora

14/09/2015 - O Estado de S.Paulo


Durante os últimos anos o mundo ficou de olho nos Estados Unidos. Será que o programa de saúde lançado pelo presidente Obama iria emplacar? Nos primeiros tempos, pareceu que não. Depois engatou e agora o país vive um movimento interessante de consolidação das operadoras de planos de saúde. E não são apenas as pequenas que estão sendo engolidas. As fusões e aquisições atingem as grandes também, criando companhias gigantescas, com faturamento de dezenas de bilhões de dólares. O que está ficando evidente é que, pa222a atuar em saúde, é necessário escala.

Poder de fogo, grana em caixa.

Há pouco espaço para empresas médias e pequenas num setor cada vez mais caro e complexo.Sempre existirão nichos a serem ocupados porem presas altamente especializadas, que não necessitam ser grandes para dar certo. Mas elas são a exceção à regra. A realidade norte-americana é bastante diferente da brasileira. A começar pela ordem de grandeza e pela participação do Estado e da iniciativa privada, é difícil comparar.OsEstados Unidosgastam maisde três trilhõesde dólares por ano e o Brasil mal chega aos duzentosbilhõesdedólarescomocusteio da saúde.

Além disso, os desenhos legais são completamente diferentes e as obrigações são prestadas através de modelos diferentes. Então, por que pretender que olhemos para fora? Antes de tudo, para aprender que dá para melhorar o atendimento a saúde do brasileiro e fazer algo mais próximo da necessidade do cidadão.

O atendimento à saúde norte-americano está longe de ser tão bom como o modelo inglês, mas funciona relativamente bem, ao ponto de ser o contraponto, em filme canadense, para o que acontece no Canadá.Ninguém pretende importar as soluções deles para resolver os nossos problemas. Mas existem fatos que não podem ser negados e que, se enfrentados corretamente, podem significar uma melhora interessante para o sistema de saúde brasileiro.

O primeiro fato concreto é que o Brasil tem pouco dinheiro para a saúde.O segundo é que a Lei dos Planos de Saúde é ruim e representa uma bomba relógio em contagem regressiva para todo o sistema. Com ela a conta não vai fechar. Atualmente, poucas operadoras atuam nos planos individuais. Não é porque sejam cruéis com a população.

É porque, com as regras da Lei, não há como suportar os aumentos dos custos com saúde, que não têm relação com a inflação econômica.

Quando os reajustes de preço são menores do que o aumento das despesas, em algum momento a conta não fecha. Para tentar minimizar o quadro, as operadoras lançaram os planos coletivos por adesão, que não estão sujeitos aos reajustes impostos aos planos individuais. Foi a forma de viabilizar a manutenção do sistema, atendendo o maior número possível de pessoas sem quebrar as operadoras.

O problema é que, para aderir a um plano coletivo por adesão, o interessado tem que pertencer a uma categoria profissional que permita a emissão da apólice coletiva.E nem sempre isso acontece.

Mas se para muita gente esta solução aparece como o “ovo em pé”, que vai salvar as operadoras de planos de saúde privados, ela é apenas um adiamento do problema maior, qual seja, a inviabilização de todo o sistema.

É aí que o Brasil pode aprender com os norte-americanos. Eles estão construindo soluções nas quais toda a população é atendida, numa parceria Estado/iniciativa privada.São ações de custeio e movimentos introduzindo limitadores nos contratos. Além disso, sua experiência tem mostrado que é essencial volume de recursos. Sem escala não é possível suportar os custos da saúde. Isto mostra que a parceria entre o Estado e a iniciativa privada pode ser bastante melhor aqui também.

No Brasil se é necessário alterar profundamente a Lei dos Planos de Saúde Privados, é também importante rever o atendimento à saúde pelo Estado. A ideia do SUS é boa, mas a administração pública não é.

Coma delegação de parte da operação à iniciativa privada, devidamente remunerada, com certeza haverá a redução dos custos e a melhora no atendimento.




VGBL Saúde reforça previdência de quem ganha menos

14/09/2015 - Folha de S.Paulo


Pensado para viabilizar o pagamento de seguro e plano de saúde na terceira idade, o novo plano de previdência privada do tipo VGBL Saúde deverá corrigir também uma distorção tributária que beneficiava contribuintes de maior renda no acúmulo de recursos para aposentadoria.

O projeto permitirá que as empresas façam contribuições ao VGBL Saúde do funcionário sem que o valor seja considerado parte do salário –portanto, sem a incidência de encargos proporcionais de FGTS, INSS, entre outros.

Hoje, as empresas só têm esse benefício nos planos do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), que são voltados aos assalariados de maior renda e que fazem a declaração do Imposto de Renda pelo modelo completo.

O contribuinte de menor renda, em geral, não tem gastos com saúde, educação, dependentes e previdência suficientes para ultrapassar o desconto de 20% permitido pela declaração simplificada. Ele acaba preferindo contribuir, assim, para o plano do tipo VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).

Já o PGBL permite que o contribuinte deduza as contribuições previdenciárias até o limite de 12% da renda tributável na declaração pelo modelo completo.

O projeto de lei, que tramita há oito anos no Congresso, foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 27 de agosto e agora está no Senado. Se for modificado pelos senadores, terá ainda de voltar para a Câmara antes de seguir para sanção da presidente. A expectativa, assim, é que o produto só seja viabilizado a partir de 2017.

O VGBL Saúde deverá funcionar como um VGBL tradicional, só que com o benefício de permitir que parte do saldo acumulado seja destinado para pagar a mensalidade dos planos ou seguros saúde sem o desconto do Imposto de Renda.

Se o beneficiário utilizar o dinheiro para outros fins –como complementar a renda da aposentadoria pelo INSS, como ocorre hoje– terá descontado o IR segundo as tabelas regressiva (35% antes de dois anos até 10% após dez anos) e progressiva (15% na fonte e depois ajuste na declaração de Imposto de Renda), conforme foi escolhido.

O pagamento será feito diretamente do VGBL para o plano ou seguro saúde, sem passar pelo beneficiário. Não há previsão de que o dinheiro sirva para pagar também honorários médicos, clínicas ou hospitais, como ocorre nos EUA com a reforma que Obama promoveu na saúde.

RENÚNCIA FISCAL

Para Lucio Flávio de Oliveira, da CNSeg (Confederação Nacional de Seguros), a nova modalidade de previdência privada deve ganhar parte do espaço do VGBL tradicional. "As empresas e os segurados terão mais incentivo para contribuir com a previdência", disse.

Autor do projeto, o presidente da Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros), o ex-deputado Armando Vergílio afirma que a isenção de IR não implicará em perda de arrecadação para a Receita Federal. "Essa arrecadação não existe hoje. O VGBL Saúde permitirá a muitos aposentados pagarem o plano ou seguro saúde, desafogando o SUS [Sistema Único de Saúde]", disse.




O caminho para viver mais

14/09/2015 - Época


Maria José de Paoli é uma malhadora convicta. Vai no mínimo três vezes por semana a uma academia perto de sua casa, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e passa, em média, duas horas entre a sala de musculação, a piscina e a bicicleta ergométrica. Nem todo o tempo, ela confessa, é gasto em exercícios. Há os momentos de bate-papo com os amigos. "Venho não só para me exercitar, mas também para me distrair. Academia não tem gente triste, só gente bonita e feliz. Isso alegra a minha vida", diz Maria José, de 89 anos, que há duas décadas mantém uma rotina de exercícios. A veterana de malhação, assim como outros adeptos desse tipo de rotina, já sabe o "porquê" - praticar atividade física regularmente serve para tornar a vida mais longa e agradável. Agora, dois estudos coordenados por pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos dimensionaram "quanto". Eles revelam em que medida exercícios podem aumentar a expectativa de vida e nos tornar mais saudáveis.Os efeitos ocorrem mesmo com práticas em doses mínimas, como 15 minutos diários de caminhada em ritmo leve. Durante 14 anos, a prática de atividades físicas de 630 mil homens e mulheres com mais de 40 anos foi acompanhada por especialistas. Aqueles que se exercitavam, mesmo se abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), aumentavam sua expectativa de vida em 1,8 ano na comparação com os totalmente sedentários. Os mais dedicados, que conseguiam praticar pouco mais de uma hora de atividades físicas diariamente, ganharam mais 4,5 anos em suas vidas. Para aqueles com mais de 65 anos, segundo a OMS, a prática constante de atividades físicas traz um adicional: a redução do declínio das faculdades mentais.

A OMS aconselha que se gastem no mínimo 150 minutos em atividades físicas de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade intensa a cada semana - nada que exija muito esforço, mesmo dos mais preguiçosos. "O resultado pode convencer pessoas inativas que até atividades físicas modestas trazem benefícios à saúde, mesmo que não resultem em perda de peso", afirmam os pesquisadores da Divisão de Epidemiologia e Genética do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, responsáveis pelo trabalho.

Apesar dos benefícios, o exercício não faz parte da vida da maioria dos brasileiros idosos, uma população que, na estimativa do IBGE, dobrará nos próximos 20 anos, saltando de 24 milhões (12% da população) para 47 mi lhões (21%). Apenas 22% dos brasileiros com mais de 65 anos praticam a quantidade ideal de exercícios por semana, de acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde. Aos 89 anos, Maria José prova quanto a prática contínua de exercícios é importante para o envelhecimento saudável. "Desde nova jogava tênis, fazia ginástica, corria", diz, enquanto sobe com facilidade as escadas da academia onde se matriculou há oito anos para aulas de hidroginástica. A piscina fica no Ia andar e a sala de aparelhos no 2fl. "Minha neta me incentivou a fazer musculação, mas eu pensava na escada e desanimava. Um dia resolvi enfrentar a subida ao 2- andar e não parei mais", afirma. O fortalecimento muscular e os treinamentos de equilíbrio e coordenação dão segurança à aposentada, que mantém autonomia rara para alguém de sua faixa etária. Além de atividades rotineiras como ir ao supermercado e pagar as contas, Maria José vai ao teatro, viaja sozinha para visitar os filhos e participa de excursões internacionais. "Minha vida é muito ativa graças aos exercícios", diz.

Exercitar-se fica mais fácil quando o entorno é agradável. Não é à toa que as praias da Zona Sul do Rio recebem centenas de pessoas dispostas a fazer algum esforço físico. Depois da tradicional corrida no calçadão ou à beira da água, a moda agora é o circuito na areia, treinamento cujo objetivo é fortalecer músculos e aumentar a coordenação e o equilíbrio. "Quem procura esse tipo de estímulo está pensando mais em ganhar qua 1 idade de vida do que massa muscular", diz o personal trainer Raphael Ferreira, de 34 anos, que todas as manhãs monta uma tenda nas areias do Leblon para receber seus alunos.

Entre eles está Ângelo Sertã, de 50 anos, ciclista na juventude. "Parei de treinar e não mantive uma rotina de exercícios", diz. Voltou às atividades físicas depois de ter um pico de pressão no trabalho, há dois anos. No início, a cabeça ainda era de atleta. "Queria correr, fazer distâncias maiores em menos tempo e acabei tendo algumas microlesões." Percebeu que precisava mudar a perspectiva e respeitar a evolução natural do próprio corpo. "Quando eu era atleta, queria sobrevi ver ao treino. Treinava querendo que acabasse logo", diz Ângelo. "Hoje, é diferente. Descobri o prazer no esporte, pratico porque me sinto bem." A estilista Claudia Petraglia, de 49 anos, também é adepta do exercício matutino. "Acordo antes das 6, deixo minha filha na escola e venho direto", diz Claudia. Ela treina cinco vezes por semana e mantém uma rotina de exercícios há 20 anos. A disciplina rendeu bons frutos. "Nunca tive nenhum problema de saúde nem uso remédios. O exercício me dá muita disposição", afirma.

A ciência explica os benefícios que pessoas como Claudia colhem na prática. Exercícios ajudam a aumentar a expectativa de vida porque, entre outros efeitos, protegem contra doenças cardíacas. Já a inatividade aumenta o risco de morte por doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovas-culares, o câncer, os transtornos respiratórios e o diabetes. A OMS estima que 38 milhões de pessoas morram anualmente de problemas crônicos, 42% delas antes dos 70 anos. A relação entre a prática insuficiente de atividade física e o surgimento de doenças crônicas graves tem levado profissionais de saúde a pensar o exercício como uma espécie de remédio. "Se bem dosadas, atividades físicas não trazem nenhum efeito colateral, só benefício", afirma o educador físico Luiz Fernando Kruel, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A dosagem deve ser calculada de acordo com o histórico de saúde e de prática de atividade física de cada pessoa. "Mesmo quem já tem algum tipo de enfermidade como diabetes, problemas cardíacos e dislipidemia (coleste-rol ou triglicerídeos elevados) pode e deve praticar exercícios como parte do tratamento", diz.

A compreensão do exercício como meio para melhorar a vida de qualquer indivíduo, mesmo doente ou idoso, é relativamente recente. Patrícia Brum, especialista em fisiologia do exercício da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, diz que até o início dos anos 1980 afirmava-se que portadores de problemas cardíacos não deveriam fazer atividade física, para evitar a sobrecarga do coração. "Hoje, sabemos que a prática de exercícios físicos fortalece o músculo cardíaco e diminui a quantidade de substâncias tóxicas despejadas no organismo pelo bombeamento exagerado, típico de quem tem essa condição." Especialista em medicina do esporte, o médico João Felipe Franca acompanha pacientes cardíacos em um misto de academia e clínica voltada para esse público no Rio. Para ele, faltam recomendações claras dos médicos a respeito da importância da atividade física na recuperação. "Não adianta dizer para a pessoa caminhar na praia, isso é muito genérico. O exercício deve ser prescrito com indicação de dose e freqüência", afirma.

A professora Imaculada Medina, de 64 anos, foi diagnosticada no início de 2009 com edema pulmonar e insuficiência cardíaca grave. "Não tinha força nem para pentear o cabelo", diz. Estava na fila para um transplante de coração quando, por orientação médica, começou a se exercitar. "No início, eu precisava ir acompanhada. Mal conseguia dar alguns passos na esteira." A disciplina com a alimentação - perdeu 24 quilos - e a regularidade da atividade física, sempre com supervisão médica, surtiram efeitos. Um ano e meio após ela começar o tratamento, a melhora na capacidade cardiorrespi-ratória faz os médicos questionar a necessidade do transplante. "Nada descreve o momento em que corri na esteira pela primeira vez", diz.

A introdução de exercícios na rotina pode ser feita com a mudança de hábitos do dia a dia. Subir escadas em vez de pegar o elevador, evitar usar o carro em trajetos curtos, caminhar até o ponto para pegar o transporte público, passar mais tempo livre em parques e praças são iniciativas que fazem diferença. A meta inicial deve ser alcançar, por semana, os 150 minutos de exercícios moderados, como caminhadas. O aumento de duração e intensidade deve ser feito de maneira espaçada e com acompanhamento do médico e do profissional de educação física.

Para que a prática de exercícios seja também fonte de prazer, não só uma obrigação, recomenda-se levar em conta critérios de afinidade. "Precisamos mostrar que a atividade física pode ser prazerosa", diz Sebastião Gobbi, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de São Paulo em Rio Claro e coordenador por mais de 20 anos do Núcleo de Atividade Física para a Terceira, Idade da universidade. O contato social ajuda a fazer da prática um hábito. "A pessoa até chega (ao exercício) por indicação médica, mas fica mesmo em função dos amigos que faz nas aulas", afirma Gobbi. Como diz Maria José, exercícios não servem só para prolongar a vida. Servem também para alegrar.




Radônio, uma ameaça

14/09/2015 - Carta Capital


Radônio, um gás radioativo liberado do solo em regiões ricas em minério como u ránio. pode estar causando doenças graves em brasileiros, principalmente câncer. É a segunda causa mais comum de câncer de pulmão. perdendo somente para o fu mo. 0 doutor Marcelo Cruz, oncologista do Hospital São José, em São Paulo, lidera um grupo de pesquisadores que levaram ao Congresso Mu ndial de Câncer de Pul mão, em Denver, nos Estados Unidos, um estudo avaliando o perigo na saúde dos brasileiros desse gás imperceptível.

Na cidade baiana de Caetite, cientistas observaram que o número de pessoas com diagnóstico de câncer de pulmão é 19 vezes mais alto que o restante do estado da Bahia. Por quê? "A concentração de radônio e da radioatividade no ar é dezenas de vezes mais elevada que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde", comenta o oncologista.

Carta Capital: Cigarro é um óbvio causador de câncer de pulmão. E os casos desse tipo de câncer em não tabagistas, qual a causa mais freqüente? Marcelo Cruz: E o gás radônio, um composto naturalmente radioativo que pode ser encontrado em ambientes internos, como residências e escritórios. Trata-se de um gás resultante do decaimento do urânio, elemento radioativo encontrado na natureza na forma de minerais. Temos visto nos consultórios um número crescente de pacientes não tabagistas com câncer de pulmão. Tabagismo passivo e poluição ambiental são, sem dúvida, fatores importantes, principalmente em países subdesenvolvidos e industrializados como o nosso. Porém, estudos internacionais têm mostrado que a exposição ao radôn io supera esses dois fatores de risco.

CC: Como perceber o radônio em nossas casas? MC: E difícil percebê-lo. O gás radônio não tem cor. cheiro ou sabor. Portanto, não pode ser detectado pelos sentidos hu manos. As reservas de água do subsolo também podem sofrer contaminação por esse gás e liberá-lo. porexemplo. durante umbanho.

CC: 0 Brasil tem radônio? MC: O País tem a quinta maior reserva natural de urânio do mundo e é responsável por grande extração de diversos minerais para a construção civil. Sem dúvida,o radônio está em maior concentração nas regiões de mineração. Aqui, apesar de o clima t ropical permitir maior ventilação nas residências e construções mais abertas, algo que teoricamente poderia minimizar os riscos da exposição ao radônio, estudos recentes encontraram altas concentrações desse gás em domicílios de áreas tão distintas, como Bahia. Rio Grande do Norte, M i nas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O fato de não ter citado outras áreas do País decorre muito mais da ausência de estudos e não de que não possam existir altos níveis de radônio.

CC: De acordo com os estudos, as concentrações de radônio em certas regiões no Brasil alcançam níveis alarmantes. Como as autoridades brasileiras estão lidando com isso? MC: Apesar do perigo óbvio, as autoridades não estão fazendo nenhuma ação significativa em qualquer nível, municipal, estadual ou federal. Parece que o problema não existe! Quanto ao radônio, diferente do cigarro, correr o risco não depende da vontade individual, e sim deestar no lugar errado, exposto a um inimigo invisível.




Corretoras disputam segurados 'órfãos'

13/09/2015 - Folha de S.Paulo


Após o anúncio da medida que, na prática, significa o fim dos planos de saúde da Unimed Paulistana, usuários têm lidado agora com o assédio das corretoras de saúde.

Sem se identificar como jornalista, a reportagem conversou com algumas para saber as ofertas de planos individuais. Ouviu propostas de "troca" para Amil, Intermédica e Transmontana, a custos de R$ 199 a R$ 588 mensais para serviços básicos.

O motivo do lobby está nos números: ao todo, a Unimed Paulistana, que existe desde 1971, tem 744 mil clientes. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) determinou que eles sejam transferidos para outro gestor.

Inicialmente, a Unimed Paulistana tem até o início de outubro para fechar um acordo e repassar os clientes. Se isso não ocorrer, a ANS deve fazer uma oferta pública para que outras operadoras apresentem propostas.

Em meio ao impasse, administradoras de benefícios que possuem clientes com planos da Unimed Paulistana começam a planejar alternativas para manter os usuários.

A Qualicorp, por exemplo, que tem 160 mil deles, a maioria ligada a entidades ou associações de profissionais, tem enviado kits aos usuários em que afirma ter fechado acordo com a Unimed Fesp (Federação das Unimeds do Estado de São Paulo) para possível troca de operadora, "com rede médica, coberturas e preço similares".

Procurada, a Fesp não comentou o acordo e disse que o caso é acompanhado pela Unimed do Brasil, que representa o conjunto de operadoras com a marca –cada Unimed tem gestão e até mesmo rede de serviços diferente.

Em nota, a Unimed do Brasil diz que "está trabalhando junto à ANS e com as operadoras do sistema Unimed para propor alternativas e garantir medidas administrativas que assegurem o atendimento aos beneficiários".

A ANS diz que o usuário tem autonomia para decidir sobre possível troca de plano antes do fim do prazo de alienação da Unimed Paulistana.

Segundo a agência, a operadora tem obrigação de garantir o atendimento até que a transferência seja concluída –para isso, é recomendado manter as mensalidades em dia, afirma a agência.

O Procon-SP orienta usuários a esperar o prazo de 30 dias para que possam comparar as ofertas existentes com a rede do plano para o qual podem ser transferidos.

Isso porque, na transferência, o usuário tem direito a rede de serviços e mensalidades similares às anteriores.

Nesse caso, também não há carência –em algumas situações, como a de clientes que recebem atendimento para doenças já existentes, a espera para obter alguns serviços em um plano novo pode chegar a dois anos.

INCERTEZA

Enquanto alguns usuários lidam com o assédio, outros vivem uma incógnita em relação ao atendimento.

É o caso de Maria Julia Monteiro, de 78 anos –28 deles como usuária de um plano da Unimed Paulistana.

Há alguns meses, a família tentou, sem sucesso, fazer com que ela e o marido trocassem de plano, que hoje custa R$ 2.000 mensais. "Ninguém aceita idoso", diz ela.

Em nota, a Unimed Paulistana diz que faz "todos os esforços para garantir o atendimento a seus beneficiários durante o período de transição".




Plantão Médico: Os acidentes diários com motos

12/09/2015 - Folha de S.Paulo

Colunista: JULIO ABRAMCZYK


O aumento no número de acidentes de trânsito com motos vem sendo observado há vários anos. Há dois anos, em 2013, com base em internações hospitalares dos condutores em São Paulo, o total de acidentes foi de 5.597, cerca de 15 por dia, como relatam Carlos Gorios e colaboradores, da Universidade de Santo Amaro (SP), na revista "Acta Ortopédica Brasileira".

Desse total, 89,8% dos acidentados eram do sexo masculino e tinham menos de 30 anos de idade. Muitos tiveram fraturas na perna, fêmur e lesão intracraniana.

O tempo de internação hospitalar, para 76,9%, foi de até sete dias; para 7,1%, 15 ou mais dias. O custo do tratamento aos acidentados para o SUS foi de R$ 8.208.680,21. Nessa quantia não estão computados o custo do atendimento de emergência e a fisioterapia necessária para a reabilitação motora pós-operatória do paciente.

Os autores destacam também a ocorrência de sequelas temporárias ou permanentes, causando incapacidade e afastamento do trabalho.

Explicam, também, que o deslocamento fácil e rápido das motos como um veículo de trabalho atualmente vem contribuindo para a manutenção das altas taxas de acidentes de trânsito.

Como os acidentados residiam em São Paulo e o atendimento médico foi realizado na capital, sugerem para a prefeitura o estabelecimento de ações preventivas e educativas para a população e especificamente para os condutores de motos.




Por ano, 14 operadoras de plano de saúde são fechadas

13/09/2015 - Folha de S.Paulo


O susto vivido pelos 744 mil usuários da Unimed Paulistana após o anúncio da medida que encerra as atividades da operadora não foi o primeiro desse tipo no setor de planos de saúde.

A cada ano, 14 operadoras, em média, são obrigadas a repassar seus clientes devido a problemas financeiros e de gestão, segundo dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), responsável pela regulação do setor. São casos de alienações, processos em que a ANS determina a transferência dos usuários de uma operadora para outra devido à má situação financeira da primeira.

A ideia é evitar dificuldades para os segurados.

São situações em que, sem receber o pagamento combinado, hospitais, clínicas, médicos e profissionais acabam por encerrar os contratos, e o usuário não consegue agendar atendimentos.

Em 15 anos, 208 processos de direção fiscal –casos em que a agência passa a monitorar presencialmente a situação de uma operadora– resultaram em alienações.

A boa notícia é que a frequência de medidas como essas, consideradas drásticas, vem diminuindo –ao menos nos últimos três anos. Em 2013, foram 20 transferências, um número que caiu para oito em 2014. Neste ano, foram seis. A ANS não informou dados dos anos anteriores.

Além da Unimed Paulistana, um dos casos recentes foi o da Fundação Santa Casa de Belo Horizonte (MG), que tinha 100 mil usuários.

Após a agência determinar a alienação compulsória, os clientes foram transferidos para a operadora Vitallis e o registro da Santa Casa foi cancelado, o que a impede de voltar a vender planos de saúde.

LUPA NAS CONTAS

Em geral, os casos de transferência de clientes ocorrem após serem tomadas outras medidas para tentar resolver a situação da operadora.

Nos últimos 15 anos, foram 774 processos de direção fiscal, espécie de lupa feita pela ANS nas contas da empresa.

O número, no entanto, pode considerar mais de um episódio por operadora. A Unimed Paulistana, por exemplo, passou por quatro desses processos desde 2009.

Atualmente, 56 operadoras estão sob essa lupa, de acordo com dados da ANS.

Embora o número pareça baixo frente às 1.187 operadoras atuantes no país, juntas elas somam 3,2 milhões de usuários de planos de saúde.

Entidades que representam empresas de planos de saúde evitam comentar casos como o da Unimed Paulistana, mas apontam alguns fatores para o "desequilíbrio" vivido por algumas delas.

Entre eles, segundo a FenaSaúde, está o aumento nos gastos em saúde devido à incorporação tecnológica e ao envelhecimento da população, o que gera maior demanda no sistema.

Antônio Carlos Abbatepaolo, da Abramge, cita ainda a variação do dólar, que afeta os preços de equipamentos hospitalares, e a alta regulação do setor, com controle do reajuste de preços e contratos.

Para ele, casos como o da Unimed Paulistana "são pontuais" –em geral, diz, situações de intervenção são mais frequentes em operadoras pequenas, com menor margem de reserva financeira.

"A maioria das empresas que possuem direção fiscal é de empresas com menor número de beneficiários."

A advogada Renata Vilhena, especialista em saúde, vê os casos com preocupação.

Ela recomenda que os usuários fiquem atentos a problemas no atendimento, como descredenciamento de médicos e dificuldade em obter respostas da operadora.

"Se isso ocorrer, ele deve se prevenir e tentar mudar de operadora. E sempre documentar tentativas e negativas", explica a advogada.




E eu que nem fumava

13/09/2015 - Folha de S.Paulo


"Não sei como fui ter isso. Nunca fumei", disse o ilustre músico Dominguinhos antes de morrer, em 2013, vítima de um câncer de pulmão.

Um dos grandes temas discutidos na 16ª Conferência Mundial de Câncer de Pulmão, realizada na última semana em Denver, nos EUA, foi justamente este: e quem tem a doença sem nunca ter acendido um cigarro na vida?

A Organização Mundial da Saúde aponta que o tabaco está relacionado a cerca de 80% dos casos da doença. A questão é que, em um país como os EUA, onde o câncer de pulmão é o que tem maior incidência, os 20% "que sobram" representam quase tantos casos quanto todos os diagnósticos de câncer no pâncreas ou de leucemias, por exemplo.

No Brasil os dados são um pouco diferentes –há mais casos de câncer de mama–, especialistas apontam que isso pode ser um problema de subnotificação. Para Marcelo Fanelli, diretor de oncologia clínica do hospital A.C.Camargo, não há motivos para o país não seguir a tendência global. "Muitas vezes o diagnóstico é feito por um médico não oncologista que acaba deixando passar."

EXPLICAÇÕES

Para os pesquisadores, o protagonismo do cigarro teria ofuscado estudos e campanhas sobre outros fatores que podem levar ao câncer de pulmão. Pouco se sabe sobre que fatores levam quem nunca fumou a ter a doença, e os próprios pacientes em tal situação tendem à incredulidade.

As hipóteses são variadas. Uma explicação é a simples propensão genética. Um estudo apresentado pelo japonês Kosuke Tanaka, que analisou 67 pacientes, mostrou que 82% tinham alterações gênicas associadas ao câncer. Uma delas, no gene ALK, estava associada aos casos de estágio quatro –o mais grave.

Há outros favores envolvidos, porém, como a poluição e a radiação envolvidos.

"Ainda estamos tentando entender melhor. Existem casos em que a mulher passa a vida inteira falando para o marido parar de fumar. Ele não para e nunca tem câncer, mas ela tem", diz o oncologista Victor Piana de Andrade.

Um grupo brasileiro comandado pelo físico Nivaldo Carlos da Silva tem mapeado a presença de radônio –a exposição prolongada ao gás, que não tem cor nem cheiro, pode levar ao câncer de pulmão.

O radônio ocorre naturalmente e é um produto do decaimento natural do Urânio.

A proximidade com uma mina de urânio, portanto, pode trazer riscos. Um fato a favor dessa hipótese é que em Caetité (BA), onde há grande reserva de urânio, a mortalidade por câncer de pulmão chegou, em 2010, a 13 casos por 100 mil habitantes ao ano, mais que o dobro da taxa estadual e mais que o triplo da média do sudoeste baiano.

Para aumentar o mistério, a pesquisadora Lorraine Pelosof, da Universidade do Texas, mostrou que, entre 2001 e 2013, a incidência de câncer de pulmão entre não fumantes aumentou. Nos hospitais americanos analisados, o número de diagnósticos de câncer do tipo NSCLC, ou de "células não pequenas", subiu 77%. Já o tipo SCLC, ou de "células pequenas", cresceu 33%.

Além disso, o câncer de pulmão em não fumantes é que ele acomete com mais frequência pessoas jovens –que, mesmo que fumassem, não teriam sido expostas ao cigarro por tempo suficiente para ter problemas.

Mais estudos são necessários, até porque alguns anticorpos monoclonais, drogas que têm sido utilizadas contra vários tipos de câncer, trazem melhores resultados em fumantes do que em não fumantes, mostrando que existem diferenças importantes na natureza dos tumores.

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