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Seminário reuniu profissionais na Universidade São Judas, na capitalSeminário reuniu profissionais na Universidade São Judas, na capital

São Paulo, 27 de novembro de 2017. 

“Não existe uma ética própria de cada profissão, existe uma ética do ser humano, princípios fundamentais e, antes de mais nada, igualdade de direito entre as pessoas”, assim começou a palestra do ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, um dos ministrantes do Seminário “Ética e empregabilidade”, organizada pelo CRF-SP, sábado, 25/11, na Universidade São Judas, na capital. Em pauta estiveram a discussão sobre a influência da formação na conduta ética, os dilemas éticos na relação profissional (farmácia, indústria, farmácia hospitalar e fiscalização), os desafios do CRF-SP, além de apontamentos sobre ética na empregabilidade. 

Durante a mesa de abertura do Seminário, a coordenadora do curso de Farmácia da Universidade São Judas, Dra. Christiane Farias, destacou o desafio de discutir o tema com foco no ser humano com a finalidade de contribuir com a sociedade. Fala que veio ao encontro da declaração do secretário-geral, Dr. Antonio Geraldo dos Santos, que ressaltou a importância de discutir com os profissionais para tomar as melhores decisões e com a Dra. Raquel Rizzi, vice-presidente do CRF-SP, que fez questão de enfatizar que o Conselho deve levar a capacitação aos inscritos não apenas na forma de lei, mas na questão moral. “Temos uma nova filosofia, o farmacêutico precisa entender que o paciente e o prescritor precisam de respeito, precisamos discutir nosso papel”. Também durante a abertura, Dr. Marcos Machado Ferreira, diretor-tesoureiro enalteceu a escolha do tema ética e empregabilidade, tendo em vista que é isso que a sociedade espera, cobra e o país quer. Já Dr. Pedro Eduardo Menegasso, presidente, ministrou uma palestra em que mostrou os desafios do CRF-SP. 

Dra. Christiane de Farias, Dr. Marcos Machado Ferreira, Dra. Raquel Rizzi e Dr. Antonio Geraldo dos Santos Dra. Christiane de Farias, Dr. Marcos Machado Ferreira, Dra. Raquel Rizzi e Dr. Antonio Geraldo dos Santos

A palestra do Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e professor titular da Usp, “A influência da formação na conduta ética do profissional”, mostrou a ética sob a ótica de um profissional que participou da construção de políticas de estado na época em que atuou como ministro. Para ele, a ética é, antes de mais nada, igualdade de direitos, no entanto como ele mesmo enfatiza, o Brasil foi construído para não ter igualdade. “Se quisermos promover essa igualdade precisamos promover políticas públicas. Uma criança bem educada será ética, um adulto bem educado será ético. A creche, por exemplo, é um lugar fabuloso para a formação ética, mostrar às crianças como trabalhar cooperativamente, brincar junto com os outros, sem competitividade. A competitividade virá quando necessário”.

Contextualizando a ética na área da saúde, o ministro considera uma área muito popular, visto que o eleitor em época de eleição dá mais importância à saúde do que à educação. “Isso dá uma responsabilidade gigantesca para o profissional porque ele esta lidando com um bem sem preço que é a saúde e a própria vida. O profissional da saúde seja médico, farmacêutico ou enfermeiro, tem um compromisso muito grande ético porque depende dele a sobrevivência e bem-estar das pessoas. Por isso, acho muito bom o CRF-SP fazer uma discussão ética da formação profissional e a última coisa que poderíamos ter seria um profissional que faz as coisas mecanicamente sem pensar no valor humano daquilo que está fazendo”. Janine destaca ainda que O objetivo da ética não é apenas fazer as coisas certas, mas beneficiar as pessoas. “Em toda situação é preciso fazer escolhas e em todas elas é preciso ter ética. Na saúde, é decisivo que no curso de graduação haja uma constante preocupação com a questão ética, vocês estão trabalhando em benefício do outro, qual a melhor forma de beneficiar o outro e se as normas e leis não fizerem isso, é preciso questionar”. 

O ex-ministro da Saúde Dr. Renato Janine falou sobre a influência da formação na conduta ética profissionalO ex-ministro da Saúde Dr. Renato Janine falou sobre a influência da formação na conduta ética profissional

Painel: Dilemas éticos na relação profissional

O que começou apenas como um emprego transitório até decidir para que área seguiria, tornou-se a grande paixão da Dra. Valéria Martins Pires que atuou mais de 20 anos em farmácia. “Vi alegrias, tristezas, tive a visão do que era ser farmacêutica e a certeza de que não teria vergonha de estar no balcão”.  Ela destacou a relação que ao longo dos anos desenvolveu com prescritores e o quanto ganhou a confiança desses profissionais. “Essas relações fazem parte do dia a dia na farmácia, o farmacêutico deve interagir sempre com outros profissionais. Eu jamais vi farmacêuticos tão dedicados e preparados como hoje, não apenas fornecendo a medicação, mas olhando nos olhos e vendo o quanto o paciente é importante”.

Dra. Valéria Martins Pires falou sobre os dilemas éticos na farmácia Dra. Valéria Martins Pires falou sobre os dilemas éticos na farmácia

Dra. Valéria também destacou a importância de estar atualizado com as normativas e legislações, orientação da equipe, além de boa relação com os órgãos que regulamentam a atividade. Após entrevistar mais de 5 mil profissionais para atuar na área da saúde, Dr. Raphael Revert destacou alguns dilemas éticos na sua experiência na área de recrutamento e seleção em saúde. Entre eles, fatores externos como pressão por resultado não realizável, interesses imorais ou não éticos, falhas de gestão e processo, práticas mercadologicas ou internos como medo de errar, falta de maturidade e dolo. “Dentro da indústria, os processos são muito bem definidos, sabemos exatamente o que é certo ou errado. Quantas vezes a gente se esconde dizendo não é minha responsabilidade? Indústrias chegam a bonificar por seis reais ao balconista por caixa de medicamento como fica a ética do farmacêutico? E do representante? E do técnico?

Dr. Raphael Revert destacou os dilemas éticos da indústria Dr. Raphael Revert destacou os dilemas éticos da indústria

Se há um segmento em que a ética está presente e se trabsforma em dilema é na área hospitalar, aliás a bioética surgiu devido a relações do nosso dia a dia entre elas o bebê de proveta, a eutanásia e a pílula anticoncepcional. O assunto foi abordado pelo Dr. Gustavo Alves, coordernador do Grupo técnico de cuidados farmacêuticos de atenção ao idoso do CRF-SP.  Ele chamou a atenção para o maior plano de saúde do mundo chamado Sistema Único de Saúde e para a questão de que 52 milhões de brasileiros estão ligados a algum plano de saúde. “No hospital temos antibióticos que custam 10 centavos como a penicilina cristalina, enquanto outros que custam 60 mil reais o tratamento, agilizam a liberação do paciente, no entanto só alguns terão autorização para usar”. “É preciso lembrar que há sim interesse comercial, enquanto discutimos nanotecnologia, biotecnologia, as pessoas no Brasil morrem de doença de chagas, malária, dengue, leishmaniose. O que a indústria farmacêutica pesquisa? O que dá mais resultado, ou seja, depressão, disfunção erétil, câncer, Alzheimer, ao mesmo tempo em que se pesquisa esses medicamentos, a maior causa de mortes no mundo ainda são os diferentes tipos de processos infecciosos”. 

Em relação a esse problema, Dr. Gustavo destaca que não há medicamentos nem em fase de pesquisa, nem para doenças que mais atingem os países mais pobres, com exceção do ebola. “A ética sempre nos permite refletir sobre o ato moral, somos massacrados por leis, resoluções, decretos e cabe a nós tomar decisões. Elas nos colocam nesse dilema se ela é adequeda, a ética nos liberta, faz com que consigamos viver em sociedade, sem a ética a sociedade entraria em caos”. 

Dr. Gustavo Alves falou sobre os dilemas éticos na farmácia hospitalarDr. Gustavo Alves falou sobre os dilemas éticos na farmácia hospitalar

O painel moderado por Dr. Paulo Ângelo Lorandi, também contou com a coordenadora de fiscalização do CRF-SP na capital e Grande São Paulo, Dra. Lígia Rosa da Costa Pereira, que falou sobre as atribuições e alguns dilemas encontrados pelos fiscais durante as inspeções em todo o Estado como fracionamento irregular, chaves de armários da Portaria 344/98 em poder de gerentes, desautorização do farmacêutico, prescrições médicas com a ausência de dados, recusa de compra de equipamentos, comissão a balconistas, propaganda irregular de medicamentos, prestação de assistência não protocolada na rede, impedimento à fiscalização por superior hierárquico e comercialização de produtos alheios ao ramo.  “O CRF-SP tem o dever legal de fiscalizar e vai em busca da proteção da população. As medidas não podem ser corretivas, mas preventivas. A gente tem sempre que pensar na ação como impacto à população, se vai trazer malefício, não faça”. 

Dra. Lígia Rosa da Costa Pereira falou sobre a fiscalização do CRF-SPDra. Lígia Rosa da Costa Pereira falou sobre a fiscalização do CRF-SP

O presidente do CRF-SP, Dr. Pedro Eduardo Menegasso, encerrou o painel com a apresentação dos desafios da entidade e os números que representam os últimos anos, entre eles os de inspeções realizadas entre 2006 e junho de 2017, foram 842.711. “A fiscalização é sistemática, tem ampla cobertura, todos os estabelecimentos farmacêuticos são fiscalizados. A maior parte dos processos éticos é por desconhecimento ou omissão, o profissional sabe do problema, mas não toma atitude. Conte com o seu fiscal, pergunte para ele. Criamos um sistema no Conselho em que muitas vezes a orientação do fiscal evita um processo ético”.

Dr. Pedro destacou também que é preciso construir soluções e alternativas em conjunto, já que o Conselho é uma construção coletiva, ninguém faz nada sozinho. Entre os principais desafios estão melhorar a formação acadêmica, fortalecer a autonomia técnica do farmacêutico, fortalecer a relação com autoridades sanitárias, aumentar a compreensão dos profissionais sobre a importância da atuação ética, aspectos comerciais x saúde e limites éticos da atuação clínica. “A má qualidade de muitos cursos de Farmácia implica na responsabilidade de despejar profissionais ruins no mercado, sem informação, que não sabem para que serve o Conselho, nem a própria profissão”. 

Dr. Pedro Eduardo Menegasso destacou os desafios do CRF-SPDr. Pedro Eduardo Menegasso destacou os desafios do CRF-SP

A importância da ética na empregabilidade

A ética nunca foi uma qualidade, mas uma obrigação e essa frase foi enfatizada pela palestra do diretor de recursos humanos da Xerox Brasil, Eduardo Brecht, que encerrou o seminário. Há 22 anos na área, ele afirma que as empresas estão mais preocupadas em contratar profissionais com conduta adequada e que represente a empresa com seriedade. “Se tiver que escolher um que tenha uma deficiência na conduta ética e alguém que não tenha tanta habilidade técnica, elas escolhem que não tem tanta habilidade”. 

 Eduardo Brecht destacou a importância da ética na empregabilidadeEduardo Brecht destacou a importância da ética na empregabilidade

Durante a palestra, Eduardo mostrou algumas questões éticas mais sutis do cotidiano, o que costuma chamar de pequenos pecadinhos. “Fazer uma correlação entre essas questões que aparecem no dia a dia e aspectos culturais da cultura brasileira, a nossa cultura explica muita coisa da história do jeitinho brasileiro, de levar vantagem em tudo”.Ao traçar um paralelo com o ambiente corporativo, Eduardo enfatizou “As pessoas precisam ter consciência de que ser ético é muito além de não roubar, não fraudar, ela se manifesta em pequenos gestos do dia a dia. Se eu não concordo com determinado objetivo da empresa ou sei de alguma atitude errada de um colega, não posso ser omisso ”.  

Dr. Gustavo Alves, Dra. Valéria Pires, Dr. Paulo Lorandi, Dra. Lígia Pereira e Dr. Raphael Revert Dr. Gustavo Alves, Dra. Valéria Pires, Dr. Paulo Lorandi, Dra. Lígia Pereira e Dr. Raphael Revert

Thais Noronha

Departamento de Comunicação CRF-SP

 

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