Revista 105 - Capa



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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 105 - DEZ - 2011 / JAN - 2012

Revista 105  setinha Capa


Atitude faz a diferença
 

Como fazer a diferença e se destacar no mercado de trabalho? Farmacêuticos e especialistas dão dicas de como fazer isso

Renato Marsolla

O diálogo abaixo foi retirado de um grupo de discussão de farmacêuticos no Facebook, em dezembro. O tema da discussão era o piso salarial (os nomes foram omitidos):

Farmacêutico A – “Greve! Precisamos agir mais e falar menos(...)Tirem como exemplo os metalúrgicos ou os correios, quando estão insatisfeitos eles param e pronto, gera-se um baita transtorno para todos e as coisas são resolvidas.”

Farmacêutico B – “Acontece que se os farmacêuticos pararem... não acontecerá nada!”

Esse diálogo remete a importantes reflexões: a sociedade valoriza o trabalho do farmacêutico? Se alguns não se sentem valorizados, como essa situação pode ser mudada?

O profissional que busca hoje destaque e reconhecimento no mercado de trabalho precisa ter mais do que conhecimento técnico. É preciso atitude e saber fazer a diferença. Essa é uma opinião unanime entre os profissionais especializados em desenvolvimento de carreira. Para o farmacêutico isso não é diferente. Mas o que significa ter atitude e fazer a diferença e como agir para que isso ocorra?

O tema foi abordado pela farmacêutica clínica norte-americana dra.Diane Ginsburg, no Seminário Internacional “A Arte de ser Farmacêutico”, realizado pelo CRF-SP em outubro de 2011. Dra.Diane, que já foi presidente da Associação dos Farmacêuticos Clínicos dos Estados Unidos (ASHP), considera que o farmacêutico nos Estados Unidos somente passou a ser valorizado depois que mudou sua postura no ambiente de trabalho. “Quando se constatou que a presença do farmacêutico no âmbito hospitalar contribui para reduzir o número de mortes e os custos com o sistema de saúde, a situação começou a mudar. Mas foi necessária uma atuação muito forte dos próprios farmacêuticos para que essa situação mudasse.”

A dra. Diane defende que o farmacêutico precisa se mostrar para a sociedade para que esta perceba qual o seu valor. Mas como fazer isso?

Dra. Lucia Kratz, doutora em psicologia e especialista em administração, diz que essa situação depende do próprio profissional. A especialista explica que o profissional deve exercer o chamado “CHAE”: uma mistura de Conhecimento técnico, Habilidades para exercê-lo, Atitudes e postura no ambiente de trabalho e capacidade de Entrega, ou seja, de gerar resultados. “É o profissional que sabe fazer acontecer, que é reconhecido pelos chefes e colegas de trabalho, enfim, é uma pessoa em que as outras pessoas acreditam.”

Muitos ainda pensam que “conhecimento técnico puro” é suficiente para o crescimento profissional, mas não é bem assim. Ainda que seja muito importante, se o profissional não desenvolver outras capacidades e habilidades, provavelmente não conseguirá crescer profissionalmente. “Profissionais são admitidos por bom conhecimento técnico, mas são demitidos por problemas de comportamento e por falta de capacidade de gerar resultados, ou seja, não sabem fazer acontecer”, explica a dra. Lúcia. Para conseguir gerar resultados, o profissional precisa desenvolver capacidades e habilidades como proatividade, liderança, gestão de conflitos entre outras, que são decisivas para que obtenha bons resultados no seu trabalho do dia a dia. (Ver quadro abaixo)

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Na mesma linha de raciocínio segue a dra. Cyndia Laura Bressan, psicóloga e mestre em Psicologia Social e do Trabalho. Para um profissional se destacar e fazer a diferença é necessário aliar competência técnica, capacidade de alcançar resultados e também saber agregar pessoas em torno de uma meta, mostrando-se um elo dentro e fora da empresa, com foco no alcance dos objetivos organizacionais.

Atualização constante e habilidade de construir redes de relacionamento profissional (network), inclusive utilizando as redes sociais (Facebook, LinkedIn, entre outras) são também características importantes num profissional. Com a complexidade que as atividades profissionais ganham a cada dia devido às inovações constantes e avanços tecnológicos, torna-se praticamente impossível um profissional conhecer completamente sua área de atuação. Assim, a rede de relacionamentos é fundamental para buscar informação e auxílio em momentos de dificuldade.

Resultado diferente

“Se nós queremos obter um resultado diferente, temos que fazer coisas diferentes. Ninguém consegue obter resultados diferentes fazendo as coisas sempre iguais”, defende o dr. Marcos Fiachetti, diretor do Institudo do Desenvolvimento do Varejo Farmacêutico (IDVF). Segundo ele, nossa única certeza é de que amanhã será diferente de hoje. “Se fizermos as mesmas coisas que fizemos no passado, o resultado não será diferente. A competitividade está maior, o mundo mudou e o mercado está diferente. Então, como começo a fazer diferente?”

O primeiro ponto é a atualização constante, porque é necessário estar atento às mudanças não apenas do mercado, mas de toda a cadeia da saúde. É fundamental capacitar-se todos os dias, aprender novas técnicas, adquirir o conhecimento que o mundo globalizado e veloz exige.

Outro aspecto é acompanhar as mudanças de valores da sociedade. Hoje, os pacientes/clientes não querem ser tratados como um número. Independentemente se estão em uma loja, em uma farmácia ou em um consultório médico, são exigentes. Não há espaço para o atendimento padronizado, é fundamental atender aos anseios da sociedade. Se o mundo muda todos os dias, é também necessário que o profissional repense sua forma de atuar todos os dias. Com atitudes como essa se faz a diferença.

Âmbito Farmacêutico

A Revista do Farmacêutico perguntou a alguns profissionais que se destacaram em suas áreas “Como fazer a diferença na sua área de atuação?”. Veja as respostas nos quadros seguintes.

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Indústria

“Antes de tudo, o farmacêutico deve gostar do que faz. A evolução da área farmacêutica industrial faz-se com tanta rapidez que é necessário continuamente se atualizar. Com isso, se perderão muitos fins de semana de lazer. Somente aguentará quem gostar de fato da profissão. É preciso também ter um olhar abrangente, que vá além da área de atuação. Muitas vezes, uma tomada de decisão demanda, além do conhecimento específico, da capacidade de se vislumbrar as correlações com todas as áreas em torno daquela discussão, como aspectos econômicos, administrativos, de produção, etc., enfim, uma visão política. Faço questão de citar a visão política uma vez que o pessoal técnico tem quase ojeriza dessa área. Acontece que muitas decisões têm forte componente político, e aí, quem possui essa habilidade ,tem maior chance de acertar na decisão técnica. Em síntese, acertar na decisão técnica, mas errar o momento e/ou a forma de implementar, será desastroso para o resultado do projeto.”

Dr. Dante Alário, Farmacêutico e sócio-presidente técnico-científico da Biolab

 

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Análises Clínicas

“Em Análises Clínicas, o profissional deve ir além da realização de exames. Deve conhecer equipamentos, técnicas e, principalmente, fisiologia, bioquímica e patologia, porque o resultado do exame pode não estar correto e o farmacêutico deve identificar o erro. Aos que pretendem abrir uma empresa, devem ter boa formação acadêmica, conhecimento do mercado, recursos humanos, administração e gestão do negócio e legislação. Embora o laboratório seja um estabelecimento de saúde, presta serviços a outras empresas, já que 95% das pessoas fazem os exames por convênios médicos. O farmacêutico deve ter uma visão mais ampla, buscar parceiros, fazer a interlocução com médicos, já que o laboratório também recebe prescrições e nem sempre o resultado do exame bate com o que o médico espera. Esse é um papel primordial, conversar com o prescritor e ser proativo em relação ao resultado. Temos que utilizar nosso conhecimento em farmacologia.”

Dr. Marcos Machado, Farmacêutico, diretor-tesoureiro do CRF-SP e proprietário do laboratório de Análises Clínicas Laborfase

 

rf105_capa_icone_farmhospFarmácia Hospitalar

“O farmacêutico que atua em farmácia hospitalar deve levar ética, responsabilidade e comprometimento muito a sério. Também deve ser inovador e focado na questão do uso racional de medicamentos, produzir e divulgar conhecimento e ser formador de opinião dentro da equipe de trabalho. Para o sucesso do seu trabalho, o farmacêutico deve estar alinhado às diretrizes da instituição e buscar o aprimoramento contínuo dos padrões de qualidade, garantindo o uso seguro e racional de medicamentos. Atualmente, o farmacêutico está participando dos cuidados ao paciente, dando informações que suportam a tomada de decisão nas atividades assistenciais dos médicos e equipe multiprofissional dentro dos hospitais. O farmacêutico clínico trabalha promovendo a saúde, prevenindo e monitorando eventos adversos, intervindo e contribuindo na prescrição médica para a obtenção de resultados clínicos positivos, melhorando a qualidade de vida dos pacientes sem, contudo, perder de vista a questão econômica relacionada à terapia.”

Dr. Fabio Ferracini, Farmacêutico e Responsável Técnico pela Farmácia Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein

 

rf105_capa_icone_saudepublicaSaúde Pública

“O farmacêutico que está envolvido com a saúde pública precisa gostar de pessoas e ter ciência das necessidades de uma população. E, para se ter a percepção dessas necessidades (prevenção, atendimento das necessidades da doença e da reabilitação), é necessário conhecer a política nacional de saúde e de medicamentos, a farmacologia e terapêutica, epidemiologia, economia em saúde, avaliação tecnológica e todos os critérios de incorporação. Saber lidar, dentro dos aspectos econômicos, o que significa economia em saúde, com recursos limitados e sustentabilidade. A essência da saúde pública é gostar das pessoas, porque além de todos os conhecimentos você precisa ter como atividade o ensinar. Buscar o conhecimento de forma permanente, saber trafegar com as variáveis políticas e ter a habilidade de trabalhar e saber construir equipe. Fundamentalmente, é preciso saber se comunicar e desenvolver a habilidade da comunicação. Prestar serviços de assistência farmacêutica com qualidade, e isso significa fazer o melhor possível nas condições que você tem. O profissional deve ser um excelente técnico e com habilidade de saber lidar com os conflitos.”

Dra. Sônia Cipriano, Farmacêutica e diretora técnica do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo

 

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Farmácia e Drogaria

“O farmacêutico nunca deve ser um vendedor de medicamentos ou achar que uma farmácia é um comércio. A farmácia deve ser vista como um ponto de apoio para a promoção de saúde, tendo o farmacêutico como protagonista desta ação. Não dispensamos medicamentos e sim saúde, o medicamento é uma consequência, ou seja, uma ferramenta a mais para restabelecer o processo de saúde do indivíduo, que é o foco principal. Senão, basta colocarmos máquinas de vender medicamentos similares àquelas que vendem refrigerantes. E isso hoje no mundo infelizmente já é a realidade, como ocorre no Canadá, por exemplo. Nós temos de assumir o diferencial na atenção farmacêutica, que é a dispensação segura e responsável, promovendo a saúde e o bem-estar do paciente com uma palavra muito importante: o amor. Sem o amor pela profissão, pelo paciente e pela equipe da saúde, não será possível atingir reconhecimento e o sucesso.”

Dr. Ludmar Rodrigo Serrão, Farmacêutico, proprietário de farmácia e especialista em atenção farmacêutica

 

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